domingo, fevereiro 20, 2005

Os indecisos

Os indecisos constituem o sector mais fascinante do eleitorado em todas as eleições. É sobre eles que se debruçam todos os analistas e todos os partidos políticos. São sempre eles que vão decidir todas as eleições e corrigir todas as sondagens. Em cada acto eleitoral constituem uma percentagem variável, mas sempre de grande dimensão.

Como podemos entender que haja sempre tantos indecisos ao fim de trinta anos de democracia e de eleições?

Há indecisos para todos os gostos.

Os que são indecisos por natureza e feitio. Estes hesitam por tudo e por nada. Não sabem se hão de comprar um casaco ou umas calças. Se hão de sair de casa ou não. Se hão de ir ao cinema ou ao teatro. Fazem os empregados dos restaurantes esperar um horror de tempo antes de escolherem o prato.

Outro tipo de indecisos acha que os políticos são todos iguais. “Eles querem é poleiro”. Não conseguem ver as diferenças entre Paulo Portas e Jerónimo de Sousa, entre Santana Lopes e Francisco Louçã ou entre José Sócrates e Garcia Pereira. Nem entre a mulher e a amante, a sogra ou a padeira.

Há os que querem votar no PSD por tradição, mas não gostam do Santana. Hesitam entre o PSD, o CDS, o PS, a abstenção e o voto branco.

Há os que não sabem nada. Não sabem o que é a Assembleia da República, uma coligação, um deputado. Não distinguem um comunista dum fascista. Chegam à urna e se quiserem votar no Jerónimo de Sousa votam no MRPP porque também tem a foice e o martelo.

Também há os que estão indecisos porque em jovens foram de esquerda mas agora ganham bem e têm vergonha de votar na direita, então hesitam entre o PS e o BE.

Alguns que são pobres e até gostam de ouvir os comunistas hesitam porque ouviram dizer que eles são maus.

Outros estão indecisos porque não gostam de ninguém e têm medo de mais tarde se sentirem responsabilizados pelos disparates que o Governo fará.

Um outro tipo de indeciso, muito interessante, é aquele que é pobre ou remediado, mas tem inveja dos ricos. Então hesita entre votar na esquerda ou na direita.

E há os que são ricos e têm problemas de consciência. Também hesitam entre a direita e a esquerda.

Os que não têm tempo para se interessarem pela política não sabem o que os partidos dizem. Estão demasiado envolvidos na profissão, como os americanos, e então não sabem se hão de votar. Dizem que a política deles é o trabalho!

Outro grupo de indecisos é o dos novos eleitores. Como votam pela primeira vez não sabem bem em quem votar. Normalmente são estudantes a quem lhes foi retirada a disciplina de Introdução à Política, que há uns anos era obrigatória no currículo escolar. Até no tempo da ditadura havia uma cadeira sobre política!

E ainda há os que estão indecisos porque sim e outros porque não... !


Admiram-se agora porque é que os piores programas de televisão são os que têm maior audiência?

1 comentário:

Anónimo disse...

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