Boaventura de Sousa Santos é doutor em sociologia do direito pela Universidade de Yale e professor catedrático da Faculdade de Economia da Universidade de Coimbra.
A Cultura do Ludíbrio
Publicado na Visão em 5 de Junho de 2008
O ex-secretário de imprensa do Presidente Bush, Scott McClellan, acaba de publicar um livro intitulado "O que Aconteceu: Dentro da Casa Branca de Bush e a Cultura do Ludíbrio em Washington". O furor político e mediático que causou decorre de duas revelações: quando ordenou a invasão do Iraque, a Administração Bush sabia que o Iraque não tinha armas de destruição maciça (ADM) e montou uma poderosa "campanha de propaganda" para levar a opinião pública norte-americana e mundial a aceitar uma "guerra desnecessária"; os grandes meios de comunicação foram "cúmplices activos" dessa campanha, não só porque não questionaram as fontes governamentais como porque incendiaram o fervor patriótico e censuraram as posições cépticas contrárias à guerra.
Estas revelações e as reacções que causaram têm implicações que as transcendem. Antes de tudo, é surpreendente todo este escândalo, pois as revelações não trazem nada de novo. As informações em que assentam eram conhecidas na altura da invasão a partir de fontes independentes. Nelas me baseei para justificar nesta coluna a minha total oposição à guerra que, além de "desnecessária", era injusta e ilegal. Isto significa que as vozes independentes foram estigmatizadas como sendo ideológicas e anti-patrióticas, tal como hoje criticar Israel equivale a ser considerado anti-semita. Em 2001, no Egipto, e antes da máquina de propaganda ter começado a devorar a verdade, o próprio Secretário de Estado Colin Powell dissera que não havia nenhuma informação sólida de que o Iraque tivesse ADM.
Isto me conduz à segunda implicação destas revelações: o futuro do jornalismo. A máquina de propaganda do Departamento de Defesa assentou em três tácticas: impor a presença de generais na reserva em todos os noticiários televisivos com o objectivo de demonstrar a existência das ADMs; ter todos os média sob observação e telefonar aos seus directores ou proprietários ao mínimo sinal de cepticismo ou oposição à guerra; convidar jornalistas de confiança de todo o mundo (também de Portugal) para serem convencidos da existência das ADMs e regressarem aos seus países possuídos da mesma convicção belicista. Vimos isso trágica e grotescamente no nosso país. A verdade é que em Washington e em todo o país circulavam nos média independentes informações que contradiziam o "brainwashing", muitas delas provindas de generais e de antigos altos funcionários da Casa Branca. Porque não ocorreu a esses jornalistas amigos fazer uma verificação cruzada das fontes como lhes exigia o código deontológico?
Para o bem do jornalismo, alguns deles procuraram resistir à pressão e sofreram as consequências. Jessica Yellin, hoje na CNN, e na altura no canal ABC, confessou publicamente que os directores e donos do canal a pressionaram para escrever histórias a favor da guerra e censuraram todas as que eram mais críticas. Um produtor foi despedido por propor um programa com metade de posições a favor da guerra e metade de posições contra. Quem resistiu foi considerado anti-patriótico e amigo dos terroristas. Isto mesmo aconteceu no nosso país. Quantos jornalistas não foram sujeitos à mesma intimidação? Quantos artigos de opinião contrários à guerra foram rejeitados? E os que escreveram propaganda e intimidaram subordinados alguma vez se retrataram, pediram desculpa, foram demitidos? É que eles colaboraram para que um milhão de iraquianos fossem mortos, dezenas de milhares de soldados norte-americanos fossem feridos e mortos e um país fosse totalmente destruído. Tudo isto terá sido preço, não da democracia – ridículo conceber como democrático este estado colonial e mais fracturado que a Somália – mas sim do controle das reservas do petróleo do Golfo e da promoção dos interesses do petróleo, da indústria militar e de reconstrução em que os donos dos média têm fortes investimentos.
Para disfarçar o problema moral dos cúmplices da guerra e da destruição, um comentador de direita do nosso país socorreu-se recentemente da mais desconcertante e desesperada justificação da guerra: se não havia ADMs, havia pelo menos a convicção de que elas existiam. Ora o livro de McClellan acaba de lhe retirar este argumento. De qual se socorrerá agora? O trágico é que a "máquina" de propaganda continua montada e está agora dirigida ao Irão. O seu funcionamento será mais difícil e sê-lo-á tanto mais quanto melhores condições tiverem os jornalistas para cumprir o seu código deontológico.
A Cultura do Ludíbrio
Publicado na Visão em 5 de Junho de 2008
O ex-secretário de imprensa do Presidente Bush, Scott McClellan, acaba de publicar um livro intitulado "O que Aconteceu: Dentro da Casa Branca de Bush e a Cultura do Ludíbrio em Washington". O furor político e mediático que causou decorre de duas revelações: quando ordenou a invasão do Iraque, a Administração Bush sabia que o Iraque não tinha armas de destruição maciça (ADM) e montou uma poderosa "campanha de propaganda" para levar a opinião pública norte-americana e mundial a aceitar uma "guerra desnecessária"; os grandes meios de comunicação foram "cúmplices activos" dessa campanha, não só porque não questionaram as fontes governamentais como porque incendiaram o fervor patriótico e censuraram as posições cépticas contrárias à guerra.
Estas revelações e as reacções que causaram têm implicações que as transcendem. Antes de tudo, é surpreendente todo este escândalo, pois as revelações não trazem nada de novo. As informações em que assentam eram conhecidas na altura da invasão a partir de fontes independentes. Nelas me baseei para justificar nesta coluna a minha total oposição à guerra que, além de "desnecessária", era injusta e ilegal. Isto significa que as vozes independentes foram estigmatizadas como sendo ideológicas e anti-patrióticas, tal como hoje criticar Israel equivale a ser considerado anti-semita. Em 2001, no Egipto, e antes da máquina de propaganda ter começado a devorar a verdade, o próprio Secretário de Estado Colin Powell dissera que não havia nenhuma informação sólida de que o Iraque tivesse ADM.
Isto me conduz à segunda implicação destas revelações: o futuro do jornalismo. A máquina de propaganda do Departamento de Defesa assentou em três tácticas: impor a presença de generais na reserva em todos os noticiários televisivos com o objectivo de demonstrar a existência das ADMs; ter todos os média sob observação e telefonar aos seus directores ou proprietários ao mínimo sinal de cepticismo ou oposição à guerra; convidar jornalistas de confiança de todo o mundo (também de Portugal) para serem convencidos da existência das ADMs e regressarem aos seus países possuídos da mesma convicção belicista. Vimos isso trágica e grotescamente no nosso país. A verdade é que em Washington e em todo o país circulavam nos média independentes informações que contradiziam o "brainwashing", muitas delas provindas de generais e de antigos altos funcionários da Casa Branca. Porque não ocorreu a esses jornalistas amigos fazer uma verificação cruzada das fontes como lhes exigia o código deontológico?
Para o bem do jornalismo, alguns deles procuraram resistir à pressão e sofreram as consequências. Jessica Yellin, hoje na CNN, e na altura no canal ABC, confessou publicamente que os directores e donos do canal a pressionaram para escrever histórias a favor da guerra e censuraram todas as que eram mais críticas. Um produtor foi despedido por propor um programa com metade de posições a favor da guerra e metade de posições contra. Quem resistiu foi considerado anti-patriótico e amigo dos terroristas. Isto mesmo aconteceu no nosso país. Quantos jornalistas não foram sujeitos à mesma intimidação? Quantos artigos de opinião contrários à guerra foram rejeitados? E os que escreveram propaganda e intimidaram subordinados alguma vez se retrataram, pediram desculpa, foram demitidos? É que eles colaboraram para que um milhão de iraquianos fossem mortos, dezenas de milhares de soldados norte-americanos fossem feridos e mortos e um país fosse totalmente destruído. Tudo isto terá sido preço, não da democracia – ridículo conceber como democrático este estado colonial e mais fracturado que a Somália – mas sim do controle das reservas do petróleo do Golfo e da promoção dos interesses do petróleo, da indústria militar e de reconstrução em que os donos dos média têm fortes investimentos.
Para disfarçar o problema moral dos cúmplices da guerra e da destruição, um comentador de direita do nosso país socorreu-se recentemente da mais desconcertante e desesperada justificação da guerra: se não havia ADMs, havia pelo menos a convicção de que elas existiam. Ora o livro de McClellan acaba de lhe retirar este argumento. De qual se socorrerá agora? O trágico é que a "máquina" de propaganda continua montada e está agora dirigida ao Irão. O seu funcionamento será mais difícil e sê-lo-á tanto mais quanto melhores condições tiverem os jornalistas para cumprir o seu código deontológico.
***********
Ora, o visado comentador de direita, José Manuel Fernandes, há muito que esclareceu o assunto:
No Público - 2 de Fevereiro de 2004
Enganos não são mentiras
«(...) O que estava em causa era grave. Tratava-se de saber se Blair tinha ou não mentido aos ingleses e ao Mundo sobre a existência de armas de destruição maciça no Iraque. Se [Blair] tinha ou não manipulado relatórios dos serviços secretos. Se tinha agido de acordo com as suas convicções e com os documentos que conhecia ou se tinha, pelo contrário, enganado deliberadamente o povo britânico.»
«(...) Na intervenção que ontem fez perante a Câmara dos Comuns Tony Blair tocou, do meu ponto de vista, na questão central: "é absolutamente correcto que se conteste a correcção das informações dos serviços de espionagem e que nos interroguemos porque é que ainda não encontrámos armas de destruição maciça. É também absolutamente legítimo discutir os motivos que nos levaram a desencadear este conflito. Eu continuo a acreditar hoje, tal como acreditava em Março, que remover Saddam do poder torna o mundo um lugar melhor e mais seguro - mas sei que outros têm todo o direito de discordar. Contudo isto é completamente diferente de uma acusação de manipulação, ou de duplicidade, de uma acusação de que alguém falsificou deliberadamente as informações dos serviços secretos".»
«(...) Estavam todos enganados. Enganados - não manipulados. Todos - e não apenas as administrações americana e britânica. Todos - e não apenas o Presidente Bush (...)»
«(...) Como hoje recordamos, a convicção de que o Iraque possuía armas de destruição maciça não era objecto de discussão há um ano, nos meses e semanas que antecederam a guerra: o que se discutia era se a forma mais eficaz de lidar com o problema era prolongar o mandato e as missões dos inspectores das Nações Unidas ou se se devia intervir (...)»
«(...) Daí que, tal como Tony Blair, continue a considerar que a questão é saber se o Mundo é hoje um lugar pior ou melhor sem Saddam Hussein. Acredito que é melhor (...)»
Comentário:
Não obstante, as centenas de Zés Manéis que colaboraram para que um milhão de iraquianos fossem mortos e um país fosse totalmente destruído, continuam directores de jornais, colunistas de opinião e analistas omnipresentes de todos os programas de debate dos canais televisisvos.
A título de exemplo, alguns dos mais afamados Zés Manéis que escrevinham no Expresso:
No Público - 2 de Fevereiro de 2004
Enganos não são mentiras
«(...) O que estava em causa era grave. Tratava-se de saber se Blair tinha ou não mentido aos ingleses e ao Mundo sobre a existência de armas de destruição maciça no Iraque. Se [Blair] tinha ou não manipulado relatórios dos serviços secretos. Se tinha agido de acordo com as suas convicções e com os documentos que conhecia ou se tinha, pelo contrário, enganado deliberadamente o povo britânico.»
«(...) Na intervenção que ontem fez perante a Câmara dos Comuns Tony Blair tocou, do meu ponto de vista, na questão central: "é absolutamente correcto que se conteste a correcção das informações dos serviços de espionagem e que nos interroguemos porque é que ainda não encontrámos armas de destruição maciça. É também absolutamente legítimo discutir os motivos que nos levaram a desencadear este conflito. Eu continuo a acreditar hoje, tal como acreditava em Março, que remover Saddam do poder torna o mundo um lugar melhor e mais seguro - mas sei que outros têm todo o direito de discordar. Contudo isto é completamente diferente de uma acusação de manipulação, ou de duplicidade, de uma acusação de que alguém falsificou deliberadamente as informações dos serviços secretos".»
«(...) Estavam todos enganados. Enganados - não manipulados. Todos - e não apenas as administrações americana e britânica. Todos - e não apenas o Presidente Bush (...)»
«(...) Como hoje recordamos, a convicção de que o Iraque possuía armas de destruição maciça não era objecto de discussão há um ano, nos meses e semanas que antecederam a guerra: o que se discutia era se a forma mais eficaz de lidar com o problema era prolongar o mandato e as missões dos inspectores das Nações Unidas ou se se devia intervir (...)»
«(...) Daí que, tal como Tony Blair, continue a considerar que a questão é saber se o Mundo é hoje um lugar pior ou melhor sem Saddam Hussein. Acredito que é melhor (...)»
Comentário:
Não obstante, as centenas de Zés Manéis que colaboraram para que um milhão de iraquianos fossem mortos e um país fosse totalmente destruído, continuam directores de jornais, colunistas de opinião e analistas omnipresentes de todos os programas de debate dos canais televisisvos.
A título de exemplo, alguns dos mais afamados Zés Manéis que escrevinham no Expresso:
16 comentários:
Diogo
Pois, eu por acaso já tinha chegado a essa conclusão, que eles sabiam muito bem que os outros não tinham as tais armas.
Pois, enganados….
Faz-me lembrar a anedota daquela senhora que vai ver o Juramento de bandeira do filho, o único com o passo trocado e comenta “Vão todos enganados, menos o meu!”
Os jornalistas hoje, são uma espécie de prostitutos, não todos, mas a maioria, difundem meias verdades juntas com meias mentiras, ajudando assim os seu “donos” a manipular os incautos.
Triste, muito triste, tendo em conta o que deveria ser a sua nobre profissão.
Beijos
Não li este artigo de Boaventura Sousa Santos, por isso congratulo o Diogo por o ter trazido.
Condensa muito do que já se sabia. A velha táctica "ou estás comigo, ou estás contra mim" foi usada até à exaustão, com a ajuda do estigma do terrorismo.
Mentira essa que ainda perdura nos dias de hoje. Todos os dias no Iraque há vitimas de guerra. Um caos sem fim à vista.
Mas, como, vivemos de mentiras em mentiras. Hoje assistimos a outra (que penso ter sido muito bem delineada e com requintes de malvadez) a crise financeira. Que vai agudizar mais no início de 2009.
Abraço,
Zorze
Ana,
Os jornalistas de hoje estão todos sujeitos às «linhas editoriais» às quais não podem fugir, sob o risco certo de serem corridos. Mas muitos deles têm prazer na prostituição a que os sujeitam. Em suma, gostam do que fazem: ludibriar.
Beijo.
Zorze,
A «crise financeira» de hoje lembra-me a «crise financeira» de 1929. Tão fabricada uma como a outra, sempre pela malta que contrafaz o dinheiro. É pena que na televisão só apareçam especialistas de um olho só.
Abraço.
Podes crer, alguns dos mais afamados zé-manéis, descarados e servis, tão fisdeputa que o podes dizer amsi mais que zé-manéis. E eles nem vão ofender-se, podes crer. Mas há mais.
boas,
o plano está a seguir em força o seu caminho, e como sempre com a ajuda das prostitutas dos media.
o mais grave destas situações e que desmentem logo à partida estes mentirosos que apoiaram e apoiam ainda hoje a invasão do Iraque é que antes dessa invasão ocorreu a do Afeganistão, que nos foi vendida como se de um ataque à Al-Qaeda se tratasse, como se da defesa dos EUA se tratasse.
A verdade é que como já está mais que provado em documentos oficiais e pelo simples facto de pouco tempo depois dos atentados ocorreu essa invasão, ela já esta planeada e já lá estavam na zona todo ou quase todo o complexo militar necessário para a executar.
Ou seja, ainda antes da invasão do iraque fomos brindados com duas histórias ficcionais, a de que os atentados de 11set2001 tinham sido levados a cabo por bin laden e que o ataque ao Afeganistão tinha decorrido desses atentados.
sempre gostaria de ver e ouvir as explicações, de certo fabulosas, desta corja de mentirosos que por cá e por lá pululam nos media.
cumps,
rjnunes
já agora deixo aqui um link para um projecto fabuloso, que já conta com um livro, que é o History Commons.
aconselho se me permitem e se ainda não conhecem a sua consulta e leitura, está constantemente a ser actualizado.
http://www.historycommons.org/
rjnunes
Bom link, rjnunes. Vou acrescentá-lo à mnha lista.
Abraço
"levar a opinião pública norte- americana e mundial a aceitar uma "guerra desnecessária"?
sim, isso é verdade (a história está cheia de guerras com pretextos falsificados), mas não está provado que, em termos de modo civilizacional do Ocidente, o lugar do Bush venha a ser nalguma galeria de infames (embora devesse sê-lo)
; afinal ele foi tentar obter a preços da uva mijona (umas quantas vidas de heróis póstumos e papel impresso), a matéria prima que sustenta esse modo de vida; ou se consegue ou este regabofe pópó+autoestrada degrada-se e morre.
Portanto, a questão é bem mais complexa que o simples "fora bush" que estamos safos
É impressionante meu caro Diogo que tenhamos de ser obrigados a ouvir estes iluminados doutorados a chegarem tão tardiamente a uma conclusão que nós os iletrados bloggeres haviamos escrito já há uns largos tempos atrás sobre a catástrofe que seria para os EUA a manutenção da invasão e ocupação do Iraque, pese embora o alcoólico do Bush tivesse a convicção que depois de destruído o Iraque, seriamos as empresas norte-americanas a reconstruí-lo. Conseguiu foi sim destruir além do Iraque a economia com seu País e o novo Presidente, não terá uma tarefa nada fácil para o reconstruir. Mas os americanos que se danem têm sido nas últimas décadas os responsáveis para ingerência e desestabilização de certas zonas no Mundo em que numa manifestação de protecção dos seus interesses e com o argumento de que são os defensores da democracia
invadem e ocupam países soberanos como é também o caso do Afeganistão com a conivência da organização fantoche a "ONU".
Entretanto, o governo mundial, a Nova Ordem Mundial (iniciada por um novo sistema bancário mundial com fim do dólar) já está a ser clamado a ser erguido com extrema urgência na União Europeia.
http://www.youtube.com/watch?v=kTfv6uOHgqQ
A proposta para uma só moeda mundial também já vai ser apresentada aos EUA pela UE.
http://www.youtube.com/watch?v=wFs99zBTRO0&feature=related
http://www.youtube.com/watch?v=u6TrAgL72OQ
Gerir os povos é levar as pessoas a agirem em favor do interesse colectivo, tal como os líderes o vêem; mas isso é muitas vezes contrário ao interesse individual imediato.
Antigamente, usava-se a religião, o medo do «inferno», ou a Autoridade absoluta
Nada disso funciona hoje, tendo os lideres humanos recorrida a outra técnica : a da «mentira conveniente»
Trata-se de produzir uma mentira que leve os humanos pensarem que determinada actuação pretendida é a favor dos seus interesses imediatos.
Isto funciona muito bem porque os humanos estão muito ocupados a ganahar dinheiro e não têm tempo para pensar; além de que fazem fraco uso da razão, sempre atropelada pelos interesses instintivos a que as «mentiras convenientes» fazem apelo.
Ainda ontem vi um documentário onde uma famosa jornalista afirmava sem margem para dúvidas que quem punha em causa a teoria do aquecimento global não era ecologista, ou seja, está nas tintas para o planeta.
A esmagadora maioria dos humanos pensa o mesmo.
Portanto, isto é a cabecinha dos humanos que é assim.
Líder que queira dizer a verdade falhou a vocação porque não vai ter sucesso, não vai conseguir gerir nenhuma sociedade humana.
As pessoas são como são.
alf
alto e pára o baile - qualquer oficial graduado dá primeiro a cambalhota para mostrar aos seus alunos formandos como é que se faz.
o Fidel Castro é um exemplo (há muitos outros mas têm-nos assassinado a todos ao longo de décadas; não sei se repararam que isto é uma guerra!). Fidel foi um lider que sempre disse a verdade ao seu povo, sendo aliás, inequivocamente mais um entre eles: não temos recursos, não podemos gastar mais que aquilo que produzimos e temos. Os nossos recursos somos nós, as pessoas. E Cuba tem hoje a taxa de escolaridade mais alta do mundo.
Portanto, a ideia que tudo isto é uma fatalidade e que "não se vai conseguir gerir nenhuma sociedade humana pq as pessoas são como são" é um bocado exagerada.
também não concordo com o alf. isso das pessoas "serem como são" é apenas mais uma ideia que é usada convenientemente na política, à esquerda e à direita, para manobrar as pessoas
o problema dos líderes é, sobretudo, eles existirem. ao ponto que chegamos a nível de conhecimento, torna-se absurdo continuar a sustentar a ideia que pode haver líderes que defendam magnanimamente os interesses dos seus liderados.
há sempre contrapartidas. com a falta de verdade, com a falta de liberdade, com o desprezo pelos que "fracassam socialmente" (que é a forma deles dizerem que a culpa da pobreza é dos próprios pobres), com o levar o povo para guerras dementes, etc.
a ideia da necessidade de alguém que nos conduza é uma dessas "mentiras convenientes" (para alguns) e a verdade é que nunca nos foi dada a oportunidade de decidir em consciência se o desejavamos ou não. é um dogma enraizado.
se há "necessidade que alguém nos conduza" é uma discussão antiga sobre o papel das vanguardas na sociedade quando se pretende transformá-la. No "dogma" do comunismo de Estado o papel transformador foi atribuido ao Partido mas como é sabido o sistema burocratizou-se e impedia a livre participação de todos passando os designios da sociedade a ser definidos por um restrito directório sem qualquer controlo dos cidadãos.
A filosofia politica de Mao Tsé Tung no processo chinês trouxe algo de novo - o Partido continuou a ser indispensável (mormente devido ao enorme analfabetismo da população) definir os programas era na mesma função da vanguarda, mas, e aqui reside a novidade, as propostas passaram a ser discutidas e votadas nos comités populares nos seus diversos níveis; e depois de ratificadas e de se concluir que eram medidas justas regressam aos responsáveis para serem aplicadas como lei. Outra inovação é que esses mesmos responsáveis politicos podem ser revogados a qualquer momento desde que postos em causa pelos comités populares.
Este é o regime que ainda se mantém actualmente em vigor. Creio que é uma democracia bastante mais aprofundada que a dos macacos representaivos dos grupos económicos que temos nos nossos Palramentos.
Por falta de tempo já não passava por aqui há alguns dias. Agora, posta a leitura em dia falta tempo para os comentários. Deixo apenas dois, um deles, muito curtinho.
O grande embuste desta “estória” das ADM do Iraque é que se sabia com elevado grau de certeza que elas não existiam. Havia uma ténue esperança de encontrar uma munição carregada com material biológico completamente fora de prazo, para mostrar à opinião pública, mas até isso se sabia que era pouco provável. A coligação ocidental não atacaria um país com ADM’s, o número de baixas sofridas seria incomportável face à opinião pública ocidental. O crime deixaria de compensar.
Outro factor (que não mencionaste) importante nesta guerra é o controlo pela água, escassa na região.
xatoo, uma contribuição para o que disseste
a ignorância das massas é o principal argumento a favor da existência de uma elite a liderar, que tem de ser formada por pessoas informadas e preparadas para dar resposta aos problemas com que a sociedade se depara.
quanto a mim este argumento é fraco como princípio (quem é que decidiu que a instrução era o elemento primordial para se poder governar?), e é fraco também numa análise factual das diversas formas de governo (exemplo, o regime nazi favorecia a cultura e a instrução e as suas elites eram de um nível cultural superior)
na minha perspectiva, não retirar às pessoas a possibilidade de decidirem sobre a sua vida, leva a que estas se interessem pela coisa pública, se capacitem para o fazer, e se mantenham informadas, impossibilitando que aconteçam coisas aberrantes como a desinformação sobre as ADM que deu origem ao post
embora não seja o formato que eu defendo, esta ideia dos orçamentos participativos que ultimamente se tem falado tanto por cá mostra um pouco isso
(identifico-me com a forma de decisão nas bases e por delegação em vez de representação, mas o regime chinês claramente não é uma democracia)
Enviar um comentário