Seymour M. Hersh, num artigo de investigação publicado na edição de ontem da revista "The New Yorker", revelou que comandos especiais dos Estados Unidos estarão a operar no interior do Irão com o objectivo de detectar - e vir a destruir em ataques aéreos - instalações suspeitas de contribuírem para o desenvolvimento de armas nucleares. "Esta é uma guerra contra o terrorismo e o Iraque é apenas uma das campanhas. A administração Bush considera tudo isso como uma vasta zona de guerra. De seguida, teremos a campanha iraniana [...]", refere Hersh, ao citar um "antigo alto responsável pelos serviços secretos
Esta notícia, que só apanhou de surpresa os mais desatentos, vem apenas reforçar a opinião daqueles que, e são cada vez em maior número, admiram Bush pelo seu carácter, pela sua lucidez, pela sua inteligência e pela sua facilidade de expressão. Quem não recorda, com admiração, a recente conferência de imprensa, onde Bush, de forma perspicaz afirmou: "Tenho a certeza de que alguma coisa me virá à ideia no meio desta conferência de imprensa, com toda esta pressão de tentar arranjar uma resposta, mas ainda não veio. Eu ainda não... vocês põem-me aqui debaixo dos projectores e talvez eu não seja rápido... tão rápido quanto devia para arranjar uma".
Para compreender a actual política americana é, antes de mais, necessário conhecer o homem que a traçou. Um ser cuja vida deu uma volta de 180º. Um boémio que renasceu cristão. Bush, trocou, aos quarenta anos, o sangue de Cristo, que emborcava desalmadamente, pela hóstia purificadora da oração e da leitura das Sagradas Escrituras. O bêbado, qual crisálida, deu, por fim, lugar ao crente.
Esta mudança, de tão grande significado para a alma como, a outro nível, para o fígado, abriu-lhe novos horizontes. Redescobriu a Bíblia, e, com ela, a luz. Génesis deslumbrou-o; Deuteronómio confundiu-o; Levítico conturbou-o; Efésios assaranpantou-o, João (19:7 a 19:27) enterneceu-o, mas foi Apocalipse e os anjos com as sete pragas que definitivamente o apaixonou. Reconhecia-se neste capítulo. Ora se via no papel de Deus, ora no de Besta. A maioria das vezes, porém, no de Besta.
Concentrou-se no estudo das sete pragas e na sua paridade em relação ao armamento actual:
“O primeiro anjo derramou a sua taça sobre a terra e apareceu uma chaga ruim e maligna nos homens”. Bush notou aqui uma referência clara a armas biológicas.
“O quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe permitido que abrasasse os homens com o fogo”. Neste caso armas nucleares, city busters provavelmente.
“O quinto derramou a sua taça e os homens mordiam de dor as suas línguas”. Aqui não teve dúvidas: armas químicas. Antrax ou pior.
Paulatinamente reconheceu nas pragas as armas de destruição maciça, e, desde logo, a sua missão: procurá-las e destrui-las. As opções não podiam ser mais claras: Apocalipse ou Armagedeão. Destruir as armas ou ir pescar trutas em Crawford, Texas. Esmagar o terrorismo ou engoli-lo.
Poucos foram o que tiveram a coragem de o seguir. Só as empresas petrolíferas e o complexo militar-industrial, relutantemente, o apoiaram. Com outra agravante: Bush é tacticamente disléxico. Ataca aleatoriamente. Ora aqui, ora ali, ora acolá. Nem a CIA o pode ajudar. Com um orçamento anual de 30 mil milhões de dólares pouco pode fazer.
Bush percebeu que as armas estão no eixo Médio Oriente - Ásia Central. Por isso invadiu o Afeganistão: nicles. A seguir o Iraque: népia. Seguem-se agora o Irão e depois a Síria e a Arábia Saudita. Na calha estão, ainda, o Cazaquistão, o Turquemenistão, o Uzbequistão o Tajiquistão e o Quirguistão. Um empreeendimento digno de um iluminado.
Os hipócritas parecem incomodados com o número astronómico de civis que vão perecer nesta guerra. Mas já se lembraram que alguns deles (o número pode atingir a dezena) podem ser terroristas? Pior ainda, sarracenos? O que diriam se um executivo de Filadélfia recebesse um cartão de boas-festas com Antrax? Ou se ocorresse um surto de herpes em Quarteira? O pânico que se geraria nas democracias ocidentais. A recessão dos mercados bolsistas. O abrandamento do investimento. A retoma, uma vez mais, adiada.
Aqui, no entanto, deixo uma sugestão a Bush: nesta sua demanda por armas de destruição maciça, e já que está na zona, dê uma vista de olhos em Israel. Eu estou ciente que é uma hipótese remota. Mas às vezes, onde menos se espera...
Sem comentários:
Enviar um comentário