segunda-feira, fevereiro 07, 2005

Apocalipse ou Armagedeão

Seymour M. Hersh, num artigo de investigação publicado na edição de ontem da revista "The New Yorker", revelou que comandos especiais dos Estados Unidos estarão a operar no interior do Irão com o objectivo de detectar - e vir a destruir em ataques aéreos - instalações suspeitas de contribuírem para o desenvolvimento de armas nucleares. "Esta é uma guerra contra o terrorismo e o Iraque é apenas uma das campanhas. A administração Bush considera tudo isso como uma vasta zona de guerra. De seguida, teremos a campanha iraniana [...]", refere Hersh, ao citar um "antigo alto responsável pelos serviços secretos

Esta notícia, que só apanhou de surpresa os mais desatentos, vem apenas reforçar a opinião daqueles que, e são cada vez em maior número, admiram Bush pelo seu carácter, pela sua lucidez, pela sua inteligência e pela sua facilidade de expressão. Quem não recorda, com admiração, a recente conferência de imprensa, onde Bush, de forma perspicaz afirmou: "Tenho a certeza de que alguma coisa me virá à ideia no meio desta conferência de imprensa, com toda esta pressão de tentar arranjar uma resposta, mas ainda não veio. Eu ainda não... vocês põem-me aqui debaixo dos projectores e talvez eu não seja rápido... tão rápido quanto devia para arranjar uma".

Para compreender a actual política americana é, antes de mais, necessário conhecer o homem que a traçou. Um ser cuja vida deu uma volta de 180º. Um boémio que renasceu cristão. Bush, trocou, aos quarenta anos, o sangue de Cristo, que emborcava desalmadamente, pela hóstia purificadora da oração e da leitura das Sagradas Escrituras. O bêbado, qual crisálida, deu, por fim, lugar ao crente.

Esta mudança, de tão grande significado para a alma como, a outro nível, para o fígado, abriu-lhe novos horizontes. Redescobriu a Bíblia, e, com ela, a luz. Génesis deslumbrou-o; Deuteronómio confundiu-o; Levítico conturbou-o; Efésios assaranpantou-o, João (19:7 a 19:27) enterneceu-o, mas foi Apocalipse e os anjos com as sete pragas que definitivamente o apaixonou. Reconhecia-se neste capítulo. Ora se via no papel de Deus, ora no de Besta. A maioria das vezes, porém, no de Besta.

Concentrou-se no estudo das sete pragas e na sua paridade em relação ao armamento actual:
“O primeiro anjo derramou a sua taça sobre a terra e apareceu uma chaga ruim e maligna nos homens”. Bush notou aqui uma referência clara a armas biológicas.
“O quarto anjo derramou a sua taça sobre o sol, e foi-lhe permitido que abrasasse os homens com o fogo”. Neste caso armas nucleares, city busters provavelmente.
“O quinto derramou a sua taça e os homens mordiam de dor as suas línguas”. Aqui não teve dúvidas: armas químicas. Antrax ou pior.

Paulatinamente reconheceu nas pragas as armas de destruição maciça, e, desde logo, a sua missão: procurá-las e destrui-las. As opções não podiam ser mais claras: Apocalipse ou Armagedeão. Destruir as armas ou ir pescar trutas em Crawford, Texas. Esmagar o terrorismo ou engoli-lo.

Poucos foram o que tiveram a coragem de o seguir. Só as empresas petrolíferas e o complexo militar-industrial, relutantemente, o apoiaram. Com outra agravante: Bush é tacticamente disléxico. Ataca aleatoriamente. Ora aqui, ora ali, ora acolá. Nem a CIA o pode ajudar. Com um orçamento anual de 30 mil milhões de dólares pouco pode fazer.

Bush percebeu que as armas estão no eixo Médio Oriente - Ásia Central. Por isso invadiu o Afeganistão: nicles. A seguir o Iraque: népia. Seguem-se agora o Irão e depois a Síria e a Arábia Saudita. Na calha estão, ainda, o Cazaquistão, o Turquemenistão, o Uzbequistão o Tajiquistão e o Quirguistão. Um empreeendimento digno de um iluminado.

Os hipócritas parecem incomodados com o número astronómico de civis que vão perecer nesta guerra. Mas já se lembraram que alguns deles (o número pode atingir a dezena) podem ser terroristas? Pior ainda, sarracenos? O que diriam se um executivo de Filadélfia recebesse um cartão de boas-festas com Antrax? Ou se ocorresse um surto de herpes em Quarteira? O pânico que se geraria nas democracias ocidentais. A recessão dos mercados bolsistas. O abrandamento do investimento. A retoma, uma vez mais, adiada.

Aqui, no entanto, deixo uma sugestão a Bush: nesta sua demanda por armas de destruição maciça, e já que está na zona, dê uma vista de olhos em Israel. Eu estou ciente que é uma hipótese remota. Mas às vezes, onde menos se espera...

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