Excerto de um texto publicado na edição do Expresso de 7 de Novembro de 2009:
[...] É a esta luz que se torna obrigatório meditar nas tais 'grandes obras públicas' que o Governo nos propõe como grande medida de política keynesiana e com o entusiástico apoio da CIP e da Associação dos Construtores de Obras Públicas. Quando, como já aqui o escrevi, tropeço em coisas como o contrato celebrado entre o Porto de Lisboa (Estado) e a Liscont/Mota-Engil para o Terminal de Contentores de Alcântara, eu tenho a penosa certeza de que estou pessoalmente a ser roubado pelos advogados do Estado e a benefício do sr. Mota - decerto uma estimável pessoa que não tenho o prazer de conhecer, mas que também me dispenso de ajudar a enriquecer com o dinheiro do meu trabalho. E o mesmo quando vejo as acções da Mota/Engil subirem 13% em bolsa no dia seguinte às eleições legislativas terem confirmado novo Governo PS. Ou quando constato que, semanas depois, a Mota/Engil ganhou mais um concurso de construção e concessão de exploração de uma nova auto-estrada - a do Pinhal Interior (alguém me pode informar onde fica isso ou para que serve?). Ou quando leio que foi alterado o regime das concessões rodoviárias, seguindo o modelo do contrato para o Terminal de Contentores de Alcântara, onde todo o risco do negócio é assumido pelo Estado e os privados ficam só com lucros garantidos ou indemnizações compensatórias. Ou quando vou sabendo pelos acórdãos do Tribunal de Contas (que, por si só, deveriam cobrir de vergonha qualquer governo), que se tornou prática corrente dos concursos de empreitadas públicas licitar com um preço imbatível e, uma vez ganho o concurso, subir o preço muito além do da concorrência, invocando toda a ordem de pretextos.
Perguntem-me se eu confio neste Estado e neste Governo para lançar, em nome do 'interesse público', as empreitadas das grandes obras como o novo aeroporto de Lisboa, o TGV ou a nova ponte rodo-ferroviária sobre o Tejo, em Lisboa? Não, não confio. E não só porque se trata de obras inúteis e até prejudiciais a Lisboa, como a ponte ou o novo aeroporto, mas porque, na situação financeira em que nos encontramos, são quase obscenas. E, depois, porque não tenho a mais pequena fé de que os custos não disparem, que não haja negócios e adjudicações de favor, tráfico de influências, grandes oportunidades de enriquecimento para a meia dúzia de sociedades de advogados de Lisboa que vivem disto e, no final de tudo, que alguma das obras anunciadas se sustente a si própria e não venha a ser antes mais uma fonte de despesa pública a perder de vista.
Oiça, José Sócrates: o país que trabalha, que estuda, que inova, que arrisca e que dá trabalho a outros; o país que não foge ao fisco nem tem offshores e que paga impostos até por respirar; que não enriquece na bolsa nem vive a mendigar subsídios do Estado; que paga a escola dos filhos, as suas despesas de saúde e o seu plano de reforma, nada esperando da Segurança Social; o país que tem pudor em fazer negócios escuros com as autarquias ou as empresas públicas; o país que ainda não apanhou um avião para o exílio mas que também não deseja um lugar nos aviões das suas visitas de Estado a Angola, esse país está a ficar farto. Acredite que está. Não se manifesta nas ruas nem se organiza em 'Compromissos Portugal', que não são compromisso nem são Portugal. Mas existe e um dia destes explode. Nesse dia, o dr. Teixeira dos Santos vai-se espantar por descobrir que, mesmo já sem crise, a receita fiscal não há maneira de voltar a subir. Porque o animal raro conhecido por otário se terá extinto de vez.
Faz agora um ano que, 'para evitar o risco sistémico', o Governo nacionalizou os prejuízos do BPN. Um ano depois, a conta para os contribuintes já vai em 3,5 mil milhões de euros - três mil milhões e meio de euros! Vale a pena fazer as perguntas, em jeito de balanço: se o risco era sistémico, isso quer dizer que toda a banca funcionava no esquema de vigarice institucionalizada do BPN - foi isso que se quis esconder? Se o risco era sistémico, porque é que a banca privada não ajudou a banca pública a acorrer ao BPN? E, agora, tendo gasto mais dinheiro com o BPN do que gastou a pagar os subsídios de desemprego a meio milhão de desempregados, que lição, se é que alguma, extrai o governo dessa aventura? Que mensagem, se é que alguma, lhe ocorre dar aos pagadores de impostos?
8 comentários:
Diogo
Tenho essa sensação de efervescência até aqui na minha cadeira de rodas.
Vai sendo tempo...
Beijo grande
(desculpa a ausência)
Olha, pá, é assim: Estuda um pouco de economia.
É indubitável que há corrupção em Portugal. É "suspeito" que o homem mais poderoso do partido mais poderoso de Portugal esteja numa empresa privada que vai fazer as construções ... enfim. Já percebemos e tu não és parvo.
Mas ao fim e ao cabo? O que queres?
Estuda Economia em vez de seres contra todas as grandes obras que o PS quer fazer, e olha que eu sou contra uns 80% das obras do PS e sou o maior anti-PS que conheces. Ou melhor, que não conheces.
E aproveito para descobrires onde é o Pinhal Interior...
Por último, o que não falta na Europa e especialmente em Portugal são otários. E vai ser muito difícil estingui-los.
De resto, não cites o Miguel Sousa Tavares que eu não venho ao teu blog para ler tais merdiocridades.
algumas bem acertadas. Está com razão, vamos ver é que de forma explode.
Esta crise está a empurrar o país para o desastre. O desemprego, o aumento crescente dos serviços públicos, as dívidas das famílias e o desespero da fome vão criar reacções progressivamente mais violentas. O clamor numa faixa de população cada vez maior, que se está a tornar cada vez mais evidente, pode tornar perfeitamente possível uma explosão social. Os políticos que se cuidem.
Ana – Como é que vai essa perna? Que se cure depressa para dar um pontapé num indivíduo cujo nome lembra um grande filósofo grego. Beijo.
Pseudónimo – Olha pá, tenho estudado economia e tenho estudado finanças. Provavelmente mais do que tu. Infelizmente são os otários de que falas que elegeram os serviçais da Banca que estão no governo.
Daniel Santos – Que expluda na base e rebente apenas com a parte de cima.
Carlos Marques – Até quando gente com fome vai continuar a ver passar os comboios?
Quer se goste ou não de MST, o facto é:
- O que diz é mentira? Não.
- É tudo inventado? Não.
O que escreve e diz é a realidade vergonhosa que o nosso País nada e com dificuldade, com tendência quase certa de se afundar. Daí o termo explosão cada vez fazer mais sentido e muito mais que previsão.
Relativamente ao comentário do pseudo-anónimo, economistas existem ao pontapé por aí, quem estudou economia também. E filosofia, sociologia e psicologia.
Medicina veterinária, também...
Tudo isso, vale o que vale.
Como também há em Portugal, milhões de pessoas que nunca ou pouco estudaram seja o que for.
Abraço,
Zorze
Em portugal(sic!) quem tiver um diploma,i.e, o cognome de Dr(licenciados, são a maior parte!) já têm o direito de roubar...É de de confrangedoura indigência que esta choldra da elites tão bem ensinam.Talvez um dia destes se fodam,quando virem que já começa a haver quem já esteja farto e saia para a rua de mocas na mão.
O cavaco já anda a avisar(o gajo tem reformas acumuladas e tem medo de perder as mordomias pela merda q tem feito a este país).Há tb um gajo das FA,grande, (as que foram saneadas de elementos radicais),que diz q as mesmas poderão intervir em questões internas.Sr.general,já desde os assassinios de Amaro da Costa,etc que se sabe q gente da sua corporação teve a ver com o assunto....só que isto é um Estado de Direita,não um Estado de Direito!
Já agora uma palavrinha sobre o Afeganistão:é gloriosa a missão dos nossos soldados em ajudar no tráfico de ópio para a Europa e cabedais para os bancos....Vide The Guardian e alguns artigos.Além dos serviços secretos da Rússia.Cumprimentos para os investidores do Kosovo em q as nossas tropas estão a ajudar traficantes de droga e de órgãos humanos(Presidente e 1º ministro do covil!)
se sócrates devia escrever livros de auto ajuda, o tipo que escreveu isto já não vai lá com ajuda nenhuma.
http://mareamos.blogspot.com/2010/02/se-socrates-devia-escrever-livros-de.html
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