segunda-feira, julho 11, 2005

A Grã-Cruz de Sócrates, no fundo, é nossa


Expresso – 9 de Julho de 2005-07-11

Dividendos do Euro

A semana começou bem para José Sócrates. Por ter sido um dos governantes com a tutela do Euro 2004 - quando foi ministro-adjunto do primeiro-ministro, durante o I Governo de António Guterres -, o actual chefe do Executivo foi condecorado com a Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique. Pela mesma razão, Jorge Sampaio agraciou igualmente José Lello e José Luís Arnaut, entre outros. Nestas alturas, o ex-fardo da governação até parece nem ter existido.


A 12 de Fevereiro de 2005 António José Seguro lembrou as responsabilidades de Sócrates na realização do Euro-2004: "Hoje, como no Euro-2004, houve um homem que lançou a semente, a semente de uma força que ninguém pode parar. Esse homem chama-se José Sócrates, futuro primeiro-ministro de Portugal", acentuou.


O Correio da Manhã de 21/05/2004 avaliava o impacto do Euro 2004:

Na economia é que o impacto não foi tão bom como o esperado. Nas previsões apresentadas à evolução da economia portuguesa, o Banco de Portugal afirmou que o impacto do Euro2004 poderá «afectar negativamente as taxas de variação» da economia portuguesa em 2005. Os efeitos positivos do Euro foram apenas temporários.

E o dinheiro investido neste espectáculo de grande escala também não teve grande retorno. Quase seis meses depois do Euro 2004, alguns estádios onde foram investidos milhões de euros para receber a prova estão «às moscas». Dos recintos do Euro2004, só os dos «três grandes» tiveram sucesso comercial.

Numa auditoria desenvolvida pelo Tribunal de Contas junto dos estádios de Guimarães, Braga, Leiria, Coimbra, Aveiro, Loulé e Faro, ficou claro que todos custaram mais do que o orçamentado, e que as autarquias se endividaram para os próximos 20 anos. As sete autarquias que receberam jogos do Euro 2004 contraíram empréstimos bancários no valor global de 290 milhões de euros para financiar obras relacionadas com o campeonato. Na sequência destes empréstimos, as câmaras terão que pagar juros no montante de 69,1 milhões de euros, nos próximos 20 anos, refere o relatório de auditoria do Tribunal de Contas.


Diário de Notícias - Sexta, 1 de Julho de 2005

José Sócrates subscreveu ontem formalmente, com o seu próprio Governo, a decisão de tornar o comboio de alta velocidade e o novo aeroporto da Ota nos dois grandes investimentos portugueses no arranque do século XXI. Numa apresentação ainda preliminar do programa de infra-estruturas prioritárias deste Governo - cujo montante saltou dos 20 mil milhões de euros para 25 mil milhões até 2009 -, o TGV, orçamentado em 14 mil milhões de euros, e a Ota, calculada em 3 mil milhões, representarão o maior investimento público de sempre.



Comentário:

Se dez estádios, estruturantes, que custaram 800 milhões de Euros, valeram ao ministro-adjunto Sócrates a Grã-Cruz da Ordem do Infante, que tipo de galardão deveria ser aplicado ao primeiro-ministro Sócrates, pelo investimento de 17 mil milhões de euros, em obras tão ou mais estruturantes que as primeiras?

Admiradores fervorosos do Premier aventam diversas hipóteses no campo da lubricidade, mas ninguém sabe ao certo se seriam exequíveis. De qualquer forma, nunca fariam justiça ao digníssimo governante.