segunda-feira, novembro 30, 2009

Sir Liddell Hart: Em 1940, Hitler comparou o Império Britânico à Igreja Católica, afirmando que ambos eram essenciais para a estabilidade do mundo

[Tradução minha]

A seguir à Segunda Guerra Mundial, B.H. Liddell Hart, um dos principais historiadores militares do século XX, e autor de trabalhos sobre estratégia militar e sobre as duas Guerras Mundiais, aproveitou a oportunidade de visitar e interrogar muitas das figuras-chave do esforço de guerra alemão. Em 1948, publicou um livro que teve por base estas conversas, intitulado "The Other Side of the Hill" (O Outro Lado da Colina), também publicado noutros lugares com o título "The German Generals Talk". Este livro cobre uma vasta gama de tópicos, desde campanhas militares, até à conspiração anti-Hitler que culminou na tentativa de assassinato de 20 de Julho de 1944, discórdias entre Hitler e o comando geral militar, opiniões de oficiais célebres como Erwin Rommel, e opiniões dos principais adversários da Alemanha durante a Segunda Guerra Mundial.


O livro no qual Sir Liddell Hart interrogou
muitas das figuras-chave das forças armadas da Alemanha nazi



Dunquerque também foi discutido neste trabalho histórico fundamental. Este é o pano de fundo:

Na sequência da vitória sobre a Polónia em 1939, Hitler defendeu um ataque imediato à França pelo oeste, desconhecendo que os franceses, que estiveram relutantes em entrar na Guerra, não tinham intenções de efectuar nenhuma ofensiva contra a Alemanha, tendo, pelo contrário, planeado uma campanha defensiva, provavelmente com o objectivo final de ganhar outra guerra de atrito.

Os planos iniciais de Hitler e do Comando Geral Militar encaixavam nesta estratégia, e, na realidade, não incluíam outros objectivos que a captura de certos pontos de valores estratégicos, o que lhes permitiria prosseguir o combate aéreo e naval contra a Grã-Bretanha. Inicialmente, Hitler não antevia nenhuma vitória integral, como a que tinha sido obtida na Polónia. Mas depois de numerosos adiamentos da ofensiva, devido a uma combinação de circunstâncias, Hitler acabou por adoptar o plano ambicioso do brilhante oficial Erich von Manstein. A "Operation Sickle-cut" (Operação Corte de Foice) foi a obra-prima que neutralizou a França numa questão de semanas.

Poderosas forças blindadas alemãs iriam avançar através da supostamente intransponível Floresta das Ardenas da Bélgica e da França e, então, dirigir-se rapidamente até à costa, seccionando uma grande parte do exército francês e todo o BEF (Forças Expedicionárias Britânicas - British Expeditionary Forces). O sucesso deste plano é bem conhecido. Liderado por um dos maiores génios da guerra de carros blindados, Heinz Guderian, os alemães passaram pelas defesas francesas, repeliram alguns contra-ataques, e alcançaram o mar, isolando milhares de tropas francesas que tinham sido enviadas para a Bélgica assim como todas as Forças Expedicionárias Britânicas. Os aliados, batidos e desmoralizados, retiraram ao longo da costa, e, em pouco tempo, o único porto que possibilitava a fuga era Dunquerque. As fragmentadas forças britânicas e francesas recuaram para este porto.

Os agressivos generais alemães queriam perseguir os seus derrotados adversários até Dunquerque, e capturá-los a todos. Mas, para sua grande frustração, Hitler deu ordens para deter o avanço. Ao princípio, alguns comandantes alemães tentaram ignorar as ordens, mas Hitler repetiu a ordem e as vitoriosas forças panzer pararam durante três dias, permitindo aos britânicos e aos franceses escapar por mar, não obstante o assédio da Luftwaffe (Força Aérea Alemã).


Wikipédia - Uma pausa na intensidade dos combates permitiu inesperadamente a evacuação de um grande número de soldados franceses e britânicos para Inglaterra. Mais de 300.000 homens foram evacuados apesar do bombardeamento constante ("o milagre de Dunquerque", nas palavras de Winston Churchill)


Porque é que foi dada a absurda ordem para parar, quando o inimigo estava batido e sem capacidade para travar o poderosos exército alemão? Mais tarde, Hitler deu várias desculpas para este erro crasso. Hitler disse ao Marechal de Campo von Kleist, "Não quis enviar os tanques para os pântanos da Flandres – e os britânicos já não regressariam nesta guerra". A outros, explicou que estava preocupado com possíveis problemas mecânicos de muitos dos tanques, e que queria ter tanques suficientes para derrotar definitivamente a França.

Mas a 24 de Maio de 1940, enquanto a campanha estava ainda em desenvolvimento, Hitler expressou um motivo mais profundo, mais político, aos membros do estado-maior do marechal de campo von Rundstedt. Isto foi relatado pelo General Blumentritt a Liddell Hart:

"Hitler estava de excelente humor, admitiu que o curso da campanha tinha sido 'um verdadeiro milagre', e deu-nos a sua opinião de que a guerra estaria acabada em seis semanas. Que ele desejava concluir uma paz razoável com a França, e que então o caminho estaria livre para um acordo com a Grã-Bretanha."

"Depois Hitler deixou-nos estupefactos ao falar com admiração do Império Britânico, da necessidade da sua existência, e da civilização que a Grã-Bretanha trouxe ao mundo. Salientou, com um encolher de ombros, que a criação do Império tinha sido alcançado por meios que tinham sido muitas vezes duros, mas que 'não se podem fazer omeletas sem partir ovos'. Comparou o Império Britânico à Igreja Católica, afirmando que ambos eram elementos essenciais para a estabilidade do mundo. Hitler disse que tudo o que ele queria da Grã-Bretanha era que esta reconhecesse a posição da Alemanha no continente europeu. O regresso das colónias que a Alemanha perdera seria desejável mas não essencial, e até se oferecia para apoiar a Grã-Bretanha com tropas se esta estivesse em dificuldades onde quer que fosse. Frisou que as colónias eram sobretudo uma questão de prestígio, já que não podiam ser mantidas durante a guerra, e poucos alemães teriam capacidade de se estabelecer nos trópicos."

"Hitler concluiu dizendo que o seu objectivo era fazer a paz com a Grã-Bretanha em termos que esta considerasse serem compatíveis de aceitar com honra."



B.H. Liddell Hart concluiu a sua abordagem sobre Dunquerque com estas frases fascinantes: "Terá esta atitude de Hitler em relação à Inglaterra sido motivada apenas pela ideia política, que ele vinha acalentando há muito, de fazer uma aliança com ela? Ou terá sido inspirada por um sentimento mais profundo que se declarou neste momento crucial? Existem vários elementos complexos nesta questão que sugerem que ele tinha uma mistura de sentimentos de amor-ódio em relação à Inglaterra semelhantes às do Kaiser. Qualquer que seja a verdadeira explicação, podemos, no mínimo, ficar contentes com o resultado. Porque as suas hesitações permitiram a salvação da Grã-Bretanha no momento mais crítico da sua história".
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19 comentários:

Carlos Marques disse...

O "milagre de Dunquerque" foi uma extraordinária proposta de paz à Inglaterra. Normalmente não associamos Hitler a tais magnanimidades.

xatoo disse...

Isto foi na fase ascendente de Hitler e do nacionalismo; tratava-se de lutar pela hegemonia na Europa, uma visão continental anti-comunista liderada pela Alemanha contra uma visão de exploração ultramarina imperialista liderada pela Inglaterra. Nesta altura o ministro das Finanças alemão visitava o seu homólogo em Nova Iorque. A revista Time publicava capas de Hitler como homem do ano. O que se passou a seguir é que é fascinante recordar: as brigadas de voluntários da maioria dos povos europeus, desde a Brigada Azul de Franco até à Divisão Charlemagne francesa que foi a unidade que defendeu Berlim até ao fim. Ácerca disto ainda esta semana fiz este post. É bom que se veja que o verdadeiro leit-motiv da guerra foi o objectivo de erradicar do mapa a solução comunista como hipótese de organização social. Tanto que os Aliados protelaram a intervenção militar na Europa até à última hora (1944) porque nunca pensaram que a URSS ia conseguir resistir ao brutal ataque alemão que se iniciou com a operação Barbarossa. Ando a reunir extractos de um filme soviético sobre isso para postar um dia destes mais umas achegas sobre este assunto
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xatoo disse...

e o mais interessante ainda é que um dos últimos comandantes que lutaram por Hitler até ao fim na defesa de Berlim era um judeu francês: Gustave Krukenberg (vem no livro do Antony Beevor, mas claro, não identifica a personagem como sendo judeu)
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Diogo disse...

Caro Xatoo,

Hitler era judeu, Estaline era judeu, Eisenhower era judeu e Churchill era judeu. Ou seja, os quatro chefes das potências beligerantes tinham todos o mesmo dono.

Anónimo disse...

Estaria ligada a esta vontade de aliança com os britânicos,a viagem de Hess?

xatoo disse...

analogias dessas pode-se arranjar umas quantas do mesmo género: eram todos de raça branca, não dependiam de salário, todos usavam bolsos nas calças, todos tinham cabelo,etc.
O que não invalida que pensassem todos de modo diferente quanto à prossecução das suas ideias.
Sobre aristocracias, há marados que dizem que Hitler era primo da Rainha de Inglaterra, que Trotski foi atropelado por um Ovni, etc. O que não se consegue provar nunca é que o Comunismo (sobre o qual se têm pronunciado por mais de século e meio milhares de economistas e filosofos não judeus) era, ou persiste em ser, uma forma de organização social deveras inconveniente...
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Zorze disse...

Diogo,

Pouco se fala do ocultismo, das missas negras que naquela altura andavam na mó de cima.

Abraço,
Zorze

Anónimo disse...

Diogo, se todos os chefes das grandes potências da época eram judeus, ou tinham ascendência judia, ou judaica, porque é que foram perseguidos, ostracizados, exilados milhares de judeus por essa Europa fora, com particular destaque para os que viviam em países onde o governo era de Extrema Direita?

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