Presidente Thomas Jefferson:
"Se o povo Americano alguma vez permitir que os bancos controlem a emissão do seu dinheiro, primeiro por inflação e depois por deflação, os bancos e as corporações que nascerem à sua volta, privarão o povo da sua propriedade até que os seus filhos acordem sem tecto no continente que os seus pais conquistaram."
"Se o povo Americano alguma vez permitir que os bancos controlem a emissão do seu dinheiro, primeiro por inflação e depois por deflação, os bancos e as corporações que nascerem à sua volta, privarão o povo da sua propriedade até que os seus filhos acordem sem tecto no continente que os seus pais conquistaram."
O novo mundo que aí vem
Segue-se um diálogo imaginário entre mim e um excerto de um artigo de Nicolau Santos no Expresso de 21/03/2009:
Nicolau: «O mundo de abundância e prosperidade em que vivemos desde a II Guerra Mundial está a ruir fragorosamente. Há, contudo, quem pense que, passada a tempestade, tudo voltará ao mesmo. Pois a má notícia é que não voltará. A boa é que, mesmo sendo um mundo mais pobre, aquele que aí vem, pode ser um mundo melhor. Explico-me.»
Diogo: Vamos, portanto e doravante, segundo o jornalista Nicolau Santos, começar a viver pior que no passado. Nunca na história tal aconteceu. Mas atentemos nos seus argumentos:
Nicolau: «O que se está a passar é o empobrecimento das sociedades ocidentais. Os nossos padrões de consumo serão inferiores àqueles que temos praticado até agora. Haverá menos emprego nos sectores da agricultura, indústria e serviços. E será insustentável que se mantenham e agravem as fortíssimas desigualdades sociais que se criaram desde os anos 80.»
Diogo: Porquê o empobrecimento anunciado? Que calamidade terá sobrevindo? O emprego vai diminuir e eventualmente acabar? E isso é mau?
Nunca, como hoje, a tecnologia esteve tão desenvolvida, e nunca, como hoje, a evolução da tecnologia foi tão rápida. A evolução tecnológica é exponencial. Não sei em que ponto nos encontramos, hoje, de uma curva que tende para mais infinito, mas é sabido que houve mais evolução tecnológica nos últimos 100 anos dos que nos mil anos anteriores. E haverá, seguramente, mais evolução tecnológica nos próximos vinte anos do que nos últimos 100.
A tecnologia é o conjunto de máquinas, ferramentas, técnicas, conhecimentos, métodos e processos utilizados na resolução de um trabalho. A evolução deste conjunto permite-nos produzir cada vez mais bens e serviços com cada vez menos esforço humano directo.
De forma simplista, na agricultura - cem homens munidos de uma enxada substituíram mil homens que plantavam sementes à mão. Dez homens com arados de tracção animal substituíram cem cavadores de enxada. Um homem com um tractor agrícola substituiu dez homens com arados. A diminuição do trabalho humano na agricultura, aconteceu, e será cada vez mais visível em todos os campos da economia, desde produção industrial aos serviços. Não será isto uma excelente notícia?
O problema é que o Nicolau continua a raciocinar tal como lhe ensinaram na escola: a economia implica forçosamente «Emprego». Não lhe passa pelo córtex cerebral que o emprego esteja em vias de desaparecimento, substituído progressivamente pela tecnologia. Não percebe que a evolução tecnológica está a substituir o homem na produção. É incapaz de imaginar uma economia sem emprego e parece desconhecer que o emprego surgiu paulatinamente apenas nos últimos 250 anos. Não concebe um mundo onde o homem possa trabalhar cada vez menos e usufruir cada vez mais. Nicolau assemelha-se a um míope, para quem, tudo o que esteja para lá dos apontamentos de economia que fotocopiou na faculdade, se mostra nebuloso e confuso.
Nicolau: «É bom que ninguém se esqueça que o que começou por ser uma crise imobiliária, passou para uma crise financeira, tornou-se uma crise da economia real, está já a transformar-se numa enorme crise social e vai descambar inevitavelmente em crises políticas, cujos desfechos são completas incógnitas.»
Diogo: O cândido Nicolau não entende que toda esta «crise» é deliberada e planeada com antecedência. O chamado «lixo tóxico», resultado da venda de imóveis sem qualquer garantia (só possível numa banca a funcionar em cartel), serviu para justificar o suposto «crash» de alguns bancos (que mais não são que balcões desse cartel a transferir activos de uns para outros), o que, por sua vez, serviu para desencadear a badalada «crise financeira» global.
Nicolau: «Por isso, não podemos cair nos vários erros que nos conduziram até aqui. Não podemos pedir às pessoas que se endividem para aumentar o consumo - foi precisamente o excesso de endividamento das pessoas, das famílias, das empresas, dos bancos, dos Estados que nos conduziu ao beco em que nos encontramos. Não podemos pedir aos bancos que emprestem dinheiro a tudo e a todos para manter as economias a funcionar - porque a probabilidade de grande parte desse dinheiro não ser recuperado é agora muito maior. Não podemos pedir às empresas que invistam para aumentar a produção - quando os mercados não conseguem absorver a produção existente. Não podemos pedir às autarquias que façam obras desnecessárias porque é preciso que o dinheiro chegue à economia - sob pena de agravarmos o seu desequilíbrio financeiro. Não podemos pedir aos Governos que deitem dinheiro para cima de todos os problemas - porque estamos a agravar os défices excessivos e os desequilíbrios comerciais fortíssimos e a passar uma factura pesadíssima para os nossos filhos.»
Diogo: Não há dinheiro para emprestar? O escriba do Expresso parece não saber que o sistema de reservas fraccionárias possibilita que mais de 90% do dinheiro que os bancos emprestam com juros é criado a partir do nada. Nicolau não compreende que os bancos criam o dinheiro que emprestam, não dos ganhos do próprio banco, não do dinheiro depositado, mas directamente das promessas de pagamento das pessoas que pedem emprestado. Nicolau, embora tendo conhecimento dos actuais lucros da banca (conseguidos em plena «crise»), mostra-se incapaz de os interpretar.
Por outro lado, Nicolau desconhece o mecanismo que leva os bancos a criarem deliberadamente depressões económicas, restringindo o crédito e portanto o dinheiro em circulação e, no processo, auferirem lucros fabulosos.
[Excerto de Sheldon Emry] - Numa economia é necessária uma adequada disponibilidade de moeda (moeda em poder do público mais depósitos à ordem no sistema bancário). O dinheiro é o sangue da economia, o meio pelo qual são feitas todas as transacções comerciais excepto a simples troca directa. Remova-se o dinheiro ou reduza-se a disponibilidade de moeda abaixo do que é necessário para levar a cabo os níveis correntes de comércio, e os resultados são catastróficos.
No princípio dos anos 30 do século passado, os banqueiros, a única fonte de dinheiro novo e crédito, recusaram deliberadamente empréstimos às indústrias, às lojas e às propriedades rurais dos EUA. Contudo, foram exigidos os pagamentos dos empréstimos existentes, e o dinheiro desapareceu rapidamente de circulação. As mercadorias estavam disponíveis para serem transaccionadas, os empregos à espera para serem criados, mas a falta de dinheiro paralisou a nação.
Com este simples estratagema a América foi colocada em "depressão" e os banqueiros apropriaram-se de centenas e centenas de propriedades rurais, casas e propriedades comerciais. Foi dito às pessoas, "os tempos estão difíceis" e "o dinheiro é pouco". Não compreendendo o sistema, as pessoas foram cruelmente roubadas dos seus ganhos, das suas poupanças e das suas propriedades.
Nicolau: «O mundo de abundância e prosperidade em que vivemos desde a II Guerra Mundial está a ruir fragorosamente. Há, contudo, quem pense que, passada a tempestade, tudo voltará ao mesmo. Pois a má notícia é que não voltará. A boa é que, mesmo sendo um mundo mais pobre, aquele que aí vem, pode ser um mundo melhor. Explico-me.»
Diogo: Vamos, portanto e doravante, segundo o jornalista Nicolau Santos, começar a viver pior que no passado. Nunca na história tal aconteceu. Mas atentemos nos seus argumentos:
Nicolau: «O que se está a passar é o empobrecimento das sociedades ocidentais. Os nossos padrões de consumo serão inferiores àqueles que temos praticado até agora. Haverá menos emprego nos sectores da agricultura, indústria e serviços. E será insustentável que se mantenham e agravem as fortíssimas desigualdades sociais que se criaram desde os anos 80.»
Diogo: Porquê o empobrecimento anunciado? Que calamidade terá sobrevindo? O emprego vai diminuir e eventualmente acabar? E isso é mau?
Nunca, como hoje, a tecnologia esteve tão desenvolvida, e nunca, como hoje, a evolução da tecnologia foi tão rápida. A evolução tecnológica é exponencial. Não sei em que ponto nos encontramos, hoje, de uma curva que tende para mais infinito, mas é sabido que houve mais evolução tecnológica nos últimos 100 anos dos que nos mil anos anteriores. E haverá, seguramente, mais evolução tecnológica nos próximos vinte anos do que nos últimos 100.
A tecnologia é o conjunto de máquinas, ferramentas, técnicas, conhecimentos, métodos e processos utilizados na resolução de um trabalho. A evolução deste conjunto permite-nos produzir cada vez mais bens e serviços com cada vez menos esforço humano directo.
De forma simplista, na agricultura - cem homens munidos de uma enxada substituíram mil homens que plantavam sementes à mão. Dez homens com arados de tracção animal substituíram cem cavadores de enxada. Um homem com um tractor agrícola substituiu dez homens com arados. A diminuição do trabalho humano na agricultura, aconteceu, e será cada vez mais visível em todos os campos da economia, desde produção industrial aos serviços. Não será isto uma excelente notícia?
O problema é que o Nicolau continua a raciocinar tal como lhe ensinaram na escola: a economia implica forçosamente «Emprego». Não lhe passa pelo córtex cerebral que o emprego esteja em vias de desaparecimento, substituído progressivamente pela tecnologia. Não percebe que a evolução tecnológica está a substituir o homem na produção. É incapaz de imaginar uma economia sem emprego e parece desconhecer que o emprego surgiu paulatinamente apenas nos últimos 250 anos. Não concebe um mundo onde o homem possa trabalhar cada vez menos e usufruir cada vez mais. Nicolau assemelha-se a um míope, para quem, tudo o que esteja para lá dos apontamentos de economia que fotocopiou na faculdade, se mostra nebuloso e confuso.
Nicolau: «É bom que ninguém se esqueça que o que começou por ser uma crise imobiliária, passou para uma crise financeira, tornou-se uma crise da economia real, está já a transformar-se numa enorme crise social e vai descambar inevitavelmente em crises políticas, cujos desfechos são completas incógnitas.»
Diogo: O cândido Nicolau não entende que toda esta «crise» é deliberada e planeada com antecedência. O chamado «lixo tóxico», resultado da venda de imóveis sem qualquer garantia (só possível numa banca a funcionar em cartel), serviu para justificar o suposto «crash» de alguns bancos (que mais não são que balcões desse cartel a transferir activos de uns para outros), o que, por sua vez, serviu para desencadear a badalada «crise financeira» global.
Nicolau: «Por isso, não podemos cair nos vários erros que nos conduziram até aqui. Não podemos pedir às pessoas que se endividem para aumentar o consumo - foi precisamente o excesso de endividamento das pessoas, das famílias, das empresas, dos bancos, dos Estados que nos conduziu ao beco em que nos encontramos. Não podemos pedir aos bancos que emprestem dinheiro a tudo e a todos para manter as economias a funcionar - porque a probabilidade de grande parte desse dinheiro não ser recuperado é agora muito maior. Não podemos pedir às empresas que invistam para aumentar a produção - quando os mercados não conseguem absorver a produção existente. Não podemos pedir às autarquias que façam obras desnecessárias porque é preciso que o dinheiro chegue à economia - sob pena de agravarmos o seu desequilíbrio financeiro. Não podemos pedir aos Governos que deitem dinheiro para cima de todos os problemas - porque estamos a agravar os défices excessivos e os desequilíbrios comerciais fortíssimos e a passar uma factura pesadíssima para os nossos filhos.»
Diogo: Não há dinheiro para emprestar? O escriba do Expresso parece não saber que o sistema de reservas fraccionárias possibilita que mais de 90% do dinheiro que os bancos emprestam com juros é criado a partir do nada. Nicolau não compreende que os bancos criam o dinheiro que emprestam, não dos ganhos do próprio banco, não do dinheiro depositado, mas directamente das promessas de pagamento das pessoas que pedem emprestado. Nicolau, embora tendo conhecimento dos actuais lucros da banca (conseguidos em plena «crise»), mostra-se incapaz de os interpretar.
Por outro lado, Nicolau desconhece o mecanismo que leva os bancos a criarem deliberadamente depressões económicas, restringindo o crédito e portanto o dinheiro em circulação e, no processo, auferirem lucros fabulosos.
[Excerto de Sheldon Emry] - Numa economia é necessária uma adequada disponibilidade de moeda (moeda em poder do público mais depósitos à ordem no sistema bancário). O dinheiro é o sangue da economia, o meio pelo qual são feitas todas as transacções comerciais excepto a simples troca directa. Remova-se o dinheiro ou reduza-se a disponibilidade de moeda abaixo do que é necessário para levar a cabo os níveis correntes de comércio, e os resultados são catastróficos.
No princípio dos anos 30 do século passado, os banqueiros, a única fonte de dinheiro novo e crédito, recusaram deliberadamente empréstimos às indústrias, às lojas e às propriedades rurais dos EUA. Contudo, foram exigidos os pagamentos dos empréstimos existentes, e o dinheiro desapareceu rapidamente de circulação. As mercadorias estavam disponíveis para serem transaccionadas, os empregos à espera para serem criados, mas a falta de dinheiro paralisou a nação.
Com este simples estratagema a América foi colocada em "depressão" e os banqueiros apropriaram-se de centenas e centenas de propriedades rurais, casas e propriedades comerciais. Foi dito às pessoas, "os tempos estão difíceis" e "o dinheiro é pouco". Não compreendendo o sistema, as pessoas foram cruelmente roubadas dos seus ganhos, das suas poupanças e das suas propriedades.
Bancos agravam restrições ao crédito à chegada da crise
RTP - 6 de Fevereiro de 2009
[...] O sector da banca voltou a acentuar, no último trimestre do ano passado, as restrições para a concessão de empréstimos. [...] O aperto das restrições à concessão de empréstimos é explicado com o argumento de que a crise financeira agravou os custos de financiamento dos próprios bancos, a somar ao aumento da percepção de risco e à consequente degradação dos balanços.
O primeiro reflexo prático da estratégia das instituições bancárias é a subida do ónus dos empréstimos para famílias e entidades empresariais, em resultado do aumento dos spreads (margens de lucro dos bancos). Ao mesmo tempo, as verbas a emprestar encolhem, assim como os prazos dos créditos.
Nicolau: «O que precisamos é de algo que não se compra mas que tem um valor incalculável: bom senso. O bom senso que se espera dos que ganham mais é que reduzam os seus salários para evitar despedimentos. O bom senso que se espera dos gestores é que abdiquem de bónus que, na fase que atravessamos, são ofensivos. O bom senso que se espera dos banqueiros é que não apresentem lucros pornográficos nem tenham remunerações indecorosas. O bom senso que se espera dos trabalhadores é que não agravem o problema das empresas com reivindicações irrealistas.»
Excerto de Viviane Forrester: Dizem sempre que temos de nos adaptar. Digo que não há razão para se adaptar ao insuportável. Falam do desemprego como se fosse algo natural e inevitável. Na verdade, se se escutar boa parte dos discursos sobre a situação mundial tem-se a impressão de que estamos a sair de uma catástrofe mundial, de que estamos numa situação trágica à qual temos de nos adaptar. Mas onde está a catástrofe?
Reivindicações irrealistas? O que é a economia? A organização, a distribuição da produção em função das populações, do seu bem-estar? Ou a utilização ou a marginalização das populações em função de flutuações financeiras anárquicas, sem ligação com as pessoas, mas exclusivamente ligadas ao lucro, e em detrimento delas? Estaremos numa verdadeira economia ou, pelo contrário, na sua negação?
Não faz sentido mandar desempregados procurar emprego num mundo onde o trabalho já não existe e, mais do que isso, já não interessa.
Está na hora de a sociedade pensar noutra forma de viver, uma forma que não dependa de emprego. Os homens e o seu trabalho são hoje absolutamente desnecessários à economia. Não é mais o trabalho que gera o lucro, é a economia virtual (as aplicações, os papéis, um mundo globalizado que ignora o trabalhador). Os empregos não existem, tampouco passarão a existir no futuro.
Nicolau: «É por tudo isto que é um bálsamo para a alma a decisão do Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de taxar a 90% os bónus dos administradores de empresas que recorreram a empréstimos do Estado. Se os próprios administradores não tiveram o bom senso de recusar esses bónus (o que diz muito da estupidez da natureza humana), que haja, da parte do poder político, decisões que moralizem a sociedade. Esperemos que o exemplo se espalhe e frutifique. Porque a alternativa é um mundo a caminho de convulsões sociais cada vez mais violentas.»
[...] O sector da banca voltou a acentuar, no último trimestre do ano passado, as restrições para a concessão de empréstimos. [...] O aperto das restrições à concessão de empréstimos é explicado com o argumento de que a crise financeira agravou os custos de financiamento dos próprios bancos, a somar ao aumento da percepção de risco e à consequente degradação dos balanços.
O primeiro reflexo prático da estratégia das instituições bancárias é a subida do ónus dos empréstimos para famílias e entidades empresariais, em resultado do aumento dos spreads (margens de lucro dos bancos). Ao mesmo tempo, as verbas a emprestar encolhem, assim como os prazos dos créditos.
Nicolau: «O que precisamos é de algo que não se compra mas que tem um valor incalculável: bom senso. O bom senso que se espera dos que ganham mais é que reduzam os seus salários para evitar despedimentos. O bom senso que se espera dos gestores é que abdiquem de bónus que, na fase que atravessamos, são ofensivos. O bom senso que se espera dos banqueiros é que não apresentem lucros pornográficos nem tenham remunerações indecorosas. O bom senso que se espera dos trabalhadores é que não agravem o problema das empresas com reivindicações irrealistas.»
Excerto de Viviane Forrester: Dizem sempre que temos de nos adaptar. Digo que não há razão para se adaptar ao insuportável. Falam do desemprego como se fosse algo natural e inevitável. Na verdade, se se escutar boa parte dos discursos sobre a situação mundial tem-se a impressão de que estamos a sair de uma catástrofe mundial, de que estamos numa situação trágica à qual temos de nos adaptar. Mas onde está a catástrofe?
Reivindicações irrealistas? O que é a economia? A organização, a distribuição da produção em função das populações, do seu bem-estar? Ou a utilização ou a marginalização das populações em função de flutuações financeiras anárquicas, sem ligação com as pessoas, mas exclusivamente ligadas ao lucro, e em detrimento delas? Estaremos numa verdadeira economia ou, pelo contrário, na sua negação?
Não faz sentido mandar desempregados procurar emprego num mundo onde o trabalho já não existe e, mais do que isso, já não interessa.
Está na hora de a sociedade pensar noutra forma de viver, uma forma que não dependa de emprego. Os homens e o seu trabalho são hoje absolutamente desnecessários à economia. Não é mais o trabalho que gera o lucro, é a economia virtual (as aplicações, os papéis, um mundo globalizado que ignora o trabalhador). Os empregos não existem, tampouco passarão a existir no futuro.
Nicolau: «É por tudo isto que é um bálsamo para a alma a decisão do Presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, de taxar a 90% os bónus dos administradores de empresas que recorreram a empréstimos do Estado. Se os próprios administradores não tiveram o bom senso de recusar esses bónus (o que diz muito da estupidez da natureza humana), que haja, da parte do poder político, decisões que moralizem a sociedade. Esperemos que o exemplo se espalhe e frutifique. Porque a alternativa é um mundo a caminho de convulsões sociais cada vez mais violentas.»
Obama aceitou dinheiro da AIG para a campanha eleitoral
AOL News - 19 de Março de 2009
No seguimento de toda a indignação vinda da Casa Branca sobre os bónus pagos aos executivos do grupo de Seguros AIG, a Casa Branca poder-se-á sentir algo embaraçada em admitir que como senador, o presidente Obama recebeu muito dinheiro da AIG sob a forma de contribuições para a campanha eleitoral. Segundo o OpenSecrets.org [uma organização que monitoriza os dinheiros recebidos pelos candidatos nas campanhas eleitorais], o senador Obama foi o segundo maior receptor de dinheiro da AIG, no valor de 101,332 dólares. Obama só foi ultrapassado pelo senador democrata pelo Connecticut, Chris Dodd, que, soube-se, é responsável pelo expediente que permitiu que os bónus fossem pagos aos executivos da AIG.
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11 comentários:
Numa altura em que muitos não podem consumir o essencial para ter uma vida digna é indispensável para sairmos da crise reivindicar uma melhor distribuição da riqueza. Isto não é irrealista.
Muito bom!
Meu caro Diogo li atentamente este seu extenso post que contém inclusivamente uma virtual entrevista com o Nicolau Santos um dos editores de economia da SIC. Estou inteiramente de acordo com o seu raciocínio e igualmente com o facto dos Nicolaus economistas deste país não saberem mais nem desenvolverem os seus conhecimentos para além dos adquiridos nos compêndios que lhes serviram de base ao conhecimento que possuem. Daí pensarem todos mais ou menos da mesma forma defenderem os mesmos argumentos e não terem soluções futuras para resolução da crise, essa é quanto a mim a revelação da sua incapacidade técnica na área para a qual se habilitaram académicamente. Julgo mesmo que os próprios economistas fazem parte da crise porque foram eles próprios que contribuiram para ela.
Um abraço
Caro Raúl,
Parece-me que a maior parte dos economistas, tal como muitos outros «especialistas», se limitam a matraquear uma cartilha que memorizaram na escola e não sabem questionar. Seja de direita, de esquerda, de cima ou de baixo.
tudo bem, concordo com o diagnóstico e com o facto do Nicolau, o Henrique Monteiro e outros serem uns asnos; porém esta afirmação da dona Vivianne Forrester metida aqui a martelo borra a pintura do post:
"Os homens e o seu trabalho são hoje absolutamente desnecessários à economia. Não é mais o trabalho que gera o lucro, é a economia virtual (...) Os empregos não existem, tampouco passarão a existir no futuro"
Afinal cita-se isto como se fosse uma verdade de origem divina, uma fatalidade a qual a Humanidade não pudesse inverter. Acabar com a economia neocon em função do lucro e revertê-la ao serviço do Homem é perfeitamente possivel. Mas esta coisa do "fim do trabalho" tolda-te a visão, caro Diogo. Afinal lanças sempre essa boutade mas depois quando vamos tentar aprofundar a questão, os argumentos não aparecem. Como faltou a resposta ao meu último comentário que transcrevo de seguida para aqui - o fim do trabalho pressupõe um capitalismo-faça-vocé-mesmo. (Diogo dixit) Em termos de consumo é o espírito das Ikeas e WallMart. Em termos de produção isso é um esoterismo, como tantos outros vicios teóricos com que o liberalismo induz as pessoas para falsas pistas. Na verdade existe sempre uma parte do trabalho que é trabalho social
Trocando por miudos, ninguém vai, nunca foi nem nunca ou irá trabalhar para o sector primário, siderurgias, minas, telecoumicações, energia, aeronáutica, etc. por conta própria.
Não te baralhes Diogo: na verdade trata-se da apropriação dos meios de produção em função dos interesses da maioria da comunidade. Tal como Marx anteviu a meio do século XIX
Ò Xatoo, a confusão que te mete não poderes continuar a lutar contra o patronato, defender a classe operária, a intersindical...
È triste meu jovem, o muro já caiu em 89 e agora tens que te capacitar que estás a viver deslocado da tua própria modernidade.
O Diogo não é obrigado a apresentar soluções até porque acho que não é o mágico da mascara, ou será?
O Diogo o que faz, e muito bem, é desmistificar o "mundo xatoo" e o seu oposto ou melhor, complementar. E faz-nos o favor a todos ao mostrar que essas duas "soluções" já eram, capout.
Cappichi?
Optio
Diogo
Em relação ao Nicolau "Ingenuidade em excesso é estupidez"
Quanto ao Jefferson, foi um rapaz estranho, escrevia a Carta dos Direitos e tinha escravos, manifestava a sua admiração pela França Revolucionária, Igualdade, Fraternidade e Liberdade e manteve relações intimas com uma escrava que não liberou, só os filhos de ambos...
Quanto á crise, não é acidental, inesperada ou imprevisivél, nada mesmo!
Beijo
Caro Xatoo,
O trabalho humano, à medida que a tecnologia vai evoluindo, vai sendo cada vez mais desnecessário. E, por maioria de razão, o emprego – trabalho humano por conta de outrem – está a desaparecer.
A Vivianne Forrester chama, e bem, a atenção para este último e o absurdo que constitui existências inteiras dedicadas à procura de uma coisa que já quase não existe e cada vez existirá menos.
Quanto ao trabalho humano, propriamente dito, a máquina está a substituí-lo a uma velocidade exponencial. Quanto a esta substituição posso fornecer-te os dados todos que quiseres, seja em que sectores forem. Portanto?
Os meios de produção tornar-se-ão de facto pertença das comunidades, até porque sem empregados não haveria ninguém com dinheiro para comprar produção privada. E como os meios de produção estão a ser crescentemente automatizados, não serão necessários trabalhadores.
Donde, e como bem diz o Optio, nem Marx nem Capital.
Ana,
Jefferson viveu num tempo em que a escravatura ou o genocídio dos índios era «natural». Erma considerados sub-humanos. A Igualdade, Fraternidade e Liberdade eram apenas para os de pele branca.
De qualquer forma, ele sabia bem da fraude monumental dos bancos centrais. E lutou contra eles.
Beijo
não vale a pena
isto com vocês é assunto pescadinha de rabo na boca. A própria fotografia que representa a fábrica de automoveis ilustra bem a mistificação: a tecnologia substitui o homem, mas quem é que fabrica os autómatos que trabalham? aparecem feitos do nada? Toda a gente recisa de máquinas e ferramentas para trabalhar, mas quem tem o trabalho de as fazer?
Então e uma palavrinha sobre a destrinça consumo-produção? não há?
mandam algum robot dar a resposta?
a conclusão que o Optio retira que a questão tem raizes sindicais é completamente estúpida.
E o slogan conclusivo "nem Marx nem Capital" ignora que o Capital já existia antes de Marx ter estudado a sua composição, continuou a existir depois quando a banca global fez da moeda do Império moeda única, e continuará, até ver...
vcs sabem o que é "dinheiro" (mas não é a sua totalidade que é ficticia) mas desconhecem a sua composição social, precisamente porque nunca leram Marx
NOTAS SOBRE UM PAR(A)LAMENTO...
Havia um par(a)lamento, dito europeu, que se dizia representava os europeus, os seus desejos e liberdades, nesse para(a)lamento haviam instituído uma regra protocolar segundo a qual se atribuía aos decano dos deputados da nova legislatura (ou será época, ou estação... como na moda...) a presidência e abertura dos trabalhos. Tudo correu muito bem, e muitos respeitabilíssimos decanos se foram sucedendo até que um dia o decano era um empedrenido e feroz fascista gaulês (como seria aliás possível que, na cultíssima, moderníssima e evoluidíssima Europa, se pudesse ter eleito para o par(a)lamento europeu semelhantes gentes e não apenas modernos e jeitosos democratas mundialistas e igualitários... uma qualquer imperfeição o determinava, estavam certos...).
Não se podia permitir tal afronta. Para ali estar teria decerto iludido, com artes negras seguramente, os eleitores que haviam equivocadamente colocado no par(a)lamento tão façanhuda criatura, não moderna nem mundialista. Como poderiam os cultíssimos gauleses ter eleito tal criatura?
Mas enfim, democraticamente altera-se a regra de sempre para impedir tão nefando acontecimento e impede-se o fascita Le Pen de presidir ao dito par(a)lamento.
Tão boa que é a democracia...
Temo ter de ler tudo de alto a baixo outra vez. Mas até me dá gosto, palavra, que raras vezes se sente um homem assim, indubitavelmente, a aprender. Obrigado, Diogo. E já a tramóia me parecia a mim, tal, mas, vagar, devagarinho, que há tempo e lá quero bem chegar.
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