quinta-feira, maio 14, 2009

Mário Soares no "Prós e Contras" – Toda a comunicação social está concentrada nas mãos de meia dúzia de grupos económicos

Mário Soares: [...] E realmente isso mostra que há aí um conúbio... nem é com os jornalistas em si, mas com os directores. Uma das coisas que sucedeu é que formar um jornal, que era fácil logo a seguir ao 25 de Abril, não era difícil, formava-se um jornal, quatro jornalistas e tal, o papel, tudo aquilo era fácil de conseguir. Pois bem, agora um jornal, não há! Uma pessoa não pode formar um jornal, precisa de milhares de contos para formar hoje um jornal e, então, para uma rádio ou uma televisão, muito mais. Quer dizer, toda a concentração da comunicação social foi feita e está na mão de meia dúzia de pessoas, não mais do que meia dúzia de pessoas.

Fátima Campos Ferreira: Grupos económicos, é?

Mário Soares: Grupos económicos, claro, grupos económicos. Bem, e isso é complicado, porque os jornalistas têm medo. Os jornalistas fazem o que lhes mandam, duma maneira geral. Não quer dizer que não haja muitas excepções e honrosas mas, a verdade é que fazem o que lhes mandam, porque sabem que se não fizerem aquilo que lhe mandam, por uma razão ou por outra, são despedidos, e não têm depois para onde ir. É difícil, porque há muito pouca... é por isso que nós vimos muitos jornalistas, dos mais notáveis que apareceram depois do 25 de Abril, já deixaram de ser jornalistas. Fazem outras coisas, são professores de jornalismo, são professores de outras coisas. Bem, há aqui portanto um conúbio.

Fátima Campos Ferreira: Sr. Dr., mas então onde fica aí a liberdade de expressão?

Mário Soares: Ah, fica mal, fica mal, como nós sabemos.

Fátima Campos Ferreira: Mas não é também ao abrigo do chapéu da liberdade de expressão que o jornalismo ainda trabalha?

Mário Soares: Evidentemente que os jornais e os jornalistas e mesmo as televisões têm o cuidado de pôr umas florzinhas para um artigo ou outro. Uma vinda à televisão ou outra, etc., para disfarçar um pouco as coisas, mas não é isso o normal. Se a senhora se der ao trabalho, como eu tenho feito, de apreciar o que é, de uma maneira objectiva e isenta, a comunicação social, e como todos se repetem, ou quase todos os grupos se repetem a dizer as mesmas coisas, uns piores que outros, outros melhores, outros mais... mas todos se repetem, incluindo a televisão oficial, bem, a senhora perceberá...

Fátima Campos Ferreira: A televisão pública?

Mário Soares: A televisão pública! A senhora percebe que a comunicação social está nesta situação. Não culpo os jornalistas. Pelo contrário, os jornalistas são as primeiras vítimas...


Comentário:

Não nutro qualquer simpatia por Mário Soares. Reconheço, contudo, que, graças ao curriculum vitae que acumulou aquando da formação da Emaudio S.A., Sociedade de Empreendimentos AudioVisuais, «para aproveitar os recursos de algumas fundações partidárias que lhe eram afectas na participação da tão falada privatização dos meios de comunicação social e abertura da TV ao sector privado», o ex-Presidente da República deve possuir um conhecimento profundo dos mecanismos de propaganda da «Comunicação Social».

Posto isto, quantos dos seguintes jornalistas-comentadores-analistas, e tantos outros que surgem regularmente nos ecrãs das televisões e nas colunas dos jornais, se limitam a papaguear linearmente o que meia dúzia de grupos económicos lhes dita? Ou farão parte das honrosas excepções – as tais florzinhas, como lhes chama Soares, que servem apenas para dar a aparência de liberdade informativa?

Serviçais ou Florzinhas?

9 comentários:

Anónimo disse...

A direita ilegalizada - http://clix.expresso.pt/a-direita-ilegalizada=f510655
“O país não caminharia para o comunismo autoritário, mas, em troca, a única 'direita' aceitável seria o "socialismo pluridemocrático".”
Do sr Henrique Raposo
Achei um texto interessante. Não anda muito longe daquilo que penso do espectro político nacional e não só.
Também o sr Henrique Monteiro disse uma vez qualquer coisa como; as atitudes, acções e posições dos partidos da direita (portuguesa) mais parece estarem a fazer a promoção e propaganda ao sr Sócrates, para que este seja eleito. Até parece que o sr Sócrates é o candidato tanto a esquerda como a direita.

De Heitor de Paola no Mídia Sem Máscara, deixo-lhe também esta.
“ESQUERDA, DIREITA, VOLVER!
Para entender a nova ordem mundial – não tão nova assim – é preciso, portanto, evitar a velha divisão entre esquerda e direita. Banqueiros são tradicionalmente de direita e devem ser levados ao paredón pelos revolucionários; estes, por sua vez, são de esquerda e devem ser perseguidos pelos regimes de direita. Experimente o leitor seguir ao mesmo tempo a ordem acima: esquerda, direita, volver. Cairá de quatro se não de cabeça e sofrerá traumatismo craniano! Pois é exatamente isto que os aspirantes a governantes do mundo querem que você enfrente: uma dissonância cognitiva frente à qual é melhor se alienar, beber uns chopinhos e ir em frente que atrás vem gente, sentenciando acacianamente: ora, banqueiros unidos a comunistas?! Coisa de paranóicos! É exatamente esta a função principal dos socialistas Fabianos do PSDB – além do príncipe FHC e seus discípulos, Serra, Aécio, Alckmin et caterva: servirem de amortecedores e opções eleitorais de uma inexistente “terceira via”. Os Socialistas Fabianos diferem dos comunistas apenas quanto ao como o mundo deverá ser socializado. Para os Fabianos a palavra socialismo não deveria ser usada mas, em seu lugar, deveriam ser utilizados termos como “bem estar social”, “saúde pública”, “salários justos”, “melhores condições de trabalho”, etc.
Não se pode esquecer que foi o príncipe FHC que salvou os bancos da falência com o PROER, enganando os idiotas de que foram seus depósitos que ficaram garantidos quando não passava de sacrificar o público aos interesses do cartel dos bancos. Foi também FHC quem, obedecendo a seus patrões internacionais, chamou o Soros Boy Armínio Fraga para sua equipe econômica, prática seguida fielmente por Lula dando nossa economia de bandeja para os patrões através de Henrique Meirelles na presidência do Banco Central. Vote-se em quem votar e estaremos alienando cada vez mais nossa economia aos banqueiros internacionais. Os que eram inimigos ferrenhos – banqueiros e revolucionários – aprenderam a se entender às mil maravilhas e hoje são sócios no crime! E as vítimas somos nós, os patos que foram caçados!”

Salvar bancos? Onde é que já ouvi essa história?
Andei à procura de outro texto, sem sucesso, em que é entrevistado um banqueiro que afirma que nunca ganharam tanto dinheiro como o que estavam a ganhar desde que Hugo Chaves subiu ao poder...
Claro que os jornalistas uns conscientes outros não ajudam na confusão. Alguns, poucos, sabem o que estão a fazer.
Carlos

alf disse...

é verdade que a comunicação social está na mão de meia dúzia. Esse é um problema geral do nosso sistema económico.

A natureza encontrou formas de impedir que isso acontecesse, de impedir que nenhuma espécie ocupasse das capacidades do planeta mais do que o conveniente. Quando se formam grupos grandes demais de animais da mesma espécie, situação rara porque há um conjunto de instintos para o impedir, ela fá-los entrar em processo de autodestruição.

Agora, a razão porqeu todos dizem o mesmo é outra. mais do que uma

a primeira é que a generalidade da informação tem uma única fonte: a Lusa. As redacções recebem o Fax ou email da Lusa e fazem o noticiário seguindo o próprio alinhamento já fornecido pela Lusa.

Quem controla a Lusa controla a generalidade da informação

Depois há as audiências. A informação tornou-se espectáculo. Contruido sobre as notícias. Que notícias servem o espactáculo? As que metam sangue, raiva, inveja, indignação, paixão, sexo, violência.

Há tempos atrás, os repórteres da TVI que saiam para uma reportagem, levavam uma instrução: «tragam sangue»

Aqui, a informação é o reflexo da sociedade. A informação na Dinamarca é completamente diferente da nossa porque a sociedade é diferente. E é também por isto que ela é tão igual - é o espelho da mesma sociedade.

Na rádio as coisas são algo diferentes porque a oferta é maior e isso obriga à procura de nichos, o que obriga a diferenciar a informação. Na TV não há nichos.

Há também os interesses. Construtores civis, por exemplo, procuram ter rádios locais que podem usar como ferramentas de pressão sobre as camaras.

Os interesses dos grandes grupos económicos, que dominam as TV, não são os interesses do Governo - a função do Governo é promover os interesses de toda a sociedade.

A solução «TV pública» é a única forma conhecida, até hoje, de controlar o poder dos grandes grupos económicos através dos media.

Uma alternativa é o Estado «comprar» serviço público aos privados, muito usado nos EUA. Isto dá grande poder ao Estado, porque só os media que se «portarem bem» podem aspirar a receber essas generosas encomendas de programas de interesse publico.

Claro que todos estes problemas são fruto de uma sociedade onde cada um puxa a brasa à sua sardinha e se considera que o objectivo de cada um é ganhar o máximo sem ir parar à cadeia, sendo esse o único critério «moral». Nos países nórdicos não há problemas destes.

Anónimo disse...

OH! oH! Oh!
O Soares é peixe, digo fixe!
Ele próprio é a verdadeira florzita do sistema. Tenham paciência. Se ele fosse o verdadeiro freelancer da liberdade, aproveitava o sítio para desmascarar essa "senhora" que o estava a entrevistar. Pois essa jornaleira já perdeu a vergonha, se é que alguma vez a teve.
Acho piada a muita desta gente que anda por aqui a comentar, muitos deles a fazer parte ou com simpatias politicas dos partidos do sistema. E mais hipócritas, aqueles da esquerda caviar que foram e estão a ser levados ao colo pelos donos da comunicação çuçial. Enfim mais florinhas que o dinheiro compra.

P'ró caralho (desculpe lá, ó Diogo)

Optio

xatoo disse...

falta aqui o João Carlos Espada, um dos ideólogos do Presidente; esses é que são perigosos porque, sem que ninguém dê por eles, eles é que distribuem a programação de assuntos que devem constar das agendas das agências noticiosas e, consequentemente, dos jornais. Jornalista hoje em dia é tropa menor, utilizada como policia de choque.
Afinal como assalariado, o jornalista está condicionado a olhar apenas para o seu próprio interesse pessoal (ou digo o que eles me dizem para dizer ou estou lixado)

contradicoes disse...

Estou em igualdades de circunstâncias na simpatia por Mário Soares, com o meu amigo Diogo. Mas esse facto não me impede de estar de acordo com ele em relação à opinião
que tem da comunicação social. Só não estou de acordo é na sua tentativa em isentar os jornalistas do seu mau papel que fazem no exercício da sua função. Fazemo jogo dos patrões e prestam um mau serviço aos leitores que cada vez são menos.
Um abraço

Ana Camarra disse...

Diogo

Também não gosto de Mário Soares, aliás acho-o responsavél por muita coisa que corre mal neste país, abriu portas a mensas coisas.
Quanto á questão da Liberdade de Expressão e controle dos jornalistas por parte dos grupos económicas, não tenho dúvidas que é o caso da maioria.

As flores são raras e não reconheço nesse conjunto de fotos nenhuma.

beijos

Anónimo disse...

O MST está ao serviço de quem ? Alguém me sabe dizer ?

Zorze disse...

Diogo,

De facto, Mário Soares não é um bom exemplo para a explicação da manipulação dos media.
Figura a quem não foram e nem serão assacadas responsabilidades de gestão danosa de um País.
"Contos Proibidos - Memórias de um PS desconhecido" - de Rui Mateus, é um livro imprescindível.
A mensagem tem o condão de passar em horário nobre e por via de uma pessoa em quem grande parte da populaça "acredita", populaça essa que viabiliza os lucros desses grupos económicos, comendo tudo o que lhes põem à frente.
- Não sei quê, não sei quantos ...!
- Ah, é?
- Vinha no jornal.
Logo é verdade. As pessoas acreditam como verdade o que lêem nos jornais e vêem na televisão.
É, tristemente, fácil manipular as massas.

Abraço,
Zorze

Motim disse...

Este homem é um criminoso. E diz o que lhe interessa, quando lhe interessa, seja verdade ou mentira.
Isto que diz da comunicação social é verdade, mas ele é um dos responsáveis pela situação. E foi dos que mais beneficiou com ela, nunca teria chegado a lado nenhum se não tivesse a comunicação social a limpar-lhe a imagem e a fazer-lhe tudo o que ele quisesse durante décadas. Ele só começou a criticar a comunicação social depois dela não o ter levado ao colo nas últimas presidenciais.