Jon Stewart tem como convidado aquele que foi o director do Conselho Económico Nacional durante a administração Bush, e coloca-lhe algumas questões bastante incómodas relacionadas com a actual crise financeira e os apoios escandalosos à indústria financeira.
Jon Stewart: O meu convidado foi director do Conselho Económico Nacional durante a administração George W. Bush, e é autor do livro "What a President Should Know but most learn too late" [O que um presidente devia saber mas a maioria aprende demasiado tarde]. Palmas para Lawrence Lindsey.
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Lindsey: Dou-lhe um exemplo. Isto aplica-se a todos os políticos. Devemos exigir mais. O que ouvimos quando se trata de apoios do estado, quais são as grandes questões? Alugar aviões para usos de empresas e os bónus salariais demasiado avultados. Ambas as coisas são verdade, mas vamos analisá-las. Está a ver os aviões em que vieram os representantes da indústria automóvel? A indústria automóvel gasta 80 milhões de dólares por dia. São três milhões de dólares por hora. 50 mil por minuto. Sabe quanto custa eles irem e virem em jactos particulares? Custa menos do que a indústria automóvel gasta num minuto. Talvez não o devessem ter feito, mas, se o que está em causa são os custos…
Jon Stewart: E os salários dos executivos?
Lindsey: Os banqueiros de Wall Street recebem 18 mil milhões de dólares. É muito dinheiro. Não o ganharam, não o deviam ter recebido. Mas o problema é de 1.800 mil milhões de dólares. Quando um político diz: "vou resolver o problema, porque vou garantir que não são pagos assim"... Eles podiam trabalhar de graça e ó se resolvia 1% do problema. Não chegava.
Jon Stewart: Mas isso não é um incentivo para enriquecer à custa de... Não aponta para um problema maior da economia? Parece que há duas economias separadas: uma economia de crescimento a longo prazo, na qual a maioria de nós se integra, em que investimos o dinheiro e dizem-nos que, daqui a 40 anos podemos reformar-nos, e uma economia a curto prazo, a de Wall Street que cria produtos financeiros que dêem lucro todos os anos, sem perceber que está a mandar tudo abaixo.
Lindsey: É verdade. A forma como são remunerados é errada. O que devem fazer, não é serem pagos pelo que fazem num ano mas pelo desempenho ao longo de três ou cinco anos. Precisamos dessa mudança, não há dúvida.
Jon Stewart: Eu tenho um programa de estímulo - Em vez de dar milhares de milhões aos bancos, ou seja, recompensar o seu mau desempenho, porque não conseguir algo de concreto com esse dinheiro, dando-o ao consumidor? Damos aos bancos, pensando que isso lhes dá dinheiro, liquidez, para começar a conceder crédito outra vez. Dêem-no aos consumidores que têm dívidas, para pagarem as dívidas. O dinheiro vai parar aos bancos na mesma. Obtêm liquidez, mas os consumidores libertam-se de muitas dívidas. Porque não podemos fazer isso? Porque é que não resulta?
Lindsey: Resulta, mas o que acho que devemos fazer é deixar as pessoas negociar as hipotecas. É aqui que está o problema. O problema são as hipotecas. Oferecemos uma taxa mais baixa, 4%. O preço de fazer isso é terem de prometer pagar. Se deixarmos a casa, vamos ter de pagar na mesma, tal como é preciso pagar os empréstimos para tirar um curso.
Jon Stewart: Mas porque é que as pessoas têm de fazer promessas que a Goldman Sachs não tem de fazer, que a AIG não tem de fazer? Os bancos recebem milhares de milhões de dólares sem ter de haver promessas, restrições, supervisão. Porque é que não podemos dar o dinheiro aos consumidores, ajudar a economia de baixo para cima, e, depois, os trabalhadores… Falam sempre do mercado livre. Os mercados não são livres. A diferença é que temos incentivado os investidores. Temos de voltar a recompensar o trabalho, não acha?
Lindsey: Acho que temos de recompensar a virtude. Isso inclui trabalhar, pagar as contas, cuidar dos filhos e ser honesto com o dinheiro dos outros. Tem de ser assim em todos os aspectos. Mas pagar as contas… Dizer a uma pessoa "pode fazer uma hipoteca, mas não tem mesmo de a pagar", não é recompensar a virtude. Oferecemos às pessoas uma taxa mais baixa, mas têm de prometer pagar. O governo não perderia dinheiro com esta ideia e seria melhor para todos. Se baixarmos a taxa de juro de uma hipoteca de 6 para 4% e a hipoteca for de 200 mil dólares, a pessoa fica com mais quatro mil dólares por ano no bolso. É muito mais do que qualquer plano de estímulo oferecerá.
Jon Stewart: Os bancos receberiam o seu dinheiro de volta e esses deixariam de ser maus empréstimos, é isso?
Lindsey: Deixariam de ser maus empréstimos. Os bancos receberiam o dinheiro. Podiam emprestá-lo novamente, para dinamizar a economia.
Jon Stewart: Estas ideias não estão a ser discutidas em praça pública. Só ouvimos falar de obras públicas ou cortes nos impostos. Nestes últimos oito anos houve inúmeros cortes nos impostos e o fosso entre os ricos… Esqueça os pobres. O fosso entre os ricos e as pessoas normais é enorme. Como podemos pensar em insistir em ganhos de capital e incentivos fiscais para os investidores, quando os trabalhadores é que precisam de ajuda?
Lindsey: Os trabalhadores precisam de ajuda e também de planos de reforma. A maior parte do capital do país está nas mãos de todos nós na forma de planos de reforma e apólices de seguro. Mas concordo consigo. Temos de cortar nos impostos pagos pelos trabalhadores, através do imposto sobre o rendimento, e temos de ajudar os proprietários de casas, oferecendo-lhes um negócio: "Prometa pagar. Damos-lhe uma taxa de juro mais baixa." Se recompensarmos as pessoas que não pagam hipotecas… O dinheiro não é de graça. Se fizer um negócio em que acho que não vou pagar a hipoteca, vão cobra-me mais pela hipoteca.
Jon Stewart: Então, porquê recompensar os bancos que concederam esses empréstimos?
Lindsey: Não devemos fazê-lo. É verdade.
Jon Stewart: O argumento da moralidade perde-se, quando dizemos: "Damos aos bancos esses milhares de milhões de dólares, mas não os podemos dar aos proprietários de casas, porque ficam com a ideia errada e não vão cumprir."
Lindsey: O que temos de fazer é punir os accionistas dos bancos.
Jon Stewart: Sabe o que eu acho que é? Digo isto a todos os apoiantes da economia da oferta, incluindo o senhor. É um seguro contra uma revolução. É o que é. Se isto continua a piorar, as pessoas vão para as ruas de forquilhas e tochas e está tudo tramado.
Vídeo legendado em português:
DS - 09 As pessoas pegam em forquilhas @ Yahoo! Video
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Jon Stewart: O meu convidado foi director do Conselho Económico Nacional durante a administração George W. Bush, e é autor do livro "What a President Should Know but most learn too late" [O que um presidente devia saber mas a maioria aprende demasiado tarde]. Palmas para Lawrence Lindsey.
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Lindsey: Dou-lhe um exemplo. Isto aplica-se a todos os políticos. Devemos exigir mais. O que ouvimos quando se trata de apoios do estado, quais são as grandes questões? Alugar aviões para usos de empresas e os bónus salariais demasiado avultados. Ambas as coisas são verdade, mas vamos analisá-las. Está a ver os aviões em que vieram os representantes da indústria automóvel? A indústria automóvel gasta 80 milhões de dólares por dia. São três milhões de dólares por hora. 50 mil por minuto. Sabe quanto custa eles irem e virem em jactos particulares? Custa menos do que a indústria automóvel gasta num minuto. Talvez não o devessem ter feito, mas, se o que está em causa são os custos…
Jon Stewart: E os salários dos executivos?
Lindsey: Os banqueiros de Wall Street recebem 18 mil milhões de dólares. É muito dinheiro. Não o ganharam, não o deviam ter recebido. Mas o problema é de 1.800 mil milhões de dólares. Quando um político diz: "vou resolver o problema, porque vou garantir que não são pagos assim"... Eles podiam trabalhar de graça e ó se resolvia 1% do problema. Não chegava.
Jon Stewart: Mas isso não é um incentivo para enriquecer à custa de... Não aponta para um problema maior da economia? Parece que há duas economias separadas: uma economia de crescimento a longo prazo, na qual a maioria de nós se integra, em que investimos o dinheiro e dizem-nos que, daqui a 40 anos podemos reformar-nos, e uma economia a curto prazo, a de Wall Street que cria produtos financeiros que dêem lucro todos os anos, sem perceber que está a mandar tudo abaixo.
Lindsey: É verdade. A forma como são remunerados é errada. O que devem fazer, não é serem pagos pelo que fazem num ano mas pelo desempenho ao longo de três ou cinco anos. Precisamos dessa mudança, não há dúvida.
Jon Stewart: Eu tenho um programa de estímulo - Em vez de dar milhares de milhões aos bancos, ou seja, recompensar o seu mau desempenho, porque não conseguir algo de concreto com esse dinheiro, dando-o ao consumidor? Damos aos bancos, pensando que isso lhes dá dinheiro, liquidez, para começar a conceder crédito outra vez. Dêem-no aos consumidores que têm dívidas, para pagarem as dívidas. O dinheiro vai parar aos bancos na mesma. Obtêm liquidez, mas os consumidores libertam-se de muitas dívidas. Porque não podemos fazer isso? Porque é que não resulta?
Lindsey: Resulta, mas o que acho que devemos fazer é deixar as pessoas negociar as hipotecas. É aqui que está o problema. O problema são as hipotecas. Oferecemos uma taxa mais baixa, 4%. O preço de fazer isso é terem de prometer pagar. Se deixarmos a casa, vamos ter de pagar na mesma, tal como é preciso pagar os empréstimos para tirar um curso.
Jon Stewart: Mas porque é que as pessoas têm de fazer promessas que a Goldman Sachs não tem de fazer, que a AIG não tem de fazer? Os bancos recebem milhares de milhões de dólares sem ter de haver promessas, restrições, supervisão. Porque é que não podemos dar o dinheiro aos consumidores, ajudar a economia de baixo para cima, e, depois, os trabalhadores… Falam sempre do mercado livre. Os mercados não são livres. A diferença é que temos incentivado os investidores. Temos de voltar a recompensar o trabalho, não acha?
Lindsey: Acho que temos de recompensar a virtude. Isso inclui trabalhar, pagar as contas, cuidar dos filhos e ser honesto com o dinheiro dos outros. Tem de ser assim em todos os aspectos. Mas pagar as contas… Dizer a uma pessoa "pode fazer uma hipoteca, mas não tem mesmo de a pagar", não é recompensar a virtude. Oferecemos às pessoas uma taxa mais baixa, mas têm de prometer pagar. O governo não perderia dinheiro com esta ideia e seria melhor para todos. Se baixarmos a taxa de juro de uma hipoteca de 6 para 4% e a hipoteca for de 200 mil dólares, a pessoa fica com mais quatro mil dólares por ano no bolso. É muito mais do que qualquer plano de estímulo oferecerá.
Jon Stewart: Os bancos receberiam o seu dinheiro de volta e esses deixariam de ser maus empréstimos, é isso?
Lindsey: Deixariam de ser maus empréstimos. Os bancos receberiam o dinheiro. Podiam emprestá-lo novamente, para dinamizar a economia.
Jon Stewart: Estas ideias não estão a ser discutidas em praça pública. Só ouvimos falar de obras públicas ou cortes nos impostos. Nestes últimos oito anos houve inúmeros cortes nos impostos e o fosso entre os ricos… Esqueça os pobres. O fosso entre os ricos e as pessoas normais é enorme. Como podemos pensar em insistir em ganhos de capital e incentivos fiscais para os investidores, quando os trabalhadores é que precisam de ajuda?
Lindsey: Os trabalhadores precisam de ajuda e também de planos de reforma. A maior parte do capital do país está nas mãos de todos nós na forma de planos de reforma e apólices de seguro. Mas concordo consigo. Temos de cortar nos impostos pagos pelos trabalhadores, através do imposto sobre o rendimento, e temos de ajudar os proprietários de casas, oferecendo-lhes um negócio: "Prometa pagar. Damos-lhe uma taxa de juro mais baixa." Se recompensarmos as pessoas que não pagam hipotecas… O dinheiro não é de graça. Se fizer um negócio em que acho que não vou pagar a hipoteca, vão cobra-me mais pela hipoteca.
Jon Stewart: Então, porquê recompensar os bancos que concederam esses empréstimos?
Lindsey: Não devemos fazê-lo. É verdade.
Jon Stewart: O argumento da moralidade perde-se, quando dizemos: "Damos aos bancos esses milhares de milhões de dólares, mas não os podemos dar aos proprietários de casas, porque ficam com a ideia errada e não vão cumprir."
Lindsey: O que temos de fazer é punir os accionistas dos bancos.
Jon Stewart: Sabe o que eu acho que é? Digo isto a todos os apoiantes da economia da oferta, incluindo o senhor. É um seguro contra uma revolução. É o que é. Se isto continua a piorar, as pessoas vão para as ruas de forquilhas e tochas e está tudo tramado.
Vídeo legendado em português:
DS - 09 As pessoas pegam em forquilhas @ Yahoo! Video
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10 comentários:
Diogo
Só perguntas dificeis....
Que raio de feitio que tu tens.
Só te digo quando for grande quero ser Presidente da Assemblia da Brisa, pode ser que alguem me dê apoio financeiro, não achas?
Beijos
Esta entrevista tem muitas nuances escondidas, apesar da ilharga loquaz.
Estou em crer em algo do tipo "prévias autorizações" de formas modernas.
Abraço,
Zorze
dar dinheiro aos pobres não resulta, porque estoiram tudo num ápice, gastam em tretas supérfluas nos centros comerciais, vão de férias prós trópicos, etc.
Quanto à entrevista, funciona como um género de contraditório que desarma psicologicamente o espectador (se não houvesse ninguém a contestar o pobre desconfiava, como no tempo do Salazar);
Assim existe a ilusão que afinal há alguém que "aperta com eles" mas acabado o programa mudam ambos de roupa e vão os doism, entrevistador e entrevistado, fazer o mesmo que sempre têm feito
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o Henrique Monteiro do Expresso faz uma chamada no twitter para um post teu sobre o juiz do MP Lopes da Mota que "é suspeito de pressões... Será a primeira vez que ele é suspeito de uma coisa destas?"
"Alto-quadro do MP suspeito de ajudar Fátima Felgueiras"
http://twitter.com/HenriquMonteiro
vai por mim, Diogo, um dia destes ainda vais ser chamado a ajudar a recauchutar e salvar o cadáver capitalista
Xatoo, não percebo nada disto do Twitter.
Onde é que está a chamada ao meu post?
O que esta entrevista mostra é o que afirmo no meu último post: não percebem nada do que se passa com a economia, receitam «aspirinas» para baixar a febre mas não fazem ideia do que causa a febre nem qual o próximo sintoma que esta «doença» vai exibir.
E você sabe, não é Alf?
Diogo, se sei ou não não é relevante.
Os golpitas como se está a provar sairam-se bem. Lançaram o Mundo num verdadeiro caos económico com despedimentos massivos são milhões de desempregados a passarem por dificuldades, eles continuam no bem bom e para já têm garantido mais uns largos biliões para acrescentarem à riqueza que já possuem. Tudo isto até ao dia em que povos resolverem dizer basta e se sublevarem. Então depois se verão as trágicas consequências que advirão dessa sublevação.
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