quarta-feira, dezembro 05, 2007

Eça de Queiroz (110 anos depois) - Os interesses do País

Não resisti a transcrever um pequeno excerto da crónica «HABILITAÇÕES NECESSÁRIAS PARA SER MINISTRO» publicado nas Farpas e escrito por Eça de Queiroz.

"Há muitos anos que a política em Portugal apresenta este singular estado:

Doze ou quinze homens, sempre os mesmos, alternadamente, possuem o poder, perdem o poder, reconquistam o poder, trocam o poder...

O poder não sai de uns certos grupos como uma péla que quatro crianças, aos quatro cantos de uma sala, atiram umas às outras, pelo ar, num rumor de risos.

Quando quatro ou cinco daqueles homens estão no poder, esses homens são, segundo a opinião e os dizeres de todos os outros que lá não estão - os corruptos, os esbanjadores da fazenda, a ruína do País!

Os outros, os que não estão no poder, são, segundo sua própria opinião e os seus jornais - os verdadeiros liberais, os salvadores da causa pública, os amigos do povo, e dos interesses do País.

Mas, coisa notável - os cinco que estão no poder fazem tudo o que podem para continuar a ser os esbanjadores da fazenda e a ruína do País, durante o mais tempo possível! E os que não estão no poder movem-se, conspiram, cansam-se, para deixar de ser o mais depressa que puderem – os verdadeiros liberais, e os interesses do País!

Até que enfim caem os cinco do poder, e os outros, os verdadeiros liberais, entram triunfantemente na designação herdada de esbanjadores da fazenda e ruína do País; entanto que os que caíram do poder se resignam, cheios de fel e de tédio – a vir a ser os verdadeiros liberais e os interesses do País."


Os corruptos, os esbanjadores da fazenda, a ruína do País...



Os que caíram do poder se resignam, cheios de fel e de tédio...
.

21 comentários:

Castanheira disse...

Ou o Eça de Queiroz tinha capacidades adivinhatórias, ou a política portuguesa está na mesma desde há mais de um século. Os corruptos, os esbanjadores da fazenda, a ruína do País, seja de que cor forem, continuam na governação.

JP disse...

Meu caro Diogo,
na verdade invejo-lhe a capacidade de investigação, síntese e pormenor, tal como o faço em relação ao Eça.
De onde tiram VEXAs tanto saber e conhecimento?
"I'suspicious it is from antiquity", como diria o PM.

Saudações

contradicoes disse...

Não passamos da cepa torta
nisto já lá vão muitos anos
a política que nos é imposta
todos nós a repudiamos

xatoo disse...

a pp (politica portuguesa) está na mesma.
Mas o mal já vem de muito antes do Eça. Começou com o pedido de ajuda aos ingleses para expulsarem os franceses durante as Invasões ordenadas por Napoleão à peninsula. Uns traziam-nos os ideais da revolução, os outros trouxeram-nos o estigma da colonização - bem patentes nos saborosos títulos nobiliárquicos ostentados pelo Duque de Wellington: Marquis of Douro, Conde de Vimieiro, Duque de Ciudad Rodrigo, etc.
De notar que o descendente Sir Arthur Charles Valerian Wellesley, o 8º Duque de Wellington (nascido em 1945) foi director da Massey Ferguson; de 1967 até 1999, foi director da Motor Iberica, em Espanha. Um dos filhos do seu casamento com uma judia israelita é actualmente o administrador da Sun Life Internatinal um dos maiores grupos seguradores mundiais;Como se vê a propriedade e as fontes de rendimento não nascem do nada; plantam-se com guerras.
E como este inglês que tem as suas quintarolas de recreio no Douro para drinkar uns Oportos Wines, assim muitas outras centenas das familias inglesas que nos colonizaram detêm propriedades nas mais diversas áreas. Como deliciosamente nos relatou outro escritor contemporâneo do Eça - Júlio Dinis em "Uma Familia Inglesa"
Coitado do Santana, com esse destaque todo na fotografia, apesar de mais não ser que um seboso e reles escriturário dos chulos com titulos aristocráticos que mandam na pp
pp não a "politica nacional" mas a puta que os pariu!

PMS disse...

Diogo | Homepage | 06.12.07 - 2:32 am | #

Caro Diogo: qualquer aluno do secundário em economia sabe isso. Nâo tem nada de novo, nem de especial. Desde que regulado, é até bastante positivo, uma vez que acelera a velocidade da economia, elemento essencial para a criação de valor.

De qualquer forma, não existe forma de o impedir. Ou mehor, existe uma, que é exigir reservas de 100%. Mas isso significa acabar com o crédito.

Qualquer pessoa minimamente informada sabe que o seu dinheiro é reemprestado. De onde acha que vêem os juros dos depósitos à ordem? São os bancos beneméritos? Mas isso tem algum risco? Não, pois o Banco de Portugal tem regras apertadas para impedir bancarrotas, e mesmo que isso aconteça, o BdP entra com o €€€. Daí que o risco de ficar sem o dinheiro é similar ao risco da economia entrar em colapso e verificarem-se fenómenos de hiper-inflação (no qual todo o dinheiro perde o seu valor).

Há coisas mais importantes para perder o seu tempo. Por exemplo, a aumentar a cultura financeira dos portugueses...

xatoo disse...

velocidade porra nenhuma
caro Pedro de Menezes e Simões
"só o trabalho cria valor"
Do que se tem tratado aqui é do problema da legitimidade de emprestar dinheiro que não existe e cobrar juros sobre ele.
e por mais voltas que dê ao assunto a sugestão que o carissimo faz é a mera apologia da especulação como politica financeira.
Aliás, vindo de quem vem, (de quem lá no seu blogue fez a "fantástica descoberta" que o Sócrates iria entregar a exploração do novo aeroporto a privados), estamos conversados.

Diogo disse...

Pedro Menezes Simoes said... «Qualquer pessoa minimamente informada sabe que o seu dinheiro é reemprestado. Há coisas mais importantes para perder o seu tempo. Por exemplo, a aumentar a cultura financeira dos portugueses...»

Caro Pedro Menezes, ultimamente tenho apostado muito no aumento da cultura financeira dos portugueses. Daí muitos dos artigos que tenho postado.

Agora, tenho a sensação que você também está precisado de umas boas aulas de finanças:

Lição nº 1 – Os bancos emprestam dinheiro que não possuem.

O texto seguinte encontra-se no livro de economia «Success in Economics» de Derek Lobley B.A. Foi considerado apropriado para planos de estudos de economia de muitas corporações profissionais tais como o "Institute of Bankers".

Vamos imaginar uma economia na qual existe apenas um banco. Pouco depois de começar a sua actividade constata que indivíduos e empresas colocaram à sua guarda 10.000 Euros. Nesta fase é perfeitamente claro que o banco possui dinheiro suficiente no cofre para fazer face às exigências dos seus clientes.

Na prática os clientes preferem saldar as dívidas entre eles com cheques, dando ordens ao banco para transferir dinheiro de uma conta para outra. Portanto se Adam e Brown depositaram ambos 500 Euros no banco, e Adam deve a Brown 100 Euros, ele pode saldar a sua dívida ordenando ao banco para reduzir a sua conta em 100 Euros e acrescentar à conta do Brown a mesma importância. Nenhum dinheiro mudou de mãos; o banco ainda deve aos seus clientes 10.000 Euros; houve apenas um pequeno ajustamento nas contas.

Se todos os depositantes do banco estivessem preparados para resolver as suas dívidas desta forma o banco poderia esquecer os seus activos em dinheiro. Os clientes, contudo, precisam de levantar uma certa quantia de dinheiro todas as semanas para pequenos pagamentos (não é usual passar cheques para pequenas quantias) e também para pagar às pessoas que não querem utilizar o sistema bancário.

Se o banco descobre que, no máximo, os levantamentos semanais de dinheiro representam cerca de 10% do total dos depósitos, e que aquelas somas são rapidamente depositadas pelos comerciantes que aceitam os pagamentos em dinheiro dos seus clientes, então a máxima quantia de dinheiro que o banco precisa para fazer face aos seus clientes com um total de depósitos de 10.000 Euros é na realidade de 1000 Euros.

ALTERNATIVAMENTE é possível constatar que com 10.000 Euros de dinheiro em caixa, o banco pode permitir-se uma dívida de 100.000 Euros.

Neste caso vamos imaginar um cliente, o Sr. Clark, que vai ao banco pedir um empréstimo de 1000 Euros. O gerente do banco concorda e abre uma conta para ele com um crédito positivo de 1000 Euros. O Sr. Clark pode agora passar cheques até ao montante de 1000 Euros embora não tivesse depositado qualquer dinheiro no banco; ele simplesmente fica obrigado a pagar os 1000 Euros mais os juros, tendo dado provavelmente alguma garantia ao banco.

Não existe agora dinheiro suficiente para acudir a todos os depositantes se eles quisessem levantar os seus depósitos, mas o banco sabe que provavelmente o máximo que será levantado é 1.100 Euros (10 % de 11.000 Euros).

Portanto, o banco irá continuando a fazer empréstimos (ou criando crédito, que é a mesma coisa) até que o dinheiro que tenha em caixa seja equivalente a apenas 10% dos depósitos.

Até agora, no que concerne aos clientes, a sua posição mantém-se constante quer eles tenham depositado dinheiro para abrir uma conta, quer o dinheiro tenha sido criado por um empréstimo. Quando eles gastam o seu dinheiro o receptor desse dinheiro não tem forma de saber se eles o depositaram no banco.

Deste modo, gerando crédito, os bancos aumentam a oferta de dinheiro.

PMS disse...

Caro Diogo, não neguei nada do que afirmou. Apenas disse que não é qualquer novidade, nem percebo a razão do espanto.

Lição nº2: Os Bancos Centrais obrigam os Bancos Comerciais a fazer reservas por forma a limitar o aumento da oferta de dinheiro.

Lição nº3: Os depositantes recebem remuneração pelo seu dinheiro. Se não quiserem estar nesse sistema, podem fechar o dinheiro numa caixa.

Lição nº4: Se os Bancos não puderem empresar o "dinheiro que não possuem" (mas que lhes é emprestado com o fim de emprestarem a terceiros) acaba-se o negócio do crédito.

Lição nº5: O cliente X deposita 1000€ no Banco A. O Banco A empresa 900€ ao cliente Y. O cliente Y usa para pagar uma casa ao cliente Z que deposita o dinheiro no banco B. O Banco A não tem dinheiro para emprestar a mais ninguém, a não ser que o peça emprestado, por exemplo ao Banco B.
O Banco não "cria dinheiro", o Banco apenas reempresta o que lhe foi emprestado.

É um negócio absolutamente transparente, e não consigo ver nele mais do que uma curiosidade intelectual. Não vejo qual a questão. Onde pretende chegar?

PMS disse...

"só o trabalho cria valor"
olhe que não, olhe que não. Há outros factores de produção essenciais: terra, capital, conhecimento... esperimente "trabalhar" sem nenhum deles...

"Do que se tem tratado aqui é do problema da legitimidade de emprestar dinheiro que não existe e cobrar juros sobre ele."
Não existe? Veja a seguinte situação: Eu emprestar 1000€ ao Xatoo, e o Xatoo por sua vez empresta-os ao Diogo, e este empresta-os ao Eça de Queiroz. O que me está a dizer é que o dinheiro desapareceu algures entre o Xatoo e o Diogo...

"e por mais voltas que dê ao assunto a sugestão que o carissimo faz é a mera apologia da especulação como politica financeira."
Especulação? Imagine agora que o Eça de Queiroz me empresta os mesmos 1000€ que o Diogo lhe tinha emprestado, e eu volto-os a emprestar ao Xatoo. Em alternativa, é o Almeida Garrett que mos empresta para eu emprestar ao Xatoo. Qual é a diferença?

Note-se que ninguém emprestou "o que não tem". Todos emprestaram dinheiro que já lhes tinha sido emprestado.

Só há uma forma de evitar a multiplicação do dinheiro. Proibir o crédito. Mas como as pessoas são livres de fazer o que quiserem com o seu dinheiro, não vejo porque motivo haveriamos de proibir isso.

De qualquer forma, esta é uma discussão que já terminou no final do seculo XIX. Terminou da seguinte forma: os bancos foram obrigados a constituir reservas para limitar o potencial de multiplicação do dinheiro.

P.S. O "Sá Carneiro" não é o novo aeroporto, é o aeroporto do Norte (que já existe). Aconselho-o a aprender a ler antes de mandar piadas...

Biranta disse...

Ihhh! Onde eu vim parar.
Há muito tempo que não vinha aqui porque não consigo aceder ao blogger, nem sequer aos meus blogues. Hoje, milagrosamente, consegui sem esforço...
Notei que o link para o meu espacito desapareceu da margem esquerda... Francamente! Será que já não bastam as dificuldades que "os poderes" instituídos me criam?

Quanto à discussão acima, bem que eu anda magicando uma forma de alinhavar umas ideias para explicar a minha opinião, mas também nãpo me vou alongar.

Apenas reafirmar algo que já foi dito: Os Bancos "emprestam" dinheiro que não têm e cobram juros altíssimos, nomeadamente nos movimentos dos cartões de crédito e de débito, no caso do VISA. É um roubo descarado, actos de espoliação sem qualquer justificação ou utilidade para qualquer dos intervenientes, a não ser para os próprios bancos.
Além disso, debitam uma "cobrança do gangster" a uma imensa maioria dos depositantes, que apelidam de "despesas de manutenção" e fazem-no até em contas com montantes elevados de movimentos, através de cartões de débito; portanto, em contas que deixam muito lucro, apesar de os saldos médio poderem ser inferiores aos estipulados pelos próprios bancos. Ah! E para finalizar: as regras são alteradas ao livre arbítrio dos próprios bancos, sem que os clientes sejam informados.
Para agravar a situação, acresce que, antes, a gente só pagava as "despesas de manutenção", leia-se: cobrança do gangster; agora, por "sugestão" do B.E. acresce um imposto, porque "cobrança de gangster" sem implicação do Estado não pode ser.
Há mais, mas para desfazer os "argumentos" do comentário anterior chega!
Passem bem!

Diogo disse...

Caro Pedro Menezes Simoes,

Pedro: «Lição nº 2: Os Bancos Centrais obrigam os Bancos Comerciais a fazer reservas por forma a limitar o aumento da oferta de dinheiro.»

Diogo: Certo!


Pedro: «Lição nº 3: Os depositantes recebem remuneração pelo seu dinheiro. Se não quiserem estar nesse sistema, podem fechar o dinheiro numa caixa.»

Diogo: Certo!


Pedro: «Lição nº 4: Se os Bancos não puderem empresar o "dinheiro que não possuem" (mas que lhes é emprestado com o fim de emprestarem a terceiros) acaba-se o negócio do crédito.»

Diogo: Falso! Os bancos emprestam “dinheiro” que não têm. Da Lição nº 1, que o Pedro não compreendeu:

ALTERNATIVAMENTE é possível constatar que com 10.000 Euros de dinheiro em caixa, o banco pode permitir-se uma dívida de 100.000 Euros.

Neste caso vamos imaginar um cliente, o Sr. Clark, que vai ao banco pedir um empréstimo de 1000 Euros. O gerente do banco concorda e abre uma conta para ele com um crédito positivo de 1000 Euros. O Sr. Clark pode agora passar cheques até ao montante de 1000 Euros embora não tivesse depositado qualquer dinheiro no banco; ele simplesmente fica obrigado a pagar os 1000 Euros mais os juros, tendo dado provavelmente alguma garantia ao banco.

Não existe agora dinheiro suficiente para acudir a todos os depositantes se eles quisessem levantar os seus depósitos, mas o banco sabe que provavelmente o máximo que será levantado é 1.100 Euros (10 % de 11.000 Euros).

Portanto, o banco irá continuando a fazer empréstimos (ou criando crédito, que é a mesma coisa) até que o dinheiro que tenha em caixa seja equivalente a apenas 10% dos depósitos.


Pedro: «Lição nº 5: O cliente X deposita 1000€ no Banco A. O Banco A empresta 900€ ao cliente Y. O cliente Y usa para pagar uma casa ao cliente Z que deposita o dinheiro no banco B. O Banco A não tem dinheiro para emprestar a mais ninguém, a não ser que o peça emprestado, por exemplo ao Banco B.»


Diogo: Não e sim! Se o cliente X depositar 1000€ em cash ou equivalente, então o banco A (com reservar obrigatórias de 10%) poderá emprestar 9.000 €.

No Wikipedia

How a bank can lend more than it has

Reserves (silver, gold, and U.S. Bonds in past banking eras and U.S Bonds or Credit in the present banking era) are a special form of money which can be held by the commercial banks either in their vaults or on deposit at the central bank. They are generally described as a "high-powered" form of money and are needed to perform fractional reserve banking. When a bank is in possession of bank reserves this means that it is able to lend more currency to others than it has on deposit.

If we imagine a bank which has $100 in reserves, with a 20% reserve ratio the bank would be able to lend up to $400 without breaching the ratio. Hence, through each round of lending a portion is held in reserve until that portion approaches a limit of Zero and the issued credit lent into existence approaches of a limit of $400. Thus begetting a sum total of credit dollars approaching $500 total dollars (The initial seed currency "high-powered money" plus newly issued bank created credit dollars).


Pedro: « O Banco não "cria dinheiro", o Banco apenas reempresta o que lhe foi emprestado. É um negócio absolutamente transparente, e não consigo ver nele mais do que uma curiosidade intelectual. Não vejo qual a questão. Onde pretende chegar?»


Diogo: Você ainda não percebeu onde eu quero chegar porque você ainda não compreendeu o mecanismo do "fractional reserve banking". No Wikipedia está muito explícito. Leia lá outra vez com atenção.

E veja este vídeo:

Money as Debt

PMS disse...

Diogo, percebi perfeitamente como funciona. Ora, quer-me parecer que o Diogo pensa que o Banco empresta dinheiro que não tem em depósitos. Tal, não é simplesmente possível.

Se eu peço emprestado ao banco e volto a depositar o dinheiro, qual o problema do banco voltar a emprestar esse dinheiro? O Banco só empresta o dinheiro que eu lá deposito, ainda que esse dinheiro seja originado noutro empréstimo. Ou então o seu próprio dinheiro, que é redepositado, e depois reemprestado...

De resto, continuo é sem perceber qual a alternativa que preconiza à situação.

Diogo disse...

Pedro,

«o Banco empresta dinheiro que não tem em depósitos. Tal, não é simplesmente possível.»

Tal, é a realidade meu caro. Leia o link com atenção Pedro. E veja o vídeo. Comece pelo vídeo.

Eu sei que você não é estúpido. Eu também só soube disto há relativamente pouco tempo. Faça um favor a si próprio: veja o vídeo:

Money as Debt

Gostava muito que o comentasse comigo.

xatoo disse...

Pedro Menezes Simoes disse:
"esta é uma discussão que já terminou no final do seculo XIX. Terminou da seguinte forma: os bancos foram obrigados a constituir reservas para limitar o potencial de multiplicação do dinheiro"
mas,
vamos mais próximo, vamos ao século XX, quando a Administração Nixon declarou unilateralmente desanexar o valor do dólar em relação ao valor do Ouro das reservas depositadas em Fort Knox. (E é aqui é que está o busilis e onde nasce o neoliberalismo) A partir daí o valor e o volume do crédito concedido concedido reporta-se à capacidade das impressoras para imprimir notas do dito dólar de cuja emissão o FED americano tem o exclusivo mundial.
Até os conservadores como Ron Paul reconhecem haver um problema grave sobre a questão do "dinheiro ficticio"
É esta a ênfase que o Diogo tem posto no negócio do século: emprestar com juros chorudos dinheiro que não existe.

PS, a entrega da gestão dos aeroportos aos privados, onde se inclue o novo e os existentes, faz parte do plano de privatização da ANA, daí eu não perceber onde estava a "novidade"

xatoo disse...

errata
(à cautela não vá aparecer por aí o Pide gráfico Oliveirinha)
onde se lê "inclue" deve ler-se "inclui" e onde se lê duas vezes "concedido" deve ler-se apenas uma vez.

Anónimo disse...

xatoo said...
errata

06 Dezembro, 2007 22:34


:)

Fly disse...

Já que estão todos a falar em juros e empréstimos podem ler este artigo

http://resistir.info/financas/brown_10nov07_p.html

e ficarem a saber o porquê do Irão ser um inimigo a abater. Vou levantar um pouco véu e dizer que tem a ver com o facto do sistema bancário em vigor no Irão não permitir aos bancos cobrarem juros (usura) pelos empréstimos concedidos. O que seria da banca internacional se os países pobres e chulados até ao tutano descobrissem que é possivel manter uma sociedade sem cobrar juros por dinheiro que não existe.
"A característica única e mais distintiva do sistema bancário iraniano, no entanto, é que ele segue a prescrição islâmica contra a usura. Isto significa que os empréstimos são feitos sem juros."

xatoo disse...

fly
a própria lei islâmica, a Sharia, proibe a usura.
O sistema bancário, até na própria Arabia Saudita tem de seguir essa regra. O modo que têm de a contornar é criar bancos de investimentos que só actuam no exterior, mas aceitam os depósitos a prazo dos residentes.
No Irão não é, de certeza, diferente

Anónimo disse...

e na África é o mesmo

e na América do Sul é o mesmo

e na Ásia é o mesmo

só que a Europa, em séculos, criou maneira de poder alternar-se em dois ou três grupos de poder esbanjador e libertário, como a América do Norte, enquanto os outros ainda não tiveram tempo de achar alternativa e sibstitutos capazes de esperar uma vilegiatura

é tudo ao molho, como o nível de desenvolvimento político e económico propiciam e ainda o promovem negócios dos ex-colonizadores

blanca y radiante

PMS disse...

"a entrega da gestão dos aeroportos aos privados, onde se inclue o novo e os existentes, faz parte do plano de privatização da ANA, daí eu não perceber onde estava a "novidade""

A novidade não era essa. A novidade era a possibilidade de privatizar a gestão de cada aeroporto em separado (e não em "atacado"). Isso não estava sobre a mesa até este momento, e era crítico para o Norte.

PMS disse...

Caro Diogo,

Já vi o documentário. Compreendo a sua apreensão, mas asseguro-lhe que o documentário tem inexactidões críticas. Aliás, há um momento em que o documentário entra em auto-contradição, precisamente no aspecto mais fulcral. Mas vamos por partes.

O documentário afirma que os bancos podem criar dinheiro para crédito. Como o fazem? Segundo eles, o banco, ao criar o crédito (activo do banco), pede uma garantia, e utiliza essa mesma garantia como depósito (passivo do banco).

Ora, isso é algo que os bancos simplesmente não podem fazer. Como não tenho os elementos legais que me permitam provar esta afirmação, e para evitar a anterior discussão de que eu digo que não é possível, e o Diogo diz-me que é possível, vou utilizar o seguinte procedimento para demonstrar que tenho razão. Primeiro, explicarei qual é o verdadeiro processo. Depois, evidenciarei um conjunto de factos facilmente comprováveis, e que não seriam possíveis caso o processo não fosse o q ue eu descrevi, mas o do documentário.

O que eu afirmo é que os bancos não podem criar dinheiro. Não podem emprestar dinheiro que não têm.

1- O activo dos bancos é composto por imobilizado do banco, pelo crédito concedido a particulares e empresas, pelas aplicações do banco (i.e. crédito a outras sociedades financeiras, ou seja, a outros bancos), e pelas reservas. O conjunto dos passivos é composto pelo capital dos accionistas (capital próprio), pelos depósitos dos clientes, e pelo crédito pedido a outros bancos.

2- Se o documentário tivesse razão, então o conjunto dos passivos do banco seria composto pelo capital dos accionistas, e pelas garantias prestadas pelos clientes aquando da cedência de crédito. Poderia ainda haver um valor reduzido de depósitos, mas muito diminuto (inferior a 10% do valor do crédito concedido), mas em caso algum haveria dívidas a outros bancos (porque motivo teria o banco que se endividar?)

3- Decorre do anterior que os bancos não teriam grande interesse em captar depósitos dos clientes. Nomeadamente, depósitos a prazo, uma vez que os depósitos à ordem seriam suficientes para cobrir as necessidades para concessão de crédito. Mais, porque motivo haveriam os bancos de pagar taxas de 3%, 4% ou mesmo 10% para captar depósitos? Não haveria motivo. Porque motivo estariam os bancos em competição para captar depósitos? Por nenhum, pois não precisariam de depósticos para nada.

4- O documentário responde a esta questão afirmando que os bancos teriam uma obrigação de ter em depósitos à ordem de clientes um valor superior a 10% do crédito concedido. Ups…erro fundamental…se os bancos precisam de mais 10% de DO do que crédito, então isso significa que teriam em caixa o dinheiro necessário para emprestar. Mas que não emprestavam esse, mas um outro dinheiro "criado". Mas no entretanto, precisavam de retirar de circulação 1,1x o dinheiro que teriam criado. Significaria na verdade, uma taxa de reserva de 110%, e não de 10%... Mas adiante, vamos ignorar o cício fundamental deste argumento. Ainda assim, não é verdade o que é afirmado. De todos os 5 maiores bancos portugueses, apenas a CGD tem mais DO do que crédito concedido. Ou seja, não é verdade que os bancos necessitem tanto dos depósitos de clientes.

5- Porque podem "criar" dinheiro? Não. Porque podem pedí-lo emprestado a outros bancos. O que nunca fariam se pudessem criar dinheiro. Mas fazem. Já ouviram falar na Euribor? A Euribor é a taxa de empréstimo interbancária, i.e., a média das taxas praticadas nos empréstimos entre bancos. Mais, conhecem o conceito de spread? O spread é a receita do banco (que serve para cobrir a margem de lucro, o custo de oportunidade da reserva, e o custo do risco de crédito). Se os bancos criassem o seu dinheiro, porque motivo ter taxas indexadas? Se os bancos criassem dinheiro as taxas seriam exactamente iguais aos spreads agora praticados.

6- Aliás, indexadadas a quê? Quanto muito indexadas às taxas directoras dos bancos centrais. Mas, se o banco pode criar dinheiro para emprestar ao banco central, porque não emprestar dinheiro "criado" ao banco central, onde nem sequer existe risco de crédito? Ou, mesmo que não pudessem emprestar dinheiro ao banco central, porque motivo pediriam dinheiro emprestado a este? Como é que as taxas definidas por este teriam qualquer impacto na actividade dos bancos? Simplesmente não teriam.

7- O banco tem que manter em depósito um valor que representa parte do valor emprestado. Uma reserva de 10% significa que para um empréstimo de 100€, o banco tem que manter em depósito 10€. Ou seja, é dinheiro que não pode emprestar a ninguém (excepto aos bancos centrais). Significa isto que tendo um depósito de 10€, o banco pode "criar" 100€? Não. O banco tem agora que pedir 100€ emprestados. Sim: 100€! Não 90€, porque 10€ já estão usados como reservas. E pode pedí-los emprestados a outros bancos, ou aos seus clientes (depósitos). Os bancos preferem pedir dinheiro emprestado aos clientes porque é mais barato que pedir emprestado aos outros bancos. Há um motivo simples. Supondo que eu pago 4% de juros aos meus depositantes, só estarei disposto a emprestar a pelo menos 4,4% a outros bancos, pois tenho que fazer uma reserva de 10% (e o banco a quem emprestei só o fará a 4,8%, pois também teve que fazer uma reserva). Note-se que em nenhum momento entrei em contradição com o que disse no ponto 4.

8- Pode-se dizer a coisa de outra forma. Se tiver 100€ de depósitos, posso emprestar ~90€. Estes 90€ serão re-depositados no sistema bancário, onde darão origem a um empréstimo de 81€, e daí por diante. Aqui estamos de acordo. Existe um factor de multiplicação da massa monetária em resultado da actividade dos bancos. Neste caso, é um multiplicador de 10x.

9- Mas se os bancos pudessem criar dinheiro da forma como é dito, o multiplicador do crédito não seria 10, mas infinito. Se o banco tem 100 e pode emprestar 1000, e se alguém depositar estes 1000 noutro banco e este pode criar 10.000, e assim por diante o dinheiro é infinito. Tendo em conta que a inflacção relaciona-se fortemente com o volume de massa monetária, a inflacção seria infinita (ou algo próxima da do Zimbabué: 15.000%, onde o banco central emite dinheiro de forma contínua). Porque motivo não é? Porque os bancos não podem "criar" dinheiro. É verdade que a actividade dos bancos aumenta a massa monetária em circulação. Mas a sua capacidade de fazer isto é limitada tanto pelo valor das reservas, como pelo preço que têm que pagar pelo dinheiro. Ou seja, uma taxa do banco central mais alta significa que o dinheiro fica mais caro para os bancos, que o repercutem para os clientes, reduzindo assim a procura de crédito. Por outro lado, as taxas de reserva limitam o factor multiplicativo dos depósitos, como vimos atrás. Quando os bancos centrais querem restringir drasticamente a massa monetária, obrigam ao aumento das taxas de reserva (e indirectamente ao preço do crédito, como vimos no ponto 7. Uma taxa de 20% passaria a taxa interbancária de 4,4% para 4,8% e a dos empréstimos a clientes para 5,3%).

10- Assim, tendo em conta que a inflação não é infinita, que existem taxas de empréstimos interbancários, que existem taxas directoras dos bancos centrais, que os bancos não pagam valores residuais pelos depósitos a prazo, que existem spreads indexados a taxas interbencárias, etc., a conclusão só pode ser uma: os bancos não podem utilizar as garantias prestadas pelos clientes como equivalente a depósitos. Ou seja, os bancos não podem "criar" dinheiro.