sábado, fevereiro 12, 2005

Vladimir Ditadorovich

Na sua coluna semanal do Expresso (de 22-1-2005), José Cutileiro escreve: “Os «media» são sempre incómodos para o poder – é essa a sua razão de ser – de maneira que Putin foi liquidando sistematicamente todas as vozes independentes que tinham surgido depois do colapso da União Soviética; hoje praticamente toda a imprensa lida, ouvida e vista acata as preferências do Kremlin.
Além dos rebeldes da periferia e dos escrevinhadores do contra, os chamados oligarcas – homens, geralmente muito novos, que, sabe Deus como, fizeram enormes fortunas na privatização selvagem da economia soviética – constituíam também uma ameaça ao monopólio de poder de Vladimir Vladimirovich, que virou contra os mais ousados de entre eles a máquina do Estado, com polícia e tribunais à cabeça. Uns estão presos, outros no exílio e os restantes deixaram de se meter em políticas hostis ao Governo.”


Temos, portanto, que na Rússia, tanto a imprensa livre como a livre iniciativa, são perseguidos e esmagados ferozmente por um aprendiz de ditador.

Infelizmente, amigo Cutileiro, não é só nos regimes totalitários que esses dois pilares da liberdade são molestados de forma crua e persistente. Desgraçadamente, também nas democracias ditas "ocidentais", os meios de comunicação, por um lado, e o grande capital, por outro, são crescentemente acossados por políticos ambiciosos.

O caso americano constitui, no entanto, uma honrosa excepção. Os media, perseguidos pelo poder, optaram por se cartelizar em conglomerados colossais e, deste modo, controlar toda a imprensa, televisão, rádio, livros e cinema: «Time Warner (CNN), Disney (ABC), News Corporation (Fox), Viacom (CBS) e General Electric (NBC)».

O grande capital, num compreensível reflexo de auto-defesa, apoderou-se dos media. E, com a voz e a palavra numa mão e o porta-moedas na outra, chegou-se ao poder. Inteligentemente, em vez de enfrentar o governo, o capital abocanhou-o. Rockfeller engoliu Cheney. Carnegie engoliu Rice. Gates engoliu o Congresso e a Câmara de Representantes.

Um final afortunado, mas inviável em democracias menos maduras como a nossa.

Neste quadro, pergunto-me, Cutileiro: até quando resistirá, um colunista íntegro como você, à voragem plutocrata. Porque, ainda resiste, não é verdade?