Fernando Madrinha - Jornal Expresso - 19/1/2008
Reformas e... reformas
«Não sei se Paulo Teixeira Pinto foi ou não um bom administrador do BCP. Admito que sim. Conheci-o quando secretário de Estado de Cavaco Silva e tive de várias fontes a opinião de que se tratava de alguém muito empenhado e competente no seu trabalho. Não me admiro de que, à luz das regras em vigor no banco de Jardim Gonçalves, seja inteiramente merecedor dos 10 milhões de euros que, segundo o ‘Público’, recebeu à cabeça para sair do BCP. E dos 500 mil euros anuais que assegurou de reforma (para o casal, explicita o jornal), traduzindo-se isto em 35 mil euros mensais. Mais ou menos o equivalente a cem pensões de reforma das mais baixas. Não é de bom tom falar em público do dinheiro que cada um ganha ou deixa de ganhar e, muito provavelmente, haverá no BCP e noutras empresas casos similares, ou até bem mais chocantes. Mas, ainda que se trate de um banco - e de um banco privado - a um país que quase só trabalha para engordar os bancos sobra, pelo menos, aquele direito de que em tempos falava o ex-Presidente Mário Soares: o direito à indignação.»
Comentário:
Que culpa tem Paulo Teixeira Pinto, que o banco Millennium BCP, num país que, segundo Madrinha, quase só trabalha para engordar os bancos, lhe pague 10 milhões de euros para sair, acrescidos de uma reforma de 35 mil euros mensais (o equivalente a cem pensões de reforma das mais baixas)?
Porque, afinal, o Millennium BCP (e os outros bancos) têm vindo a dar muito boa conta de si:
2005 - Os quatros maiores bancos privados portugueses viram os seus lucros crescerem 42,6% no primeiro trimestre de 2005, numa comparação homóloga com o ano anterior (...) O 'campeão' dos lucros continua a ser o Millennium BCP, com 137,5 milhões de euros...
2006 - O lucro do Millennium BCP, maior banco privado de Portugal, aumentou 44% no primeiro trimestre em comparação ao mesmo período do ano passado, anunciou hoje o banco. Entre Janeiro e Março, o lucro do BCP foi de 198,5 milhões de euros (...) Ainda assim, o lucro ficou abaixo das estimativas…
2007 - O lucro do Millennium BCP atingiu 191 milhões de euros no primeiro trimestre do ano, anunciou hoje o maior banco privado português. O banco liderado por Paulo Teixeira Pinto adiantou que os resultados em base recorrente cresceram 16 por cento nos primeiros três meses do ano.
Diz Madrinha que, face a tudo isto, «nos sobra, pelo menos, aquele direito de que em tempos falava o ex-Presidente Mário Soares: o direito à indignação».
Devemos perguntarmo-nos se para além da indignação, esse sentimento de cólera que se sente por algo repulsivo, haverá ainda mais alguma coisa que possamos fazer?
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Reformas e... reformas
«Não sei se Paulo Teixeira Pinto foi ou não um bom administrador do BCP. Admito que sim. Conheci-o quando secretário de Estado de Cavaco Silva e tive de várias fontes a opinião de que se tratava de alguém muito empenhado e competente no seu trabalho. Não me admiro de que, à luz das regras em vigor no banco de Jardim Gonçalves, seja inteiramente merecedor dos 10 milhões de euros que, segundo o ‘Público’, recebeu à cabeça para sair do BCP. E dos 500 mil euros anuais que assegurou de reforma (para o casal, explicita o jornal), traduzindo-se isto em 35 mil euros mensais. Mais ou menos o equivalente a cem pensões de reforma das mais baixas. Não é de bom tom falar em público do dinheiro que cada um ganha ou deixa de ganhar e, muito provavelmente, haverá no BCP e noutras empresas casos similares, ou até bem mais chocantes. Mas, ainda que se trate de um banco - e de um banco privado - a um país que quase só trabalha para engordar os bancos sobra, pelo menos, aquele direito de que em tempos falava o ex-Presidente Mário Soares: o direito à indignação.»
Comentário:
Que culpa tem Paulo Teixeira Pinto, que o banco Millennium BCP, num país que, segundo Madrinha, quase só trabalha para engordar os bancos, lhe pague 10 milhões de euros para sair, acrescidos de uma reforma de 35 mil euros mensais (o equivalente a cem pensões de reforma das mais baixas)?
Porque, afinal, o Millennium BCP (e os outros bancos) têm vindo a dar muito boa conta de si:
2005 - Os quatros maiores bancos privados portugueses viram os seus lucros crescerem 42,6% no primeiro trimestre de 2005, numa comparação homóloga com o ano anterior (...) O 'campeão' dos lucros continua a ser o Millennium BCP, com 137,5 milhões de euros...
2006 - O lucro do Millennium BCP, maior banco privado de Portugal, aumentou 44% no primeiro trimestre em comparação ao mesmo período do ano passado, anunciou hoje o banco. Entre Janeiro e Março, o lucro do BCP foi de 198,5 milhões de euros (...) Ainda assim, o lucro ficou abaixo das estimativas…
2007 - O lucro do Millennium BCP atingiu 191 milhões de euros no primeiro trimestre do ano, anunciou hoje o maior banco privado português. O banco liderado por Paulo Teixeira Pinto adiantou que os resultados em base recorrente cresceram 16 por cento nos primeiros três meses do ano.
Diz Madrinha que, face a tudo isto, «nos sobra, pelo menos, aquele direito de que em tempos falava o ex-Presidente Mário Soares: o direito à indignação».
Devemos perguntarmo-nos se para além da indignação, esse sentimento de cólera que se sente por algo repulsivo, haverá ainda mais alguma coisa que possamos fazer?
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12 comentários:
Os números relativamente aos bancos são obscenos. Imensa parte dos portugueses estão a defrontar-se com enormes privações, mas os bancos estão a ter lucros escandalosos. E não são só os bancos
Diogo, isto condradiz o teu comentário que deixaste lá no "xatoo":
"A relação social de dominação deriva da posse de um arsenal de máquinas dependente do homem. A partir do momento em que a máquina se torne independente, acaba a posse e a dominação social. Essa independência é um processo que está em curso"
dizes isto,
quando toda a gente está mesmo a ver que a dominação se processa através da posse do Capital - que controla todos os meios de produção, sejam eles máquinas ou trabalho cognitivo. Inclusivamente o novo capitalismo propõe-se a transformação do próprio homem em máquina, robotizando-o eugenicamente.
A relação social de dominação deriva da posse dos meios de produção, como na velha asserção marxista. Deriva do Capital, que mais não é que uma forma de Trabalho acumulado - ainda que a financeirização o disfarce "fabricando" dinheiro adicional a rodos.
Diogo disse...
Nicolaias: «Porque não começarem a fazê-lo em casas da juventude, casas de cultura, associações, etc.?»
Meu caro, eu comecei a fazê-lo no blogue. Vou fazendo perguntas (que ficam sem resposta). As pessoas vão lendo (tenho uma média superior a 100 visitantes diários). Concordem ou discordem, as pessoas vão trocando informação com outras pessoas (que podem tentar confirmar, ou não). Mas a informação vai circulando.
Faço um esforço máximo para validar toda a informação que aqui ponho. Em face disto, as pessoas decidem. Acho que tenho feito a minha parte.
Um abraço
18 Janeiro, 2008 20:51
Nicolaias diz:
Caro Diogo,
no meu ponto de vista essa abordagem é sempre virtual demais...
Xatoo: «quando toda a gente está mesmo a ver que a dominação se processa através da posse do Capital»
Diogo: A «posse» é uma convenção. Enquanto essa «posse» funcionar em termos sociais, a maior parte das pessoas aceita-a. É certo que as empresas têm funcionado melhor, na maior parte das vezes, sob uma única autoridade do que se «fossem todos a mandar» (não obstante todas as injustiças praticadas). A grande maioria das pessoas sabe que a natureza humana é assim e tem aceite, mais ou menos bem, esta «posse» convencionada. Em suma, para que os empregados funcionem «bem», tem havido necessidade de um «patrão» todo-poderoso.
Mas a tecnologia está a substituir o empregado. Ao fazê-lo, está a esvaziar o papel do patrão (que mantinha tudo nos eixos). O patrão deixa de ser necessário porque a automatização não funciona melhor ou pior consoante a autoridade. Este esvaziamento do papel de patrão, esvazia também a legalidade da posse dos meios de produção. Mais tarde ou mais cedo a sociedade vai reclamar essa posse. É o fim do capitalismo.
Nicolaias: «Porque não começarem a fazê-lo em casas da juventude, casas de cultura, associações, etc.?... no meu ponto de vista essa abordagem (na Internet) é sempre virtual demais...»
Diogo: O que eu faria em casas da juventude, casas de cultura, associações, etc., ou seja, falar, transmitir informação, trocar informação, faço-o na Internet.
Existem vários pontos muito positivos em tudo isto Nicolaias:
a) De dia para dia há cada vez mais gente na Internet.
b) Na Internet a informação circula a uma velocidade muito maior e chega a muito mais gente.
c) Num curto intervalo de tempo é possível criar uma petição assinada por muitos milhares de pessoas (só em Portugal) em favor de uma determinada causa, coisa praticamente impossível de fazer na «rua».
Donde, a luta tem de passar por tornar mais consequentes as tomadas da posição na Internet. Dar-lhes o peso que elas de facto têm. Porque, quanto mais força elas tiverem, quanto mais efectivas forem, quando as pessoas perceberem que a sua assinatura, a sua voz, o seu voto têm peso real nas tomadas de decisão políticas, muito mais gente será atraída para a Internet. É este combate que temos de ganhar.
O que é escandaloso é ser preciso a UE legislar para proibir Portugal praticar os juros leoninos que pratica pelos empréstimos. Porque com juros de 18% e mais, nada a apontar às reformas que queiram dar aos administradores. O problema é deixarem os Bancos sugar o português até ao tutano.
de acordo, que além dos jornais e da televisão, como das rádios, experimentemos o bem de nos sentirmos irmanados na internet (mais não seja nestes blogs), sobre cada ideia que, de outra forma, permaneceria reduzida ao indivíduo e ao seu círculo, bom sabermos que não estamos sós, concordemos ou não, se o podemos dizer, não obstante a sensação de pouco que se consegue fazer ante o poder dos ricos e dos políticos, unidos por nos tramar, sem outro impedimento que a consciência concertada de cada vez mais gente...
ou pobres de nós, os pintos e os teixeiras e sócrates e assim varas da opus ou da maçon...
Assim é, Salamão,
As decisões, as deliberações e as resoluções tomadas na Internet, um espaço do cidadão que alberga cada dia mais gente, têm de aumentar substancialmente o seu peso político e que seja definido por lei. O cidadão votante tem de estar perfeitamente identificado.
Quando os cidadãos souberem que uma petição, assinada por um determinado números de membros, pode forçar a construção de um hospital necessário na localidade A, que pode fazer demitir um ministro corrupto ou que pode inviabilizar a construção de um TGV inútil, a corrida à Internet será avassaladora.
O poder e a soberania devem começar a passar das corruptas instâncias partidárias para o cidadão. A decisão em pirâmide passará para a decisão em rede. A Internet permite-o.
Além do direito à indignação assiste-nos também o direito à revolta. Porque para estas entidades conseguirem obter tão elevado lucro apesar de algum crédito mal parado e jogadas de favorecimento de familiares de membros do conselho de administração, a permissão ou melhor o consentimento de lavagem de dinheiro em paraísos fiscais, com o conhecimento das autoridades fiscalizadoras da actividade bancária.
Não há nenhum "consentimento" da lavagem de dinheiro por parte de "autoridades" pretensamente independentes. Os off-Shores são desenhados e propositadamente criados para se constituirem em zonas económicas para albergarem os capitais especulativos dentro do sigilo requerido. Quando ganham, empocham os lucros, quando perdem, os prejuizos são divididos pela sociedade através dos orçamentos dos Estados. Não há nenhum Estado que não tenha acordos e vínculos com off-shores, e é para gerirem estas questões que compram previamente os governos.
Quanto ao "fim do capitalismo" Diogo, estamos realmente no bom caminho para chegarmos a um acordo de opinião. Contudo, lamento, mas penso que é necessário uma espécie de Partido que organize e seja o espelho das opiniões e militâncias individuais (ao contrário dos Anarquistas que advogavam não ser preciso)
Quando digo "partido" não tem necessáriamente de ser uma espécie de PCP com aquele núcleo duro de decisores. Podemos efectivamente usar a internet para criar uma estrutura de outro tipo - onde as decisões e os dados que são "segredo de estado" fossem todos postos à consideração de todos. Seria a ruína da corja de parasitas que se alimentam das decisões erradas que os faz prosperar a eles e definhar a sociedade
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Caro Diogo,
concordo consigo a 100%.
Ainda assim acredito que deve haver um trabalho no terreno físico, com pessoas físicas: a net não nos mostra caras!
Mas tenho plena consciência da influência e importância que a net (e crescentemente, os blogues) estão a ter no desenvolvimento social e nas decisões políticas.
deixem lá, não invejem o teixeira dos pintos e o padrinho dele, coitados, opus deiistas, que todo o santo dia sofrem martíruio de cilícios, além das matinas às tantas, jejum a vésperas e nonas, além das primas...
que na opus e maçonne é preciso muito atraso pa um se entreter de dividendos à custa da pessegada.
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