quinta-feira, novembro 08, 2012

Isabel Jonet – uma cabra de barriga cheia discorre com altivez sobre a fome e a miséria de um número cada vez maior de portugueses





A intervenção de Isabel Jonet, presidente do "Banco Alimentar Contra a Fome", quando co-entrevistada, na "Edição da Noite", da SIC Notícias de 06-11-2012, foi algo que suscitou incontrolável «abjecção» e «repugnância». Isabel Jonet deveria ter consciência de que o protagonismo que vem assumindo se deve, essencialmente, à generosidade dos doadores que, muito provavelmente, desconhecem a mentalidade «caritativa» e «salazarenta» que, salvo melhor entendimento, a caracteriza.

Para muitas pessoas, o "Banco Alimentar Contra a Fome" deixou de merecer a mínima confiança, enquanto entidade «intermediária» dirigida por essa senhora, e, como tal, não estarão dispostos a contribuir com mais uma lata de sardinhas para a dita instituição enquanto Isabel Jonet não se demitir.

Maria Isabel Jonet, trabalha desde 1993 em regime de voluntariado no Banco Alimentar Contra a Fome, sendo actualmente Presidente da Federação Portuguesa dos Bancos Alimentares Contra a Fome. Trabalhou no Comité Económico e Social das Comunidades Europeias, em Bruxelas, entre 1987 e Julho de 1993. Foi adjunta da Direcção Administrativo-Financeira da Sociedade Portuguesa de Seguros entre Março de 1983 e Dezembro de 1986 e da Direcção Financeira da Assurances Général de France em Bruxelas em 1987 (todas elas ligadas a instituições de crédito - as tais que fabricaram a «Crise Financeira»).


Caríssima Isabel Jonet,

Gostaríamos de lhe dizer frontalmente, com o mínimo de mediações, que o nível das suas declarações é aviltante, sobretudo para aqueles com quem se diz preocupar e em nome dos quais desfruta o brunch da beneficência. Queremos dizer-lhe, antes de lhe devolver cada um dos insultos para citar nas vernissages, que o movimento que lhe escreve luta sobretudo para que ninguém se habitue ao empobrecimento. O nosso combate, todos os dias, é pelo pleno emprego e pela justa distribuição do trabalho, única via que identificamos para não ter que contar com o seu negócio a cada vez que falta capital ao mês. Fala-lhe um grupo de pessoas, jovens e menos jovens, desempregados, precários, sub-empregados, gente que se empenha quotidianamente para derrotar quem, como a senhora e a Merkel, insiste em mascarar de caridade o saque que estão a fazer às nossas vidas.

Sabemos que preside à Federação Europeia dos Bancos Alimentares Contra a Fome, posição que ocupa desde Maio de 2012, e que a sua influência aumenta na proporção da miséria nos vai impondo. Sabemos que é rica e privilegiada e nunca falou da fome com a boca vazia. Sabemos que sabe que não falta miséria para alimentar de matéria-prima a sua fábrica. Sabemos que olha para os pobres com desdenho, nojo, pena. Sabemos que na hora de fazer a contabilidade aquilo que a move é a sua canja, o seu ceviche, não o caldo dos outros.

Afirma que vamos ter que "reaprender a viver mais pobres", quando a senhora só sabe o que é viver mais rica, que "vivíamos muito acima nas nossas possibilidades" quando é sua excelência que tem vivido às nossas custas, que "há necessidade permanente de consumo, de necessidade permanente de bens para a satisfação das pessoas" quando em nenhum momento da sua vida a falta de verba lhe deu tempo para ganhar água na boca. Atira-nos à cara, com a lata da Chanceler, que os seus filhos "lavam os dentes com a torneira a correr" e que se nós "não temos dinheiro para comer bifes todos os dias, não podemos comer bifes todos os dias", quando cada vez mais o problema das pessoas é ter casa onde os filhos possam lavar os dentes e onde os bifes nunca ganharam a tradição dos que são fritos no conforto das Arcádias. Em tempos sombrios, poucos provaram o lombinho do seu talho predilecto, aquele que sempre visita com generosidade, antes dos fins-de-semana que costuma fazer com requinte, no crepúsculo alentejano.



Deixe-nos explicar que enquanto pensava que à sua volta "estava tudo garantido, alguém havia de pagar", éramos nós, os nossos pais e avós, que lhe aviavam a mesada. Perceba que a cada momento em que delira com a cegueira de que "cá em Portugal podemos estar mais pobres, mas não há miséria", abastece-se à confiança do nosso fiado e das nossas dores de barriga. Entenda, que o tamanho dos seus disparates não abafa os murmúrios da pobreza e a miséria. Deixe-nos dizer que um milhão e meio de desempregados, com a fome e a subnutrição visível das urgências dos hospitais às cantinas das escolas públicas, a cólera já sobra às páginas dos jornais do dia. Deixe-nos dizer-lhe que o tempo não é de substituir o "Estado Social" pelo "Estado de Caridade", mas de pelo menos ter tanto cuidado com os pobres como com aquilo que se diz.

Pode caluniar os nossos pais, que nem o histerismo fútil com que os brinda não a torna capaz de encontrar exemplo de quem troque a bucha pela ida ao Super-Rock. Pode gritar, sem sequer dar ao luxo do fôlego, que eles "não souberam educar os filhos", que a cada desabafo nos permite desvendar um pouco mais o véu das suas intenções, da origem do seu soldo.

O seu mundo, caríssima Jonet, é um decalque da propaganda do Governo, um corpo torpe atirado à máfia de capatazes e dos carcereiros, aqueles que lhes têm ajudado a arranjar mais e mais margem de lucro no plano financeiro da sua pérfida empresa.

O mundo de Jonet é o mundo da classe dominante, do privilégio, da riqueza, do poder desmesurado, dos estereótipos que ajudam a lavar o sangue que lhe escorre das unhas. No mundo de Jonet, as PPPs, os submarinos, a exploração, o assalto dos governantes, são propaganda subversiva ao serviço de gente acomodada, inútil, descartável. No mundo de Jonet "não existe miséria" como "em Portugal", não é assim? Em suma, no mundo de Jonet não se vive o que é preciso para se ganhar um pingo de vergonha.

Se estiver disponível, teríamos todo o gosto em entregar-lhe esta carta em mãos.

Sem cordialidade mas com muito mais educação,

Seus detractores,

O Movimento Sem Emprego.



Comentário

1 – Sabe-se que a madame Isabel Jonet é rica, privilegiada e, se alguma vez passou fome foi apenas para manter a linha.

2 – Ouvem-se - bocas-boatos-verdades(?) - que Isabel Jonet tem metido algum ao bolso.

3 – Também se sussurra - bocas-boatos-verdades(?) - que pessoas muito bem aperaltadas e nada pobres se vão alimentar ao Banco Alimentar Contra a Fome para poupar dinheiro (o que é surpreendente - o Banco apenas recolhe e distribui alimentos, não serve refeições).

4 – Também sabemos que não houve nenhuma guerra nem cataclismo em Portugal. E sabe-se que a «Crise Financeira» é apenas um roubo colossal aos Estados, Empresas e Famílias levado a cabo pela Banca com a conivência dos seus esbirros na política, na justiça e nos Media.

5 – É sabido que, por causa dessa deliberada «Crise Financeira», o rendimento das pessoas diminuiu brutalmente – com o aumento feroz do desemprego e a descida acentuada de salários, pensões e subsídios. Isto somado a subidas desenfreadas de água, electricidade, gás e tantas outras coisas.

6 – Portanto, e tirando as inevitáveis excepções (sobretudo de malta mais endinheirada), ninguém vivia, nem podia viver, acima das suas possibilidades. Qualquer excesso que se fizesse com o cartão de crédito ou num empréstimo, era penhora pela certa.

7 – Posto isto, caríssima Jonet, não há que "reaprender a viver mais pobres", mas antes, punir com a máxima severidade os genocidas que criaram este holocausto social e económico.

terça-feira, novembro 06, 2012

Acima do Trabalho e do Empresário encontra-se o Parasita Financeiro que se apodera de tudo através de dinheiro que contrafaz a partir do nada



President Andrew Jackson

"If Congress has the right under the Constitution to issue money, it was given them to use themselves, not to be delegated to individuals or corporations. Controlling our currency, receiving our public moneys, and holding thousands of our citizens in dependence ... would be more formidable and dangerous than a Military power of the Enemy." - Se o Congresso tem o direito segundo a Constituição de emitir dinheiro, este direito foi-lhe dado para o utilizar, não para ser cedido a indivíduos ou corporações. O controlo da nossa moeda [por indivíduos ou corporações], recebendo os nossos dinheiros públicos, e mantendo milhares dos nossos cidadãos sob a sua dependência ... seria mais terrível e perigoso que o poder militar do inimigo.

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É ingénuo pensar-se que os bancos são empresas como outras quaisquer, que competem entre si por depositantes a prazo a quem remuneram com um determinado juro, e por clientes a quem concedem crédito a um juro superior.

Os bancos são as únicas entidades a quem o Banco Central Europeu empresta dinheiro (criado a partir do nada) a uma taxa próxima de 0%, e que, por seu turno, o emprestam a 3%, 4%, 5%, etc., a Estados, Empresas e Famílias. O BCE está impedido pelos seus próprios estatutos de emprestar dinheiro diretamente aos Estados.

Este privilégio fantástico dos bancos em obter dinheiro a um juro de quase 0% do Banco Central Europeu e a emprestá-lo a um juro muito superior a Estados, Empresas e Famílias, implica necessariamente a existência de um monopólio bancário a funcionar a nível mundial.


O Parasitismo Financeiro

Existe no mundo de hoje, ao que tudo indica, uma força financeira centralizada operada por meia dúzia de homens que está a levar a cabo um jogo gigantesco e secretamente organizado, tendo o mundo como tabuleiro e o controlo universal como aposta.

Hoje ninguém acredita que a finança seja nacional nem ninguém acredita que a finança internacional esteja em competição. Existe tanta concordância nas políticas das principais instituições bancárias de cada país como existe nas várias secções de uma fábrica – e pela mesma razão, são operadas pelas mesmas fontes e com os mesmos objectivos.

Certamente, as razões económicas já não conseguem explicar as condições em que o mundo se encontra hoje em dia. Nem sequer a explicação usual da "crueldade do capital". O trabalho tem até agora acreditado que o capital era o céu por cima dele, mas existe um céu ainda mais alto que nem o capital nem o trabalho se deram conta nas suas lutas um com o outro. Esse céu ainda não recuou até agora.


O Capital Financeiro acima do capital produtivo

Aquilo a que chamamos capital é normalmente dinheiro usado na produção, e referimo-nos de forma errada ao fabricante, ao gerente do trabalho, ao fornecedor de ferramentas e empregos – referimo-nos a ele como o "capitalista". Mas não! Ele não é o capitalista no verdadeiro sentido do termo. Porque, ele próprio tem de ir ao capitalista pedir o dinheiro que precisa para financiar os seus projectos. Existe um poder acima dele – um poder que o trata muito mais duramente e o controla de uma maneira mais implacável que ele alguma vez se atreveria a fazer com o trabalho.

Na verdade, é uma das tragédias dos nossos tempos, que o "trabalho" e o "capital" lutem um com o outro, quando as condições contra as quais cada um deles protesta, e com as quais cada um deles sofre, não está ao seu alcance o poder para o remediar, a não ser que arranjassem uma forma de arrancar à força o controlo mundial de um grupo de financeiros internacionais que forjam e controlam estas condições.

Existe um super-capitalismo que é totalmente sustentado pela ficção de que o dinheiro é riqueza. Existe um super-governo que não é aliado de governo nenhum, que é independente de todos eles, e que, no entanto, mexe os cordelinhos de todos eles.

"Os despojos pertencem ao vencedor" diz um velho ditado. E, de certo modo, é verdade que se todo este poder de controlo foi adquirido e mantido por uns poucos homens, então, ou eles são super-homens contra quem é inútil resistir, ou são homens comuns a quem o resto do mundo tem permitido obter um grau de poder indevido e perigoso.

A primeira prole dos Rothschilds

Crê-se que a família Rothschild é hoje proprietária de mais da metade da riqueza do planeta, estimada pelo Credit Suisse em aproximadamente 231 mil biliões de dólares (US $231.000.000.000.000).


Comentário

A humanidade permitiu que a criação e a manipulação do Dinheiro se concentrasse em meia-dúzia de mãos, possibilitando que um punhado de indivíduos se apoderasse, por via disso, de praticamente toda a riqueza do mundo. Em suma, graças a um meio fictício - moedas, notas ou bits - usado na troca de bens reais, que criam e manipulam a seu bel-prazer, apossaram-se de tudo em troca de nada.

segunda-feira, outubro 29, 2012

O banqueiro Fernando Ulrich quer que desempregados trabalhem à borla para o BPI


O banqueiro Fernando Ulrich

Jornal Sol (25-10-2012) - O PS acusou hoje o Governo de ter uma «almofada» de 7,5 mil milhões de euros, verba que ficará «cativa» no Banco de Portugal e que servirá para uma eventual necessidade de recapitalização de instituições financeiras.


Os lucros do BPI durante a "Crise"
e antes da introdução do trabalho à borla

2012 - O Banco BPI apresentou lucros de 117,1 milhões de euros nos primeiros noves meses.

2011 – O Banco BPI obteve em um lucro líquido consolidado de 116 milhões de euros.

2010 - O Banco BPI obteve um lucro líquido consolidado de 184.8 milhões de euros.

2009 - O Banco BPI obteve um lucro líquido consolidado de 175 milhões de euros.

2008 - O Banco BPI obteve um lucro líquido consolidado de 150.3 milhões de euros.






O presidente do banco BPI, «um dos maiores empregadores» de Portugal, lamenta nunca ter sido contactado por ninguém, do Governo, das associações patronais ou dos sindicatos, que lhe perguntasse o que pode fazer para ajudar a fomentar o emprego no país. Em entrevista à RTP1 na noite de quarta-feira, o banqueiro sugeriu que, em vez de pagar subsídios de desemprego, o Estado poderia pagar às pessoas para trabalharem no seu banco ou noutras grandes empresas.

Segundo Fernando Ulrich, a medida poderia aumentar o número de funcionários do BPI, que emprega 6.500 pessoas.

«Se ninguém negociar comigo nada, se ninguém me propuser nada, o caminho em que nós vamos é o de reduzir pessoas. E é isso que vamos continuar a fazer porque é isso que aumenta a rentabilidade do banco», argumentou.

Mas, se o Estado, continuando a pagar aos desempregados, propusesse ao banco «absorver» algumas dessas pessoas, para as manter ocupadas e contribuir para a sua aprendizagem e formação, seria possível criar emprego no país, defendeu.

«É melhor do que pagar subsídios de desemprego. Das pessoas que estão em casa, se pudesse haver 300 ou 500 que estivessem no BPI, nem que fosse por um ano ou dois, aí garanto que era bom para elas, que aprendiam, que se valorizavam, que era bom para a carreira», explicou, sugerindo o pagamento integral do salário como forma de apoio. «Aprendem, estão integradas socialmente, têm destino, têm esperança», continuou. «Se estiverem perdidas, sem fazer nada e sem saber para onde ir, os melhores podem emigrar, os outros, se calhar, nem isso».

«Isto que estou a dizer o BPI pode fazer, a EDP pode fazer, a Portugal Telecom, a Jerónimo Martins, a Sonae, muitas grandes empresas podem fazer isto», adiantou ainda, explicando que em pequenas e médias empresas a entrada de novos funcionários poderia perturbar o seu funcionamento.

Na mesma entrevista, Ulrich teceu ainda rasgados elogios ao ministro das Finanças, considerando que é «o homem certo no lugar certo».



Comentário

Árvore genealógica dos "Donos de Portugal"

A árvore genealógica aqui resumida é um mapa das principais ligações matrimoniais entre as famílias que têm constituído as maiores fortunas de Portugal. O casamento foi uma forma de concentração de propriedade, de reforço da conexão de interesses, de organização de relações sociais e portanto da coesão essencial do segmento mais poderoso da classe dominante.

Ao longo do livro "Donos de Portugal" são referidos alguns dos casamentos que asseguraram a continuidade da rota das fortunas, alianças que configuraram a economia e a permanência de um centro na transmissão da grande propriedade. No centro desse centro, está a família Mello, como o gráfico mostra, o mais importante ponto de confluência da endogamia que caracteriza a burguesia portuguesa.


Clicar na figura para ampliar

quinta-feira, outubro 25, 2012

Os Ladrões do Poder e os pilha-galinhas – ontem, tal como hoje...


Padre António Vieira


Padre António Vieira - Sermão do Bom Ladrão

"Não são ladrões apenas os que cortam as bolsas. Os ladrões que mais merecem este título são aqueles a quem os reis encomendam os exércitos e as legiões, ou o governo das províncias, ou a administração das cidades, os quais, pela manha ou pela força, roubam e despojam os povos.

Os outros ladrões roubam um homem, estes roubam cidades e reinos; os outros furtam correndo risco, estes furtam sem temor nem perigo.

Os outros, se furtam, são enforcados; mas estes furtam e enforcam."


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Santo Agostinho


SANTO AGOSTINHO (1991) A CIDADE DE DEUS, Vol I. Lisboa, Fundação Calouste Gulbenkian. (Livro IV, Cap IV: p.383)

«Afastada a justiça, que são, na verdade, os reinos senão grandes quadrilhas de ladrões? Que é que são, na verdade, as quadrilhas de ladrões senão pequenos reinos? Estas são bandos de gente que se submete ao comando de um chefe, que se vincula por um pacto social e reparte a presa segundo a lei por ela aceite. Se este mal for engrossando pela afluência de numerosos homens perdidos, a ponto de ocuparem territórios, constituírem sedes, ocuparem cidades e subjugarem povos, arroga-se então abertamente o título de reino, título que lhe confere aos olhos de todos, não a renúncia à cupidez, mas a garantia da impunidade.

Foi o que com finura e verdade respondeu a Alexandre Magno certo pirata que tinha sido aprisionado. De facto, quando o rei perguntou ao homem o que lhe parecia isso de infestar os mares, respondeu ele com franca audácia: " O mesmo que a ti parece isso de infestar todo o mundo; mas a mim, porque o faço com um pequeno navio, chamam-me ladrão; e a ti, porque o fazes com uma grande armada, chamam-te imperador

segunda-feira, outubro 22, 2012

Financial Markets For Dummies ou, como quem diz, os Mercados Financeiros explicado a Idiotas


Expresso - 27-12-2010: O presidente da Comissão Europeia, Durão Barroso, apelou aos líderes europeus para estarem "mais calados em relação à crise da dívida soberana" e "perceberem que os mercados financeiros estão a ouvir".

Cavaco Silva colocou-se ao lado de Durão Barroso no apelo ao silêncio sobre a crise, não fosse dar-se o caso, o Diabo seja surdo, de os "mercados" ouvirem as lamechices dos dirigentes europeus...


O Sr. Aníbal, de Boliqueime


A Bola.PT - 27.12.2010:

O Presidente da República, Cavaco Silva, considerou esta noite «muito sensato» o apelo de Durão Barroso para a contenção nos discursos sobre a crise financeira na Europa.

«Há pessoas em Portugal que parecem não saber que os nossos credores são as companhias de seguros, os fundos de pensões, os fundos soberanos, os bancos internacionais e os cidadãos espalhados por esse mundo fora», acrescentou Cavaco Silva, para quem as «palavras de insulto» terão como única consequência «mais desemprego para Portugal.»

O Presidente da República espera agora que o «bom senso» de Durão Barroso chegue «a alguns políticos portugueses». «Esses políticos têm, acima de tudo, falta de conhecimento quanto ao comportamento dos nossos credores, ou seja, daqueles que nos emprestam dinheiro», ressalvou Cavaco Silva.


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Vicenç Navarro López


Vicenç Navarro López é um sociólogo e politólogo espanhol. É especialista em economia política, foi professor catedrático de Economia Aplicada na Universidade de Barcelona, onde é actualmente professor catedrático de Ciências Políticas e Sociais na Universidade Pompeu Fabra. É também professor na Universidade Johns Hopkins de Baltimore [EUA].

Artigo publicado por Vicenç Navarro no diário PÚBLICO, 20 de Maio de 2010

Tradução de Paula Sequeiros


Que mercados financeiros?

Na realidade, os mal denominados mercados têm muito pouco de mercado. São bancos com muito lucro e poucos riscos. Se os mercados financeiros fossem mercados de verdade, os bancos teriam de absorver as perdas em investimentos financeiros falidos.

Este artigo assinala que os mal denominados mercados financeiros não correspondem às características que definem os mercados, pois os seus agentes – os bancos – gozam dum grande proteccionismo fornecido pelos estados, assim como por instituições internacionais – como o Fundo Monetário Internacional – que garantem os seus exuberantes lucros à custa de enormes reduções dos gastos públicos e da protecção social das populações. O artigo mostra exemplos deste proteccionismo no caso dos EUA e na mal denominada "ajuda" do FMI-Euro aos países com elevados défices e dívida pública, como a Grécia, que constitui na realidade uma ajuda primordialmente aos bancos europeus.

A linguagem que se utiliza para explicar a crise é uma linguagem que aparenta ser neutra, meramente técnica, quando, na realidade, é profundamente política. Assim, dizem-nos que os "mercados financeiros" estão a forçar os países da União Europeia e, muito em especial, os países mediterrânicos – Grécia, Portugal e Espanha – e Irlanda, a seguir políticas de grande austeridade, reduzindo os seus défices e dívida públicos, com o objectivo de recuperar a confiança dos mercados, condição necessária para alcançar a recuperação económica. Como disse há uns dias Jean-Claude Trichet, presidente do Banco Central Europeu (BCE): "A condição para a recuperação económica é a disciplina fiscal, sem a qual os mercados financeiros não certificam a credibilidade dos estados" (Financial Times, 15-05-10).

A realidade, contudo, é muito diferente. Estas medidas de austeridade, promovidas pelo Fundo Monetário Internacional (FMI) e pela União Europeia (UE), estão a criar uma grande deterioração da qualidade de vida das classes populares, pois estão a afectar negativamente a sua protecção social e estão a destruir emprego, dificultando a sua recuperação económica. Assim aconteceu na Lituânia, onde o PIB diminuiu 17% e o desemprego alcançou 22% da população activa (veja-se o meu artigo Quién paga los costes del euro ?). Uma situação semelhante ocorrerá nos países citados anteriormente.



Pareceria, pois, que são os mercados financeiros que estão a impor estas políticas aos governos. Ora bem, que quer dizer “os mercados financeiros”? Em teoria, na dogmática liberal que domina os establishments europeus (o Conselho Europeu, o BCE e a Comissão Europeu, assim como nos governos da maioria dos países da UE), os mercados são um processo de livre comércio entre agentes financeiros – os bancos – que obtêm benefícios para compensar os seus riscos, pois que se assume que existem riscos em tais mercados. Mas tal retórica não define a realidade, pois tais entidades – os bancos – operam em âmbitos e instituições enormemente proteccionistas dos seus interesses, nos quais o risco, em geral, brilha pela ausência. Na realidade, os mal denominados mercados têm muito pouco de mercado. São bancos com muito lucro e poucos riscos. E o que está a acontecer mostra a certeza deste diagnóstico.

Nos EUA, onde existe amplo consenso sobre o facto de que a crise financeira foi iniciada pelos comportamentos de Wall Street, a crise bancária foi resolvida com a entrega aos bancos de quase um bilião de dólares pagos pelo Estado, que beneficiou enormemente os banqueiros e os seus accionistas, conseguindo inclusive mais benefícios do que os que tinham antes da crise. A obscenidade de tais benefícios e as práticas desonestas e criminosas dos banqueiros (causadores da crise) explicam a sua enorme impopularidade e a de tais medidas, que não se repercutiram favoravelmente sobre a população, que viu como os seus padrões de vida diminuíram devido à crise provocada pelos bancos. Não foram os mercados, mas os bancos e os seus políticos no Congresso (com nomes e apelidos conhecidos) e nas administrações Clinton, Bush e Obama (também com nomes e apelidos conhecidos) que criaram a crise, salvaram os bancos e agora apelam à austeridade.

Uma situação quase idêntica está a acontecer na UE. Os comportamentos especulativos da banca europeia foram consequência de decisões políticas que desregularam a banca, decisões que se tomaram particularmente, não apenas em Wall Street, mas também nos centros financeiros, principalmente a City de Londres e Frankfurt, consequência da enorme influência da banca sobre os governos britânico e alemão. A mal denominada “ajuda” do FMI-EU (de 750.000 milhões de euros) aos países com dificuldades não é uma ajuda às populações daqueles países, mas sim aos bancos (e muito em especial aos alemães e franceses) para assegurar-lhes que os Estados lhes pagarão as dívidas com os juros confiscatórios que exigiram. Na realidade, se os mercados financeiros fossem mercados de verdade (e, portanto, houvesse competitividade e risco no seu comportamento), os bancos teriam de absorver as perdas em investimentos financeiros falidos. Se o Governo da Grécia, por exemplo, fosse à bancarrota, a banca alemã teria de absorver as perdas por ter tomado a decisão de comprar cupões do Estado grego.


ENCONTRE AS DIFERENÇAS
Dez anos após a aplicação de um programa de ajustamento estrutural do FMI

Ora bem, isto não acontece nos mal denominados mercados financeiros devido a haver toda uma série de instituições que protege os bancos. E a mais importante é o FMI, que empresta dinheiro aos Estados para que o paguem aos bancos. Daí que, como nos EUA, os bancos nunca perdem. Quem perde são as classes populares, pois o FMI exige aos governos que extraiam o dinheiro dos serviços públicos das tais classes populares para pagar aos bancos. O que o FMI faz é a transferência de fundos das classes populares para os bancos. Isto é o que se chama "conseguir a credibilidade dos Estados face aos mercados".

Estas transferências, contudo, além de serem profundamente injustas, são enormemente ineficientes. O fracasso das políticas de austeridade propostas pelo FMI nos países em crise é bem conhecido, o que explica o descrédito de tal instituição. O FMI, desde a era Reagan, é a organização financeira que impôs mais sacrifícios às classes populares dos países que receberam a "sua ajuda", com resultados económicos altamente negativos, tal como denunciou correctamente Joseph Stiglitz. Não são os mercados, mas os interesses bancários e seus aliados – entre os quais se destacam o FMI e o BCE – que estão a impor estes sacrifícios. Ao menos, chamemos os culpados pelo nome.

quinta-feira, outubro 18, 2012

Por quantos meses mais irão estes funcionários bancários continuar a respirar?



Lacaios do Grande Dinheiro e brutais executores
do Holocausto Social em que o país continua a mergulhar


Fernando Madrinha - Jornal Expresso de 1/9/2007:

[...] "Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. [...] os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais." [...]



Paulo Morais, professor universitário - Correio da Manhã – 19/6/2012

[...] "Estas situações de favorecimento ao sector financeiro só são possíveis porque os banqueiros dominam a vida política em Portugal. É da banca privada que saem muitos dos destacados políticos, ministros e deputados. E é também nos bancos que se asilam muitos ex-políticos." [...]

[...] "Com estas artimanhas, os banqueiros dominam a vida política, garantem cumplicidade de governos, neutralizam a regulação. Têm o caminho livre para sugar os parcos recursos que restam. Já não são banqueiros, parecem gangsters, ou seja, banksters."

segunda-feira, outubro 15, 2012

Vacas sagradas – um Governo totalmente a soldo do Grande Dinheiro




Correio da manhã - 25 Setembro 2012

Por: Paulo Morais, Professor Universitário


Vacas sagradas

Há privilégios em que nenhum governante teve até hoje coragem de tocar. São despesas públicas inatacáveis, sagradas, as mais onerosas das quais são os juros da dívida pública, as rendas das parcerias público-privadas e as regalias da EDP.

Os juros de dívida são actualmente a maior despesa do estado e consomem cerca de nove mil milhões de euros por ano. Representam mais do que todo o serviço nacional de saúde, equivalem ao valor de salários de toda a função pública. Apesar de conseguir hoje financiamentos a taxas inferiores a dois por cento, o governo continua a pagar os juros agiotas contratados na Banca nos tempos negros de Sócrates. Poderia colocar dívida internamente através de certificados de aforro a uma taxa de três por cento, mas prefere pagar ao FMI a cinco.

A esta iniquidade juntam-se as rendas pagas pelas PPP, em particular as rodoviárias. Neste modelo de negócio, garantem-se rentabilidades obscenas às concessionárias, da ordem dos 17%. A renegociação dos contratos constitui uma exigência da Troika, mas os privados mantêm os seus privilégios intactos, até hoje. O governo deveria suspender de imediato os pagamentos e obrigar à redução das rendas. Em alternativa, poderia nacionalizar, pelo seu justo valor, os equipamentos concessionados; ou até alargar os prazos da concessão, desde que passasse a receber rendas, em vez de as pagar.

O terceiro dos roubos institucionalizados consiste na extorsão, através da factura da electricidade, de rendas para financiar negócios na área de energia. Hoje, apenas 60% do valor da factura corresponde a consumos. O remanescente é constituído por impostos e outras alcavalas, pomposamente designadas de serviços de interesse económico geral. Estes tributos enriquecem os parceiros da EDP, subsidiando nomeadamente as eólicas e tornam o preço da energia incomportável. Assim, as famílias mais humildes passarão frio no Inverno, algumas empresas deixam de ser viáveis e encerram.

Impõe-se a redução dos custos energéticos. É também urgente a diminuição dos gastos com as PPP e com os juros de dívida. Mas, por falta de coragem, os governantes preferem deixar o povo à míngua, enquanto alimentam estas autênticas vacas sagradas.

quinta-feira, outubro 11, 2012

Vítor Gaspar, em resultado da sua sanha austeritária, surgirá um dia destes mais flamejante que nunca (nostra culpa, porque, há que reconhecê-lo, andámos todos a gastar mais do que devíamos)


Instantâneo do ministro das Finanças, Vítor Gaspar, ao ser surpreendido por populares a tentar escapulir-se à socapa de uma reunião do Conselho de Ministros.

Os manifestantes decidiram passar das palavras aos atos e trocar as habituais palavras de ordem - «Que se lixe a Troyka», «Basta de Austeridade», «Chega de Corrupção», «Gatunos» e «Abaixo o Governo» - por alguns litros de gasolina e a chama de um isqueiro...


Um ministro das Finanças sobreaquecido numa economia em arrefecimento

segunda-feira, outubro 08, 2012

A dívida existe mesmo? É que todos sabemos que há vigaristas que se acoitam nos organismos do Estado, a começar pelo Governo, para servir interesses inconfessáveis


"É preciso pagar a Dívida", repetem os ingénuos de tanto ouvirem esta frase repetida ad nauseam nos jornais e nas televisões.

Quando um indivíduo passa uma procuração a um vigarista e este, conluiado com outros vigaristas, assina com estes, em nome do outorgante, contratos que beneficiam descaradamente os burlões, esses contratos são considerados legalmente nulos.

O mesmo se deveria passar quando um povo, através de «eleições livres», passa procurações a políticos corruptos que estão a soldo do Grande Dinheiro, e que têm sugado o país à tripa forra, através de contratos ruinosos e fraudulentos (PPPs), empréstimos bancários com juros agiotas e burlas sem fim (privatizações de empresas monopolistas, etc.).


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A dívida existe mesmo?

Por José Vítor Malheiros

Texto publicado no jornal Público a 25 de Setembro de 2012

Devemos dinheiro a quem? E quanto? Quem o pediu e para quê? Onde está a lista das dívidas? Quem a certifica? Quem a auditou?

Sei que dívidas tenho. Tenho uma dívida a um banco, contraída para comprar a casa onde moro e garantida por uma hipoteca, que pago mensalmente. E tenho pequenas dívidas pontuais no meu cartão de crédito, que vou saldando conforme me convém.

A maior parte das pessoas que conheço tem uma estrutura de dívida semelhante, que paga com maior ou menor dificuldade, mas vai pagando sempre. De facto, enquanto uma empresa pode ter um limiar de endividamento elevadíssimo, que pode ir subindo para além do sustentável com alguma chantagem (“Se não puder comprar matéria-prima, declaro falência, lanço os trabalhadores no desemprego e os credores ficam a arder!”), os particulares têm em geral de ser mais comedidos (com as óbvias excepções de dirigentes do PSD e amigos de Cavaco Silva, como Dias Loureiro ou Duarte Lima) pois não possuem as mesmas formas de pressão.

Há uns anos, começámos a ouvir falar do volume excessivo da dívida pública (que hoje rondará os 124% do PIB) e disseram-nos que precisávamos de a pagar urgentemente. Devíamos dinheiro a bancos estrangeiros e, como precisávamos de pedir mais dinheiro para as despesas correntes, não podíamos correr o risco de falhar uma prestação dos empréstimos anteriores. Tínhamos vivido acima das nossas possibilidades, disseram-nos. O Governo de Passos Coelho, quebrando as promessas eleitorais, pôs fim aos subsídios de férias e Natal com impostos extraordinários, cortou os nossos salários com aumentos de IRS, cortou subsídios e pensões, aumentou os preços de serviços e fez cortes a eito na Saúde e na Educação garantindo que a única saída para a crise era empobrecermos. E, como esses cortes não chegariam, também ia ser preciso vender empresas públicas para fazer dinheiro depressa. Tudo isto, recorde-se, para reduzir a nossa dívida, que gerava défices insustentáveis, já que para pagar mensalidades dos empréstimos antigos se contraíam novos empréstimos a juros mais elevados.

Foi em nome do pagamento desta dívida que nos foram impostos sacrifícios e que se foi sacrificando o Estado social. É em nome do pagamento desta dívida que se vendem os bens do Estado a preço de saldo. É em nome do pagamento desta dívida que se sacrificam os mais pobres, com o argumento de que temos de competir com a mão-de-obra barata da Ásia. É em nome do pagamento desta dívida que se desbaratam os investimentos feitos na educação, na investigação e na tecnologia nos últimos anos. É em nome do pagamento desta dívida que se sacrificam os cuidados de saúde - considerados um luxo incomportável num país endividado como o nosso. É em nome do pagamento desta dívida que se diz aos jovens que emigrem, que se diz aos pobres que não sejam piegas, que se diz aos trabalhadores que têm de ser formiguinhas trabalhadeiras e deixar de cantar canções do Lopes Graça nas manifestações.

Mas que dívida é esta? Para começar, quanto devemos exactamente e a quem? Alguém já viu a lista das dívidas? Quem a certificou? Quem a auditou? Quem são os credores? E devemos de quê? O que comprámos? O que pedimos emprestado? Em que condições? Quando? Quem pediu? Quem recebeu? Onde e quando? Para onde entrou o dinheiro? Para que serviu? Ainda podemos questionar se o dinheiro foi bem gasto ou não. Se serviu principalmente para encher os bolsos das empresas das PPP, da Soares da Costa, da Mota-Engil, do grupo Espírito Santo, do grupo JoséMello, se serviu para fazer estádios ou se serviu algum objectivo social meritório, mas antes disso eu gostava de saber se devemos mesmo, a quem, quanto e porquê. E não sei.

É que essa é a informação a que eu tenho acesso na minha hipoteca e no meu cartão de crédito. Essa é a informação que qualquer credor tem de mostrar (e provar) quando exige pagamento. Não há uma operação que eu pague que não venha discriminada nos meus extractos. Mas sobre as dívidas cujo pagamento hipoteca o futuro dos nossos filhos, não nos dão explicações.

Podem dizer-me que são transações com histórias muito longas, que vêm de longe, que são coisas muito complexas, que não íamos perceber. Mas a verdade é que não existe absolutamente nenhuma razão para que esta informação não nos seja fornecida em todos os detalhes, actualizada e explicada, na Internet, onde toda a gente a possa consultar e auditar.

Podem dizer-me que tenho de confiar naquilo que me diz o Governo, o Banco de Portugal, o Tribunal de Contas. Mas o problema é esse. É que eu não confio. Nem um bocadinho.

E penso que há uns milhões que também não confiam. É que todos sabemos que há vigaristas que se acoitam nos organismos do Estado, a começar pelo Governo, para servir interesses inconfessáveis. Podemos confiar no Banco de Portugal ou no Tribunal de Contas quando ambos se deixam enganar como anjinhos pelas declarações dos administradores do BCP e do BPN ou pelas contas das PPP? Alguém saberá alguma coisa verdadeira sobre a dívida? Na verdade, deveremos alguma coisa?

quarta-feira, setembro 26, 2012

Jornal Público - Um terço [dos portugueses] é para morrer. Não é que tenhamos gosto em matá-los, mas a verdade é que não há alternativa.





José Vítor Malheiros - Jornal Público - 11/09/2012


*O sonho de Pedro Passos Coelho*

«"Um terço é para morrer. Não é que tenhamos gosto em matá-los, mas a verdade é que não há alternativa. se não damos cabo deles, acabam por nos arrastar com eles para o fundo. E de facto não os vamos matar-matar, aquilo que se chama matar, como faziam os nazis. Se quiséssemos matá-los mesmo era por aí um clamor que Deus me livre. Há gente muito piegas, que não percebe que as decisões duras são para tomar, custe o que custar e que, se nos livrarmos de um terço, os outros vão ficar melhor. É por isso que nós não os vamos matar. Eles é que vão morrendo. Basta que a mortalidade aumente um bocadinho mais que nos outros grupos. E as estatísticas já mostram isso. O Mota Soares está a fazer bem o seu trabalho. Sempre com aquela cara de anjo, sem nunca se desmanchar. Não são os tipos da saúde pública que costumam dizer que a pobreza é a coisa que mais mal faz à saúde? Eles lá sabem. Por isso, joga tudo a nosso favor. A tendência já mostra isso e o que é importante é a tendência. Como eles adoecem mais, é só ir dificultando cada vez mais o acesso aos tratamentos. A natureza faz o resto. O Paulo Macedo também faz o que pode. Não é genocídio, é estatística. Um dia lá chegaremos, o que é importante é que estamos no caminho certo. Não há dinheiro para tratar toda a gente e é preciso fazer escolhas. E as escolhas implicam sempre sacrifícios. Só podemos salvar alguns e devemos salvar aqueles que são mais úteis à sociedade, os que geram riqueza. Não pode haver uns tipos que só têm direitos e não contribuem com nada, que não têm deveres.

Estas tretas da democracia e da educação e da saúde para todos foram inventadas quando a sociedade precisava de milhões e milhões de pobres para espalhar estrume e coisas assim. Agora já não precisamos e há cretinos que ainda não perceberam que, para nós vivermos bem, é preciso podar estes sub-humanos.

Que há um terço que tem de ir à vida não tem dúvida nenhuma. Tem é de ser o terço certo, os que gastam os nossos recursos todos e que não contribuem. Tem de haver equidade. Se gastam e não contribuem, tenho muita pena... os recursos são escassos. Ainda no outro dia os jornais diziam que estamos com um milhão de analfabetos. O que é que os analfabetos podem contribuir para a sociedade do conhecimento? Só vão engrossar a massa dos parasitas, a viver à conta. Portanto, são: os analfabetos, os desempregados de longa duração, os doentes crónicos, os pensionistas pobres (não vamos meter os velhos todos porque nós não somos animais e temos os nossos pais e os nossos avós), os sem-abrigo, os pedintes e os ciganos, claro. E os deficientes. Não são todos. Mas se não tiverem uma família que possa suportar o custo da assistência não se pode atirar esse fardo para cima da sociedade. Não era justo. E temos de promover a justiça social.

O outro terço temos de os pôr com dono. É chato ainda precisarmos de alguns operários e assim, mas esta pouca-vergonha de pensarem que mandam no país só porque votam tem de acabar. Para começar, o país não é competitivo com as pessoas a viverem todas decentemente. Não digo voltar à escravatura – é outro papão de que não se pode falar -, mas a verdade é que as sociedades evoluíram muito graças à escravatura. Libertam-se recursos para fazer investimentos e inovação para garantir o progresso e permite-se o ócio das classes abastadas, que também precisam. A chatice de não podermos eliminar os operários como aos sub-humanos é que precisamos destes gajos para fazerem algumas coisas chatas e, para mais (por enquanto), votam – ainda que a maioria deles ou não vote ou vote em nós. O que é preciso é acabar com esses direitos garantidos que fazem com que eles trabalhem o mínimo e vivam à sombra da bananeira. Eles têm de ser aquilo que os comunistas dizem que eles são: proletários. Acabar com os direitos laborais, a estabilidade do emprego, reduzir-lhes o nível de vida de maneira que percebam quem manda. Estes têm de andar sempre borrados de medo: medo de ficar sem trabalho e passar a ser sub-humanos, de morrer de fome no meio da rua. E enchê-los de futebol e telenovelas e *reality shows* para os anestesiar e para pensarem que os filhos deles vão ser estrelas de hip-hop e assim.

O outro terço são profissionais e técnicos, que produzem serviços essenciais, médicos e engenheiros, mas estes estão no papo. Já os convencemos de que combater a desigualdade não é sustentável (tenho de mandar uma caixa de charutos ao Lobo Xavier), que para eles poderem viver com conforto não há outra alternativa que não seja liquidar os ciganos e os desempregados e acabar com o RSI e que para pagar a saúde deles não podemos pagar a saúde dos pobres.

Com um terço da população exterminada, um terço anestesiado e um terço comprado, o país pode voltar a ser estável e viável. A verdade é que a pegada ecológica da sociedade actual não é sustentável. E se não fosse assim não poderíamos garantir o nível de luxo crescente da classe dirigente, onde eu espero estar um dia. Não vou ficar em Massamá a vida toda. O Ângelo diz que, se continuarmos a portarmo-nos bem, um dia nós também vamos poder pertencer à elite."»


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Portugal, às mãos da Banca nacional e internacional, acolitada por governantes corruptos, políticos a soldo e comentadores mediáticos venais, está a experienciar uma regressão superior a 100 anos.