sábado, dezembro 30, 2006

Five wishes and a deceit

Jornal Expresso - 30 de Dezembro de 2006

Five wishes:
Cinco (de cinquenta) desejos para 2007 de Miguel Sousa Tavares com os quais concordo

1 - Que alguma reforma fiscal tivesse a coragem de terminar com um sistema iníquo em que eu, com o meu trabalho, pago uma taxa de imposto quatro vezes superior à dos lucros do meu banco.

2 - Que desistissem da OTA, em sinal de respeito pelos que pagam impostos.

3 - Que não privatizassem a TAP nem fizessem mais negócios de compinchas com o património público.

4 - Que o Dr. Pina Moura passe à clandestinidade.

5 - Que morra o TLEBS.


And a deceit:
A Liberdade segundo José Cutileiro

«Urge preservar a liberdade mundial, tarefa em que os EUA têm um papel fulcral. Sem eles, os regimes autoritários imporiam a brutalidade política e jurídica.»

«A liberdade está sempre em risco. Fala-se muito na necessidade de difundir e proteger os chamados ‘bens públicos globais’: a paz é um, a água outro, a saúde seria outro ainda e por aí fora. Mas a liberdade - a liberdade à antiga, a liberdade de 1789, a liberdade de crença, de opinião, de expressão - é mais importante do que todos eles. Essa é a razão pela qual, apesar do Iraque, de Guantánamo e do défice, apesar da ingenuidade, ignorância, arrogância, compadrios e incompetências da administração Bush, a América faz bem ao mundo, que se ela enfraquecesse ou se desinteressasse, se tornaria num lugar pior.»

quinta-feira, dezembro 28, 2006

terça-feira, dezembro 26, 2006

O discurso natalício de Sócrates que os surdos adoraram ouvir

A tradutora em linguagem gestual para surdos, que surge no canto inferior direito do ecrã, ou por claras divergências com o Primeiro-Ministro ou por manifesta incompetência, adulterou a mensagem de Natal que José Sócrates enviou a todos os portugueses na RTP1.

Eis o que os surdos perceberam das palavras do nosso Premier:

Vídeo – 3:43m

Sócrates - mensagem de Natal

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domingo, dezembro 24, 2006

O número dois da Al Qaeda, Ayman al-Zawahiri, lança um sério aviso à blogosfera portuguesa

O número dois da rede terrorista Al Qaeda, Ayman al Zawahiri, afirmou, num vídeo divulgado ontem pela internet, que os blogues portugueses insultaram as operações de martírio organizadas por Osama bin Laden, e apelou à Jihad (guerra santa) contra os infiéis do ciberespaco luso.

Vídeo - 3:37m:

Zawahiri - Building 7

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quinta-feira, dezembro 21, 2006

A duvidosa estratégia militar para o Iraque do novo ministro americano da Defesa

Jon Stewart do Daily Show questiona, com humor, o «correspondente» Ed Helms sobre o fracasso da estratégia militar que tem vindo a ser seguida no Iraque:


Jon: Somos a maior superpotência do mundo. Investimos milhões em armas de alta tecnologia. Como é que isso não é eficaz?

Ed: Porque eles fazem batota! Estas pessoas não sabem como lutar numa guerra. Confronto directo em que os outros estão em desvantagem em relação a nós. Estes tipos deviam escolher alguém da altura deles... e não alguém maior.

Jon: O que devemos fazer?

Ed: Estamos a treinar o exército deles para lutar em guerras convencionais. Esperando que um dia, quando o país recuperar, nós os consigamos derrotar.


Vídeo - 4:28m

DS - A estratégia militar para o Iraque

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terça-feira, dezembro 19, 2006

Estados Unidos - até onde é possível desfigurar a democracia?

Boaventura de Sousa Santos é doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.

O Preço da Segurança

Publicado na Visão em 26 de Outubro de 2006


Nos países mais desenvolvidos está em curso uma mudança profunda nas prioridades dos governos, com enormes implicações para o relacionamento entre cidadãos e governos. A mudança pode resumir-se assim: do bem estar social para a segurança. Até à década de 1980, o bem estar social tinha total prioridade na acção governamental. A qualidade das políticas sociais na área do trabalho, saúde, educação e segurança social era o critério por que se aferia a qualidade da governação. A segurança dos cidadãos frente à violência, o crime e os acidentes estava intimamente ligada ao bem estar, sendo vista como resultando dele. Por sua vez, a segurança colectiva estava assegurada pela ordem internacional multilateral assente na Guerra Fria.

Com o triunfo do neoliberalismo e o colapso da União Soviética, tudo começou a mudar. As políticas sociais começaram a perder prioridade e deixaram de ser vistas como um factor de segurança. Esta passou a ser vista como a nova prioridade dos governos, ao mesmo tempo que a segurança internacional foi confiada aos EUA. O aumento da criminalidade, a imigração e, por fim, o terrorismo vieram dar força acrescida a esta mudança. Aumentaram os orçamentos públicos da segurança, ao mesmo tempo que surgiu uma nova indústria, a indústria da segurança, hoje uma das mais rentáveis.

Esta mudança tem um impacto múltiplo. Na área do bem estar social, passaram a dominar duas ideias: pode faltar dinheiro para as políticas sociais mas não pode faltar para a segurança; o declínio do bem estar (e o aumento das desigualdades) não é considerado um factor de insegurança. Nas relações entre cidadãos, as solidariedades básicas, a hospitalidade, a curiosidade desprevenida e a entreajuda vão sendo substituídas pela suspeita e temor de estranhos, xenofobia, preferência pelo familar e privado, condomínios fechados e, no limite, guerra civil. O vizinho passou a ser um estranho e, potencialmente, um inimigo. E o mesmo se passa nas relações internacionais. Para além da lógica belicista e do unilateralismo, floresce a moda dos muros, transformando os países igualmente em condomínios fechados. Muros planeados ou em curso: 747 km entre Israel e a Palestina; 814 km entre a Arábia Saudita e o Iraque; 1120 km entre os EUA e o México.

Por último, a prioridade absoluta da segurança pode vir a ter um impacto devastador na democracia, porque torna possível o ataque à democracia em nome da defesa desta. A vigilância começa a ser permanente e indiscriminada (por exemplo, as contas pagas com cartões de crédito são globalmente monitoradas). Em resultado, os governos sabem cada vez mais sobre as acções dos cidadãos e os cidadãos, cada vez menos sobre as acções dos governos. Em nome da guerra contra o terrorismo, cometem-se atrocidades jurídicas, de que o exemplo mais extremo é "a lei das comissões miltares" que acaba de ser promulgada nos EUA. Nos termos desta lei, qualquer não cidadão que seja declarado "combatente inimigo ilegal", pode ser detido indefinidamente, torturado em violação da Convenção de Genebra, e a confissão obtida sob tortura utilizada como prova. Mas a medida mais extrema é a eliminação do habeas corpus, uma garantia dos acusados desde o século XII. O detido não pode conhecer as razões da detenção nem questioná-las perante um juiz independente. Isto significa que, se alguém for detido por engano (erro de identificação) não tem nenhuma instância a que recorrer para o dizer e provar. Um advogado americano, almirante na reserva, declarou no Congresso que, com esta lei, os EUA se transformavam numa república das bananas. Este tipo de leis, cuja eficácia é duvidosa, suscita esta pergunta: até onde é possível desfigurar a democracia?

domingo, dezembro 17, 2006

Porque é que estes gajos só pagam 11% de IRC?











Porque é que estes gajos, cujos lucros aumentam escandalosamente de trimestre para trimestre, só pagam 11% de IRC, quando o resto das empresas paga 25%? Porque é que o governo mantém estas taxas ridículas à banca sem dar qualquer explicação à população? Será que os bancos têm o Sócrates no bolso?

sábado, dezembro 16, 2006

Vasco Pulido Valente - um Iraque sem saída? Mas sair para quê?

Vasco Pulido Valente

Jornal Público - 16 de Dezembro de 2006

Sem saída?


«Bush destapou a panela do Médio Oriente e não se vê maneira de a tapar outra vez. McCain pediu 20.000 homens para "inverter", enquanto é tempo, "a tendência" para o caos. Com optimismo, precisava de, pelo menos, 500.000 por um prazo indefinido e longo. A América não percebeu um facto básico: no Iraque ninguém se considera "vencido", como se considerou em 1945 na Alemanha ou no Japão. Pelo contrário, o que o mais vulgar iraquiano dia a dia constata é a completa impotência da América no terreno. Nenhum paliativo (20.000 homens, por exemplo) chega para resolver esta situação mortal. Mortal para a América e mortal para a "Europa".»


Comentário:

Vasco Pulido Valente, entre dois goles de whisky e com a frontalidade que o caracteriza, acorda-nos para a dura e fria realidade: vai ser muito difícil voltar a tapar a panela que Bush irresponsavelmente destapou.

Mas será que Bush quer de facto tapar a panela? E devemos falar em panela ou em barril (de petróleo)? Porque é que o Pentágono está a gastar somas inimagináveis na construção de 106 bases permanentes, incluindo seis super-bases de alta tecnologia, dentro do Iraque? Haverá a intenção de ocupar o Iraque militarmente durante décadas?

Na realidade, meu bom e roufenho Pulido, a retórica de retirada de Bush é apenas propaganda. Estas super-bases militares têm por objectivo lançar e supervisionar a próxima guerra contra o Irão, o vizinho mais rico em petróleo do Iraque.

Porque a história é confrangedoramente simples: os subscritores do PNAC (os neocons do Project for the New American Century) têm por objectivo controlar as reservas de petróleo do planeta. Foi por esse motivo que invadiram o Iraque, é com o mesmo intuito que se preparam para invadir o Irão e é também por isso que já começaram o cerco ao Cáspio. Everything is working according to the plans.

quinta-feira, dezembro 14, 2006

Henrique Monteiro do Expresso - o tempo e o discernimento parecem não passar por ele

Henrique Monteiro

Jornal Expresso - 29 de Setembro de 2001 (17 dias depois do 11 de Setembro)

As boas consciências

AS BOAS consciências europeias estão preocupadas com um eventual ataque dos EUA como retaliação dos atentados de 11 de Setembro. As boas consciências temem que o ataque seja dirigido contra incertos e faça vítimas inocentes. Já temeram, aliás, que esse ataque fosse a 12, a 13, a 14, ou 15 de Setembro, e até ficaram um pouco desconcertadas porque George W. Bush não mostrou, afinal, ser o «cowboy» irresponsável que as boas consciências diziam ser. Mas, como as boas consciências têm sempre razão, fica a saber-se que Bush não atacou porque está bem aconselhado. Por ele - as boas consciências sabem isto de fonte certa -, teria atacado o mundo inteiro e o Afeganistão em particular logo no dia seguinte, sem passar cartão a ninguém e espalhando um terror ainda mais maléfico do que aquele que atingiu os EUA.

As boas consciências são precavidas e desconfiadas em relação aos EUA, nação que, como se sabe, tem atrás de si um passado muito suspeito. Em relação à França ou à Alemanha e de um modo geral à Europa as boas consciências não são tão vigilantes. Por exemplo, a França pode contemporizar com células terroristas da ETA instaladas no seu país, apesar dos esforços da Espanha para uma maior cooperação antiterrorista, porque a França... enfim, é a França, um país culto, ao contrário dos Estados Unidos, que são todos «cowboys» que nem sabem beber vinho e acham o McDonald's uma especialidade gastronómica.

Numa palavra, os americanos não são gente em quem se confie, salvo quando a Europa é ameaçada, seja pelo Kaiser, seja por Hitler, seja pelos soviéticos. Aí sim, eles fazem falta e convém que ajudem os europeus a preservar a sua enorme cultura e bom gosto.

Por isso é natural que as boas consciências desconfiem dos EUA e não lhes dêem o direito de retaliar. A retaliação, como se sabe, pode trazer vários inconvenientes à Europa, nomeadamente pode fazer com que os terroristas se lembrem de alguns alvos no Velho Continente. À excepção dos ingleses (outro povo de comerciantes sem cultura, apenas úteis para resistir à barbárie de Hitler), as boas consciências europeias temem que a sua vida sofra incómodos.

Até porque - sustentam as mesmas boas consciências - os EUA vão cometer erros. Não se lembram dos danos colaterais? E erros é uma coisa que as boas consciências não toleram. Não podem admitir erros na retaliação. Exigem provas, passadas em cartório, em como apenas os verdadeiros responsáveis pela barbárie de 11 de Setembro serão castigados.

As boas consciência não querem perceber que isto é uma guerra. Uma guerra nova, prolongada e difícil, e que em todas as guerras há erros e vítimas inocentes (as primeiras, foram as quase 7000 que pereceram nos EUA). E esta guerra a que o mundo livre foi (é) obrigado pela barbárie do terror não será excepção. Haverá erros e injustiças, pelo simples facto de que haverá acção. Só que as boas consciências cometeriam erros bem mais graves: o de viverem contemporizando com o terror, sacrificando a liberdade e a segurança de todos nós.


Comentário:

É difícil não sentir um arrepio ao relembrar as palavras premonitórias de um grande jornalista e, cinco anos passados, actual director do mais influente semanário português.

Também eu, armado em boa consciência, (mea culpa), desconfiei dos EUA. Também eu (mea culpa), sustentei que iriam haver danos colaterais. Também eu (mea culpa), exigi provas, passadas em cartório, de que seriam os verdadeiros responsáveis pela barbárie de 11 de Setembro que seriam castigados. Também eu (mea culpa), cometi o erro de contemporizar com o terror.

Mas Monteiro tem razão: basta de contemporizações. Vamos apurar responsabilidades. Sejam terroristas de espada ou de pluma. Tão assassinos uns como outros.

quarta-feira, dezembro 13, 2006

A Banca e as reformas douradas dos "nossos" políticos

Joaquim Fidalgo - Jornal Público - 13 de Dezembro de 2006

Milhões & tostões

«Eu não percebo muito bem estas coisas dos bancos. Mas, por mais voltas que dê à cabeça e por mais informação que recolha, acabo por bater sempre em dois pontos: os lucros que eles conseguem são enormes (e cada vez mais enormes, apesar da chamada "crise"...), e os impostos que pagam são proporcionalmente muito baixos (com a ajuda da própria lei...).»

«Sobre o primeiro ponto não deixo de me espantar com a capacidade revelada por todos os bancos portugueses para ganharem dinheiro, muito dinheiro, e tanto mais dinheiro quanto maiores são. O país é pequeno, a economia cresce pouco, as empresas queixam-se quase todas de que "isto está mau", mas vamos a ver os bancos e é o que se sabe (li no Sol do último sábado): em 2005, o BCP teve um lucro líquido de 753 milhões de euros, a CGD um lucro de 538 milhões, o Totta/Santander um lucro de 297 milhões, o BES um lucro de 280 milhões, o Banco BPI um lucro de 251 milhões... Lucros líquidos, note-se: já com impostos pagos, já com provisões retiradas, essas coisas todas, ou seja, ganhos limpinhos. Peço desculpa se pareço tacanho de vistas, mas isto é mesmo muita massa... Imagine-se que não havia crise!»

(…)

«Sobre o segundo ponto quanto maior é um banco, mais crédito concede. Quanto mais crédito concede, mais dinheiro ganha, pois essa é uma das suas essenciais fontes de rendimentos. O raciocínio logicamente deveria prosseguir assim: e quanto mais dinheiro ganha, mais impostos paga. Certo? Errado. Pelo que se vê nos números, os bancos que mais lucros têm são os que, percentualmente, menos impostos pagam. Porquê? Entre outras coisas, porque, sendo os que mais crédito concedem, são também os que fazem maiores provisões (ou seja, "cativam" dinheiro dos seus resultados de exploração) para cobrir o risco de eventualmente não conseguirem cobrar algum desse crédito. E a lei permite-lhes deduzir tais provisões ao montante de resultados sobre que incidem os impostos. Por estas e por outras, os bancos pagaram, no ano de 2005, uma taxa de imposto efectiva de cerca de 11 por cento (média) sobre os seus resultados de exploração! O maior e mais lucrativo deles, o BCP, ficou apenas pelos 9 por cento. E a gente que julgava que os impostos sobre os lucros eram uma percentagem parecida com aqueles 20, ou 30, ou mais por cento que o Estado nos cobra em sede de IRS...»


Comentário:

Porque é que Sócrates, tal como os governos anteriores, recusa tributar correctamente os bancos, e não dá qualquer explicação aos portugueses?

Será que, como afirma Miguel Sousa Tavares (Expresso de 20/10/2006), os bancos estão entre as principais empresas que garantem o grosso dos financiamentos dos principais partidos (PS e PSD), e para onde os dirigentes partidários esperam retirar-se mais tarde ou que os seus deputados/advogados irão patrocinar, após cessada a sua passagem pela política?

segunda-feira, dezembro 11, 2006

Morreu um filho da puta

Jornal Público

11 de Dezembro de 2006

Santiago do Chile estalou de emoções ao ouvir a notícia da morte de Augusto Pinochet, com 91 anos, de ataque cardíaco.

Mas as maiores manifestações foram de alegria. Milhares de pessoas desceram à rua um pouco por toda a cidade para festejar o desaparecimento do ditador, automóveis buzinaram. Na Praça de Maio, que separa dois Chiles, o rico e o pobre, lugar emblemático da maior parte das manifestações dos últimos 14 anos contra a impunidade dos autores e principais responsáveis do regime militar, milhares de pessoas, na sua maior parte jovens, juntaram-se para dar vivas à morte do general, de acordo com todas as agências. Durante o regime foram mortos ou desapareceram milhares de pessoas, pelo menos 3 mil de acordo com os números mais optimistas, e foram torturados muitas mais, cálculos recentes apontam para 30 mil.




Na foto, Pinochet em alegre cavaqueira com o Santo Padre.

sexta-feira, dezembro 08, 2006

Blogues versus meios de comunicação tradicionais (revisited)

Neste vídeo imperdível de um humor excepcional, Jon Stewart do Daily Show mostra a força crescente dos Blogues e põe a nu o seguidismo e as limitações dos meios de comunicação tradicionais.

No vídeo é mostrado como um repórter destacado na Casa Branca é exposto por bloggers como um proprietário de sites pornográficos (autêntico).

Ou frases como: "o que não posso é com bloggers agressivos, gente que recolhe, compila e divulga factos verídicos. Não têm credibilidade só têm factos."

Um comentador queixa-se: "os bloggers são pessoas sem credenciais, ética, editores ou responsabilidades”. Ao que Jon Stewart responde: “ao contrário dos jornalistas que têm, credenciais..."

quinta-feira, dezembro 07, 2006

A "era de ouro do lucro" - Salários recebem a menor parcela do PIB de sempre

Diário de Notícias - 28 de Novembro de 2006

Manuel Esteves e Sérgio Aníbal

A riqueza produzida nas economias mais desenvolvidas tem vindo a crescer de forma sustentada ao longo dos anos, atingindo níveis nunca antes vistos. Este crescimento reflecte o aumento da produtividade, a inovação tecnológica e a extensão das trocas comerciais. No entanto, a colheita desses tem beneficiado, sobretudo, os detentores do capital, enquanto o bolso da grande maioria - que vende a sua mão-de-obra - está cada vez mais leve.

Dados compilados pela Comissão Europeia revelam que a parcela de riqueza que é destinada aos salários é actualmente a mais baixa desde, pelo menos, 1960 (o primeiro ano com dados conhecidos). Em contrapartida, a riqueza que se traduz em lucros, que remuneram os detentores do capital, é cada vez mais alta, o que levou o banco norte-americano UBS a falar na "era de ouro do lucro". Esta tendência verifica-se na grande maioria dos países desenvolvidos e é no "Velho Continente" que mais se fez sentir nos últimos anos.

Não há forma de isto ser uma coincidência" defende Stephen Roach, economista-chefe do banco de investimento Morgan Stanley num artigo publicado há alguns meses. O fenómeno é ainda mais impressionante quando nestas três economias se verifica, desde há alguns anos, um aumento do emprego e da produtividade, que serve de barómetro para a evolução dos salários. Num artigo sobre esta matéria, a revista Economist lembrava que, desde 2001, a produtividade nos Estados Unidos cresceu 15%, enquanto os salários caíram 4%. São números que valem mil palavras.


Comentário:

Estes números, que valem mil palavras, traduzem uma realidade muito simples: o fim do emprego. A tecnologia tem vindo paulatinamente a substituir o homem em todas as áreas do processo produtivo, reduzindo a sua importância o seu peso económico, donde a contínua queda dos salários que se tem vindo a verificar nas últimas décadas.

Contudo, o fim do emprego significa também o fim de consumidores com dinheiro para comprar. E não havendo compradores não há vendas. E sem vendas não há empresas privadas. O paradigma económico está a mudar.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

A perfeita inutilidade das eleições intercalares na América

A futilidade de um processo eleitoral onde os eleitos já estão determinados à partida e o dinheiro fala sempre mais alto. Nas presidenciais ainda há a emoção de descobrir qual é o criminoso que vai ocupar a Casa Branca. Nestas, nem isso.

terça-feira, dezembro 05, 2006

Blogue «O Insurgente» – Crónica de uma morte anunciada?

O Insurgente

De um dia para o outro, o blogue «O Insurgente» deixou de ter comentaristas. Não obstante a catadupa de posts colocados pelo seu mentor, André Azevedo Alves, a caixa de comentários permanece intrigantemente vazia. Dar-se-á o caso deste blogue ter seguido por um obscuro caminho de radicalização e de degenerescência, onde a própria direita tem alguma dificuldade em se rever?

A rigidez do discurso, a inflexibilidade do pensamento e a estreiteza de conceitos tornaram-se a imagem de marca deste blogue. Armados com premissas «não negociáveis», a saber, a crença absoluta nas superiores vantagens do liberalismo económico total, a fé cega nos bons desígnios da administração norte-americana e afundados num catolicismo de carácter fundamentalista, estes bloggers parece trilharem um rumo crescentemente autista em relação a uma realidade que constantemente os contradiz. Perante os factos, rejeitam à priori quaisquer argumentos que não caibam na sua visão minimalista, e reagem repetindo os mesmos chavões, vezes e vezes sem conta, como acontece com um adventista do sétimo dia.

Realidades como o desemprego, a contínua diminuição do poder de compra e a miséria crescente nos países desenvolvidos, as dúvidas levantadas sobre os acontecimentos do 11 de Setembro, as guerras sustentadas em mentiras, e as mortes de mulheres que abortam em vãos de escada, pura e simplesmente não existem. Não encaixam na percepção obstinada e esquizofrénica que têm do mundo. E são como tal rejeitadas.

Deixo aqui um pequeno vídeo sobre a realidade «insurgente», ou será antes um Requiem - Mors ultima linea rerum est?

Vídeo - 2:28m

Requiem pelo Insurgente

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segunda-feira, dezembro 04, 2006

O ministro da Defesa Donald Rumsfeld despede-se, contrariado, da América

Jon Stewart, do Daily Show, com o humor que lhe conhecemos, pede desculpa ao ministro da Defesa, Donald Rumsfeld, pela incompreensão da América à guerra que este teve o génio de iniciar:

- Donald (Rumsfeld), deixe-me pedir desculpa por esta gente burra, os sessenta a setenta por cento que não percebem como esta guerra está a correr tão bem. É demasiado difícil.

- Que tipo de pessoa olha para as baixas, o caos, o custo, a tua inflexibilidade administrativa e não pensa – vamos manter o rumo? Só um idiota de merda, claro!

- Tu tentaste explicar-nos, tu tentaste, mas nós temos uns cérebros tão pequeninos...

- O mundo não te merecia. É como o nosso Van Gogh. Só que a tua tela é a Terra e em vez de pinceladas utilizas bombas de penetração subterrânea.


Vídeo – 6:05m

DS - Rumsfeld depede-se da America

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domingo, dezembro 03, 2006

Luís Costa Ribas da SIC - As teorias da conspiração nunca têm provas plausíveis

O jornalista da SIC Luís Costa Ribas voltou aos Estados Unidos para acompanhar o quinto aniversário dos atentados do 11 de Setembro. Do Ground Zero dá-nos a sua opinião abalizada:

Impressões do 11/9 cinco anos depois

«Do lado oposto, na Church Street, perto da entrada para a estação de metro do World Trade Center, havia uma ruidosa manifestação de defensores de teorias da conspiração, e protestos sortidos contra George W. Bush. Mas fora disso, a vedação do "ground zero" estava rodeada de pessoas silentes, imóveis, contemplativas.»

«Mas o contraste entre estes dois grupos faz justiça àquilo que é a América real: vibrante, irrequieta, difícil de contentar. Sou por natureza contra as teorias da conspiração que militam contra a base factual das teorias aberta. apresentam suspeitas sobre falhas lógicas nas explicações públicas, mas nunca têm provas plausíveis

«Tome-se, por exemplo, o avião que destruiu uma parte do Pentágono: há testemunhas que viram o avião da American Airlines voar sobre o local, aproximar-se do chão, partir uma asa numa curva apertada (sei que em aeronáutica não se diz assim) e enfiar-se no edifício perdendo a outra asa na parede de pedra. Há 184 pessoas reais que morreram neste ataque terrorista e que viajavam num avião que existia de facto. Se o que embateu no Pentágono foi, como dizem os mitos urbanos, um míssil de cruzeiro, o que aconteceu às pessoas que estavam a bordo do avião? Foram transportados para Marte? E os funerais dessas pessoas, foram forjados? Será que essas pessoas não morreram e fazem parte de uma outra conspiração para se fingirem mortos e darem cobertura à conspiração inicial? Foram pagos para mudarem de nome e de terra? É demasiado ridículo para contemplar com seriedade... Os proponentes destas teorias devem apresentar factos, o que nunca fazem, e sujeitá-los a escrutínio publico


Comentário:

Vamos então a factos, caro Ribas:

Este é o buraco feito pelo "Boeing 757" no Pentágono? As janelas ao lado e em cima ilesas? Onde estão os embates das asas, dos motores e da cauda? Um Boeing 757 cabia ali?














No World Trade Center o embate das asas é perfeitamente identificável:



















E já depois da fachada do Pentágono desabar. Nem uma arranhadela das asas?

sexta-feira, dezembro 01, 2006

Henrique Monteiro do Expresso – o Papa dar o dito por não dito é uma questão de transcendência

Jornal Expresso – 1 de Dezembro de 2006

Ratzinger e o Papa

«Quem defendeu que a Turquia não deve entrar na UE não foi o Papa, foi Ratzinger. Mas quem foi à Turquia e disse que era a favor da entrada daquele país na Europa, foi o Papa. A pessoa é a mesma, mas as responsabilidades são diferentes. Não é uma questão de coerência, é uma questão de transcendência. O chefe da Igreja Católica não é um indivíduo, nem é um político, é um representante. Pôde, por isso, dar o dito por não dito com elegância.»


Na mesma edição do Expresso, Miguel Sousa Tavares, aborda esta questão da "transcendência", dando como exemplo os "pareceres" dos mestres de Direito:

«... Era impensável que um mestre se pronunciasse sobre coisas fora da sua alçada, contrárias à sua opinião e, menos ainda - o que seria até um pedido ofensivo - opostas à doutrina por ele publicamente exposta relativamente à matéria em causa

«Isso era dantes. Agora, os mestres pronunciam-se sobre tudo e mais alguma coisa, num sentido ou noutro, mas sempre em concordância com a pretensão do cliente que lhes paga. Foi assim que até já vi um ilustre professor de Direito juntar em tribunal um parecer onde defendia exactamente o oposto do que ensinava no manual de sua autoria que era de leitura obrigatória nas Faculdades de Direito. E, do lado contrário, estava outro parecer de outro ilustre professor, que, bem a propósito, se socorria da doutrina do primeiro... contra o próprio!»


Comentário:

Não há nada de transcendente no facto de Henrique Monteiro considerar a defesa simultânea de uma coisa e do seu contrário, uma "transcendência". Monteiro é um caso conhecido de vocação falhada. Se tivesse seguido jurisprudência, teríamos hoje um bom mestre de Direito a "pronunciar-se sobre tudo e mais alguma coisa, num sentido ou noutro, mas sempre em concordância com a pretensão do cliente". Assim, infelizmente, temos um jornalista medíocre a "pronunciar-se sobre tudo e mais alguma coisa, num sentido ou noutro, mas sempre em concordância com a pretensão do cliente". Perde o Direito, perde o Jornalismo, perde o Cliente e perdemos nós.