terça-feira, abril 12, 2005

A teimosia de Schröder e Chirac



Na sua crónica semanal no Expresso de 9 de Abril de 2005 José Cutileiro disserta sobre política internacional. Nós comentamo-lo a bold:

Cutileiro:
NUM torpor difícil de explicar - salvo pelo hábito, que a construção europeia tem inculcado, de preferir ir com os outros a ter razão - Governos de membros da União convencidos de que seria um erro levantar o embargo de venda de armas à China não se opuseram até agora ao desígnio de Chirac e Schroeder de levar a União a fazê-lo antes do fim de Junho.

Sofocleto:
É possível que o torpor que leva alguns governos a seguir Schröder e Chirac seja mais avisado que o estupor que levou alguns líderes de outros governos a abraçar Bush (estou-me a lembrar de Blair, Aznar, Berlusconi e do “nosso bem amado” Durão Barroso, entre outros). O novo torpor não parece ver com bons olhos o derrame democrático com que a administração americana conspurcou o Médio Oriente e quer agora inquinar outras paragens. É democracia adulterada pelo genocídio.

(...)

Cutileiro:
Com efeito, o Congresso em Washington avisou que levaria a mal decisões que permitissem que soldados americanos fossem mortos por armas europeias nas mãos de chineses (por exemplo, no caso de guerra entre China e Taiwan) - e exerceria represálias. Não é exagero de imaginação. Já depois de conhecida a intenção europeia de levantar o embargo, Pequim aumentou o seu orçamento militar e promulgou legislação ambígua que parece admitir a incorporação de Taiwan na China pela força.



Sofocleto:
A China sabe que a ameaça principal à sua segurança vem das agressivas políticas americanas. O programa de mísseis defensivos de Washington e o reforço da sua relação militar com a Formosa, o Japão e a Coreia do Sul colocam seriamente em causa a segurança chinesa.
Em 2002, já com Bush no poder, foi referido que a China estava entre os sete países que poderiam ser alvo de ataques nucleares por parte dos Estados Unidos e que estes estavam preparados para usar armas nucleares contra a China num conflito no estreito de Taiwan. O problema não parece ser tanto a morte de soldados americanos por armas europeias, mas sim o extermínio de asiáticos pela radioactividade explosiva do tio Sam.


(...)

Cutileiro:
Acresce que são os americanos e não os europeus que garantem paz no Pacífico e correm os riscos inerentes pelo que levantar o embargo seria uma decisão europeia se não hostil, pelo menos irresponsável. Mas Chirac insiste. Porquê? Por um lado, o seu desejo obsessivo de um mundo multipolar - um mundo onde outros poderes, mormente o da Europa, se oponham ao dos Estados Unidos - toma precedência sobre preocupações com democracia e direitos do homem (senão, de resto, não teria recebido Putin tantas vezes e com tanto mimo).

Sofocleto:
Porquê, realmente, tanta insistência de Chirac? Será que não concorda com o “Projecto para um Novo Século Americano” «PNAC - Project for the New American Century», um projecto de um grupo de reflexão fundamentalmente influenciado pelo pensamento neo-conservador, todo ele presente na actual administração americana, que defende a ideia de uma hegemonia mundial dos Estados Unidos, principalmente por via da ameaça ou da utilização do poderio militar. O programa do PNAC articula-se em volta de três elementos principais:

a) estabelecer a hegemonia americana na viragem do século XXI com base principalmente na supremacia militar e tecnológica dos Estados Unidos;

b) impedir a emergência de potências concorrentes à escala mundial ou regional impondo aquilo que é por vezes designado como a «Pax Americana»;

c) conduzir acções preventivas contra tudo aquilo que possa ser entendido como uma ameaça aos «interesses» e a segurança dos Estados Unidos.

Face a um projecto tão democrático e construtivo é difícil entender a obsessão de Chirac por um mudo multipolar. Francesices!


(...)

Cutileiro:
A visita de Bush à Europa sacudiu alguns europeus do torpor; vozes lúcidas começam a opor-se à de Chirac; talvez o bom senso prevaleça. Mas não é certo.

Sofocleto:
Como a sua voz Cutileiro, tão lúcida, tão límpida, tão diáfana. Mas temo sinceramente que o bom senso não vá prevalecer. Helás, mon ami, helás.

1 comentário:

Anónimo disse...

cimeira das açores: bush, blair, berlusconi