domingo, maio 09, 2010

Os TGVs, à imagem dos 10 Estádios do Euro, na senda dos grandes desígnios nacionais

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TVI - 07.05.2010

O Governo prevê que linha do TGV para Madrid atinja mais de nove milhões de passageiros por ano. Um número de viagens superior ao que hoje existe entre Paris e Londres e também entre as principais cidades espanholas. Esta previsão é um dos pontos mais polémicos do projecto do TGV, Lisboa - Madrid.

A linha de alta velocidade Lisboa-Madrid passa a norte da cidade de Évora. Do lado português terá 203 quilómetros. A maioria do percurso, 437 quilómetros, fica em Espanha.Com estações garantidas em Mérida, Cáceres e Telavera de La Reina.

A nova ligação ferroviária servirá uma população de 2,8 milhões de pessoas na grande Lisboa, 50 mil na região de Évora, um milhão na Extremadura espanhola e tem como principal mercado Madrid, região mais povoada da Península com mais de 6 milhões de pessoas.

A linha servirá uma população de referência de cerca de 10 milhões de pessoas. Mas a RAVE, empresa pública para a alta velocidade, prevê que venham a ocorrer 9 milhões e 300 mil viagens por ano.

A maioria das viagens, a confirmar-se a previsão da empresa portuguesa, será feita em território espanhol. 5,7 milhões, o que corresponde a 61 por cento dos passageiros. Viagens internacionais não chegarão a 30 por cento: 2,7 milhões.

Em território nacional, entre Lisboa, Évora e Elvas a previsão fica-se pelas 820 mil viagens por ano, 9 por cento.

A RAVE acredita que a linha Madrid-Lisboa, que atravessa uma região com 10 milhões de pessoas atrairá 9 milhões e 300 mil passageiros por ano. A verdade é que a linha Madrid-Barcelona, que serve 15 milhões de pessoas com maior poder de compra, só gera, hoje, 5,7 milhões de viagens. E a linha Madrid-Málaga, para uma população de 9 milhões, não atinge os 2 milhões de viagens.

Os especialistas consultados pela TVI lembram: nem o comboio entre Paris e Londres, que só demora duas horas, atinge 9 milhões e meio de passageiros. [...]


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Mas o TGV não é o primeiro grande desígnio nacional de Sócrates

Em 1995, José Sócrates tornou-se membro do Primeiro Governo de António Guterres, ocupando o cargo de secretário de Estado-adjunto do Ministro do Ambiente. Dois anos depois, tornou-se ministro-adjunto do primeiro-ministro, com a tutela do Desporto. Foi, nessa qualidade, que se tornou no principal impulsionador da realização, em Portugal, do EURO 2004. Por ter sido um dos governantes com a tutela do Euro 2004 - quando foi ministro-adjunto do primeiro-ministro, durante o I Governo de António Guterres -, Sócrates foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique.

Tomada a grande decisão da realização do Euro-2004, avançou-se para a construção dos dez estádios de futebol que se traduziram em mais de mil milhões de euros de investimento público total, em nome de um amplo desígnio nacional. O Euro 2004, diziam, iria trazer muitos milhões de turistas a Portugal que constituiriam o pontapé de saída para o arranque decisivo da economia portuguesa.



AS - "Atendendo a que foi o ministro responsável pela realização em Portugal do Euro 2004, qual o seu comentário ao posicionamento ambivalente do Governo [PSD] face ao evento?"

Sócrates - "O Governo [PSD] aprendeu. Começou por ter as maiores dúvidas e reservas quanto ao Euro 2004, a fazer-lhe críticas muito pueris, próprias de quem não percebeu nada do que estava em causa. O Euro 2004 não é um torneio de futebol, é muito mais do que isso. É um grande acontecimento que projecta internacionalmente o nosso país. [...]


AS - "No entanto, passa a ideia que eles [o governo PSD] colhem os louros do Euro 2004 e passam para os governos do PS o odioso, nomeadamente a construção dos dez estádios."

Sócrates - "Pois, mas a construção dos dez estádios não é um odioso, é um bem necessário ao país. Portugal tinha que fazer este trabalho. É também uma das críticas mais infantis que tenho visto, a ideia de que se Portugal não tivesse o Euro não tinha gasto dinheiro nos estádios. Isso é uma argumentação própria de quem é ignorante. [...] Ouvi recentemente responsáveis pelo Euro dizerem que é já claro, em relação ao que o Estado gastou e ao que recebeu, que estamos perante um grande sucesso económico."


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O grande sucesso económico dos 10 Estádios de Futebol do Euro 2004

Jornal Público - 07.02.2010

Antigamente, na Índia e na Tailândia, o elefante branco era um animal sagrado que não podia ser usado em trabalho. Quando o rei oferecia um destes animais a um cortesão, este tinha de o alimentar, mas não retirava daí nenhum proveito, ou seja, possuía algo muito valioso, mas que só lhe dava despesas, conduzindo-o, muitas vezes, à ruína. É esta a origem da expressão "elefante branco", tantas vezes aplicada aos estádios construídos para o Europeu de futebol de 2004.

O Cidades visitou no último mês os cinco estádios públicos construídos para o Europeu e os autarcas, mesmo sem falarem em "elefantes brancos" olham para essas obras como uma fonte de problemas financeiros. Os números, aliás, não deixam dúvidas. Braga paga seis milhões de euros por ano à banca, Leiria paga cinco milhões anuais só em amortizações e juros, Aveiro despende quatro milhões no pagamento de empréstimos e na manutenção, enquanto Faro e Loulé gastam, em conjunto, 3,1 milhões por ano em empréstimos e manutenção. Coimbra é que menos paga e mesmo assim, este ano, vai transferir para a banca 1,8 milhões de euros. Somando estes valores (e em alguns casos a manutenção não está contabilizada), as seis câmaras que construíram os recintos para o Euro 2004 gastam anualmente 19,9 milhões de euros, ou 54.520 euros por dia, montante que terá tendência para aumentar com a subida das taxas de juro.

E se somarmos o que as câmaras de Porto e Guimarães pagam aos bancos pelos apoios que deram aos clubes locais nas obras dos estádios e acessos, a factura anual das autarquias com os empréstimos e manutenção de estádios do Europeu eleva-se para 26,1 milhões de euros. A autarquia portuense pagou 3,6 milhões de euros em 2009, tendo ainda pela frente 44,5 milhões até 2024. Em Guimarães, a câmara gastou 2,5 milhões de euros no ano passado. Já a Câmara de Lisboa afirma que não contraiu empréstimos por causa do Euro.

Na ronda pelos cinco estádios municipais, algo ficou à vista. Não há, ou pelo menos não houve até agora, soluções para rentabilizar os recintos, de forma a cobrir as despesas que a sua construção gerou. Todas as autarquias têm um pesado fardo anual e nenhuma encontrou "a galinha dos ovos de ouro". Umas invejam o Algarve, porque recebe o Rali de Portugal. Outras Coimbra, porque tem lojas na estrutura do estádio. Outras Braga, porque vendeu o nome do estádio a uma seguradora. E se umas (como Leiria) lamentam que o recinto tenha sido construído no centro da cidade, sem espaço para edificar mais equipamentos desportivos à volta, outras (como Braga e Aveiro) deparam-se com críticas da população, porque os estádios estão fora da cidade. E outras ainda (Algarve) lamentam não ter uma equipa da I Liga a utilizar o recinto.

[...] Carlos Encarnação, presidente da Câmara Municipal de Coimbra, é o único autarca assumidamente contra a construção do estádio. "Nenhum país decente constrói dez estádios para um Europeu", critica aquele autarca do PSD. [...]

"Muitas cidades que queriam o Euro agora dão graças por não ter um estádio", desabafa Raul Castro, presidente da Câmara Municipal de Leiria. "Estes estádios foram pensados para uma realidade que não é a portuguesa. O Estádio de Aveiro leva metade dos [60.000] eleitores da cidade. Está sobredimensionado", acrescenta Pedro Ferreira, presidente da empresa que gere o recinto aveirense, ao que Alberto Souto, antigo presidente da Câmara de Aveiro, contrapõe que 30.000 lugares era a lotação mínima para receber jogos de Europeu.

Com o Europeu de futebol de 2004, o Estado português gastou, pelo menos, 1035 milhões de euros, o equivalente ao custo da Ponte Vasco da Gama. Apurado por uma auditoria do Tribunal de Contas, realizada em 2005, este valor inclui, por exemplo, os encargos com os estádios (384 milhões), acessibilidades (228 milhões), bem como os apoios indirectos das câmaras do Porto (152 milhões) e de Lisboa (59 milhões).

Nas últimas semanas, os gastos anuais com os pagamentos de empréstimos e os custos de manutenção dos estádios têm gerado discussão um pouco por todo o país. O economista Augusto Mateus, que foi ministro da Economia entre Março de 1996 e Novembro de 1997, sugeriu uma solução radical: DEMOLIR.


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Miguel Sousa Tavares - Jornal Expresso 07.01.2006

"Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos da Ota e do TGV, [...] os empresários de obras públicas e os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. O grande dinheiro agradece e aproveita«Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro, há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre."
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8 comentários:

Helena Simões disse...

Quando se comprovar que o movimento será inferior a 1/10 do número forjado sem bases, para impor o investimento ( o objectivo todos o sabemos, vai ser uma mina para uns quantos...) Arranjarão uma desculpa esfarrapada qualquer como uma crise internacional, ou outra intrujice qualquer...
A comissão já estará abotoada e o Zé vai deixar de herança aos netos o custo de uma obra megalómana acrescido das comissões dos senhores do costume.

Os netos desses políticos terão o futuro garantido...

Nos primeiros dias as borlas que o zezito vai dar serão em número significativo para enganar tolos quanto à afluência de passageiros...

Heráclito disse...

Há quase 2500 anos atrás, os cidadãos de Atenas condenaram à morte e executaram um Sócrates que acreditava na excelência moral, que convidava os outros a concentrarem-se na amizade e no sentido de comunidade e que afirmava que a virtude era a mais importante de todas as coisas.

Hoje, Portugal tem um Sócrates que acredita rigorosamente nos valores opostos do seu homónimo grego da antiguidade.

De que estão à espera os atenienses lusos para fazerem justiça?

JCA disse...

Corrupção. Ela continuará e não parará de crescer, cada vez mais camuflada enquanto o permitirmos. Com governantes e deputados nomeados pela corrupção política, sem qualquer legitimidade, nada mudará.

alf disse...

Na sequência dos meus comentários ao post anterior que você não percebeu, venho aqui dizer-lhe que há duas realidades: a virtual criada pelos economistas e a real.

Na virtual dos economistas a sociedade é global, existe livre concorrência, os projectos deste tipo são consequêncis dos estudos económicos.

Na real, felizmente, nada acontece assim; qd acontece, está tudo lixado - é exactamente porque Portugal vive muito nesta realidade virtual que estamos a caminhar para o abismo.

Claro que não há livre concorrencia nos combustíveis, nas comunicções, em nenhum sector de dimensão relevante; nem podia haver.

Claro que a tentativa de uma empresa brasileira em comprar uma cimenteira portuguesa não podia dar certo - a este nível, o que se faz é troca de participações: tu queres dominar esta actividade no meu país? então qual é a actividade que eu vou dominar no teu? Chega-se a um acordo, às vezes tripartido, e faz-se o negócio.

Os accionistas da EDP borrifaram-se para o que disse o Sócrates? Ainda bem: assim ele já nomeou para a ERSE alguém para acabar com a palhaçada dos preços da EDP; os 3 milhões de euros que os accionistas deram ao Mexia vão custar-lhes centenas de milhões.

Para a Expo98 os estudos económicos eram fantásticos;houve uns tontos que até pensaram que eram a sério, até houve quem quisesse reservar uma faixa da A1 só para os transportes de emergência porque o afluxo de transito seria tal que essa seria a única maneira de garantir que uma ambulância conseguisse entrar em Lisboa em tempo útil.

Ou seja, na realidade, o estudo económico é completamente irrelevante para o TGV; pelo menos este estudo económico.

Quando vocês perceber isso, poderá começar a perceber alguma coisa da realidade real e das coisas que eu digo... até lá, está a ver gambuzinos, como esses economistas que há 30 anos vêm dizendo coisas na TV...

Diogo disse...

Helena Simões – Esta obra do TGV é tão absurda como os estádios do Euro. Quanto aos nossos filhos e netos espero que não venham a pagar um tostão. Para tal é necessário destruir a Banca Privada. É a essas sanguessugas que a Europa «deve» dinheiro.


Heráclito – Os atenienses lusos e europeus e americanos têm de começar a constituir uma valente reserva de cicuta. Há demasiado «filósofos» de pouca virtude.


JCA – A democracia representativa, que só representa os grandes interesses, tem de ser substituída pela democracia directa. A tecnologia já o permite.


Alf – O seu comentário é um tanto enigmático. Explique-se lá como deve ser.

Zorze disse...

É a continuação do mesmo, empurrar com a barriga para a frente.
Um dia tudo isto somado vai sair caro, aliás, já está a sair.
Obviamente, quem ganhou as concessões, teve o seu "lucrozito" já muito bem alocado e protegido em offshores, que a legislação permite.
A Bélgica e a Holanda fizeram um europeu de futebol em conjunto, bem como a Suíça e a Áustria.
Os portugueses gandas malucos e país rico que somos, fazemos dez estádios xpto.
O povo paga...

Abraço,
Zorze

Filipe disse...

Também não entendo o alf: está a dizer que os economistas vivem no seu mundo de fantasia, e que a realidade é outra?

OK, e qual é a conclusão invariável dos economistas, e a quem interessa? E como chegam invariavelmente à mesma conclusão -este modelo é bom, basta chular mais aqui ou ali, há que conquistar a confiança dos "mercados" (leia-se: rédea livre à especulação), e dos casinos bolsistas?

Quantos economistas questionam o paradigma actual - de onde vem o VALOR, quem o cria, como pode criar-se dinheiro do NADA? De onde vem o poder dos bancos centrais, quem manda no dinheiro das nações?

O alf diz:
«Os accionistas da EDP borrifaram-se para o que disse o Sócrates? Ainda bem: assim ele já nomeou para a ERSE alguém para acabar com a palhaçada dos preços da EDP; os 3 milhões de euros que os accionistas deram ao Mexia vão custar-lhes centenas de milhões.»

Não percebi: quem vai acabar com a palhaçada do monopólio EDP, é o Pinóquio? Quem vai apertar o Mexia, o Pinóquio? Ah pois, tá bem.....

Filipe disse...

Fascinante o ponto de vista do 日月神教-向左使, que veio trazer luz a toda esta questão!