terça-feira, agosto 09, 2005

A santíssima trindade

No Expresso - Edição 1710 - 06.08.2005 - Choque e Pavor - Daniel Oliveira.

Manuel Pinho

A ADMINISTRAÇÃO da Caixa Geral de Depósitos foi demitida porque não quis pagar a Ota e o TGV. Mas não se assustem. Mantém-se o Pacto de Regime. Lugares divididos por três partidos. E não lamentem o futuro dos demitidos. Estamos a lidar com gente civilizada. Os senhores, que conseguiram a proeza de tirar a Caixa do primeiro lugar da banca nacional, sairão com as devidas indemnizações. Não são propriamente baixas, como sabem. É que para ter os melhores é preciso pagar bem. E para nos livrarmos deles também.

Na mesma semana, fiquei a saber que o ministro da Economia foi, até há uns meses, administrador do Banco Espírito Santo e que este, através da Espírito Santo Activos Financeiros, é um dos principais proprietários dos terrenos nas freguesias onde ficará o aeroporto. Manuel Pinho esteve num dos grupos que mais vai lucrar com um negócio de que é um dos principais defensores. Pode não ter nada a ver. Provavelmente não tem. Mas a história começa a ficar um pouco repetitiva. Bem sei que para ter os melhores é preciso ir às empresas. Só não sei por que é que, por obra e graça do Espírito Santo, os melhores vêm quase todos do mesmo lado.

As empresas públicas servem os partidos e às vezes os privados. As empresas privadas precisam do Estado para fazer dinheiro e dos partidos para pôr o Estado a render. Os partidos, quando estão no governo, precisam do Estado para dar lugares aos seus quadros; quando estão na oposição, precisam das empresas para lá colocar os seus quadros; e, no meio, em campanhas eleitorais, precisam das empresas para ter dinheiro e do Estado para o distribuir. Funciona assim o triângulo amoroso: se tens uma empresa, mete a tua gente no Governo e nos partidos. Se tens um Governo ou um partido, mete a tua gente nas empresas. Se não tens nada, paga os impostos e não sejas populista.



Comentário:

Subscrevo este artigo na totalidade. Revolta-me apenas o facto da minha pessoa estar forçosamente remetida ao populismo.

2 comentários:

armando s. sousa disse...

O Daniel Oliveira tem, em minha opinião toda a razão. Esta artimanha cada vez mais é utilizada neste País sem que ninguém possa fiscalizar. Caminhamos a passos largos, se quisermos ser livres, para uma revisão do "pacto mafioso" entre o Estado e os contribuites.
Um abraço.

Anónimo disse...

Tenta não falar de cor! Os lucros da CGD com a anterior administração cresceram 38% no último ano.
Merecem agora ser despedidos... batam palmas aos governos de esquerda. O pais não vai ter choque tecnológico – o país está em choque!