A 31 Janeiro de 2005, José António Saraiva (JAS), director do Expresso, tinha este desabafo em relação ao Iraque. Claro que não o deixámos a falar sozinho.
JAS - A elevada participação de votantes nas eleições iraquianas - que pulverizou todas as votações na democrática Europa - foi uma bofetada com luva branca nos pessimistas de todas as cores.
Nós - É certo que a votação iraquiana pulverizou as votações da Europa democrática. É também certo que no Iraque, os votantes são igualmente pulverizados, não importa a sua cor.
JAS - À direita e à esquerda considerou-se que as eleições no Iraque seriam um tremendo fracasso.
Nós - E afinal revelaram-se um estrondoso e ribombante sucesso!
JAS - À direita e sobretudo à esquerda desejou-se que as eleições no Iraque corressem mal, para os americanos sofrerem mais uma humilhação.
Nós - A direita e sobretudo a esquerda são perversas. Ao passo que o centro, ou seja você, é um amor.
JAS - Ora é preciso denunciar este tipo de raciocínio.
Nós - Denunciar não basta. É preciso propalá-lo!
JAS - Tem-se por vezes a sensação de que certas forças querem que as coisas não melhorem no Iraque para verem as suas teses confirmadas.
Nós - Não devia falar assim da administração norte-americana.
JAS - Tem-se a sensação, mesmo, de que chegam a aguardar a ocorrência de actos terroristas para que fique claro que o Iraque é ingovernável e que os Estados Unidos não tinham razão quando invadiram o país.
Nós - Em compensação, a ocorrência de actos terroristas fornecem aos Estados Unidos um excelente pretexto para lá permanecerem.
JAS - Assim, certas forças não lamentam o terrorismo - desejam o terrorismo.
Nós - Volto a repetir que não devia referir-se nesse termos à administração Bush.
JAS - Não criticam os terroristas - criticam os americanos.
Nós - Há muito boa gente que os confunde.
JAS - Não desejam a paz - desejam a continuação da instabilidade.
Nós - Outra vez a dar-lhe com os americanos!
JAS - No fundo, no fundo, certas forças estão no seu íntimo mais próximas do terrorismo que tem posto o Iraque a ferro-e-fogo do que das tropas da coligação que tentam repor a ordem.
Nós - É verdade, no fundo, no fundo, certas forças estão tão próximas do terrorismo, que até o recrutam, treinam e financiam. Chamam-lhes neo-nãoseiquê.
JAS - Cada um tem, obviamente, direito à sua opinião sobre a legitimidade ou ilegitimidade da intervenção dos EUA no Iraque.
Nós - Mas?
JAS - Hoje, porém, a situação não oferece dúvidas: de um lado está o terrorismo internacional e os seus aliados, de outro lado está a coligação e as forças iraquianas interessadas na democracia.
Nós - Eu diria mais: de um lado está o terrorismo estatal coligado, e do outro, os desgraçados dos iraquianos.
JAS - E é relativamente a isto que temos de nos posicionar: estamos do lado da democracia ou do lado do terrorismo?
Nós - Da democracia claro! Ninguém gosta de oligarcas Yankees.
JAS - Estamos do lado da democracia ou, para provar que os americanos estavam errados, somos aliados dos terroristas?
Nós - Estamos do lado da verdade, minha besta! Perdão! Engenheiro Saraiva.
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