quinta-feira, fevereiro 24, 2005

"Mas o que é isto?! Fico chateado, com certeza que fico chateado!"

Entrava-se no século XX quando o sociólogo Émile Durkheim decidiu elaborar um estudo sobre o suicídio, cujo método de investigação serviu, posteriormente, de paradigma para a forma como se processa geralmente a investigação na Sociologia moderna. Com efeito, Durkheim soube substituir variáveis de ordem naturalista e subjectiva para explicar este fenómeno, e fê-lo utilizando factores de ordem social. E, de facto, resultou.

É sabido que a sociolatria preconizada por outro sociólogo, ou pré-sociólogo, se preferirem, de seu nome Auguste Comte, continua a dar cartas nos nossos dias. Por isso, um grupo de sociólogos das mais diversas nacionalidades dirigiu-se, muito secretamente, nesta segunda-feira, para o nosso país – tudo isto depois de ter ido uma apressada reunião para definir os caminhos de uma sigilosa (ou não…) investigação sociológica no nosso país.

Por amor à humanidade na sua versão mais solidária, isto é, na sua organização em sociedade, estes investigadores de ilustre cepa vão estudar um dos mais preocupantes fenómenos sociológicos do nosso século que é, exactamente, o masoquismo [moral] juvenil.

O masoquismo juvenil é considerado um flagelo sociológico, na medida em que prejudica não só o presente das camadas mais jovens da sociedade, mas também o seu futuro e, consequentemente, o futuro dos seus filhos ainda não projectados. Questionado sobre a importância deste fenómeno, o sociólogo japonês Yaminabo Taduro respondeu ao nosso jornalista que «o masoquismo juvenil é muito grave e pode, inclusivamente, dar frutos. Uma vez masoquista, é-se masoquista para toda a vida.». No entanto, não conseguimos descobrir exactamente por que razão este grupo de investigação quer estudar este “flagelo” no nosso país.

Por sua vez, a psicossocióloga ucraniana Novaja Economičeskaja Politika, porta-voz do grupo, quando confrontada com certas e determinadas perguntas indignou-se e bradou: «mas o que é isto?! Chego lá acima e dizem-me que não sei quê, agora aqui já é assim?! Ah e tal?! Ah e tal, não! Deixem-me trabalhar, não respondo a mais nada.». Tentámos abordá-la quando já parecia estar mais calma, cerca de 45 minutos depois, no bar do Centro de Congressos de Cascais, mas continuámos a não obter quaisquer respostas concretas. Desta vez, ouvimos Novaja comentar com o seu assistente: «estou muito arrependida de ter aceite este trabalho. Efectivamente, não há nenhum pais civilizado onde a diferença nas eleições legislativas entre trotsquistas e democratas-cristãos seja de apenas um ponto. Eu já devia ter calculado que este país era demasiado fascizóide para o meu gosto. Vamos para Cuba, fofo?!»

Aparentemente, devo concordar, nada de importante justificaria a vinda destes profissionais ao nosso país. Mas se nos concentrarmos bem nos acontecimentos político-institucionais dos últimos dias, podemos chegar a conclusões claras e dizer, tal como Arquimedes, “Eureka!”, enquanto corremos nus pelas ruas (está bem, está bem, esqueçam a parte freudiana da questão…). Então não é tão fácil perceber que a atitude da Juventude Popular de apelar à permanência de Paulo Portas como líder do CDS-PP é um fenómeno de masoquismo juvenil que poderá afectar, a curto ou médio prazo, grande parte da classe etária mais jovem da nossa sociedade?

Os redactores dos blogues políticos e das outras instituições afins são sempre muito subtis. Eles não têm opiniões. São até raríssimos os que dizem “eu acho” (versão Marcelo Rebelo de Sousa de “eu penso”) ou “cá para mim”. Os factos existem, e é para honrar a verdade que os blogueiros existem. Mas eu gosto de ser diferente, caríssimo leitor – e agora poderia o leitor perguntar-me, com muita razão, “mas será que és?”, ao que eu responderia automaticamente: “ainda bem que faz essa pergunta!”, e assim por diante. E é por gostar de ser diferente que eu preciso de dizer aqui que acho as juventudes partidárias uma perfeita palhaçada. Como disse já alguém próximo de nós no universo blogueiro, a disciplina de Introdução à Política faz falta. Sem ela, não há jovem capaz de fazer uma única opção política, a menos que receba a devida formação em casa ou que se auto-instrua. Ora isto, para a maioria dos jovens portugueses, não pode ser uma realidade. Assim sendo, o caso poderá ser gravíssimo, como aconteceu numa certa escola há exactamente dois anos lectivos: um aluno que pertencia à JSD conseguiu [!!!] convencer toda a sua turma (com duas ou três honradíssimas excepções) a tornar-se também militante da JSD. Agora compreendo como o Partido Social-Democrata permitiu que Pedro Santana Lopes se tornasse seu militante, enquanto já lá tinha gente como José Pacheco Pereira, por exemplo.

Neste caso, ao contrário do caso do abaixo-assinado da Juventude Popular, este fenómeno de masoquismo juvenil foi inconsciente. A moda e os estereótipos têm destas coisas. Bom, talvez eu esteja a fazer uma ‘desgeneralização’ precipitada, pois será que alguém, em consciência, se torna democrata-cristão? Bem sei, bem sei: há que pôr de parte todos os obstáculos epistemológicos. Mas é possível ser-se objectivo num país onde um candidato a Primeiro Ministro chama bárbaro a um povo que ele próprio quer governar? Caso para dizer, como é costume dizer-se a todos os jovens enquanto são jovens (adoro redundâncias!), que ainda vão mudar de ideias. Ou como diria alguém que ultimamente conhecemos bem:”gostas do CDS? Ah e tal, porque és jovem…!”.

Enfim… haja juízo!

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