segunda-feira, abril 11, 2005

Em casa de ferreiro...

Algo de estranho aconteceu nas eleições americanas de 3 de Novembro de 2004 que deram a vitória a George W. Bush. O sinal mais óbvio foram as sondagens à boca das urnas no próprio dia das eleições. Enquanto as sondagens se têm revelado bastante precisas na maioria das eleições tanto as estaduais como para o congresso como , as sondagens à boca das urnas no dia das eleições mostravam John Kerry como o claro vencedor e a frase "vitória esmagadora" estava a começar a ser usada pelos que seguiam as notícias à medida que iam sabendo os resultados das sondagens.

Mas então uma coisa estranha aconteceu! Os votos começaram a ir para Bush, mesmo nos estados onde as sondagens à boca das urnas indicavam a vitória de Kerry. À medida que a noite ia avançando, uma tendência óbvia e perturbante despontava. Nos estados onde os boletins de voto eram de papel e os votos podiam ser conferidos, os resultados da votação correspondiam às sondagens à boca das urnas. Nos estados onde as novas máquinas de votar electrónicas eram usadas houve uma inclinação persistente na votação em Bush (à volta de 5%).

Tradução dos termos utilizados nos gráficos seguintes:
• Exit Poll: sondagens à boca das urnas
• Paper Ballots: boletins de voto em papel
• Electronic Voting: Votação em máquinas electrónicas
• Machine Tally: Totais de votos

Nos estados onde foram utilizados boletins em papel, existem poucas diferenças entre as sondagens e os resultados finais. Nos estados onde foram utilizadas máquinas electrónicas sem registo em papel (como nos decisivos Ohio e Florida) a vitória foi para Bush:



Há alguns factos sobre o sistema de eleições americano que muita gente desconhece. Em primeiro lugar, não há nenhum organismo governamental ou cidadão que proceda à contagem dos votos. Já há décadas que a contagem dos votos em eleições presidenciais foi entregue a uma companhia privada, propriedade das cadeias de televisão. Embora mude de nome, de vez em quando, para permanecer anónima, continua, de facto, a ser a mesma companhia, propriedade das principais cadeias de televisão. Nos Estados Unidos, as eleições presidenciais são escrutinadas e decididas pelos departamentos das cadeias de televisão. E ninguém, acima delas, fiscaliza. Ninguém está autorizado.

Agora no que diz respeito às máquinas de votação electrónicas. A maioria de sistemas de votação é produzida por apenas duas companhias: ES&S e Diebold. O director geral da Diebold, Wally O'Dell, afirmou publicamente a sua intenção de entregar os votos eleitorais de Ohio a Bush! Os proprietários de ES&S e de Diebold são irmãos, e o software usado em ambas as máquinas, que escrutinaram 80% dos votos da última eleição, partilham raízes comuns.

Sabe-se há meses que a parte do sistema de votação da Diebold que recolhe e totaliza os votos nas circunscrições eleitorais, não apenas não é segura, mas também é extremamente fácil de adulterar. Na verdade, enquanto as máquinas de votar são construídas por encomenda, o programa que conta os votos funciona em qualquer computador portátil, muitos deles com a potencialidade de trabalhar em rede local e comunicações sem fios. Isto permite a um ladrão de votos equipado com um outro computador e comunicações sem fios, alterar votos sem ter de estar na mesma sala do sistema que totaliza os votos.

Apesar dos avisos e das queixas dos peritos da segurança informática e dos defensores de eleições honestas, as máquinas de votar electrónicas foram colocadas nos Estados onde os dois partidos tinham votações aproximadas, e, pior ainda, foram projectadas de forma a não permitir nenhum controlo nas contagens dos votos. Estas máquinas não deixam nenhum registo em papel dos votos, para que não possam vir a ser usados para uma recontagem. Foram projectados para isso mesmo! Os Estados que concordaram adicionar registos de papel sob a pressão de activistas foram isentados dessa exigência nas eleições da última terça-feira (Novembro de 2004).

Assim, a situação foi esta: máquinas de votar que são fáceis de adulterar, que não deixam nenhum registo em papel, que enviam directamente os seus “resultados” para as estações de televisão que, por sua vez, não estão sob nenhuma obrigação legal de dizer a verdade sobre nada. A simples ausência de um registo de papel omitido por máquinas de voto projectadas para impedir recontagens impede a confirmação das eleições.

A Declaração de Independência diz que os governos obtêm seus justos poderes do consentimento dos governados. Bush e a sua administração, apoiados pelas cadeias de televisão, reivindicam que têm o consentimento de 51% das pessoas para ser o governo. É duvidoso. Quando as mesmas cadeias de televisão tentam agora explicar que as sondagens à boca das urnas, geralmente o melhor indicador de fraude em eleições passadas, "estavam erradas" desta vez, o facto dos mais acentuados desvios de votos para Bush terem ocorrido em máquinas de voto electrónicas que propositadamente não deixam nenhum registo de papel, tornam ilegítimas as eleições. E, se às eleições falta legitimidade, então também falta às pessoas que reivindicam autoridade sobre a população baseados nessas eleições.




A 20 de Janeiro de 2005 Bush afirmou no seu discurso inaugural depois da sua cerimónia de posse do segundo mandato: "É política dos Estados Unidos procurar e dar apoio ao desenvolvimento dos movimentos e instituições democráticas em todas as nações e culturas, tendo por fim último o término da tirania no nosso mundo."


Comentário:
Entende-se perfeitamente o sonho sublime de George W. Bush de querer implantar a democracia em todo o mundo, começando, naturalmente, pelos países ricos em petróleo de Médio Oriente e do Cáspio. Qualquer grande estadista, digno desse epíteto, faria o mesmo. No entanto, e para calar os intriguistas, talvez fosse bom dar uma vista de olhos à electrónica caseira. Nunca se sabe. Às vezes basta um fio desligado...