Campanha eleitoral é, quase sempre, sinónimo de poluição. Se já em ocasiões de alguma normalidade as pessoas e os políticos (a divisão foi propositada) aceitam mal o silêncio e a discrição cromática, em época pré-eleitoral parece-me muito difícil haver alguma contenção a este nível. Temos tido, nos últimos dias, diversos exemplos flagrantes que ilustram fielmente a realidade que acabei de expor e que não podem, de forma alguma, passar incólumes.
Lembro-me, sobretudo e em primeiro lugar, desse caso de aberração cromática que vulgarmente se designa por “Comício do PSD”, capaz de entristecer qualquer pavo cristatus (mais conhecido por pavão) em época de acasalamento, tal é o sentimento de inferioridade estética que causa ao bichinho. Quer-me parecer, talvez com alguma razão, que o PSD também tem o seu pavão – sem ofensa, obviamente, para os pavões, que, graças à infinita generosidade da Natureza, têm penas que condizem muito melhor entre si que as habituais gravatas do líder-pavão do Partido Social Democrata com o restante da sua indumentária. Chega a ser pouco saudável, digo eu que de oftalmologia pouco ou nada compreendo, sermos surpreendidos por um fato cinzento com finas riscas claras, camisa assalmonada, gravata azul turquesa e cachecol cor de laranja do Barreiro pós-revolução industrial com os dizeres “JSD” a meio de um zapping aparentemente inofensivo… o grito do líder-pavão, ainda que rouco, é muito mais alucinatório (no mau sentido da palavra) que o do pavão-bicho (espero que tenham conseguido compreender a diferença entre os espécimes…).
Ao nível da poluição auditiva provocada pela campanha do PSD, acho conveniente ainda referir o hino cuja letra todos conhecem, certamente, e que reza mais ou menos assim: «Paz, Pão/ Povo e Liberdade/Todos sempre unidos/No caminho da verdade…»… se a tudo isto juntarmos, provavelmente, uma das piores composições melódicas de Paulo de Carvalho (tenho, queridos leitores, alguma dificuldade em desculpar deslizes…), obtemos a receita para um ruído muito mais incomodativo que o de toda a frota da Rodoviária de Lisboa e da Carris a passar à nossa frente em conjunto e a alta velocidade, com um Mercedes de 1965 atrás sem travões (claro que o seu condutor tenta travar, daí a maior parte do barulho), dentro do qual um indivíduo com um megafone transmite um remix das versões electrónicas do Molto Vivace (segundo andamento) da 9ª Sinfonia de Beethoven usadas na obra-prima cinematográfica Laranja Mecânica, com alguma canção dos Madredeus (onde nunca pode faltar, é claro, a cristalina voz de Teresa Salgueiro). Enfim… pior do que isto só mesmo o líder do partido em questão lembrar-se de pegar numa criança ao colo com ar paternalista e obrigá-la, qual tortura prisional chinesa, a voltar a proferir aquilo que, sob pena de não poder voltar a assistir aos desenhos animados japoneses dobrados em espanhol do Canal Panda (22 na TVCabo – não aconselho a pessoas sensíveis!), já os pais a tinham obrigado a dizer: «vais ganhar!». Como se não bastasse, a criança recebeu de seguida um beijo do líder partidário do PSD, o que em países ditos civilizados já seria alvo de investigação por parte da Polícia Judiciária.
As campanhas dos partidos Socialista e Democrata-Cristão (foi louvável a atitude deste último partido e do PSD de falar ao coração das gentes cristãs e “suspender” a campanha por causa da morte de Irmã Lúcia, ícone da alienação popular – no sentido do materialismo histórico marxista – suspensão essa que não é, aqui para nós que somos inteligentes, mais do que uma manobra de campanha) parecem-me igualmente poluentes, com algumas diferenças que as tornam, grosso modo, mais aceitáveis que a do PSD. Por exemplo: o sorriso cínico e confiante de Paulo Portas nos seus cartazes que apelam ao “Voto Útil” é bastante suportável (afinal, com Bush ofuscado pelo brilhantismo governativo de Condoleezza Rice, de quem nos riremos nós, por ora?), o azul-marinho («In the Navy...») com o amarelo, embora me lembre uma cozinha que vi na Casa Cláudia há tempos, é bem mais agradável que a cor laranja. Mesmo o hino do CDS, comparado ao tropeção harmonioso de Paulo de Carvalho, me parece bem mais erudito. Já o PS tem as suas vantagens estéticas no facto de José Sócrates ser bem mais giro que Santana Lopes e se vestir sempre melhor que ele (tirando, obviamente, quando usa casacos axadrezados ao estilo Kasparov – outro senhor que se fosse consultor de moda tinha tido muito menos sucesso - , se bem que aquelas golas altas lhe ficam a matar!). Temos de reconhecer que, depois do desaparecimento súbito do espectro de Ferro Rodrigues no seio do Partido Socialista, o ambiente aparente da política nacional nos parece mais airoso – e o mesmo podemos dizer da ida de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia que, coitado, também não deve muito à beleza. Os cartazes do PS têm, também (sejamos justos, vá lá!), muito mais conteúdo que os dos restantes partidos referidos, que se resumem ora à demonstração da jactância dos líderes partidários, ora ao ataque aos seus opositores nesta campanha.
Mais limpas e sóbrias estão, sejamos justos novamente, as propagandas comunistas. Abstraindo-me dos valores aos quais está adjacente o rumo da campanha da CDU (alguns dos quais, sem medo nem vergonha de o assumir, eu professo), não posso deixar de reconhecer que tem sido louvável a sua discrição. Jerónimo de Sousa, apesar de clássico, tem um estilo descontraído e informal que me inspira confiança. Pergunta-me agora o leitor se a aparência importa? Importa, claro. Importa que as pessoas simples são, quase sempre ou mesmo sempre, as mais interessantes. Talvez por não ter a quantidade de capital necessária para mandar encher as ruas, o chão, as paredes e as caixas de correio (inclusive as que têm o aviso “Não desejo receber publicidade ou propaganda”) do país de papel (que nem sequer será reciclado, creio…) a CDU passa mais despercebida, também porque tem sido claramente prejudicada no que respeita ao tempo de antena, relativamente a outros candidatos. E não é por ser de esquerda, porque se repararmos bem, Francisco Louçã é sempre o primeiro a falar sobre qualquer assunto polémico que surja au petit Portugal (bom, talvez seja justo: não nos esqueçamos que o senhor tem suma importância nas decisões nacionais, ou não tivesse ele gerado vida!)!
Enfim… só espero que ali pelos semáforos do Restelo, mesmo em frente à Escola Secundária e ao hospital de S. Francisco Xavier não se voltem a verificar acidentes de viação… é que com dois cartazes do PSD, um do CDS-PP e outro do PS, será difícil que os condutores se concentrem no volante… e por que será que os cartazes da esquerda vão parar sempre às rotundas? Saberão que prevenir é sempre melhor que remediar?
Lembro-me, sobretudo e em primeiro lugar, desse caso de aberração cromática que vulgarmente se designa por “Comício do PSD”, capaz de entristecer qualquer pavo cristatus (mais conhecido por pavão) em época de acasalamento, tal é o sentimento de inferioridade estética que causa ao bichinho. Quer-me parecer, talvez com alguma razão, que o PSD também tem o seu pavão – sem ofensa, obviamente, para os pavões, que, graças à infinita generosidade da Natureza, têm penas que condizem muito melhor entre si que as habituais gravatas do líder-pavão do Partido Social Democrata com o restante da sua indumentária. Chega a ser pouco saudável, digo eu que de oftalmologia pouco ou nada compreendo, sermos surpreendidos por um fato cinzento com finas riscas claras, camisa assalmonada, gravata azul turquesa e cachecol cor de laranja do Barreiro pós-revolução industrial com os dizeres “JSD” a meio de um zapping aparentemente inofensivo… o grito do líder-pavão, ainda que rouco, é muito mais alucinatório (no mau sentido da palavra) que o do pavão-bicho (espero que tenham conseguido compreender a diferença entre os espécimes…).
Ao nível da poluição auditiva provocada pela campanha do PSD, acho conveniente ainda referir o hino cuja letra todos conhecem, certamente, e que reza mais ou menos assim: «Paz, Pão/ Povo e Liberdade/Todos sempre unidos/No caminho da verdade…»… se a tudo isto juntarmos, provavelmente, uma das piores composições melódicas de Paulo de Carvalho (tenho, queridos leitores, alguma dificuldade em desculpar deslizes…), obtemos a receita para um ruído muito mais incomodativo que o de toda a frota da Rodoviária de Lisboa e da Carris a passar à nossa frente em conjunto e a alta velocidade, com um Mercedes de 1965 atrás sem travões (claro que o seu condutor tenta travar, daí a maior parte do barulho), dentro do qual um indivíduo com um megafone transmite um remix das versões electrónicas do Molto Vivace (segundo andamento) da 9ª Sinfonia de Beethoven usadas na obra-prima cinematográfica Laranja Mecânica, com alguma canção dos Madredeus (onde nunca pode faltar, é claro, a cristalina voz de Teresa Salgueiro). Enfim… pior do que isto só mesmo o líder do partido em questão lembrar-se de pegar numa criança ao colo com ar paternalista e obrigá-la, qual tortura prisional chinesa, a voltar a proferir aquilo que, sob pena de não poder voltar a assistir aos desenhos animados japoneses dobrados em espanhol do Canal Panda (22 na TVCabo – não aconselho a pessoas sensíveis!), já os pais a tinham obrigado a dizer: «vais ganhar!». Como se não bastasse, a criança recebeu de seguida um beijo do líder partidário do PSD, o que em países ditos civilizados já seria alvo de investigação por parte da Polícia Judiciária.
As campanhas dos partidos Socialista e Democrata-Cristão (foi louvável a atitude deste último partido e do PSD de falar ao coração das gentes cristãs e “suspender” a campanha por causa da morte de Irmã Lúcia, ícone da alienação popular – no sentido do materialismo histórico marxista – suspensão essa que não é, aqui para nós que somos inteligentes, mais do que uma manobra de campanha) parecem-me igualmente poluentes, com algumas diferenças que as tornam, grosso modo, mais aceitáveis que a do PSD. Por exemplo: o sorriso cínico e confiante de Paulo Portas nos seus cartazes que apelam ao “Voto Útil” é bastante suportável (afinal, com Bush ofuscado pelo brilhantismo governativo de Condoleezza Rice, de quem nos riremos nós, por ora?), o azul-marinho («In the Navy...») com o amarelo, embora me lembre uma cozinha que vi na Casa Cláudia há tempos, é bem mais agradável que a cor laranja. Mesmo o hino do CDS, comparado ao tropeção harmonioso de Paulo de Carvalho, me parece bem mais erudito. Já o PS tem as suas vantagens estéticas no facto de José Sócrates ser bem mais giro que Santana Lopes e se vestir sempre melhor que ele (tirando, obviamente, quando usa casacos axadrezados ao estilo Kasparov – outro senhor que se fosse consultor de moda tinha tido muito menos sucesso - , se bem que aquelas golas altas lhe ficam a matar!). Temos de reconhecer que, depois do desaparecimento súbito do espectro de Ferro Rodrigues no seio do Partido Socialista, o ambiente aparente da política nacional nos parece mais airoso – e o mesmo podemos dizer da ida de Durão Barroso para a presidência da Comissão Europeia que, coitado, também não deve muito à beleza. Os cartazes do PS têm, também (sejamos justos, vá lá!), muito mais conteúdo que os dos restantes partidos referidos, que se resumem ora à demonstração da jactância dos líderes partidários, ora ao ataque aos seus opositores nesta campanha.
Mais limpas e sóbrias estão, sejamos justos novamente, as propagandas comunistas. Abstraindo-me dos valores aos quais está adjacente o rumo da campanha da CDU (alguns dos quais, sem medo nem vergonha de o assumir, eu professo), não posso deixar de reconhecer que tem sido louvável a sua discrição. Jerónimo de Sousa, apesar de clássico, tem um estilo descontraído e informal que me inspira confiança. Pergunta-me agora o leitor se a aparência importa? Importa, claro. Importa que as pessoas simples são, quase sempre ou mesmo sempre, as mais interessantes. Talvez por não ter a quantidade de capital necessária para mandar encher as ruas, o chão, as paredes e as caixas de correio (inclusive as que têm o aviso “Não desejo receber publicidade ou propaganda”) do país de papel (que nem sequer será reciclado, creio…) a CDU passa mais despercebida, também porque tem sido claramente prejudicada no que respeita ao tempo de antena, relativamente a outros candidatos. E não é por ser de esquerda, porque se repararmos bem, Francisco Louçã é sempre o primeiro a falar sobre qualquer assunto polémico que surja au petit Portugal (bom, talvez seja justo: não nos esqueçamos que o senhor tem suma importância nas decisões nacionais, ou não tivesse ele gerado vida!)!
Enfim… só espero que ali pelos semáforos do Restelo, mesmo em frente à Escola Secundária e ao hospital de S. Francisco Xavier não se voltem a verificar acidentes de viação… é que com dois cartazes do PSD, um do CDS-PP e outro do PS, será difícil que os condutores se concentrem no volante… e por que será que os cartazes da esquerda vão parar sempre às rotundas? Saberão que prevenir é sempre melhor que remediar?
5 comentários:
Lamentável o facto de se falar do pavão-bicho do PSD, e não se refira o pavão-bicha do PS e o pavão-bichona do CDS.
Parabéns pelo artigo.
Lamentável o facto de se falar do pavão-bicho do PSD, e não se refira o pavão-bicha do PS e o pavão-bichona do CDS.
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