quinta-feira, junho 09, 2005

Insurgentes à lá carte

Estará a CIA por trás dos “insurgentes” iraquianos e do terrorismo global?

Frank Morales – 12 de Maio de 2005

A condição para uma escalada constante do nível de violência social que vá ao encontro das necessidades políticas e económicas do insaciável “complexo anti-terrorista” constitui a essência do novo militarismo norte-americano.

Aquilo que é agora abertamente considerado como “guerra permanente” tem por objectivo servir os fins geopolíticos de domínio e controlo social pelas corporações norte-americanas, como aconteceu com a cruzada anti-comunista da ex-Guerra Fria.



Em 2002, no seguimento do trauma do 11 de Setembro, o secretário da defesa Donald H. Rumsfeld previu que iriam acontecer mais ataques terroristas contra o povo americano e contra a civilização no seu todo. Como é que ele podia ter tanta certeza disso? Talvez porque esses ataques seriam instigados por ordem do ilustre Rumsfeld.

Segundo um artigo do analista militar do Los Angeles Times, William Arkin, escrito em 27 de Outubro de 2002, Rumsfeld começou a preparar um exército secreto, uma super-agência de espionagem (a super-Intelligence Support Activity) a funcionar em rede que reuniria a CIA, as operações secretas militares, informação de guerra, encobrimento e logro, de forma a pôr em movimento uma espiral de violência global.

De acordo com um documento confidencial preparado para Rumsfeld pela sua Comissão de Ciência da Defesa, a nova organização – o “Grupo de Operações pro-activo e preventivo "Proactive, Preemptive Operations Group (P2OG)" – levaria a cabo, na prática, missões secretas concebidas por forma a incitar grupos terroristas a protagonizar actos violentos. O P2OG, com cerca de 100 membros, denominado organização “antiterrorista” com um orçamento de 100 milhões de dólares, teria como alvo “líderes terroristas”, mas segundo documentos do P2OG obtidos por Arkin, esse grupo levaria a cabo missões destinadas a estimular reacções entre os grupos terroristas, os quais, pela lógica do secretário da defesa, seriam expostos ao contra-ataque dos “bons”. Por outras palavras, o plano é executar operações militares secretas (assassínios, sabotagens, burlas), as quais resultariam intencionalmente em ataques terroristas contra pessoas inocentes, incluindo americanos – essencialmente, combatendo o terrorismo causando-o.

Ao que parece esta forma de actuação está correntemente a ser aplicada na “insurgência” iraquiana. Segundo um relatório de 1 de Maio de 2005 de Peter Maass no New York Times, dois dos principais conselheiros norte-americanos aos comandos paramilitares iraquianos a combater os insurgentes são veteranos das operações da contra-insurgência norte-americana na América Latina. Dando crédito às recentes especulações dos media acerca da “Salvadorização” do Iraque, o relatório salienta que um consultor actualmente no Iraque é James Steele, que comandou um grupo de 55 homens das forças especiais do exército norte-americano nos anos 80. Maass escreve que este grupo treinou batalhões de choque que foram acusados de significantes abusos dos direitos humanos.

Dirigida pelos serviços de informações da dupla NATO – Estados Unidos a rede clandestina Gladio, criada no tempo da Guerra Fria, tem vindo a ter um papel mais activo. A operação Gladio possibilita a morte ou mutilação de centenas de pessoas inocentes em ataques “terroristas” em que são responsabilizados “esquerdistas subversivos” ou outros oponentes políticos. O mais notório destes ataques foi o atentado à bomba na estação se comboios de Bolonha em 1980 que provocou 85 mortos. Inicialmente responsabilizados radicais de extrema esquerda, após investigações foi revelado que a explosão fora da responsabilidade de uma rede de extrema direita ligada ao grupo italiano da Gladio; quatro neo-fascistas italianos foram, por fim, condenados pelo crime.

O objectivo era novamente duplo: demonizar determinados inimigos e assustar a população por forma a obter o seu apoio a um aumento crescente dos poderes da segurança nacional. Ao que parece o Pentágono tem vindo a implementar operações tipo Gladio há já algum tempo – possivelmente incluindo o 11 de Setembro. Um exagero? Talvez não.

Relembre-se a reunião de chefes militares norte-americanos da “operação Northwoods” em 1962, um plano para rebentar bens americanos – incluindo cidadãos – para justificar a invasão de Cuba. Mais tarde o manual 30-31B do exército datado de 18 de Março de 1970 e assinado pelo general William C Westmoreland, promovia ataques terroristas e a colocação de provas falsas em locais públicos destinados a culpar comunistas e socialistas. O manual sugeria ataques terroristas na Europa Ocidental, levados a cabo por uma rede secreta norte-americana – NATO, de forma a convencer os governos europeus da “ameaça comunista”.

Segundo o manual 30-31B:
“Há alturas em que os governos de países amigos mostram passividade ou indecisão face à subversão comunista e não reagem com a eficiência necessária. Muitas vezes essas situações acontecem quando os revolucionários renunciam temporariamente ao uso da força e ganham por isso vantagem, porque os líderes desses governos consideram a situação segura. Os serviços de informações do exército americano deve possuir os meios para lançar operações especiais que convençam os governos desses países e a opinião pública da realidade do perigo colocado pelos insurgentes.”

O exército norte-americano afirma agora que o documento era uma falsificação russa. O jornalista Allan Francovich no seu documentário na BBC sobre o Gladio e as operações especiais terroristas NATO/americanas, perguntou a Ray Cline, director da CIA de 1962 1 1966, se ele acreditava que o manual 30-31B era real, e ele respondeu: “Bom, suspeito que se trata de um documento autêntico. Não tenho dúvidas. Eu nunca o vi, mas é o género de operações militares das forças especiais”.

Pode acontecer que no Iraque – e noutros sítios no Mundo – a ocasião apropriada tenha chegado. A guerra de Bush ao terrorismo pode ser a manifestação mais actual de um estado provocador; levando a cabo operações especiais clandestinas dirigidas contra populações, incluindo a própria população norte-americana, que está absolutamente iludida acerca do verdadeiro “inimigo” face a um inimigo internamente fabricado, traumatizada pela estratégia de terror concebida para gerar medo e aquiescência para mais “medidas de segurança” – enriquecendo com isso os militares, as agências de segurança e as empresas de armamento.


Comentário:
Não acredito que o complexo militar-industrial americano, as petrolíferas, as Halliburtons, as Carlyles, os Bush, os Cheneys, os Rumsfelds e tantos outros tenham algo a ganhar com o holocausto do povo iraquiano, com o controlo do petróleo de Médio Oriente e do Cáspio e com o jugo sobre a Federação Russa e sobre a China.

Por outro lado acredito num Deus omninconsciente, omnimpotente e omniausente. Parece-me mais lógico.