segunda-feira, junho 27, 2005

Jekyll and Hide

Globo Online 27 de Junho de 2005



Rumsfeld diz que insurgência iraquiana pode durar mais de 10 anos

Bagdad - Os Estados Unidos não vão derrotar os rebeldes iraquianos, mas abrir caminho para que o governo do próprio país o faça e isso pode levar uma década ou mais, afirmou o secretário de Defesa dos EUA, Donald Rumsfeld, num aparente volte face das expectativas de Washington em relação à guerra.

As declarações foram feitas neste domingo, dia em que os iraquianos viveram um novo banho de sangue, com três ataques suicidas na cidade de Mossul, no Norte do país, em que mais de 30 pessoas morreram. Muitas das vítimas eram oficiais de polícia. As novas forças de segurança do Iraque, treinadas pelos EUA, são alvo preferencial da revolta atribuída a árabes sunitas apoiados por extremistas islâmicos estrangeiros, contra o governo liderado pelos xiitas e a presença das tropas da coligação.

- Essa insurgência pode prosseguir por vários anos - disse Rumsfeld em entrevista a uma emissora de TV dos EUA. – As insurgências tendem a durar cinco, seis, oito, 10, 12 anos. As forças estrangeiras não vão reprimir essa insurgência. Vamos criar um ambiente para que o povo iraquiano e as forças de segurança iraquianas derrotem essa insurgência.

Rumsfeld afirmou, ainda, que os ataques rebeldes estão a tornar-se mais letais.

No domingo, num intervalo de poucas horas, um carro-bomba explodiu num quartel de polícia matando 12 pessoas, um ataque a uma base do Exército iraquiano matou 16 e um homem-bomba matou cinco policiais iraquianos ao entrar no principal hospital de Mossul. A última explosão atingiu a enfermaria onde estavam sendo tratados feridos dos primeiros atentados. Em Bagdad, seis policiais morreram vítimas de mais um homem-bomba, que se aproximou quando eles se recolhiam à base.

A Organização da Al-Qaeda para a Guerra Santa no Iraque assumiu a autoria do atentado.



Na revista Visão de 30-12-2004 um artigo refere que: “Em comparação com a eficiência demonstrada para depor Saddam, o falhanço em cumprir as promessas de segurança e desenvolvimento económico é mal interpretado. A população iraquiana desenvolveu uma visão paranóica da presença americana. «Uma teoria particularmente prevalecente vê a própria oposição armada como uma criação dos EUA para justificar uma presença militar indefinida», diz o relatório ICG. O próprio Al-Zarqawi, líder local da Al-Qaeda, é tido por muitos iraquianos – incluindo pelos mais cultos e viajados – «como uma fabricação estrangeira». Al-Zarqawi é tido como um político made in Washington.”




E Nick Possum a 1 de Junho de 2005 escreveu acerca de Zarqawi:

Há muito tempo atrás existiu um verdadeiro al-Zarqawi. Ninguém sabe exactamente o que é que lhe aconteceu, mas em determinada altura antes da invasão do Iraque ele desapareceu do mundo real e entrou no admirável mundo das operações secretas (black operations) tornando-se um símbolo do mal e o rei do disfarce. Hoje em dia esconde-se no complexo da CIA em Langley na Virgínia, numa cave da zona verde em Bagdade, num escritório no Kuwait ... ou talvez simultaneamente em todas. Estarão os rapazes das “black operations” que determinam o papel de al-Zarqawi a divertir-se?



Comentário:
A confirmar-se a tese de que são os serviços secretos americanos que estão por detrás da Al-Qaeda, de Zarqawi e da insurgência iraquiana, fazem todo o sentido as prudentes palavras do secretário da defesa Rumsfeld ao asseverar que a luta contra os insurrectos poderá durar dez anos ou mais. Quem, melhor que ele, que dirige os “dois lados da barricada”, está mais abalizado para afiançar tal coisa?

Sofrendo do síndroma «Jekyll and Hide», Rumsfeld é, durante umas horas, o simpático secretário da defesa que afirma: “vamos criar um ambiente para que o povo iraquiano e as forças de segurança iraquianas derrotem essa insurgência”.

Transformado, porém, no sinistro Hide, Rumsfeld assegura que as insurgências tendem a durar cinco, seis, oito, 10, 12 anos. que os Estados Unidos não vão reprimir essa insurgência e que vão deixar essa tarefa para os iraquianos.

Para quando um tratamento para este tipo de demência?