domingo, maio 22, 2005

As habilidosas palavras de José Cutileiro

José Cutileiro – Expresso, 21 de Maio de 2005

Dissabores russos

(...) O bilionário Khodorkovski, que enriqueceu com as privatizações, foi preso por querer roubar poder político a Putin mas o povo acha que ele roubou riqueza que antes era de todos. A Rússia é grande e (ainda) forte; enquanto enganos assim durarem será perigosa. Ajudá-la a entrar no bom caminho exige tacto e persuasão mas também firmeza moral. Tolerância pelos seus desmandos será interpretada como fraqueza pelo Kremlin e os desmandos redobrarão.


Cutileiro:
O bilionário Khodorkovski, que enriqueceu com as privatizações, foi preso por querer roubar poder político a Putin.

Sofocleto:
Khodorkovsky enriqueceu "legal e merecidamente" com as privatizações, mas foi preso "exclusivamente" por querer o lugar do malvado e perverso presidente russo. Não há direito!


Cutileiro:
Mas o povo acha que ele roubou riqueza que antes era de todos.

Sofocleto:
O povo é estúpido, não há nenhuma novidade nisso.


Cutileiro:
A Rússia é grande e (ainda) forte; enquanto enganos assim durarem será perigosa.

Sofocleto:
A que enganos se refere, e que poderes é que a Rússia (ainda) ameaça? Explique-se melhor Cutileiro!


Cutileiro:
Ajudá-la a entrar no bom caminho exige tacto e persuasão mas também firmeza moral.

Sofocleto:
E quem melhor que os Bush, Cheney, Kissinger e Rothschild para executar essa tarefa? Haverá alguém com mais tacto e de maior solidez moral que os supracitados?


Cutileiro:
Tolerância pelos seus desmandos será interpretada como fraqueza pelo Kremlin e os desmandos redobrarão.

Sofocleto:
Tolerância zero Cutleiro, e bengalada, muita bengalada. De qualquer forma, o artigo abaixo talvez possa trazer alguma luz sobre a estupidez persistente do povo russo e a malvadez obstinada de Putin:



Artigo de Jonathan Tennenbaum no Executive Intelligence Review em 22 de Agosto de 2003 – “Porque estão os oligarcas russos sob ataque



Não há dúvida agora, que este caso reflecte uma luta pelo poder na Rússia, que pode não apenas determinar o futuro político do país, mas que tem implicações estratégicas imediatas na situação mundial como um todo. Para colocar o caso num contexto estratégico, é necessário ter em conta os seguintes pontos:

O ataque à Yukos e à Menatep acontece apenas dois meses depois do anúncio (23 de Abril de 2003) do acordo de fusão entre os dois gigantes russos do petróleo, Yukos e Sibnet, que daria a Khodorkovsky o controlo directo sobre a segunda maior reserva de hidrocarbonetos do Mundo (mais do que 19 mil milhões de barris de petróleo e gás), menor que a Exxon/Mobil mas maior que a British Petroleum (BP), a Chevron-Texaco, e a francesa TotalFinaElf. A Yukos-Sibneft tornar-se-ia, assim, de longe, a maior companhia na Rússia, ultrapassando o monopólio do gás natural Gazprom. O acordo Yukos-Sibneft surge à frente da fusão do gigante russo do petróleo Tyumen Oil (TNK) com a BP, selada no princípio de 2003, que era até à altura a maior fusão da história da Rússia.

Tomadas em conjunto as fusões das BP-TNK e das Yukos-Sibneft significam a concentração da maior parte dos recursos petrolíferos russos – incluindo virtualmente todas as reservas na região estratégica da Sibéria Oriental - nas mãos de duas companhias gigantes, ambas estreitamente ligadas a interesses financeiros Anglo-Americanos. (É preciso notar, que os maiores accionistas da Yukos – A Menatep de Lebedev e uma companhia chamada Huller têm uma localização offshore, em Gibraltar e Chipre, respectivamente!). Segundo numerosas fontes, nas semanas que precederam a prisão de Lebedev, Khodorkovsky andou numa roda-viva voando entre Moscovo, Londres e vários locais nos Estados Unidos, negociando a venda de grandes quantidades de acções da Yukos-Sibneft a “investidores estrangeiros”. Estes desenvolvimentos constituíram a ameaça de um enfraquecimento drástico do controlo da Rússia sobre os seus próprios recursos estratégicos, assim como da sua economia em geral.

O próprio Khodorkovsky não fez grande esforço em esconder a sua verdadeira função de testa de ferro Anglo-Americano nos negócios russos e na política mundial. Na administração da sua Fundação Rússia Aberta (Open Russia Foundation), sedeada em Londres e Washington, senta-se, juntamente com o próprio Khodorkovsky, Henry Kissinger, Lord Jacob Rothschild, e o antigo embaixador americano na Rússia Arthur Hartman. À cabeça dos escritórios da Yukos de Khodorkovsky em Londres está o infame Lord David Owen.

Especialmente revelador foi o comportamento de Khodorkovsky a seguir à prisão de Lebedev. No dia seguinte, ele apareceu pessoalmente na festa do Dia da Independência na residência do embaixador americano na Rússia, o neo-conservador Alexander Vershbow, queixando-se abertamente da crueldade das autoridades Russas para com Lebedev. Imediatamente a seguir, Khodorkovsky voou para os Estados Unidos para um encontro organizado pela personalidade de Wall Street Herb Allen, onde Khodorkovsky foi fotografado a rir e a brincar com bilionários amigos como Warren Buffett e Bill Gates, assim como o Mayor de Nova Iorque Michael Bloomberg. Daí voou para Washington, onde se encontrou com o Secretário da Energia Spencer Abraham, e com outras personalidades da Administração Bush.

Mais importante, nos meses que levaram à guerra do Iraque, Khodorkovsky desempenhou o papel central do lado russo no esforço de quebrar a aliança Francesa-Alemã-Russa contra a política de guerra, e para trazer a Rússia para o campo da Administração Bush. Khodorkovsky foi o principal promotor russo do conceito de “aliança estratégica” Estados Unidos - Rússia, segundo a qual a Rússia garantiria fornecimentos de petróleo aos Estados Unidos no caso de uma instabilidade prolongada no Médio Oriente. Enquanto o governo Russo foi seduzido pelas promessas de incontáveis biliões de dólares, do lado americano esta ideia era utilizada para sustentar o argumento do vice-presidente Dick Cheney e de outros falcões da guerra, segundo o qual, os Estados Unidos não iriam sofrer grandes sanções em antagonizar e desestabilizar a Arábia Saudita e outros antigos parceiros Árabes. A 13 de Março de 2003, menos de uma semana antes de as bombas começarem a cair em Bagdade, Khodorkovsky, numa entrevista dada à Business Week intitulada “Um pedido russo para apoiar a América”, argumentou que a “Rússia não deveria perder a sua oportunidade” para uma aliança com os Estados Unidos, distanciando-se dos Europeus numa guerra contra o Iraque.

Os media, que tanto se indignaram com a prisão de Khodorkovsky, esqueceram-se de informar acerca dos vínculos financeiros de Khodorkovsky com a família Bush. O magnata russo é um membro importante do Carlyle Group, uma poderosa sociedade especializada na gestão de fundos e que administra as fortunas dos Bush e da família Bin Laden. Lebedev e Khodorkovsky eram membros da administração do Carlyle Group (Washington Post, 10 de Novembro de 2003).

Por tudo isto fica claro que o ataque das autoridades russas a Khodorkovsky, e a recusa evidente de Putin em intervir a seu favor, possui implicações estratégias profundas, e não pode ser encarado como um mero fait-divers político.



Sofocleto:
Li também, Cutileiro, que o Departamento de Estado Americano, em estreita ligação com o Pentágono e a CIA, montou a sua própria unidade de propaganda "soft-sell" (civil), dirigida pelo subsecretário de Estado para Diplomacia Pública e Negócios Públicos, Charlotte Beers, uma figura poderosa na indústria da publicidade. O seu gabinete no Departamento de Estado destina-se a:

"assegurar que a diplomacia pública (cativar, informar e influenciar audiências públicas internacionais) seja praticada em harmonia com os negócios públicos (estendendo-se a americanos) e com a diplomacia tradicional para promover os interesses e a segurança dos EUA e proporcionar a base moral para a liderança americana no mundo".

A componente mais poderosa da Campanha de Medo e Desinformação (FDI) pertence à CIA, a qual secretamente subsidia autores, jornalistas e críticos por intermédio de uma rede de fundações privadas e organizações patrocinadas pela CIA.


Será que você, Cutileiro, tão bem relacionado no mundo dos media, sabe se existirá algum autor, jornalista ou crítico, subsidiado pelo FDI, a operar no nosso país?