Fernando Madrinha - Jornal Expresso - 1/9/2007:
Para um breve retrato deste nosso país singular onde cada vez mais mulheres dão à luz em ambulâncias - e assim ajudam o ministro Correia de Campos a poupanças significativas nas maternidades que ainda não foram encerradas -, basta retomar três ou quatro notícias fortes das últimas semanas. Esta, por exemplo: centenas e centenas de famílias pedem conselho à Deco porque estão afogadas em dívidas à banca. São pessoas que ainda têm vontade e esperança de cumprir os seus compromissos. Mas há milhares que já não pagam o que devem e outras que já só vivem para a prestação da casa. Com o aumento sustentado dos juros, uma crise muito séria vem aí a galope.
Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. Daí que os manda-chuvas do Millenium BCP se permitam andar há meses numa guerra para ver quem manda mais, coisa que já custou ao banco a quantia obscena de 2,3 mil milhões de euros em capitalização bolsista. Ninguém se rala porque, num país em que os bancos são donos e senhores de quase tudo, esse dinheirinho acabará por voltar às suas mãos.
Na aparência, nem o endividamento das famílias nem a obesidade da banca têm nada a ver com os ajustes de contas na noite do Porto. Porém, os negócios que essa noite propicia - do álcool que se vende à droga que se trafica mais ou menos às claras em bares e discotecas, segundo os jornais - dão milhões que também passam pelos bancos. E quanto mais precária a situação das tais famílias endividadas e a daquelas que só não têm dívidas porque não têm crédito, mais fácil será o recrutamento de matadores, de traficantes e operacionais para todo o tipo de negócios e acções das máfias que se vão instalando entre nós.
Quer dizer, as notícias fortes das últimas semanas - as da tal «silly season», em que os jornalistas estão sempre a dizer que nada acontece - são notícias de mau augúrio. Remetem-nos para uma sociedade cada vez mais vulnerável e sob ameaça de desestrutruração, indicam-nos que os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais. Quem pode voltar optimista das férias?
Comentário (palavras de Fernando Madrinha):
«O poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais.»
«Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles»:
O lucro do Millennium BCP atingiu 191 milhões de euros no primeiro trimestre do ano. Os resultados em base recorrente cresceram 16% nos primeiros três meses do ano.
O Banco Espírito Santo divulgou quinta-feira um lucro de 139,8 milhões de euros no primeiro trimestre, mais 33% que no período homólogo...
O BPI obteve um resultado líquido de 96,8 milhões de euros no primeiro trimestre do ano, um valor que corresponde a uma subida de 30 por cento face a igual período do ano anterior.
O resultado do Banco Bilbao Viscaya y Argentaria (BBVA) subiu para pouco mais de 1,25 mil milhões de euros, mais 23% no resultado líquido no primeiro trimestre de 2007.
O Banco Santander Central Hispano obteve um resultado líquido de 1,8 mil milhões de euros, no primeiro trimestre do ano. Este valor representa mais 21% que no período homólogo...
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Para um breve retrato deste nosso país singular onde cada vez mais mulheres dão à luz em ambulâncias - e assim ajudam o ministro Correia de Campos a poupanças significativas nas maternidades que ainda não foram encerradas -, basta retomar três ou quatro notícias fortes das últimas semanas. Esta, por exemplo: centenas e centenas de famílias pedem conselho à Deco porque estão afogadas em dívidas à banca. São pessoas que ainda têm vontade e esperança de cumprir os seus compromissos. Mas há milhares que já não pagam o que devem e outras que já só vivem para a prestação da casa. Com o aumento sustentado dos juros, uma crise muito séria vem aí a galope.
Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles. Daí que os manda-chuvas do Millenium BCP se permitam andar há meses numa guerra para ver quem manda mais, coisa que já custou ao banco a quantia obscena de 2,3 mil milhões de euros em capitalização bolsista. Ninguém se rala porque, num país em que os bancos são donos e senhores de quase tudo, esse dinheirinho acabará por voltar às suas mãos.
Na aparência, nem o endividamento das famílias nem a obesidade da banca têm nada a ver com os ajustes de contas na noite do Porto. Porém, os negócios que essa noite propicia - do álcool que se vende à droga que se trafica mais ou menos às claras em bares e discotecas, segundo os jornais - dão milhões que também passam pelos bancos. E quanto mais precária a situação das tais famílias endividadas e a daquelas que só não têm dívidas porque não têm crédito, mais fácil será o recrutamento de matadores, de traficantes e operacionais para todo o tipo de negócios e acções das máfias que se vão instalando entre nós.
Quer dizer, as notícias fortes das últimas semanas - as da tal «silly season», em que os jornalistas estão sempre a dizer que nada acontece - são notícias de mau augúrio. Remetem-nos para uma sociedade cada vez mais vulnerável e sob ameaça de desestrutruração, indicam-nos que os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral. E dizem-nos que o poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais. Quem pode voltar optimista das férias?
Comentário (palavras de Fernando Madrinha):
«O poder do dinheiro concentrado nas mãos de uns poucos é cada vez mais absoluto e opressor. A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais.»
«Não obstante, os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles»:
O lucro do Millennium BCP atingiu 191 milhões de euros no primeiro trimestre do ano. Os resultados em base recorrente cresceram 16% nos primeiros três meses do ano.
O Banco Espírito Santo divulgou quinta-feira um lucro de 139,8 milhões de euros no primeiro trimestre, mais 33% que no período homólogo...
O BPI obteve um resultado líquido de 96,8 milhões de euros no primeiro trimestre do ano, um valor que corresponde a uma subida de 30 por cento face a igual período do ano anterior.
O resultado do Banco Bilbao Viscaya y Argentaria (BBVA) subiu para pouco mais de 1,25 mil milhões de euros, mais 23% no resultado líquido no primeiro trimestre de 2007.
O Banco Santander Central Hispano obteve um resultado líquido de 1,8 mil milhões de euros, no primeiro trimestre do ano. Este valor representa mais 21% que no período homólogo...
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12 comentários:
o Madrinha é um gajo que, escrevendo no Expresso, está limitado. Pouco ou nada se pode aprender com o fulano - p/e ele não explica que os Bancos Nacionais, sobre o dinheiro que emprestam aos seus clientes, precisam de negociar o total dos valores emprestados com os bancos centrais, negociando tb eles créditos a outros valores. É nessa diferença que obtêm os lucros. Não é dificil entender que são os tais "chefões da banca" transnacional que controlam em seu proveito o negócio da banca global: a especulação bolsista.
Com a presente crise, p/e o Barclays pediu um dia destes ao Banco de Inglaterra um reforço para garantir a liquidez da ordem dos 70 milhões de libras - vai pagar de juros ao B.I. cerca de 6,85%, enquanto está a cobrar nos empréstimos aos seus clientes 4,75% (salvo erro) - ora isto significa que estão a perder dinheiro!(!) embora como se sabe, o "dinheiro ficticio" cunhado pelos bancos centrais seja simplesmente virtual; "funda-se" em valores que simplesmente não existem. Com esta prática dos aflitos (afectados pelo crédito malparado) para evitar o crash da economia global tb não é dificil perceber que apenas estão a adiar o problema que vai rebentar mais lá para a frente.
Pergunta-se: qual é o negócio aqui?
talvez esse leitor que tem aparecido por aqui, o Oliveira da Figueira (ou até mesmo o Tim-Tim) nos queira fazer o favor de nos explicar
"talvez esse leitor que tem aparecido por aqui, o Oliveira da Figueira nos queira fazer o favor de nos explicar"
Com prazer:
A onda bate na lâmpada e recua e daí o som querer sair e não poder. Tem de aquecer o carburador... é o que é!
Vc é o Luis,
eu estava-me a referir ao outro idiota, o Oliveira da Figueira da Maia.
Lidador, mudáste de nick, mas o estilo palonço é inconfundivel
Ó Xatoo,
Não te queres pronunciar sobre a visita do Dalai Lama a Portugal? Ou o controleiro não te deixa?
Fazias melhor figura que andar para aqui armado ao pingarelho a botar discurso sobre coisas das quais não percebes pevide...
Afinal de contas, lá de repressão e violação dos direitos humanos pouca gente pode falar com mais autoridade que um comuna...
Oliveira, Lidador ou Tintin. Sobre a conversa sobre as taxas de juro, ver a caixa de comentários do post anterior.
Bancos calculam Euribor de forma diferente
Os maiores bancos nacionais estão a usar métodos diferentes para calcular o indexante para os créditos à habitação, a Euribor. Em causa está o número de dias assumido por cada banco para calcular esta taxa, noticia o "Jornal de Notícias".
O calculo da Euribor considerando 360 dias ou 365 dias é o que está em causa e o que implica uma diferença de 50 euros por ano num empréstimo à habitação de 100 mil euros a 30 anos.
O "Jornal de Notícias" revela que entre os cinco maiores bancos nacionais, apenas o BPI calcula esta taxa a 360 dias (convencionado a nível europeu). O BCP, o Santander, a CGD e o BES estarão a calcular com base nos 365 dias.
http://www.negocios.pt/default.asp?Session=&SqlPage=Content_Economia&CpContentId=302307
Isso é endêmico, caro Diogo. Aqui no Brasil do Lula, as bancas estão atufalhadas de lucros no primeiro semestre.
Seguindo o argumentário em diálogo do post anterior, pareceu-me ter entendido o raciocínio do Diogo sobre a subida de juros de 2% para 4% e tal, fundada no interesse aparente de se evitar a subida da inflação, sem fundamento, na explicação do economista Canotilho, do "DE", que ressalta o maior serviço prestado aos donos da banca caseira como da mais abrangente e gorda desse mundo de cifrões...
quanto a baixa de juros, que ardentemente espero, suspeito da leitura de pareceres desencontrados que ela pode estar prestes, graça a deus, por se amenizar o turbilhão do dólar em queda e não dar na grande derrapagem que já muitos também dizem "depressão"!
um obrigado a todos que me foram explicando as contas, não de todo em vão.
manel
["dinheiro ficticio" cunhado pelos bancos centrais seja simplesmente virtual]
Quem diria que o xatoo iria acabar no mesmo lado da barricada que o candidato republicano Ron Paul?
Caro xatoo leia urgentemente o livro do Ron...creio que vai bater pívias de excitação.
http://www.mises.org/books/caseforgold.pdf
Quem diria????
Eles sabem,como fautores da engrenagem, e nós sabemos como vítimas da engrenagem, que é assim.
Não percebo onde está a sua admiração, caro Lidador.
Admiração nenhuma, caro xatoo.
Como me farto de dizer, a amálgama de estupidez junta no mesmo saco as religiões que fizeram do século XX, o mais sangrento de sempre.
Comunismo, nazismo, islamismo, fascismo, são os alegres fellow travelers do totalitarismo e da barbárie.
O seu alvo foi e é o mesmo de sempre: a democracia liberal.
A liberdade individual, em suma!
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