Texto de Álvaro Arranja
Esquerda.NET - 03 de Setembro de 2008
Ao contrário do que nos quer fazer crer uma comunicação social que tem como agenda política, exacerbar sentimentos de insegurança ou de racismo, repetindo os cenários que garantiram a vitória de Sarkozy ou de Berlusconi, os "assaltos" que mais preocupam os portugueses são os efectuados todos os dias pela banca ao bolso dos seus clientes.
Que o digam os milhares de famílias esmagadas pelo peso do crédito à habitação em constante aumento, justificado com decisões de um Banco Central Europeu cuja única preocupação é aumentar os lucros da banca. O famoso "Euribor" funciona frequentemente como desculpa para os mais variados aumentos decididos internamente pela banca portuguesa. Famílias que ficam sem casa ou que cortam nas despesas básicas para poderem pagar o empréstimo à banca, são detalhes que não constam no relatório e contas dos Conselhos de Administração.
Mas o furto (como nos esclarece o Código Penal, não se trata de um roubo porque geralmente a banca não ameaça explicitamente os seus clientes com armas e até conta com a total cobertura das autoridades) continua atingindo elevados requintes...
É o caso das famosas taxas de manutenção de conta. Temos de pagar taxas cada vez mais elevadas para ter o privilégio de ter conta no banco. Como quase todos os portugueses só recebem o seu salário se tiverem conta num banco e as taxas são mais elevadas para os mais pobres com uma conta de baixo valor... é óbvio que não é necessário usar armas para assaltar os clientes...
E se tivermos a ousadia de pedir um livro de cheques, hão-de reparar que se trata do papel mais caro do mercado, valendo cada pequeno rectângulo quantias apreciáveis.
Um conceituado banco chega mesmo a cobrar uma taxa aos clientes que se dirigem ao banco para trocar dinheiro (notas pequenas por grandes ou vice-versa).
A quem pedir um crédito automóvel, vários bancos cobram uma "taxa de abertura de crédito". Vejam o engenho e arte da nossa banca, para além do produto comprado (o crédito automóvel), paga-se uma taxa de acesso ao produto. E se o padeiro da esquina resolve cobrar uma taxa de acesso ao pão?
O mesmo princípio se aplica a muitos pequenos empresários. De "empresários" passam a meros empregados dos bancos, já que a sua principal preocupação é cumprir com as prestações de créditos sempre em constante aumento.
É com esta gestão rigorosa que os nossos banqueiros conseguem as verbas que lhes permitem conceder empréstimos a fundo perdido... aos filhos.
Obviamente nenhum destes assaltos abre telejornais ou motiva títulos de primeira página. Se isso acontecesse as verbas da publicidade dos bancos cessavam e os jornalistas iriam engrossar os números do desemprego...
Opinião semelhante tem Fernando Madrinha - Jornal Expresso - 3 de Fevereiro de 2007:
E que esses lucros colossais [da banca] são, afinal, uma expressão da dependência cada vez maior das famílias e das empresas em relação ao capital financeiro. Daí que, em lugar de aplauso e regozijo geral, o que o seu anúncio provoca é o mal-estar de quem sente que Portugal inteiro trabalha para engordar a banca. Ganha força essa ideia de que os bancos sugam a riqueza do país mais do que a fomentam.
Comentário:
Não estará na altura dos milhares de famílias esmagadas pelo peso do crédito à habitação e dos milhares de pequenos empresários que já só trabalham para engordar os bancos, irem dar uma palavrinha simpática ao ladrão Jean Claude Trichet, presidente do Banco central Europeu (BCE), e aos seus apaniguados nacionais? E espetarem com essa corja, que engorda com o trabalho de Portugal inteiro, na choça?
8 comentários:
"dar uma sova no Trichet" é incitamento ao crime.
cuidado com a PJ - "eles andem aí",,,
além do mais, se calhar o papel de vítima (como o Soares na Marinha Grande, até lhe convinha)
se equacionarmos as possiveis acções que poderiam ser tomadas localmente - chegamos à conclusão que estamos perante um problema diabólico.
eu aposto nos mega riots no interior dos Estados Unidos e no descalabro subsquente da pirâmide social
Xatoo,
Pois eu aposto numa acção via Internet de condenação judicial destes merdas. A Internet já está a fazer um bypass aos media. Aceleremos o bypass aos «políticos».
Assaltemos o Trichet,
doutor, e sobre ele os bancos.
Mais ladrões são os bancos usurários que muito aprendiz de gatuno que por aí anda.
É verdade que a banca, tal como os seguros, são uma espécie de extorsão legalizada...
No entanto, é bom ver que neste caso os bancos portugueses não têm culpa: também eles pagam mais pelo dinheiro que pedem emprestado para poderem emprestar aos seus clientes.
Não se esqueça que a maior parte do dinheiro emprestado aos portugueses vem da banca do Norte da Europa.
E que, por isso, o aumento dos juros também se aplica aos empréstimos inter-bancários que os bancos portugueses contraem. Se cobram mais alto, também pagam mais.
Além disso, as taxas altas prejudicam outros ramos de negócio da banca, como a corretagem e as restantes operações da banca de investimento. Juros mais altos contribuem para que haja menos transacções na bolsa, reduzindo as receitas de corretagem de acções.
Por outro lado, juros mais altos contribuem para que haja menos liquidez na bolsa, o que tem reflexo no valor dos próprios bancos e nas participações
accionistas que estes detêm noutras empresas. O que tem efeitos dramáticos no balanço dos bancos, como se viu, por exemplo, na desvalorização da posição do
BCP no BPI, que reduziu os lucros semestrais do primeiro em mais de 90%.
Quanto à política do BCE, não concordo consigo: a missão do BCE é controlar a inflação, ponto final.
Os juros altos afectam alguns portugueses, em particular os que compraram casa, mas a inflação alta afectaria todos os portugueses, em especial os mais pobres, aqueles que nem conseguem um empréstimo para uma casa.
Meu caro Diogo, trazes um assunto que é meu dia-a-dia.
No meu estaminé ainda tendo algum controlo e alguma capacidade de decisão faço uso de alguma arbitrariedade.
Isso de se dizer que a banca portuguesa é muito eficiente é um mito. São alguns jornalistas económicos que perante uma folha de papel timbrado com mensagens tipo-padrão se veêm e com um acenar para um cargozito de assessor num qualquer departamento. É treta. A nossa banca é altamente desorganizada e com os seus trabalhadores a borrifarem-se para os seus CA's.
O cliente médio bancário português é que não tem suficiente informação financeira nem massa crítica daí o lucro desmesurado da banca nacional.
Por exemplo eu cobro comissões se for com a cara do cliente. Nós temos uma espécie de chat interno. Se está um macaco a mandar vir na fila, fica marcado. Quem o atender vai-lhe complicar ao máximo. Se aparece um psicótico aos gritos, comigo esse não consegue nada.
Eu, na filosofia do "é me igual ao litro", vou pela simpatia e educação das pessoas. Essas têm tudo de mim. Os que se armam em palhaços têm o diabo do outro lado do balcão.
A arte da banca portuguesa não tem nada de trascendente. Juntando um povo que mal sabe ler e escrever, junta-se autoridades supervisoras brandas e uma imprensa da especialidade subserviente.
A magia não existe, apenas, é Ilusionismo.
Abraço,
Zorze
O problema está, a meu, ver, na falta de reguladorees, isentos, independentes e fortes. è sabido que o regulador da banca, o Banco de Portugal está à mais de 10 anos nas mãos dos socialistas, o que só por si pode levar a certas questões quanto à sua actuação.
Por falar em reguladores, será que ainda se lembram da Autoridade da Concorrência e do seu Presidente o Professor Abel Mateus? Desde que o Governo tomou a decisão de não o reconduzir no cargo nunca mais se ouviu falar deste organismo considerado, na altura, como, senão o único, um dos mais actuantes e isentos do país.
Este é o país que temos, quando algum organismo ou alguém "funciona" rapidamente é remetido ao silêncio.
Bluedive
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