quarta-feira, agosto 10, 2005

A praga do terrorismo chegou a Sintra

Expresso - Edição 1710 - 06.08.2005 – Pedro D’Anunciação

Ver José Rodrigues dos Santos, sem se rir, sem ironias; ou Paulo Camacho, também sério, também grave; enfim, ver «pivots» habitualmente credíveis, das melhores estações generalistas, a apresentarem a notícia sobre as suspeitas de ligação ao terrorismo fundamentalista muçulmano, que recaíam sobre o proprietário de uns escritórios em Sintra, especificando estes três únicos indícios: um livro do Corão e um «Mein Kampf», ambos em língua árabe, e uma revista aberta na notícia dos atentados de Londres...!

Eu, em minha casa, no meu sofá, mesmo consciente de todos os perigos que nos cercam, pareceu-me logo estar a assistir a uma espécie de espectáculo surrealista. Mas não. Tratava-se do «Telejornal» da RTP1 e do «Jornal da Noite» da SIC, e lá estavam os seus apresentadores, com o tom circunspecto das notícias importantes.

E então enchi-me deste horrível terror: e se vêm esquadrinhar a minha biblioteca? E se a Brigada Antiterrorista receber uma denúncia sobre o meu Corão, o meu «Mein Kampf», sobre todos os jornais e revistas em que li os detalhes sobre os atentados em Londres? A meu favor só tenho o facto de não ser líbio, nem libanês, nem palestiniano, como se supunha o dono do escritório vasculhado. E tanto o meu Corão como o meu «Mein Kampf» são em português escorreito, e não em árabe. De resto, igualíssimas suspeitas.

No dia seguinte, nos jornais, fico a saber que o dono do escritório é um palestiniano de nacionalidade portuguesa, nascido na Líbia. De resto, o «Mein Kampf», afinal, não era o «Mein Kampf», mas um livro sobre a Segunda Guerra, com a fotografia de Hitler na capa - que os membros da Brigada Antiterrorista, por não saberem árabe, não identificaram devidamente. A suspeita revista sobre os atentados de Londres resumia-se a uma edição do «Correio da Manhã», que tratava efectivamente do assunto. E o Corão, sim, era mesmo o Corão, e em árabe, como é normal possuírem os muçulmanos, mesmo quando não são fundamentalistas, nem sequer levemente radicais. E se fosse mesmo o «Mein Kampf»? E se o jornal que falava dos atentados fosse árabe? Lá tínhamos o homem todo suspeito. Que até poderia ser terrorista - mas com outros indícios.

Os jornalistas serão assim tão ingénuos, ou tudo lhes serve para dramatizarem uma notícia?



Comentário:

Este Pedro D’ Anunciação é um banana. Ainda não interiorizou o conceito de "shoot to kill" (atirar a matar ), que a Scotland Yard tem vindo sensatamente a desenvolver. Não importa que o homem possua um livro sobre a Segunda Guerra ou o Corão em árabe. Se é palestiniano, embora de nacionalidade portuguesa, e lê o Correio da Manhã, então é enfiar-lhe oito balas na cabeça. Sem hesitações!