segunda-feira, abril 16, 2007

Banco Central Europeu - a árvores das patacas da finança internacional

Robin Good - Marco Della Luna e Antonio Miclavez

Porque é que os bancos vendem dinheiro que não possuem? Será o lucro da emissão de dinheiro a verdadeira árvore das patacas?

A «dívida pública» foi literalmente inventada por políticos e banqueiros de forma a enriquecer os corretores de Bancos Centrais.

No passado, os bancos ao emitir dinheiro garantiam-no com os seus activos e as suas reservas, convertendo papel moeda em ouro, e pagando eles próprios os custos da emissão e impressão do dinheiro.

Hoje, contudo, o dinheiro já não é garantido pelo ouro, já não é convertível, as taxas de emissão e impressão são praticamente inexistentes, e representam ganhos para aqueles que emitem e vendem o dinheiro, ou seja, o lucro da emissão de dinheiro tem um valor nominal de 100%.

Quando o Estado pede dinheiro ao Banco Central, paga o custo do seu valor nominal com títulos da dívida pública (e não apenas o custo tipográfico), basicamente comprometendo-se a aumentar os impostos aos cidadãos e às empresas.

Tudo isto acontece através do Banco Central Europeu, um monstro judicial criado pelo Tratado de Maastricht, isento de qualquer controlo democrático, actuando como um estado soberano, acima de tudo e de todos.

Portugal continua a empobrecer à medida que a dívida pública aumenta, conduzindo a uma pressão fiscal muito alta. (DN 27.01.06 - O Estado português deverá registar um montante total de dívida, no final de 2006, de 111,6 mil milhões de euros, um crescimento de 10,4 mil milhões face ao final do ano passado).

Estamos frente a um «senhor» (ECB) que utiliza o Estado, o sistema fiscal e a administração pública para criar um sistema de desinformação constitucional com o objectivo de esconder os seus negócios enquanto cria uma ilusão de legalidade.

É um sistema de poder que foi erigido e mantido na premissa de que será sempre ignorado pela população, especialmente pelos trabalhadores, contribuintes e pessoas com poupanças.

A quem pertence o dinheiro quando é emitido pelo Banco Central? Pertence ao Banco Central, que tem o direito de pedir aos Estados para pagar por ele? Ou o dinheiro pertence ao Estado, ao povo, que por isso não deveria ser obrigado a pagar nem o dinheiro que precisa nem os respectivos juros ao Banco Central?

A prova de que o uso do poder do dinheiro através do Banco Central é um instrumento de poder que os banqueiros têm sobre o Estado, é confirmado pela atitude ambígua e pouco clara das instituições públicas, Parlamento incluído. É o facto do Banco de Portugal vender dinheiro por alto preço que não lhe custa um cêntimo e ao qual o Banco Central não acrescenta qualquer valor, ou seja, poder de compra.

O poder de compra é conferido ao dinheiro através do mercado, das pessoas e da procura real de dinheiro. Os Bancos Centrais não geraram o «valor» do dinheiro que utilizamos, não obstante comportam-se como se fossem donos do dinheiro, vendendo-o aos Estados (e aos bancos comerciais) em troca de títulos do Estado e de outros valores. É paradoxal.

É como se um tipógrafo, que trabalhasse para um clube de futebol, encarregado de imprimir 30.000 bilhetes para um jogo (com os bilhetes a apresentar um valor de 20 euros cada), pedisse como pagamento 600.000 euros pelo facto dos 30.000 bilhetes apresentarem um valor facial de 20 euros cada.

É verdade que cada bilhete vale 20 euros. Mas o valor destes bilhetes não depende do tipógrafo mas antes da organização desportiva que criou a equipa de futebol, que disponibilizou um campo de jogo e que organizou o encontro, suportando todos os custos e criando a procura dos bilhetes, sem as quais os bilhetes não teriam rigorosamente nenhum valor.

Os administradores da organização desportiva sabem isto muito bem, mas o tipógrafo por um lado faz chantagem com eles, e por outro suborna-os prometendo-lhes, caso eles lhe paguem a injusta retribuição, uma compensação monetária e fundos para serem reeleitos nas próximas eleições para o conselho de administração. Se não alinharem o tipógrafo financiará outros candidatos e campanhas na imprensa contras os membros honestos do conselho de administração.

Os poderes bancários comportam-se exactamente como o tipógrafo, e os que estão no governo comportam-se como os membros chantageados e subornados do conselho de administração da equipa de futebol, ao aprovarem ao Banco Central a posse do dinheiro que este emite. Mas não só. Os poderes bancários criam uma injusta e ilógica dívida aos povos dos seus países, aqueles que de facto, com o seu trabalho e as suas necessidades de compra, dão real valor ao dinheiro.

É por este motivo, além do princípio de soberania constitucional dos povos, que no momento em que o dinheiro é impresso, o seu valor deveria ser gerido pelo estado como propriedade das pessoas. O Estado nunca deveria colocar-se a si e à sua população sob o jugo de um Banco Central, público ou privado, para obter o dinheiro de que necessita. Mas infelizmente é exactamente isso que acontece.

Mas existe outra coisa ainda pior: o Banco Central, ou seja os seus accionistas, não só se apropriam do valor do dinheiro que o Banco Central emite, com imenso prejuízo para o Estado e a população, como o Banco regista este valor não como uma entrada activa mas como um custo passivo, imitando uma dívida e evitando por isso a necessidade de pagar impostos no que é apenas um aumento puro de capital que deveria, portanto, ser taxado na sua totalidade.

Se o dinheiro constituísse de facto um custo passivo, uma dívida, porque é que o estado o compra pagando-o com títulos da dívida pública que constituem um crédito para quem os recebe? Já viram alguém pagar a outrem para comprar uma dívida?

Mas o dinheiro também não é de forma nenhuma uma dívida para o banco que o imprime. Se fosse uma dívida, essa dívida poderia ser paga ao portador no banco, através da conversão em ouro. Dantes era assim, quando os possuidores de cheques ou notas podiam converter o seu dinheiro em ouro no banco emissor.

É natural que nenhum Governo se dê ao luxo de responder honestamente a todas estas questões porque isso seria admitir que a sua verdadeira função consiste em defraudar os próprios cidadãos e votantes para enriquecer uma elite financeira que controla o verdadeiro poder.

Tudo o que foi dito é apenas a ponta do icebergue, já que a maior parte do dinheiro existente em circulação, cerca de 85%, não é dinheiro autêntico, impresso pelos Bancos Centrais, mas dinheiro criado através do crédito. Isto significa dinheiro baseado no crédito que os bancos comerciais criam a partir do nada. Tais bancos, com a criação contínua de dinheiro baseado no crédito, tornam-se donos do total poder de compra da população mundial.


Comentário:

As sanguessugas, firmemente alapadas à árvore das patacas, continuam com razões para sorrir:

domingo, abril 15, 2007

Sócrates – depois da aldrabice dos diplomas, o embuste dos estádios do Euro-2004?

Depois de a blogosfera ter trazido a lume as aldrabices sobre as habilitações académicas de Sócrates, porque não começar a investigar igualmente a construção dos dez estádios de futebol do Euro 2004, dos quais o ainda primeiro–ministro foi um dos grandes impulsionadores?

Em 1995, José Sócrates tornou-se membro do Primeiro Governo de António Guterres, ocupando o cargo de secretário de Estado-adjunto do Ministro do Ambiente. Dois anos depois, tornou-se ministro-adjunto do primeiro-ministro, com a tutela do Desporto. Foi, nessa qualidade, que se tornou num dos impulsionadores da realização, em Portugal, do EURO 2004. Por ter sido um dos governantes com a tutela do Euro 2004 - quando foi ministro-adjunto do primeiro-ministro, durante o I Governo de António Guterres -, Sócrates foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

A 12 de Fevereiro de 2005, num comício em Braga, António José Seguro lembrou as responsabilidades de Sócrates na realização do Euro-2004: "Hoje, como no Euro-2004, houve um homem que lançou a semente, a semente de uma força que ninguém pode parar. Esse homem chama-se José Sócrates, futuro primeiro-ministro de Portugal", acentuou.

Em Dezembro de 2005 o Diário de Notícias procedia a um balanço do Euro-2004: Estádios demasiado grandes para a necessidade do país; câmaras municipais excessivamente endividadas para os próximos 20 anos; derrapagem de 13,3% nas acessibilidades; e mais de mil milhões de euros de investimento público total. As conclusões críticas são extraídas da segunda fase de auditoria ao Euro 2004 e levam o Tribunal de Contas (TC) a questionar "se o elevado montante de apoios públicos" ao campeonato organizado por Portugal no Verão de 2004 não poderia ter tido "uma utilização mais eficiente noutras áreas de relevante interesse e carência pública".

"Os novos estádios do Euro 2004 estão sobredimensionados, o que pode ser constatado pelas baixas taxas de ocupação, da ordem dos 20 a 35%", refere o relatório da auditoria divulgado ontem pelo Tribunal de Contas, adiantando que "em alguns dos estádios, nem durante o Euro 2004 se atingiu a lotação máxima".


Comentário:

Não terá o ministro-adjunto Sócrates, que endividou as câmaras municipais para os próximos vinte anos, granjeado, com a construção dos estádios do Euro-2004, o suporte dos empresários de obras públicas e dos banqueiros para se alcandorar ao cargo de primeiro-ministro? Onde pudesse levar a cabo obras tão inúteis como os estádios e dezenas de vezes mais lesivas do erário público, como a Ota e os TGVs?

sábado, abril 14, 2007

Sócrates - multa ou três anos de prisão?

A publicação de dados errados em jornal oficial ou em portal do Governo pode não ser crime. Mas já o é a prestação de declarações falsas que levam àquela publicação. Ora, quem terá fornecido os elementos identificativos para a acta da posse do governo e para o portal do Governo? Ou o portal do Governo está em autogestão e cada qual escreve o que bem lhe apetece?

O Engenheiro Civil:



E, magicamente, a 16 de Março de 2007, o Licenciado em Engenharia Civil:



O ilícito de Sócrates, a ter-se verificado, pode revestir duas formas: ou a de prestação de falsas declarações em documento oficial (ou em dados a ele destinados) ou, aplicada em situação de funcionário público - e os detentores de cargos públicos têm essa qualidade - a de abuso de poder. Quanto ao primeiro dos casos, ver num código penal os temas "falsas declarações", "falso depoimento" e mesmo "falsidade de documento"; quanto ao segundo, ver o artº 386º do Cód. Penal Português (CPP).

Parece inegável a circunstância de o conteúdo do Portal do Governo, no que diz respeito à biografia do Primeiro-Ministro, ter sofrido uma alteração quando o título de "engenheiro civil" que aí se propagandeava foi contestado publicamente. Ora, se se confirmar que é falsa essa informação, estão reunidos todos os pressupostos para se poder afirmar que José Sócrates praticou actos criminalmente puníveis.

Entre esses crimes cometidos no exercício de funções públicas encontra-se, nomeadamente, o de "abuso de poder" (artigo 382º do Código Penal): "O funcionário que, fora dos casos previstos nos artigos anteriores, abusar de poderes ou violar deveres inerentes às suas funções, com intenção de obter, para si ou para terceiro, benefício ilegítimo ou causar prejuízo a outra pessoa, é punido com pena de prisão até 3 anos ou com pena de multa, se pena mais grave lhe não couber por força de outra disposição legal".

Não restam dúvidas de que José Sócrates afirmou que era Engenheiro Civil no exercício das suas funções: José Sócrates expõe os seus curricula no Portal do Governo porque a ele tem acesso enquanto Primeiro-Ministro e é nessa qualidade que se apresenta enquanto biografado.

Nenhuma dúvida resta de que, se não for Engenheiro Civil, actuou com a intenção de obter benefício ilegítimo para si: o benefício de aparecer publicamente prestigiado com títulos que não possui, engrandecendo-se aos olhos do público.

Estão, pois preenchidos os pressupostos do tipo legal do crime de abuso de poder. E isto apenas quanto à eventualmente falsa invocação do título de Engenheiro Civil.

quinta-feira, abril 12, 2007

A Al-Qaeda Yankee no Irão


«A Pakistani tribal militant group responsible for a series of deadly guerrilla raids inside Iran has been secretly encouraged and advised by American officials since 2005, U.S. and Pakistani intelligence sources tell ABC News.»

Depois de várias semanas em que se acumulam as pressões contra o Irão, o canal de informação americano ABC News confirmou, a 5 de Abril de 2007, novas actividades terroristas da CIA no Irão.

Sabe-se que desde 1981, a CIA equipa e financia os mujahedin do povo contra a revolução islâmica; depois da derrota dos Soviéticos no Afeganistão a CIA utilizou os mercenários de Osama Bin Laden para contrariar a influência shiita na Ásia Central; mais recentemente, a CIA tomou o controlo dos movimentos separatistas do Arabistão (a região árabe do Irão). De agora em diante, a CIA manipula também o Jundullah, um grupo que cometeu vários atentados mortais no interior do Irão. Originário do Baluquistão, região fronteiriça paquistanesa, o grupo terrorista dirigido por Abdel-Malik Regi terá mantido relações estreitas com os Estados Unidos desde 2005. Raptos, atentados... as suas acções causaram a morte de muitos cidadãos comuns, assim como de soldados e oficiais. Um dos seus atentados, que causou a morte a 11 guardas da revolução na cidade de Zehland em Fevereiro de 2006, foi mesmo publicamente reivindicada pelo seu líder, Regi, durante uma entrevista televisiva.


Comentário:

Não vejo mal nenhum no facto da CIA utilizar os mercenários de Osama Bin Laden no seu esforço para controlar as reservas petrolíferas iranianas (as terceiras maiores do planeta). No fim de contas, foi a CIA que os treinou e financiou. Que haja algum retorno do investimento, que diabo!

terça-feira, abril 10, 2007

A propaganda securitária americana na SIC Notícias

No preâmbulo da Constituição Norte-Americana pode ler-se:

«Nós o povo dos Estados Unidos, de modo a criar uma União mais perfeita, estabelecer a Justiça, assegurar a Tranquilidade interna, prover a defesa comum, promover o Bem-Estar geral, e assegurar a Bênção da Liberdade a nós próprios e aos nossos Descendentes, decretamos e estabelecemos esta Constituição para os Estados Unidos da América.»

No entanto, é hoje dito aos americanos, e aparentemente um grande número deles acredita, que "assegurar a Tranquilidade interna, e prover a defesa comum" é incompatível com "assegurar a Bênção da Liberdade a nós próprios e aos nossos Descendentes". É-lhes dito que a segurança deve ser preferida à liberdade. E dizem-lhes que é necessário implementar esta suposta permuta criando um Departamento de Segurança Interna (Department of Homeland Security) que fornecerá uma indefinida «segurança» precisamente limitando as reais e históricas liberdades dos americanos. Quanto a este último ponto, seguramente, as autoridades governamentais não estão a mentir. Ninguém precisa de um MBA em engenharia política para identificar no Departamento de Segurança Interna, nos seus propósitos, estrutura, e operações, o desenvolvimento de um aparelho de estado policial.

A propaganda deste novo estado policial americano é disseminada interna e externamente. Um bom exemplo é este «genérico» da «nossa» SIC Notícias que passou durante uns tempos nos nossos televisores. Repare-se que «Tranquilidade», «Defesa» e «Bem-Estar» surgem em letras gordas, enquanto a palavra «liberdade» é quase imperceptível:

segunda-feira, abril 09, 2007

A Democracia por um canudo


Miguel Sousa Tavares – Expresso – 07/01/2006

«É como a Ota e o TGV: ninguém ainda conseguiu explicar direito a lógica de interesse público, de rentabilidade económica ou de factor de desenvolvimento. Mas todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos, não apenas os directamente interessados - os empresários de obras públicas, os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos - mas também flutuantes figuras representativas dos principais escritórios da advocacia de negócios de Lisboa. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses.»

«Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro -, há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre. Jogando com o que resta do património público, com o dinheiro que receberemos até 2013. Cá fora, na rua e frente a eles, estão os que acreditam que nada pode mudar, mude ou não mude o mundo. Sobreviveremos depois disso?»

sábado, abril 07, 2007

Media e Política - cumplicidade envergonhada ou franca colaboração?

José Pacheco Pereira – Jornal Público - 07.04.2007

À espera que o assunto morra por si...

Tudo começou num blogue Do Portugal Profundo (http://doportugalprofundo.blogspot.com/) de autoria de António Balbino Carreira em 2005. (...) as informações que durante quase dois anos foi publicando sobre os títulos académicos de José Sócrates tinham muitos elementos factuais e verificáveis. A nota original no blogue data de 22 de Fevereiro de 2005 e continha muitas das dúvidas que se vieram a revelar legítimas e sujeito de investigação jornalística.

Não havendo "anonimato" na origem das dúvidas sobre os seus títulos académicos, é interessante verificar que durante dois anos o primeiro-ministro nunca entendeu accionar qualquer mecanismo judicial em sua defesa contra uma "campanha de insinuações, suspeitas e boatos" que o pretendia atingir na sua "honra e consideração", tanto mais que estava (e está) convencido que a "campanha" tem a mesma origem das que o atingiram durante a campanha eleitoral. Ele pensa que se trata de uma campanha orquestrada, quiçá por uma qualquer agência de comunicação.

(...) É exactamente por ser assim que nos podemos perguntar por que razão demorou tanto tempo, dois anos, até se ver a questão tratada num jornal de referência, o PÚBLICO. A resposta a esta questão diz-nos muito sobre os males do jornalismo português, a sua complacência e deslumbramento com o poder, quando não a sua dependência dos "poderes", a começar pelas "fontes amigas" tão importantes para a carreira de um jornalista, a sua falta de coragem cívica, em particular quando tem que quebrar as regras não escritas do pack journalism. Este "consenso" de rebanho entre jornalistas sobre aquilo de que se pode ou deve falar, e sobre os temas malditos que "sujam" as mãos de qualquer profissional e merecem o ostracismo dos outros, é o resultado destilado dos gostos, amizades pessoais e políticas, ideias feitas, ignorâncias activas, vinganças, que unem grupos de jornalistas entre si

(...) O PÚBLICO quebrou esse muro de silêncio e fez jornalismo como deve ser. Não é "jornalismo de sarjeta", como afirmou o ministro que "tutela" a informação, que só é poderoso porque tem um largo sector da comunicação debaixo da sua "tutela", é jornalismo. E o PÚBLICO foi imediatamente sancionado por ter violado o pacto de silêncio: durante vários dias contavam-se pelos dedos de meia mão só, os órgãos de informação que ousavam sequer reproduzir a notícia maldita do PÚBLICO. Esta é a segunda questão a que é vital responder para se perceber até que ponto existe efectiva liberdade de informação: por que razão muitos jornais e acima de tudo as televisões, com relevo para a RTP, entenderam pelo seu gritante silêncio que o PÚBLICO tinha feito "jornalismo de sarjeta" indigno de ser citado? Foi preciso esperar uma semana até que o Expresso acrescentasse mais achas para a fogueira, tornando o assunto, como se costuma dizer, "incontornável", coisa que ele não era desde 2005. A ironia destas coisas apanhou mesmo um dos responsáveis do Expresso que tinha atacado o PÚBLICO considerando que a notícia sobre Sócrates "não honra (...) todos aqueles que de algum modo contribuíram para fazer do PÚBLICO um jornal de referência".

(...) Estes dias de silêncio e isolamento forçado do PÚBLICO são um revelador e uma face negra da situação da nossa comunicação social e dos seus compromissos invisíveis com o poder socialista, o seu Governo e o primeiro-ministro. Seria interessante saber, porque se trata de política no seu verdadeiro sentido, se houve ou não conflitos nas redacções entre quem queria e quem não queria dar sequência às notícias do PÚBLICO. Seria interessante saber por que critérios jornalísticos tal não foi feito, em particular pela parte da comunicação social que os portugueses pagam com os seus impostos e está sujeita ao governo, a RTP. Mais uma vez, a análise da cobertura televisiva da RTP, primeiro censória, depois desculpatória, revela a governamentalização do "serviço público".

(...) A não existir dolo, nem facilitação gravosa e excepcional no processo académico do primeiro-ministro, o que sobrará de toda esta questão é bem mais grave do que saber se José Sócrates é ou não engenheiro, agente técnico, ou estudante finalista: é o modo como a comunicação social se coloca perante o poder socialista. É por isso que a grande esperança governativa é que o assunto morra por si, mesmo indo-se os anéis (os títulos académicos), mas ficando os dedos e os seus fios visíveis e invisíveis, os mecanismos que do poder chegam às redacções, explicando muita e muita coisa que escapa ao olhar do cidadão desprevenido destes meandros vitais do poder dos nossos dias.


Comentário:

O artigo de Pacheco Pereira revela muita coisa sobre as enormes cumplicidades existentes entre a comunicação social e o Poder. Mas Pacheco mostra, na sua análise, pouca profundidade e alguma parcialidade.

Em primeiro lugar aplaude o jornal Público, onde tem uma coluna, por «ter quebrado esse muro de silêncio e ter feito jornalismo como deve ser», embora reconheça que a notícia já circulava na Internet há mais de dois anos, com informações relevantes a avolumarem-se quase diariamente.

Em segundo lugar ataca «o modo como a comunicação social se coloca perante o poder socialista», como se este partido tivesse o exclusivo dos «favores» dos media e esquecendo o resto do espectro partidário.

Para termos uma perspectiva mais abrangente, seria interessante investigar (Pacheco aqui não entra), quem são de facto os verdadeiros donos dos medias nacionais. E também investigar quem são os grandes financiadores dos políticos e dos partidos. Talvez chegássemos à divertida conclusão de que afinal são os mesmos. E, assim sendo, em vez de cumplicidade conjuntural entre os media e a política, talvez tenhamos estreita colaboração entre empregados do mesmo patrono.

quinta-feira, abril 05, 2007

Como é que os bancos criam dinheiro a partir do nada

O texto seguinte encontra-se no livro de economia «Success in Economics» de Derek Lobley B.A. Foi considerado apropriado para planos de estudos de economia de muitas corporações profissionais tais como o "Institute of Bankers".

Vamos imaginar uma economia na qual existe apenas um banco. Pouco depois de começar a sua actividade constata que indivíduos e empresas colocaram à sua guarda 10.000 Euros. Nesta fase é perfeitamente claro que o banco possui dinheiro suficiente no cofre para fazer face às exigências dos seus clientes.

Na prática os clientes preferem saldar as dívidas entre eles com cheques, dando ordens ao banco para transferir dinheiro de uma conta para outra. Portanto se Adam e Brown depositaram ambos 500 Euros no banco, e Adam deve a Brown 100 Euros, ele pode saldar a sua dívida ordenando ao banco para reduzir a sua conta em 100 Euros e acrescentar à conta do Brown a mesma importância. Nenhum dinheiro mudou de mãos; o banco ainda deve aos seus clientes 10.000 Euros; houve apenas um pequeno ajustamento nas contas.

Se todos os depositantes do banco estivessem preparados para resolver as suas dívidas desta forma o banco poderia esquecer os seus activos em dinheiro. Os clientes, contudo, precisam de levantar uma certa quantia de dinheiro todas as semanas para pequenos pagamentos (não é usual passar cheques para pequenas quantias) e também para pagar às pessoas que não querem utilizar o sistema bancário.

Se o banco descobre que, no máximo, os levantamentos semanais de dinheiro representam cerca de 10% do total dos depósitos, e que aquelas somas são rapidamente depositadas pelos comerciantes que aceitam os pagamentos em dinheiro dos seus clientes, então a máxima quantia de dinheiro que o banco precisa para fazer face aos seus clientes com um total de depósitos de 10.000 Euros é na realidade de 1000 Euros.

Alternativamente é possível constatar que com 10.000 Euros de dinheiro em caixa, o banco pode permitir-se uma dívida de 100.000 Euros.

Neste caso vamos imaginar um cliente, o Sr. Clark, que vai ao banco pedir um empréstimo de 1000 Euros. O gerente do banco concorda e abre uma conta para ele com um crédito positivo de 1000 Euros. O Sr. Clark pode agora passar cheques até ao montante de 1000 Euros embora não tivesse depositado qualquer dinheiro no banco; ele simplesmente fica obrigado a pagar os 1000 Euros mais os juros, tendo dado provavelmente alguma garantia ao banco.

Não existe agora dinheiro suficiente para acudir a todos os depositantes se eles quisessem levantar os seus depósitos, mas o banco sabe que provavelmente o máximo que será levantado é 1.100 Euros (10 % de 11.000 Euros).

Portanto, o banco irá continuando a fazer empréstimos (ou criando crédito, que é a mesma coisa) até que o dinheiro que tenha em caixa seja equivalente a apenas 10% dos depósitos.

Até agora, no que concerne aos clientes, a sua posição mantém-se constante quer eles tenham depositado dinheiro para abrir uma conta, quer o dinheiro tenha sido criado por um empréstimo. Quando eles gastam o seu dinheiro o receptor desse dinheiro não tem forma de saber se eles o depositaram no banco.

Deste modo, gerando crédito, os bancos aumentam a oferta de dinheiro.


Comentário de Major L.B.Angus: O sistema bancário moderno cria dinheiro a partir do nada. O processo é talvez o mais impressionante truque de prestidigitação já alguma vez inventado.


Este truque de prestidigitação permite às sanguessugas emprestar «milhões contabilísticos» e arrecadar milhões em juros, dolorosamente reais para quem os paga. Ei-las lustrosas e nutridas:

terça-feira, abril 03, 2007

Juros criminosos? Explique lá porquê, Sr. Trichet?

Jornal de Negócios - Paulo Moutinho – 23/3/2007

O ainda membro do conselho de governadores do Banco Central Europeu (BCE), Mitja Gaspari, diz que a inflação nos países da Zona Euro está "controlada" e que ainda é muito cedo para falar em novos aumentos da taxa de juro de referência.

"Não estou a dizer que as expectativas para a inflação são completamente benignas, mas a inflação está obviamente controlada", afirmou Gaspari, governador do banco central da Eslovénia, cujo mandato termina no final deste mês. "Falar sobre novos ajustes nos juros é prematuro de momento, precisamos de esperar um pouco mais", acrescentou.

A perspectiva de Mitja Gaspari é partilhada pela maioria dos 19 membros do conselho de governadores do BCE. "A maioria de nós tem a mesma opinião", de que a inflação na Zona Euro está controlada, ainda que membros do BCE como Axel Weber e Klaus Liebscher continuem a salientar os riscos inflacionistas.

A desvalorização de cerca de 20% dos preços do petróleo desde o máximo histórico fixado em Julho do ano passado contribuiu para que a taxa de inflação nos 13 estados-membros que partilham o euro permanecesse abaixo do limite de 2%, pelo sexto mês consecutivo.

Ainda assim, o BCE voltou a aumentar a taxa de juro de referência pela sétima vez consecutiva desde o final de 2005, agravando o preço do dinheiro em 25 pontos base para os actuais 3,75%, deixando em aberto novos aumentos ao afirmar que a política monetária continua "acomodatícia".


Comentário do autor do site «Economia & Finanças», Rui Cerdeira Branco a esta notícia:

Continuo desconfiado que há alguma agenda desconhecida entre os que continuam a defender a subidas das taxas de juro. Pode até haver uma justificação económica, mas terá pouco a ver com os dados fundamentais disponíveis nos últimos meses. Quererá o BCE colocar os juros a um nível suficientemente alto, aproveitando ao máximo a "folga" que o crescimento económico dá para conseguir um patamar mais manobrável na próxima fase de mudança do ciclo?

Recordo que o diferencial face aos EUA ainda é grande (150 ponto base, que é o mesmo que dizer, 1,5 pontos percentuais). Mas se tiver algo a ver com isto, então a conversa seria ainda mais séria do que tem sido. Hoje mesmo foi a Comissão Europeia, via Durão Barroso, a reforçar as críticas ao BCE…


Comentário:

O presidente do Banco Central Europeu, Jean-Claude Trichet, tem utilizado normalmente a expressão "forte vigilância" da autoridade monetária relativamente à taxa de inflação. Não existindo qualquer aumento da inflação, não será a política de rapina criminosa de de Trichet a merecer uma "forte vigilância" por parte dos cidadãos da Europa?

domingo, abril 01, 2007

Banco Central Europeu continua a sugar portugueses

Mensalidades dos empréstimos contraídos junto da banca vão continuar a subir

Jornal Público - 31.03.2007

A Euribor, o principal indexante dos empréstimos bancários, continua em ritmo de subida, o que constitui um duro golpe no orçamento de boa parte das famílias e empresas portuguesas. Ontem, a taxa a seis meses - o prazo mais utilizado neste tipo de créditos - fechou a 4,043, o valor mais alto desde Setembro de 2001.

(...) No espaço de dois anos, a Euribor a seis meses passou de 2,192 por cento para 3,996 por cento. De acordo com uma simulação feita com a ajuda da Deco-Proteste, é possível verificar que o impacto deste aumento num empréstimo de 150 mil euros, a 30 anos, é de 150,90 euros mensais, o que representa um agravamento de 24,7 por cento.

(...) As taxas Euribor, que são fixadas no mercado interbancário, antecipam a subida do preço do dinheiro por parte do Banco Central Europeu (BCE), que tem actualmente a sua taxa de referência nos 3,75 por cento. Como os responsáveis do banco têm dado alguns sinais de que haverá novos aumentos de taxas de juros para controlar a inflação, o que tem sido reforçado por indicadores económicos, como o crescimento da massa monetária na zona euro, a Euribor continua a subir, antecipando essa decisão. Para já, é expectável que até Junho o BCE faça uma nova subida da sua taxa de referência para os 4 por cento.


Comentário:

Se o Banco Central Europeu (BCE) tem o direito exclusivo de estabelecer a taxa de juro de referência e se tem o direito exclusivo de emitir notas de euro, como é que aquela instituição se pode queixar do crescimento da massa monetária (que controla em absoluto), para justificar a subida da taxa de juro (que também controla em absoluto)?

Porque não perguntamos ao sr. Vítor Constâncio, actual governador do Banco de Portugal e, portanto, pertencente ao Conselho do BCE , a razão de tal paradoxo? Os 25.000 euros mensais que o Estado Português lhe paga não o deveriam obrigar a explicar porque motivo o BCE aumenta a inflação e a taxa de juro?

Entretanto, ricamente benefiados pelos paradoxos do Banco Central Europeu, as sanguessugas vão inchando e avermelhando...