quinta-feira, novembro 10, 2011

Desemprego Estrutural: Os Economistas pura e simplesmente não o compreendem

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Texto de Martin Ford

Tradução minha

Tenho defendido que à medida que as máquinas e o software têm aumentado a sua capacidade, começaram a igualar as capacidades do trabalhador médio. Por outras palavras, à medida que a tecnologia evolui, uma fracção cada vez maior da população ficará basicamente incapaz de arranjar emprego. Embora eu seja da opinião que as tecnologias da informação são as principais forças deste processo, a globalização está igualmente a ter um papel importante. (Mas é de lembrar que certos aspectos da globalização como o offshoring – mudar electronicamente um emprego para um país de salários mais baixos – é também fruto da tecnologia).

Os economistas mencionam, por vezes, a tecnologia, mas, regra geral, costumam focar outras questões "estruturais". Uma que eu vejo bastante repetida é a ideia de que as pessoas não se podem deslocar para arranjar emprego porque as suas casas estão submersas (o valor da hipoteca excede o valor da casa). A ênfase dada a esta questão parece-me quase infantil. Será que existem grandes centros populacionais nos Estados Unidos que tenham efectivamente um desemprego baixo?

Mesmo se as pessoas pudessem vender as suas casas, será que se sentiriam motivadas para carregar a camioneta de mudanças e mudarem-se de uma cidade com, digamos, 12% de desemprego para outra com apenas 9% de desemprego? Os economistas esqueceram-se que um desemprego de 9% é basicamente desastroso? Os poucos sítios que eu tenho visto com um desemprego significativamente menor são os meios rurais ou as cidades pequenas – lugares que são simplesmente incapazes de absorver um grande número de trabalhadores optimistas. Sejamos realistas: brincar ao jogo das cadeiras num ambiente geralmente miserável não vai resolver o problema do desemprego.

Outra questão que os economistas costumam apontar é a falta de qualificações. O desemprego estrutural, dizem, ocorre porque os trabalhadores não possuem determinadas qualificações que são pedidas pelos empregadores. Conquanto não restem dúvidas de que há alguma verdade nisto, continuo a afirmar que é colocada demasiada ênfase nesta questão. A ideia de que o problema estaria resolvido simplesmente reciclando toda a gente não tem qualquer credibilidade. Se alguém duvidar, basta perguntar aos milhares de trabalhadores que completaram acções de formação e mesmo assim não conseguem arranjar emprego.

Os economistas têm de perceber que se a falta de qualificações fosse realmente a questão fundamental, então os empregadores estariam muito dispostos a investir na formação dos trabalhadores. Na realidade, isto raramente acontece mesmo entre os mais conceituados funcionários. Suponha que a Google, por exemplo, está à procura de um engenheiro com qualificações muito específicas. Quais seriam as hipóteses da Google contratar e dar uma acção de formação a um dos muitos engenheiros com mais de 40 anos com experiência numa área técnica ligeiramente diferente? Bem, praticamente nenhuma.

Se os empregadores estivessem aflitos com falta de trabalhadores qualificados, podiam resolver com facilidade o problema. Não o fazem porque têm outras opções mais lucrativas: podem contratar trabalhadores com baixos salários em países do Terceiro Mundo, ou podem investir em automação. Reciclar milhões de trabalhadores nos Estados Unidos iria provavelmente encher os cofres das novas escolas de formação que se estão rapidamente a multiplicar, mas não resolverá o problema desemprego.

Porque é que os economistas estão tão relutantes em considerar as implicações da tecnologia avançada? Penso que muitos deles o fazem por pura negação. Se o problema é uma falta de qualificações, então não existe uma solução fácil convencional. Se o problema fosse a falta de mobilidade do trabalho, então isso acabaria por se resolver mais cedo ou mais tarde. Mas, e se o problema for um avanço tecnológico implacável? E se estivermos cada vez mais próximos de um "ponto de viragem", no qual uma tecnologia autónoma pode executar as característicos tarefas de um trabalhador médio que são requeridos pela economia? Bem, isto é basicamente IMPENSÁVEL. E é impensável porque NÃO existem soluções convencionais.




Excerto do livro «The Lights in the Tunnel: Automation, Accelerating Technology and the Economy of the Future [As luzes no Túnel: Automação, Tecnologia em Aceleração e a Economia do Futuro]» de Martin Ford - Engenheiro informático de Silicon Valley, autor e empresário.
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9 comentários:

alf disse...

Pois, é assim, o post é bem oportuno nesta altura; no entanto, a resolução deste problema, bem como o da sustentabilidade da segurança social, tem uma solução simples.

Isto não é um problema de falta de recursos, é apenas um problema da sua redistribuição.

O problema surge porque se continua a associar a distribuição de riqueza à contribuição directa para a sua produção. Ora não pode ser assim, de certa forma a sociedade actual é como a natureza, produz bens por si própria, que são propriedade de toda a gente.

Ou seja, parte da riqueza produzida deve ser redistribuida por quem a produz mas parte dela é herança de toda a gente.

A solução para o problema, do ponto de vista económico, está exposta aqui:

http://outramargem-alf.blogspot.com/2007/07/mais-sobre-o-sistema-1.html

A situação actual leva ao seguinte paradoxo: numa sociedade atrasada e não automatizada, toda a gente tem de trabalhar muito e toda a gente tem para sobreviver; numa sociedade avançada, automatizada, que produz 100 vezes a riqueza da sociedade atrasada, uma faixa crescente da população fica com a sobrevivência em causa.

Abraço

Diogo disse...

Caro Alf,

Mas a questão não acaba aí. À medida que a tecnologia evoluir, cada vez mais gente ficará sem trabalho (no sentido de ter um papel no processo produtivo). Ora, estas pessoas ficarão sem salários e, portanto, sem poder de compra.

Sendo a esmagadora maioria das empresas de carácter privado, estas deixarão de poder vender (porque não há poder de compra), e, portanto, fecham as portas. E este processo continuaria até ao absurdo se não fizermos nada.

A tecnologia é a nova natureza. Antes do neolítico, ou seja, antes de surgir a agricultura e a pastorícia, o homem alimentava-se do que caçava e recolectava. Ou seja, só colhia o que a natureza produzia.

O futuro próximo será semelhante, com a tecnologia a produzir tudo sozinha e o homem a «caçar e recolectar» em novos moldes: cada indivíduo receberá periodicamente determinados créditos, e quando tiver alguma necessidade, dirigir-se-á a uma empresa totalmente automatizada que produzirá a camisa, o carro ou os bens alimentares que ele necessita.

É um regresso ao passado numa nova base tecnológica.

Abraço

Carlos Marques disse...

Os economistas e as pessoas em geral dirão que sempre houve evolução tecnológica e que isso trouxe sempre novos tipos de empregos. Mas quer-me parecer que a questão de as máquinas virem a substituir o homem é do foro tecnológico e não económico.

Streetwarrior disse...

Para mim, quer queiramos aceitar ou não, isto passa por uma agenda há muito conhecida
DEPOPULAÇÂO.
Não há volta a dar, quer queiramos aceitar ou não e chamemos-lhe o que quisermos

No futuro próximo, as Máquinas irão substituir os trabalhadores e a economia nos moldes que actualmente são empregues, não suportam a massa humana desempregada.
É opinião minha que actualmente, quer seja ao nível de novos Vírus quer seja através de produtos farmacêuticos Genéricos, está em andamento uma campanha mundial de De-população.
Isto aliado a agendas de campanhas Pró-aborto, pílulas do dia seguinte, agenda homossexual, desvalorização dos valores morais de família, num espaço de 4 gerações (se tanto ) está o assunto arrumado.

Diogo disse...

Streetwarrior,

Você está a pôr as coisas ao contrário. Se as máquinas vão (e estão) substituir os trabalhadores (espero bem que sim), então será a forma de fazer a distribuição de uma riqueza incomensuravelmente maior que a actual que tem de ser pensada e colocada em prática.

Você até poderá ter razão no sentido em que haverá hoje forças apostadas em reduzir substancialmente a população do planeta. Mas a evolução tecnológica vai ser tão rápida e de tal magnitude, que irá obliterar os planos desses senhores.

Abraço

alf disse...

Diogo

Não é verdade que as máquinas substituam o homem. Uma coisa não tem absolutamente nada a ver com a outra.

O que as máquinas fazem é libertarem o homem para outras tarefas.

Muitas dessas tarefas não são tarefas de produção de bens - é o caso da investigação científica, das actividades culturais, sociais e outras.

As tarefas que ficam disponíveis para as pessoas exigem qualificações que são diferentes das anteriores.

O problema surge quando temos uma grande parte da população qualificada para tarefas que já não existem

Este é um problema transitório, os filhos destas pessoas já podem ser preparados para as novas tarefas.

Por exemplo, na Dinamarca este problema não existe, até pelo contrário.

antigamente, o trabalho era necessário para garantir a sobrevivência; hoje já não é, a capacidade de produção da sociedade é tal que, como você diz, podemos conceber uma sociedade em que a generalidade das pessoas não precise de trabalhar.

Acontece, porém, que as pessoas precisam do trabalho para dar sentido à sua existência.

Assim, o trabalho passou a ser necessário por si mesmo, não como fonte de rendimento individual.

O problema que subsiste é que temos um esquema de redistribuição de riqueza do tempo antigo, do tempo em que o trabalho não era um bem em si mesmo mas algo que tinha de ser imposto pela necessidade.

Portanto, o que há a fazer é alterar esta relação - o que de certa forma é o que se está a fazer embora de forma algo inconsequente. é por isso que se introduzem conceitos como subsídios de rendimento mínimo.

Mas como as pessoas estão presas a conceitos antigos, introduzem estas coisas de forma errada, a pensar que o trabalho é uma obrigação.

Não é.

O trabalho é um bem, um privilégio em si mesmo. Para aceder a ele, a pessoa tem de mostrar que o merece.

Quem não o quiser tem a sua sobrevivência assegurada na mesma, não há falta de riqueza para distribuir.

Além disso, mostra a história que a evolução da humanidade se deve sobretudo às pessoas que não "trabalhavam".

raras são as grandes obras que resultaram do «emprego».

O Galileu não tinha emprego, ia sobrevivendo como podia; emprego tinham os cientistas da época que tanto o perseguiram. O Newton era rico e o seu trabalho foi na casa da moeda; e a lista é interminável.

Portanto, aumentar a quantidade de pessoas que pode viver sem ter de gastar o seu tempo num emprego, mantendo livre o seu pensamento, é aumentar a capacidade evolutiva da sociedade e da humanidade.

Diogo disse...

Alf,

Ao homem o que é do homem e à máquina o que é da máquina.

O número de neurónios e sinapses que temos dentro do crânio, embora pareçam muitos, serão irrisórios comparados com as capacidades das máquinas do futuro próximo.

A inteligência artificial será, na prática, infinitamente mais poderosa que qualquer inteligência humana. Donde, entregar a investigação científica à inteligência humana é uma anedota. Para as pessoas ficará o entretenimento: o jogo, a arte, etc.

As pessoas não precisam de trabalho para dar sentido à vida tal como as crianças não precisam de ir à escola para se sentirem para se sentirem preenchidas: ponha os miúdos à solta e vai ver a infinidade de actividades lúdicas que eles inventam. E o mesmo se passa com os adultos.

Você tem razão na questão da distribuição. Mas com máquinas que produzem todos os bens, não faz qualquer sentido a propriedade privada dessas máquinas, logo elas pertencerão à sociedade.

«O trabalho é um bem, um privilégio em si mesmo»? Porquê?

E tem razão no resto – ninguém precisará trabalhar para aceder aos bens que necessitar.

O trabalho irá para o caixote do lixo da História.

simon disse...

Streetwarrior, não preocupar, amigo, com decréscimo da população,quando já vamos em 7 mil milhões de pessoas, mais, a esta hora, e se calcula que pelo ano 2060, terá duplicado essa conta o mundo. E o problema grande é esse, caro Streetwarrior, que não tarda niguém saberá que rumo dar a tanta gente. Olhe o corno de África, pa a Somália, a Eritreia e mais países à volta, se não para a população portuguesa que a esta hora não sabe o deitar amanhã à panela, para a mãe, o pai e a filharada. Para cima de dois milhões de gente, reza o fado .

Zorze disse...

O artigo que trazes é muito bem colocado e dele se levantam inúmeras conjecturas, pois o que falamos, são apenas previsões, conquanto nos dias de hoje a Economia já deixou de ser considerada uma ciência.

Primeiro, a questão levantada pelo Streetwarrior é um facto, aliás o secretário Bilderberg Henry Kissinger vem à muito a defender essa questão - a redução da população do planeta. Inclusive, ao que parece, até tem todo um argumentário com várias formas com relativa eficácia.

Quanto à questão da I.A. e segundo defendes que irão nos ultrapassar no número de neurónios, supondo que tal ocorra, tem de se levantar obrigatóriamente a questão - E se depois Eles nos controlarem e/ou escravizarem?
Não deixa de ser pertinente esta questão.
Por outro lado, nas sociedades em geral, um indivíduo que tenha uma memória fotográfica ou que seja capaz de fazer cálculos muito rápidas é considerado ser muito inteligente. Vemos essa situação nas crianças sobre-dotadas que quando chegam à idade adulta pautam-se pela mediania. Ou seja, a capacidade de absorver muita informação, não significa necessariamente muita inteligência, daí inteligência será a capacidade de relacionar a informação processando-a em contextos diferentes simples e complexos.
Ainda me custa a crer que a I.A. alcance tais níveis, a designada inteligência profunda, também e de considerar a manha e a "ratice", por exemplo.

Abraço.