quinta-feira, fevereiro 17, 2005

Zita Seabra: Notas para uma biografia

Zita Seabra veio ao mundo em 1950 e aderiu ao Partido Comunista em 1965 com apenas quinze anos.
Adorou a clandestinidade porque acreditava que "era uma coisa passageira, em breve chegaríamos ao poder". Viveu com entusiasmo os anos revolucionários. Em 1980 achava que Cavaco Silva, então ministro das finanças de Sá Carneiro, estava ao serviço do grande capital. Por esses anos vivia com o revolucionário-renovador-conservador Carlos Brito de quem teve filhos. Destacou-se na Assembleia da República com a defesa das mulheres, da legalização do aborto e outras causas típicas da esquerda.
Nos anos oitenta já muito se inquietava porque o poder não chegava.
Sopraram os ventos da Perestroika e ficou de nariz no ar. "Deixou de acreditar" no comunismo. Largou o revolucionário-renovador-conservador e casou com um médico de direita. "Claro que o novo companheiro influenciou a minha nova visão da política", confessou ela numa entrevista televisiva a Maria João Avillez. Como não conseguiu aplicar aqui a Perestroika, abandonou os comunistas em 1988. O poder parecia-lhe longe.
Eis que em 1993 aceitou "com muita honra o convite do Sr. 1ºMinistro" para coordenar o Secretariado Nacional para o Audiovisual. Cavaco, o instrumento do grande capital, passava a ser o "Senhor Primeiro-Ministro". Nesse dia até lhe vieram as lágrimas aos olhos, "finalmente o poder" pelo qual tão duramente havia lutado na clandestinidade.
Até aí o seu currículo baseava-se em 24 anos de militância comunista e em 5 de editora livreira. Como Cavaco detestava os comunistas provavelmente escolheu-a pela edição de livros.
Em 1997 foi Marcelo Rebelo de Sousa, filho do saudoso Ministro de Marcelo Caetano, Baltasar Rebelo de Sousa, na altura líder do PSD, que a convida para candidata à Câmara Municipal de Vila Franca de Xira por este partido liberal. Perdeu, mas tirou a autarquia aos comunistas.
Em 1998 filia-se no PSD como agradecimento pelos convites e para melhor poder servir os portugueses.
Em 2005 aceita o convite do "Sr. Primeiro Ministro" Santana Lopes para encabeçar por Coimbra, a lista de deputados do PSD à Assembleia da República, devido "ao momento difícil da vida nacional".

Zita tem-se apresentado nesta campanha fresca, rapou o bigode, e interventiva contra Matilde de Sousa Franco do PS.
Em visita ao Bispo de Coimbra, D.Albino Cleto, deixou jorrar-se-lhe da boca como um fio de baba: "Tenho um grande respeito pelo papel desempenhado em Portugal pela Igreja Católica! A Alemanha e a França correm um sério risco de perda da identidade nacional ao não reconhecerem este papel à ICAR nos respectivos países. Temos de viver com a nossa tradição, que são os valores católicos". Que se lixe a indústria têxtil! Que se lixe o aumento da divergência económica em relação à Alemanha e França! Eles é que vão perder a identidade nacional!

Quando lhe censuram estes e outros desvarios, ela responde: "Este é o percurso normal de qualquer dissidente que fez um corte ideológico. É assim no resto da Europa, não ficam a meio caminho".

Zita, a "nova beata", tem feito não um, mas vários cortes. Deixou de ser comunista por uma questão de fé. Aderiu ao PSD por uma questão de poder. Deixou de ser feminista por uma questão doméstica. Aderiu à tradição católica por uma questão de má-fé.

Os que andam escandalizados com as mudanças de rumo de Freitas do Amaral estão silenciosos quanto a Zita. Mas não podemos estar sossegados porque ela "não vai ficar a meio caminho". Ainda lá não chegou, mas queira "Deus", que quando chegue ao fim da linha não tenham muitos, de começar por onde ela começou aos 15 anos de idade...

9 comentários:

Anónimo disse...

É verdade que o percurso de Zita Seabra foi longo e difícil. Começou na esquerda, passou pelo centro e acabou na direita. O percurso de Durão Barroso foi mais longo, e, no entanto, mais fácil: decolou da extrema esquerda e aterrou na extrema direita. A primeira foi a pé. O segundo foi de jacto. Ambos são valorosos viajantes. Qual deles o mais intrépido.

Anónimo disse...

A má-fé move Zita Seabra.
A estupidez move(u) a irmã Lúcia.
A luxúria move Catherine "Portas" Deneuve.
A vaidade move Santana Lopes.
A ganância move José Sócrates.
A gula move Alberto João Jardim.
A inveja move-os a todos.
E todos nós sentimos ira ao observá-los, mas temos preguiça de os travar.

Bartsky disse...

Com tanta cambalhota que já deu, admira-me que consiga olhar-se no espelho quando rapa o bigode. Ou talvez não, talvez tenha orgulho no seu brilhante percurso.
A criatura é cabeça de lista por Coimbra.
Mas, pelos vistos, esta cidade não merece mais que isto, já que nenhum dos cabeças de lista dos principais partidos é de cá.

Anónimo disse...

Muito bem!

Outros há, todavia, que pouco precisam de mudar para continuarem beatos. Por exemplo?
Sua Eminência Reverendíssima, Cardeal Boaventura Sousa Santos; o Reverendo Monsenhor e Cónego Francisco Louçã, o Diácono Miguel Portas, o Sr. Bispo Rosas, a inefável e capitosa Diaconisa Ana Drago...

ICAR = Igreja Católica Apostólica Romana [há quem não saiba]

D.

Anónimo disse...

Keep up the good work » »

Contacomigo disse...

"Se foi assim" o desabafo da "Grande Entrevista" deu razão a tudo aquilo que renegou. Afinal foi uma tentativa de promoção para o seu livro, que ao que parece perdeu o pouco interesse que restava para a sua aquisição. Para alguém que acredita no mecanismo do capitalismo e que até é deputada de um dos seus mais acérrimos propangandores deu de facto uma imagem muito pobre do seu novo empenhamento político. Foi uma conversa entre donas de casa e pouco mais...
O que foi que esta senhora nos quiz dizer. Será que vão quebrar algumas fontes de receita depois das próximas eleições.
Um ex-UEC.

Anónimo disse...

Os comunas estão inconsolaveis! Agora que se sabe como era a vida interna do partido, aguardamos que alguém investigue e escreva sobre os crimes cometidos contra o povo trabalhador português.

Anónimo disse...

Já muita gente escreveu sobre os crimes cometidos contra o povo português, só na guerra colonial morreram 9.000 e muitos mais estropiados, e não foi Zita quem escreveu...

Anónimo disse...

"Já muita gente escreveu sobre os crimes cometidos contra o povo português, só na guerra colonial morreram 9.000 e muitos mais estropiados, e não foi Zita quem escreveu... " É verdade! Alguns eram meus familiares e amigos, foram defender as terras que hoje estão longe de ser dos seus próprios povos. Muitos dos seus naturais infelizmente ganham a vida nos países que outrora acusaram de ser seus exploradores e no 25 de Abril, como a Zita afirma estavam já entregues a outros senhores. Sou um ex-trabalhador que também cometi o erro de pensar que algum partido defendesse uma vida digna para todos os trabalhadores e que se nega a aceitar que alguém se disfarce de seu amigo para lhe fazer as piores traições. O PIOR INIMIGO É O FALSO AMIGO. Continuo a aguardar que alguém investigue, escreva e publique os CRIMES que esses falsos amigos do povo cometeram contra o nosso povo trabalhador para que as novas gerações não se deixem enganar por aqueles que até da nossa alma querem ser proprietários.