terça-feira, fevereiro 26, 2008

O Sócrates, os Estádios, os Aeroportos, os TGVS e os Bancos



O Euro 2000, o anterior Campeonato Europeu de Futebol, realizado no ano de 2000, teve como anfitriões a Bélgica e a Holanda, responsabilidade esta que foi, pela primeira vez, partilhada por duas nações, decorrendo de 10 de Junho a 2 de Julho. O campeonato foi disputado em 8 cidades diferentes, 4 na Holanda e 4 na Bélgica.

Quanto ao Euro 2008, o futuro Campeonato Europeu de Futebol, a realizar no ano de 2008, os organizadores, Áustria e Suíça, anunciaram que o torneio será disputado em apenas sete estádios, três na Suíça e quatro na Áustria, e não em oito, como previsto.

Por que é que a Holanda e a Bélgica, bem mais prósperos que Portugal, organizaram em conjunto o Euro 2000 e apenas precisaram de sete estádios, dos quais dois novos, e Portugal, organizando sozinho, precisou de dez estádios, dos quais oito novos? E porque é que a Áustria e Suíça, igualmente bem mais prósperos que Portugal, vão organizar também em conjunto o Euro 2008, aproveitando estádios existentes?


O ENTUSIASMO JUVENIL DE SÓCRATES

Em 1995, José Sócrates tornou-se membro do Primeiro Governo de António Guterres, ocupando o cargo de secretário de Estado-adjunto do Ministro do Ambiente. Dois anos depois, tornou-se ministro-adjunto do primeiro-ministro, com a tutela do Desporto. Foi, nessa qualidade, que se tornou no principal impulsionador da realização, em Portugal, do EURO 2004. Por ter sido um dos governantes com a tutela do Euro 2004 - quando foi ministro-adjunto do primeiro-ministro, durante o I Governo de António Guterres -, Sócrates foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

Tomada a grande decisão da realização do Euro-2004, avançou-se para a construção dos dez estádios de futebol que se traduziram em mais de mil milhões de euros de investimento público total, em nome de um amplo desígnio nacional. O Euro 2004, diziam, iria trazer muitos milhões de turistas a Portugal que constituiriam o pontapé de saída para o arranque decisivo da economia portuguesa.

A fase final do Campeonato Europeu de Futebol de 2004 teve lugar em Portugal entre 12 de Junho e 4 de Julho de 2004. A prova correu sem grandes incidentes, tendo Portugal atingido a final da prova. Para organizar o terceiro maior evento desportivo do Mundo, Portugal construiu e renovou 10 estádios de futebol.


MAIS DE MIL MILHÕES DE EUROS DE INVESTIMENTO PÚBLICO


EURO 2004 - RAMPA DE LANÇAMENTO DE CARREIRA POLÍTICA

Público (4/2/2005) - A 12 de Fevereiro de 2005 António José Seguro lembrou as responsabilidades de Sócrates na realização do Euro-2004: "Hoje, como no Euro-2004, houve um homem que lançou a semente, a semente de uma força que ninguém pode parar. Esse homem chama-se José Sócrates, futuro primeiro-ministro de Portugal", acentuou.


THE DAY AFTER

Em Dezembro de 2005 o Diário de Notícias procedeu a um balanço do Euro-2004:

- Estádios demasiado grandes para a necessidade do país;

- câmaras municipais excessivamente endividadas para os próximos 20 anos;

- derrapagem de 13,3% nas acessibilidades;

- mais de mil milhões de euros de investimento público total.

As conclusões críticas são extraídas da segunda fase de auditoria ao Euro 2004 e levam o Tribunal de Contas (TC) a questionar "se o elevado montante de apoios públicos" ao campeonato organizado por Portugal no Verão de 2004 não poderia ter tido "uma utilização mais eficiente noutras áreas de relevante interesse e carência pública".

"Os novos estádios do Euro 2004 estão sobredimensionados, o que pode ser constatado pelas baixas taxas de ocupação, da ordem dos 20 a 35%", refere o relatório da auditoria divulgado ontem pelo Tribunal de Contas, adiantando que "em alguns dos estádios, nem durante o Euro 2004 se atingiu a lotação máxima".


Também o Correio da Manhã avaliou o impacto do Euro 2004:

E o dinheiro investido neste espectáculo de grande escala também não teve grande retorno. Quase seis meses depois do Euro 2004, alguns estádios onde foram investidos milhões de euros para receber a prova estão «às moscas». Dos recintos do Euro2004, só os dos «três grandes» tiveram sucesso comercial.

Numa auditoria desenvolvida pelo Tribunal de Contas junto dos estádios de Guimarães, Braga, Leiria, Coimbra, Aveiro, Loulé e Faro, ficou claro que todos custaram mais do que o orçamentado, e que as autarquias se endividaram para os próximos 20 anos. As sete autarquias que receberam jogos do Euro 2004 contraíram empréstimos bancários no valor global de 290 milhões de euros para financiar obras relacionadas com o campeonato. Na sequência destes empréstimos, as câmaras terão que pagar juros no montante de 69,1 milhões de euros, nos próximos 20 anos, refere o relatório de auditoria do Tribunal de Contas.


EURO-2004 FOI POSITIVO, CONCLUI SÓCRATES

Entrevista de Sócrates ao Acção Socialista (19/5/2004):

AS - "Atendendo a que foi o ministro responsável pela realização em Portugal do Euro 2004, qual o seu comentário ao posicionamento ambivalente do Governo face ao evento?"

Sócrates - "O Governo aprendeu. Começou por ter as maiores dúvidas e reservas quanto ao Euro 2004, a fazer-lhe críticas muito pueris, próprias de quem não percebeu nada do que estava em causa. O Euro 2004 não é um torneio de futebol, é muito mais do que isso. É um grande acontecimento que projecta internacionalmente o nosso país. Mas, finalmente, o Governo acordou e parece estar a perceber a dimensão e a importância do significado do Euro 2004. Ainda bem que assim é. Todavia, não deixa de ser claro que com este Governo não teria havido Euro 2004, nem teriam apostado nele, nem ganho, nem se teriam interessado. Como não se interessam, aliás, por nenhuma área na política desportiva."

"Nós definimos como orientação que Portugal devia ser um país capaz de realizar grandes eventos desportivos internacionais. Foi nessa altura que ganhámos a realização do campeonato do mundo de atletismo de pista coberta, do mundial de ciclismo, do mundial de esgrima, da gimnoestrada, do master de ténis, etc. Agora tudo parou, principalmente depois daquele grande falhanço da regata em que o Governo tanto se empenhou. É claro que lamento muito que tivéssemos perdido, mas que verdade é que no passado ganhámos e desta vez perdemos."


AS - "No entanto, passa a ideia que eles colhem os louros do Euro 2004 e passam para os governos do PS o odioso, nomeadamente a construção dos dez estádios."

Sócrates - "Pois, mas a construção dos dez estádios não um odioso, é bem necessário ao país. Portugal tinha que fazer este trabalho. É também uma das críticas mais infantis que tenho visto, a ideia de que se Portugal não tivesse o Euro não tinha gasto dinheiro nos estádios. Isso é uma argumentação própria de quem é ignorante. Há muitos anos que o Estado português gasta dinheiro nos estádios. Aquelas cadeirinhas que nós vimos surgir e que foram postas no final dos anos 80 e princípios dos anos 90, eram também pagas por dinheiro do Estado. O Estado já estava a fazer investimentos de renovação dos estádios. Acontece que, mesmo assim, os estádios em Portugal não cumpriam as leis de segurança e conforto. Tínhamos, portanto, que fazer esta modernização. Podíamos era tê-lo feito em vinte anos; assim fizemo-lo em cinco anos e com um grande retorno para a nossa economia. Ouvi recentemente responsáveis pelo Euro dizerem que é já claro, em relação ao que o Estado gastou e ao que recebeu, que estamos perante um grande sucesso económico."


Comentário:

1) Será aceitável que o investimento público em dez estádios de futebol se tenha traduzido em mais de mil milhões de euros no total;

2) Será aceitável que Portugal tenha organizado o Europeu sózinho com dez estádios, quando o Europeu anterior foi organizado conjuntamente pela Bélgica e a Holanda (4 estádios cada), e o Europeu seguinte está a ser organizado conjuntamente pela Áustria e Suíça (7 estádios no total). Sabendo que qualquer destes quatro países - Bélgica, Holanda, Áustria e Suíça - são bastante mais ricos que Portugal;

3) Será aceitável que uma auditoria divulgada pelo Tribunal de Contas tenha constatado que os novos estádios do Euro 2004 estavam sobredimensionados, com baixas taxas de ocupação, da ordem dos 20 a 35%, e que não tenha havido consequências deste exemplo gritante de gestão danosa?

4) Será aceitável que as sete autarquias que receberam jogos do Euro 2004 tenham contraído empréstimos bancários no valor global de 290 milhões de euros e tenham ficado endividadas para os próximos 20 anos;

5) Será aceitável que na sequência destes empréstimos, as câmaras vão ter que pagar juros no montante de 69,1 milhões de euros, nos próximos 20 anos.


O Euro-2004, ou melhor, os dez mausoléus às moscas que custaram mil milhões de euros ao Estado Português, e que endividaram as autarquias durante mais de 20 anos, terão constituído uma prova de confiança do ministro-adjunto com a tutela do Desporto, à Banca e aos grandes empreiteiros?

Terá este enorme investimento sem retorno, impulsionado pelo Sr. Engenheiro, servido como bom indicador aos grandes prestamistas e construtores, que em conjunto controlam a política, para o guindarem à posição de 1º ministro?


Terá sido esta equipa a grande vencedora do Euro 2004?


A construção de mausoléus, disfarçados de estádios, totalmente inúteis e absurdamente dispendiosos, não deveriam ser investigados? Para que se evitasse, no futuro, construir outros, ainda mais inúteis e ainda mais dispendiosos? Não há políticos que deveriam estar atrás das grades?
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11 comentários:

contradicoes disse...

Os políticos sempre tiveram
a mania das grandezas
nos governos um despautério
o volume das despesas

Carlos Marques disse...

O próprio José Sócrates que presentemente exige sacrifícios e assegura que "o pior ainda não passou", foi o mesmo que instigou esta candidatura ao Euro 2004, que se torna ainda mais inexplicável quando se sabe que quatro estádios seriam bastantes. Porque não um estádio municipal em Lisboa e no Porto? Porquê tanta falta de planeamento?

xatoo disse...

o problema maior é que os estádios não estão pagos. As autarquias endividaram-se para os financiar e agora não têm meios para pagar, nem os custos, nem a manutenção.
Os estádios são monos que estão ali plantados como fonte de rendimento perene de juros.
Se transplantarmos este esquema para os paises, é o mesmo método usado pelo FMI/BM para os endividarem com "as grandes obras"; e assim milhões de cidadãos são transformados em pagadores de juros durante gerações

Helena Simões disse...

O Sócrates é como um Robin do Bosques ao contrário: tira aos pobres para dar aos ricos!

Se gastarem o dinheiro em TGVs e outros projectos megalómanos e irresponsáveis, quando os milhões acabarem estamos pior que agora.

Anónimo disse...

Realmente a incoerência é total. Factos são factos.
Mas na altura não andou aí toda gente contente a por bandeirinhas de Portugal nas janelas, varandas e marquises.
O Euro 2004 mais a co-incineração ajudaram muito "o mostrar" de Sócrates ao País e daí o próprio soube capitalizar da melhor forma (dentro do partido e no País), ganhando "confiança" junto de alguns poderes.
E Carlos Cruz, o relações públicas da operação, já ninguém se lembra ? Mesmo antes de rebentar o caso Casa Pia ...

Anónimo disse...

Zorze, é isso mesmo. O problema é que o povo se distrai muito facilmente...

PintoRibeiro disse...

Tenho de voltar.
Sem tempo mesmo K'mrd.
Abraço.

Anónimo disse...

Portugal é um país onde não se produz nada e se compra tudo no estrangeiro, por isso tem um Current "account balance"
de $ -18,530,000,000 (dados de 2007, os últimos conhecidos), o que lhe permite estar na 154 posição na lista da CIA,
entre 163 países.https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/rankorder/2187rank.html

Gastar rios de dinheiro em equipamentos não rentabilizados, não é bom para a população portuguesa, mas não é a população quem decide e a desinformação do que é bom ou não para a população é grande.

A resistência não tem acesso, aos cada vez mais centralizados media.

As pessoas não se apercebem, que quem vai ter de arcar com o peso dos investimentos são eles, em impostos, quando forem a um serviço público e ficarem 12 horas na fila, porque só há uma pessoa a atender, já sabem porque é, o dinheiro que havia para os outros empregados foi gasto em outra coisa.

Quem decide tudo o que se faz aqui é uma plutocracia separada em dois partidos iguais que de quatro em quatro anos, fazem um circo mediático chamado eleições para fabricar o consentimento da população para decidir por ela.

Os interesses da plutocracia reinante são conforme as marés e os grupos de pressão, e generalmente não são coincidentes com os do resto da população.

As coisas só poderão mudar, quando a população começar a votar em assuntos, e deixar de votar em partidos para decidirem por elas.

Nem sequer há controlo, nos USA há uma lei que impede que um partido seja responsabilizado por promessas eleitorais não cumpridas. Ou seja, é legal mentir, para obter o consentimento"
das populações.

A solução ?, uma democracia através da internet, retirando ao governo o poder das decisões, o governo só deveria deter o poder executivo, isto impediria que semelhantes aventuras e despesismos fossem acontecer no futuro.

Mesmo assim estamos à frente de colossos mundiais, como a Roménia, a França, a Turquia, a Grécia, a Austrália, a Itália, o Reino Unido, Espanha e os Estados Unidos.

Estes países deixaram de produzir localmente (passaram a produção para países como a China e o Japão), e o seu mecanismo de distribuição de riqueza pela população está a falhar, a sua classe média está em risco.

Desemprego massivo e crise social são inevitáveis, espero que a próxima revolução, a começar nos USA, acabe com as plutocracias e começem com as democracias.

O governo trabalha para a população, quem manda deve ser a população.
Se não é a população a mandar, o governo então... não trabalha para a população.
("taxation without representation", o moto da 1ª revolução americana)
Tem piada, o que nos é ensinado nas nossas "escolas" (centros de condicionamento, seria um nome mais apropriado) é que foi o imposto do chá que provocou a revolução. Se lerem o Benjamin Franklin, isso foi a gota de agua,
a verdadeira motivação da revolta, foi a banca inglesa querer impor a sua moeda, em vez da moeda colonial.

A europa "Nórdica" e a Alemanha (o motor da união europeia e do euro) estão a safar-se bem. (Como sempre)
São os países que vão sentir menos à grande recessão mundial, que vai vindo a caminho.

Quem vai ficar pior, são os estados unidos e os países colónias, portugal incluido.

Diogo disse...

Bom comentário Anónimo. Também sou um acérrimo defensor da democracia directa. A evolução exponencial da Internet conduz-nos para esse caminho.

É necessário curto-circuitar os partidos e os oligarcas que os sustentam.

xatoo disse...

com a "grande recessão mundial, que vai vindo a caminho.Quem vai ficar pior, são os estados unidos e os países colónias, portugal incluido"

não contando,,
com qualquer factor extraordinário que entretanto se desencadeie, por necessidade extrema de salvar o sistema - o 11/9 foi a saída para a bancarrota da bolha da economia virtual (vulgo, queda do Nasdaq); a recessão de 1929 só se consegiui resolver com a entrada dos EUA na 2ª GGuerra, etc
capisce?
dentro em breve vai acontecer algo de imprevisivel, qualquer facto grandioso e traumático, que altera todo o possivel entendimento das pessoas comuns, que, como habitualmente, serão mobilizadas para causas que não são as do seu interesse.

(eu acho que desta vez é o Irão, a novidade das mini-nukes como meio de impôr respeito aos eventuais adversários: Russia e China)

Anónimo disse...

Sócrates é um dos principais obreiros da candidatura vitoriosa à organização do Euro 2004.