quarta-feira, novembro 23, 2005

Morte no Afeganistão

O Presidente da República, o Primeiro-Ministro, o Ministro da Defesa e o secretario geral da NATO, lamentam a morte do soldado português no Afeganistão, mas salientam a importância da missão portuguesa na defesa da paz e segurança internacional.

"Não é um incidente, por mais dramático que seja, que faz pôr em causa a bondade e a justiça de uma missão deste tipo", disse Sampaio.

Desde o final da guerra fria que a NATO deixou de ser o braço armado americano na Europa para se tornar no braço armado americano em todo o lado em que esteja em causa a defesa dos interesses americanos.

Sampaio continua com o discurso oco do costume. Generalidades e mais generalidades. Só ficou aflito quando teve de optar na questão de empossar ou não Santana Lopes.

Qual é a bondade e a justiça da presença de tropas portuguesas no Afeganistão? É o respeito pelos compromissos assumidos por Portugal no quadro da NATO, ou seja, a lealdade para com os USA.

Se na guerra colonial a “carne para canhão” que para lá foi não teve escolha, agora a situação é completamente diferente. Será que os militares portugueses não têm formação política nos institutos militares onde estudam? Ou será que para um militar profissional tudo não passa de meras questões técnicas?

Tanto faz contra quem se luta desde que sejam bem cumpridos os requisitos técnicos da missão? Timor, Iraque, Bósnia, Afeganistão, é tudo a mesma coisa?

Mas o que é que vai na cabeça dos militares profissionais? Trata-se de um emprego como outro qualquer? Quando se vai em missão para o estrangeiro até se ganham umas massas valentes por isso que se lixe a política? Será que acreditam mesmo que estão a defender a Pátria? Em caso afirmativo, qual? Esta ou os USA? Tanto faz desde que se cumpram os requisitos técnicos aprendidos com tanta abnegação e entrega no treino militar estupidificante?

Talvez os comandantes Virgílios de Carvalho deste país possam responder a estas questões... Mas não acredito. Desde que a análise da situação geo-estratégica do estreito de Gibraltar esteja em causa, que interessam as baixas em combate? São apenas números não é? Não convém que haja muitas baixas porque diminuem os efectivos em combate e desmoraliza as tropas. Mas desde que se cumpram os requisitos técnicos com profissionalismo e o inimigo também tenha baixas, sai-se de cabeça erguida, com o dever cumprido.

VIVAM OS HERÓIS!
VIVA PORTUGAL !

4 comentários:

a.castro disse...

Caros Sofocleto/Marujo
Isto deixa uma pessoa revoltada e até enjoada com quem está ao leme do país, a começar pelo PR. O post está completo, diz tudo.Apenas acrescento (ou repito):
a)"...por mais dramático que seja...". A conversa seria a mesma se, em vez da morte dum elemento do contingente, tivesse sido a morte de todo o contigente.
b) Não é uma morte (como não seria a morte do contingente) "...que faz pôr em causa a bondade e a justiça...". A bondade e a justiça (cá está o enjoo)?... é uma expressão gasta, muito usada pelos políticos, seja para o que for... Bondade e justiça para uma guerra que só aos americanos interessou, com a ajuda de alguns países subservientes dum continente que não é o deles?
"...justiça...". Não, senhor PR, foi o contrário. O senhor sabe isso. Não foi para dizer o que o povo não sente, o povo sabe a verdade, porquê tentar confundir o povo que o elegeu?...
Abraçosdo a.castro

Diogo disse...

John Pilger em The New Statesman, edição de 10/Jan/2005.

Considere as agruras do Afeganistão, onde a água limpa é desconhecida e a morte de recém-nascidos é comum. Na conferência do Partido Trabalhista em 2001, Tony Blair anunciou a sua famosa cruzada para "reordenar o mundo" com a promessa: "Ao povo afegão, assumimos este compromisso... Nós não o abandonaremos... trabalharemos convosco para assegurar [que se encontra um caminho] para sair da pobreza miserável que é a sua presente existência". O governo Blair estava prestes a tomar parte na conquista do Afeganistão, no qual morreram 25 mil civis. Em todas as grandes crises humanitárias de que se tem memória, nenhum país sofreu mais e nenhum foi menos ajudado. Apenas 3 por cento de toda a ajuda internacional gasta no Afeganistão foi para a reconstrução, 84 por cento é para a "coligação" conduzida pelos militares americanos e o resto são migalhas para ajuda de emergência. Aquilo que é muitas vezes apresentado como rendimento da reconstrução é investimento privado, tais como os US$ 35 milhões que financiarão um proposto hotel de cinco estrelas, sobretudo para estrangeiros. Um conselheiro do ministro dos assuntos rurais contou-me em Cabul que o seu governo recebera menos de 20 por cento da ajuda prometida ao Afeganistão. "Nós não temos dinheiro suficiente para pagar salários, sem falar em plano de reconstrução", disse ele.

A razão, naturalmente que não falada, é que os afegãos estão entre as vítimas menos valiosas. Quando um helicóptero americano canhoneou repetidamente uma remota aldeia rural, matando 93 civis, um oficial do Pentágono foi levado a declarar: "As pessoas ali estão mortas porque nós quisemos que elas morressem".


Tudo, portanto, incidentes que não põem em causa a bondade e a justiça de missões deste tipo, como diz Sampaio o “plácido”.

Biranta disse...

É caso para perguntar: quanto vale a vida dum militar português?
Nada! Em relação aos jogos de interesses e ao "poder" da perfídia dos facínoras que governam o Mundo, de cujos os nossos governantes são rafeiros. Incluo o P.R., obviamente... Gente sem coluna vertebral não pode representar um País, um povo, seja ele quem for, qualquer que seja o tamanho do respectivo território...
A morte dum militar português, ainda por cima em nome duma missão cujo único objectivo é "sancionar" os actos criminosos, as chacinas "caprichosas" dos USA...

contradicoes disse...

Já agora também acrescentaria. No quadro das nações outras existem com muito mais recursos que nós e escusam-se a meter-se nestas alhadas criadas pela administração Bush. Mas como é preciso continuar a justificar a ascensão na carreira militar dos oficiais superiores, há que se participar em acções ditas internacionais de paz para as patentes continuarem a evoluir na sua carreira. A carne para canhão não passa disso mesmo, pois basta atentar no facto de em circunstância alguma nestas intervenções militares um oficial superior ser abatido.