terça-feira, abril 19, 2005

Miséria da religião

Num debate televisivo com jovens sobre a herança deixada pelo Pontificado de João Paulo II um dos participantes, padre, disse que João Paulo II não foi progressista nem conservador, mas simplesmente Papa. Estou de acordo com essa afirmação. Também me parece acertado considerar que de um Papa não há que exigir mais que isso. Ou se aceita toda a mistificação da realidade promovida pelo Cristianismo ou se prefere a verdade. No primeiro caso abre-se a porta a todas as arbitrariedades.
João Paulo II fez o que o próximo Papa fará: uma confusão danada com santos e pecadores, filhos e netos de deuses que vieram para nos salvar e não nos salvaram de coisa nenhuma. De resto, nem sequer foi original porque isso vem acontecendo com todas as religiões desde tempos imemoriais. Isto também não teria grande importância se as religiões não tivessem efeitos práticos na vida das pessoas, fiéis ou não. Mas a verdade é que têm e muito.

Eis uns fragmentos do «Catecismo da Igreja Católica», promovido por João Paulo II e aprovado no dia 11 de Outubro de 1992:

“Na medida em que outros processos, que não a pena de morte e as operações militares, bastarem para defender as vidas humanas contra o agressor e para proteger a paz pública, tais processos não sangrentos devem preferir-se, por serem proporcionados e mais conformes com o fim em vista e a dignidade humana”.
Quer dizer portanto que João Paulo II interpretou com uma certa liberalidade o Quinto Mandamento das Sagradas Escrituras: «Não matarás». Talvez este Mandamento devesse, segundo o Papa, passar a «Evita na medida do possível matar, mas se não conseguires dá-lhe uma boa cachaporrada na cabeça».
O grave é que isto se refere às penas estatais e não à legítima defesa privada.

“... reconheceu-se aos detentores da autoridade pública o direito e a obrigação de castigar com penas proporcionadas à gravidade do delito, incluindo a pena de morte em casos de extrema gravidade, se outros processos não bastarem“.
Lindo não é? Mas não fiquem agora a pensar: “Estes gajos da missa não têm um pingo de humanidade!”, porque logo a seguir vem a defesa da vida com a proibição do aborto seja em que circunstância for. Reparem só nesta pequena obra de arte:

“O diagnóstico pré-natal (...) está gravemente em oposição com a lei moral, se prevê, em função dos resultados, a eventualidade de provocar um aborto”.
Dito por outras palavras, mesmo que haja risco para a vida da mãe ou má formação do feto, nada de atentar contra a vida do embrião! Portanto, diagnósticos só para saber se é menino ou é menina!

Felizmente que vem aí o Ratzinger para pôr a mão nisto...