quinta-feira, maio 29, 2008

Bergen-Belsen - ein Erholungslager?

Nas últimas semanas recebi várias vezes o mesmo e-mail de várias pessoas acerca dos campos de extermínio nazis (e-mail que está a ser enviado como uma corrente, em memória dos 6 milhões de judeus que foram exterminados nos campos de concentração), com várias fotografias das vítimas dos campos e com a declaração do General D. Dwight Eisenhower: "Fotografem, façam filmes, reúnam testemunhos. Em algum ponto da História um idiota vai erguer-se e dizer que isto nunca aconteceu".


Com efeito, no site do General Eisenhower Memorial Commission, é descrita a visita do General ao campo de concentração de Buchenwald imediatamente após a libertação:

«O General Eisenhower compreendeu que muita gente seria incapaz de compreender a verdadeira extensão deste horror. Compreendeu também que quaisquer acções humanas que fossem tão absolutamente diabólicas poderiam no futuro vir a ser contestadas ou até negadas como sendo literalmente inacreditáveis. Por estas razões Eisenhower ordenou que todos os meios de comunicação civis e todas as unidades de filmagem militares fossem requisitadas para visitarem os campos e recolhessem as suas observações em texto, fotografias e filme. Como Eisenhower explicou ao General Marshall, "Efectuei esta visita propositadamente, de forma a poder dar um testemunho em primeira-mão destas coisas, no caso de alguma vez, no futuro, surgir uma tendência para chamar propaganda a estas alegações."»

«A previsão de Eisenhower revelou-se correcta. Quando alguns grupos, mesmo hoje, tentam negar que o Holocausto alguma vez tenha existido, têm de se confrontar com a enorme quantidade de registos oficiais, incluindo tanto os testemunhos escritos como as milhares de fotografias que Eisenhower ordenou que fossem recolhidos quando observou o que os nazis tinham feito.»


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No wikipedia:

- Não existiam câmaras de gás no campo de concentração de Bergen-Belsen.

- Bergen-Belsen foi designado como campo de convalescença (Erholungslager), para onde eram trazidos prisioneiros demasiado doentes para trabalhar.

- 35.000 pessoas morreram de tifo em Bergen-Belsen nos primeiros meses de 1945. Já depois da libertação do campo pelos aliados, morreram mais 14.000 ex-prisioneiros de tifo.



Bergen-Belsen foi um campo de concentração nazi na Baixa Saxónia, a sudoeste da cidade de Bergen próximo de Celle. Entre 1943 e 1945, cerca de 50.000 pessoas morreram lá, das quais 35.000 morreram de tifo nos primeiros meses de 1945.

O campo foi libertado a 15 de Abril de 1945 pela 11ª Divisão Blindada Britânica. Na data da libertação, sessenta mil prisioneiros encontravam-se no campo, a maior parte gravemente doente, e cerca de 13.000 corpos permaneciam espalhados por sepultar.

Em 1942, Bergen-Belsen tornou-se num campo de concentração e foi colocado sob comando das SS em Abril de 1943. Inicialmente foi designado Aufenthaltslager ("campo de detenção"), para vários milhares de judeus que os dirigentes alemães pretendiam trocar por civis alemães que estavam presos no estrangeiro. Em Março de 1944, parte do campo foi designado como Erholungslager ("campo de convalescença"), para onde eram trazidos, de outros campos de concentração, prisioneiros demasiado doentes para trabalhar. Em Agosto de 1944, chegou de Auschwitz um transporte de aproximadamente 8.000 prisioneiras de várias nacionalidades.

O número de internados no campo a 1 de Dezembro de 1944 era de 15.257. Em 1945, um grande número de prisioneiros foi trazido dos campos orientais para Bergen à medida que os soviéticos avançavam. A sobrelotação resultante conduziu a um grande incremento do número de mortes por doença, particularmente de tifo e malnutrição, num campo que fora originalmente concebido para 10.000 prisioneiros. O número de internados aumentou de 22.000, a 1 de Fevereiro de 1945, para 41.250 a 1 de Março, para 43.042 a 1 de Abril e finalmente para 60.000 a 15 de Abril de 1945. O número de mortes aumentou de 7.000 em Fevereiro para 18.168 em Março, e 9.000 durante a primeira quinzena de Abril. Os corpos destes prisioneiros foram enterrados em valas comuns.

Não existiam câmaras de gás em Bergen-Belsen. (…) Depois da guerra, foi declarado que o campo era de "natureza privilegiada" comparado com outros. Uma acção judicial da comunidade judaica de Salónica contra 55 alegados colaboradores de nazis protestava que 53 deles tinham sido enviados para Bergen-Belsen "como um favor especial" concedido pelos Alemães.

Quando as tropas britânicas e canadianas libertaram o campo a 15 de Abril de 1945, encontraram milhares de corpos não sepultados e forçaram o pessoal das SS a enterrá-los. Nos dias seguintes os prisioneiros sobreviventes foram desparasitados e transportados para um campo militar alemão próximo a que se chamou campo Bergen-Belsen DP. O campo original de Bergen-Belsen foi então destruído pelo fogo por causa da infestação dos piolhos e da epidemia de tifo. Descrições de Belsen depois destes acontecimentos referem-se ao campo Bergen-Belsen DP.

Não obstante os enormes esforços em ajudar os sobreviventes, cerca de mais 9.000 morreram em Abril, e no fim de Junho outros 4.000 tinham morrido (depois da libertação um total de 13.994 de ex-prisioneiros morreram).


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O Dr. Russell Barton (Belsen, "History of the Second World War"), um medico inglês que passou um mês em Bergen-Belsen depois da guerra com o exército britânico, explicou as razões para as condições catastróficas lá encontradas:

«A maior parte das pessoas atribuiu as condições do prisioneiros a uma intenção deliberada por parte dos alemães em geral e da administração do campo em particular. Os internados estavam desejosos de citar exemplos de brutalidade e negligência, e jornalistas visitantes de diferentes países interpretaram a situação de acordo com as necessidades de propaganda caseira.»

«Por exemplo, um jornal enfatizou a perversidade dos governantes alemães realçando que cerca de 10.000 mortos não sepultados estavam nus. De facto, quando o morto era tirado da barraca e deixado ao ar livre para ser enterrado, os outros prisioneiros tiravam-lhe a roupa... »

«Médicos oficiais alemães contaram-me que desde há meses era cada vez mais difícil transportar comida para o campo. Tudo o que se mexesse nas auto-estradas era provavelmente bombardeado.»

«Foi surpreendente encontrar registos, com dois ou três anos, de grandes quantidades de comida cozinhada diariamente para ser distribuída pelos prisioneiros. Fiquei convencido, ao contrário da opinião popular, que nunca existiu uma política deliberada de fome. Isto foi confirmado pelo grande número de prisioneiros bem alimentados. Então porque é que havia tanta gente a sofrer da malnutrição? ... As principais razões para o estado em que estava Belsen foram a doença, a enorme sobrelotação, a falta de autoridade dentro das barracas e o fornecimento inadequado de comida, água e medicamentos.»

«Ao tentar avaliar as causas das condições encontradas em Bergen-Belsen, devemos estar prevenidos para o horroroso espectáculo visual, oportuno para efeitos de propaganda, que as multidões de corpos subalimentados apresentam.»


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13 e 14 de Fevereiro de 1945 - Holocausto de Dresden


A Segunda Guerra Mundial estava no fim. Em 1945, Dresden não era nenhum objectivo militar. Não existiam bases militares em Dresden, não era nenhum local estratégico, não existia indústria pesada, não tinha defesas aéreas, não tinha centros de comunicação importantes. Esta cidade era até conhecida como cidade dos refugiados e tinha sido declarada cidade hospital para os feridos da guerra. A sua população residente e permanente era de 630.000 pessoas, mas naquela altura a cidade estava a abarrotar de refugiados provenientes de todo o Leste.

Nesta altura os Aliados já sabiam que a Alemanha tinha perdido a guerra. Ninguém que tivesse capacidade de decisão - civil ou militar - acreditava que a Alemanha pudesse resistir, muito menos atacar, as forças Aliadas. O bombardeamento de Dresden só poderia ser entendido como um acto premeditado de assassínio em massa.

Assim, a 13 e 14 de Fevereiro de 1945 perto de 1200 bombardeiros Aliados (principalmente americanos e ingleses), seguidos de centenas de caças "bullet-spiting" levaram a cabo um triplo 'raid' aéreo sobre Dresden. O código de guerra dado a este bombardeamento foi "Clarion". O primeiro ataque dos bombardeiros deu-se às 10 horas do dia 13 largando bombas explosivas na parte velha da cidade para destruir os telhados dos edifícios preparando assim o ataque com engenhos incendiários. O ataque seguinte trouxe o inferno transformando o centro da cidade - numa área com 3 milhas de comprimento e 2 de largura - num oceano de chamas. A temperatura do ar atingia os 600 graus Celsius. Os ventos fortes que se faziam sentir ajudaram á propagação instantânea das chamas. Centenas de milhar de pessoas foram queimadas vivas desde o primeiro ataque e continuariam a morrer até ao terceiro dia.

Um jornal na altura contabilizou desta maneira os mortos que não foram identificados:

- 37.000 crianças.
- 46.000 jovens em idade escolar.
- 55.000 hospitalizados, incluindo médicos, enfermeiros e pessoal hospitalar.
- 12.000 pertencentes a equipas de salvamento.
- 330.000 descritos simplesmente como "homens e mulheres".



Comentário:

O General Eisenhower, como Comandante Supremo das Forças Aliadas foi o principal responsável pelo massacre de Dresden.

Não consta, contudo, que o General tenha requisitado todos os meios de comunicação civis e todas as unidades de filmagem militares para registar os resultados do bombardeamento de Dresden. Nem consta que o General tenha visitado Dresden propositadamente de forma a poder dar um testemunho em primeira-mão da verdadeira extensão desse horror. Nem o preocupou que futuramente nenhum idiota viesse afirmar que esse massacre nunca tinha acontecido.
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segunda-feira, maio 26, 2008

Escassez do petróleo ou excesso de lucros? Mercado ou oligopólio?

Por que não nacionalizar?

Se o mercado não consegue disciplinar os preços, os lucros nem o selvático prendar dos recursos empresariais com os vencimentos multimilionários dos executivos, então por que não nacionalizar os petróleos e tentar outros modelos? Quem proferiu este revolucionário comentário foi Maxine Waters, Democrata da Califórnia, durante o inquérito conduzido pelo Congresso, em Washington, às cinco maiores petrolíferas americanas. Face à escalada socialmente suicidária dos preços dos combustíveis, o órgão legislativo americano convocou os presidentes para saber que lucros tinham tido e que rendimentos é que pessoalmente cada um deles auferia. Os números revelados deixaram os senadores da Comissão de Energia e Comércio boquiabertos. Desde os 40 mil milhões de dólares de lucro da Exxon no ano passado, ao milhão de euros mensais do ordenado base do chefe Executivo da Conoco-Phillips, às cifras igualmente astronómicas da Chevron, da Shell e da BP América. Esta constatação do falhanço calamitoso do mecanismo comercial, quando encarada no caso português, ainda é mais gritante. Digam o que disserem, o que se está a passar aqui nada tem a ver com as leis de oferta e procura e tem tudo a ver com a ausência de mercado onde esses princípios pudessem funcionar.

Se na América há cinco grandes empresas que ainda forçam o mercado a ter preços diferentes, em Portugal há uma única que compra, refina, distribui e vende. É altura de fazer a pergunta de Maxine Waters, traduzindo-a para português corrente:

- Se o país nada ganhou com a privatização da Galp e se estamos a ser destruídos como nação pela desalmada política de preços que a única refinadora nacional pratica, porquê insistir neste modelo? Enunciemos a mesma pergunta noutros termos

- Quem é que tem vindo sistematicamente a ganhar nestes nove anos de privatização da Galp, que alienaram um bem que já foi exclusivamente público? Os espanhóis da Iberdrola, os italianos da ENI e os parceiros da Amorim Energia certamente que sim. O consumidor português garantidamente que não. Perdeu ontem, perde hoje e vai perder mais amanhã. Mas levemos a questão mais longe houve algum ganho de eficiência ou produtividade real que se reflectisse no bem-estar nacional com esta alienação da petrolífera? A resposta é angustiantemente negativa. A dívida pública ainda lá está, maior do que nunca, e o preço dos combustíveis em Portugal é, de facto, o pior da Europa. Nesta fase já não interessa questionar se o que estamos a pagar em excesso na bomba se deve ao que os executivos da Galp ganham, ou se compram mal o petróleo que refinam ou se estão a distribuir dividendos a prestamistas que exigem aos executivos o seu constante "quinhão de carne" à custa do que já falta em casa de muitos portugueses. Nesta fase, é um desígnio nacional exigir ao Governo que as centenas de milhões de lucros declarados pela Galp Energia entrem na formação de preços ao consumidor. Se o modelo falhou, por que não nacionalizar como sugeriu a congressista Waters? Aqui nacionalizar não seria uma atitude ideológica.

Seria, antes, um recurso de sobrevivência, porque é um absurdo viver nesta ilusão de que temos um mercado aberto com um único fornecedor. Se o Governo de Sócrates insiste agora num purismo incongruente para o Serviço Nacional Saúde, correndo com os existentes players privados e bloqueando a entrada de novos agentes, por que é que mantém este anacronismo bizarro na distribuição de um bem que é tão essencial como o pão ou a água? Como alguém já disse, o melhor negócio do Mundo é uma petrolífera bem gerida, o segundo melhor é uma petrolífera mal gerida. Na verdade, o negócio dos petróleos em Portugal, pelas cotações, continua a ser bom. Só que o país está exangue. Há fome em Portugal e vai haver mais. O negócio, esse, vai de vento em popa para o Conselho de Administração da Galp, para os accionistas, para Hugo Chávez e José Eduardo dos Santos. Mas para mais ninguém. A maioria de nós vive demasiado longe da fronteira espanhola para se poder ir lá abastecer.



Os números dos lucros revelados deixaram os senadores da Comissão de Energia e Comércio boquiabertos:


«Exxon bate recorde de lucros»:

«Nova Iorque (CNNMoney.com) – a Exxon Mobil fez história na Sexta-Feira reportando os maiores lucros trimestrais e anuais de sempre de uma companhia norte-americana, aumentados em grande parte pela subida dos preços do crude.»

«A Exxon, a muito publicitada maior empresa comercial de petróleo do mundo, informou que os resultados líquidos do quarto trimestre de 2007 aumentaram 14%, para 11,66 mil milhões de dólares, ou 2,13 dólares por acção. A companhia ganhou 10,25 mil milhões de dólares, ou 1,76 dólares por acção no período de um ano (2007).»

«O lucro ultrapassou o prévio recorde trimestral da Exxon de 10,7 mil milhões de dólares, alcançado no quarto trimestre de 2005, que foi também o maior de sempre de uma empresa americana.»

«"A Exxon pode distribuir alguns valores espantosos e este é um desses casos," afirmou Jason Gammel, analista sénior da Macquarie Securities de Nova Iorque.»

«A Exxon alcançou também um recorde anual de lucros ganhando 40,61 mil milhões de dólares no ano passado – ou cerca de 1300 dólares por segundo em 2007. Isto excedeu o anterior recorde de 39,5 mil milhões de dólares em 2006.»



Comentário:

Obviamente que a sugestão de Mário Crespo de nacionalizar a Galp é ingénua. Há muito que esta empresa está no bolso de uma das quatros irmãs: Conoco-Phillips, Chevron, Shell ou BP América, através das subsidiárias Iberdrola, ENI e Amorim Energia.

Se, de facto, se nacionalizasse a Galp, esta não veria nem mais uma gota de crude. É assim que funciona o «mercado» por causa do qual se invadiu o Iraque.
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domingo, maio 25, 2008

Auschwitz - Ser fiel à História?


Sapo Notícias:

«A companhia Hotel Modern, criada e estabelecida em Roterdão, trouxe a Portugal o espectáculo «Kamp», que de 15 a 18 de Maio esteve no Centro Cultural de Belém. Nesta criação do Hotel Modern, mais de 3 mil pequenas marionetas (poucos maiores que uma caneta) contam a história de Auschwitz.»

«Pode um espectáculo produzido em tão pequena escala dar conta de tamanha atrocidade? Ser fiel à História? A verdade é que a «pequenez» dos cenários e das marionetas acentua o drama vivido em Auschwitz, e ao mesmo tempo atenua algumas das imagens mais violentas que envolvem cadáveres na câmara de gás. Ou a imagem de milhares de marionetas a serem descarregadas de um mini comboio. E de repente, a miniatura torna realidade presente.»


No Wikipedia encontra-se uma descrição mais detalhada de Auschwitz:

Auschwitz II (Birkenau)

«Auschwitz II (Birkenau) é o campo que a maior parte das pessoas conhece como Auschwitz. Ali se encerraram centenas de milhares de judeus e ali também foram executados mais de um milhão de judeus e ciganos. »

«O objectivo principal do campo não era o de manter prisioneiros como força de trabalho (caso de Auschwitz I e III) mas sim de exterminá-los. Para cumprir esse objectivo, equipou-se o campo com quatro crematórios e câmaras de gás. Cada câmara de gás podia receber até 2.500 prisioneiros por turno. O extermínio em grande escala começou na primavera de 1942. »

«A maioria dos prisioneiros chegava ao campo por trem, com frequência depois de uma terrível viagem, em vagões de carga, que durava vários dias. A partir de 1944, estendeu-se a linha para que os trens chegassem directamente ao campo. Algumas vezes, logo após a chegada, os prisioneiros eram conduzidos directamente às câmaras de gás. Noutras ocasiões, os nazis seleccionavam alguns prisioneiros, sob a supervisão de Josef Mengele, para ser enviados a campos de trabalho ou para realizar experiências. Geralmente as crianças, os anciãos e os doentes eram enviados directamente para as câmaras de gás


Evacuação e libertação

«As câmaras de gás do Birkenau foram destruídas pelos nazis em Novembro de 1944 com a intenção de esconder as actividades do campo das tropas soviéticas. A 17 de Janeiro de 1945 os nazis iniciaram uma evacuação do campo. A maioria dos prisioneiros deveria partir para o oeste. Aqueles muito fracos ou doentes para caminhar foram deixados para trás. Perto de 7.500 prisioneiros (ou 3.000 segundo outras fontes), pesando entre 23 e 35Kg, foram libertados pelo Exército Vermelho a 27 de Janeiro de 1945.»



Comentário:

Face ao que é dito sobre a libertação e evacuação de Auschwitz, duas questões se colocam:

1 – Se os nazis destruíram as câmaras de gás para esconder os gaseamentos e o Holocausto, porque deixaram ficar para trás 7.500 prisioneiros como testemunhas?

2 – Se «o objectivo principal do campo não era o de manter prisioneiros como força de trabalho, mas sim exterminá-los», e se «geralmente as crianças, os anciãos e os doentes eram enviados directamente para as câmaras de gás», porque mantiveram vivos 7.500 prisioneiros «muito fracos ou doentes para caminhar»? Se o objectivo era o extermínio, porque alimentavam prisioneiros que pesavam entre 23 e 35 Kg e que eram, portanto, incapazes de trabalhar?
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quinta-feira, maio 22, 2008

Socialismo de Sócrates situado à direita do neoconservadorismo de Bush



Jornal Público - 22-5-2008

Portugal é o país da UE com mais desigualdades na distribuição de rendimentos

Portugal foi hoje apontado em Bruxelas como o Estado-membro com maior disparidade na repartição dos rendimentos, ultrapassando mesmo os Estados Unidos nos indicadores de desigualdade. O Relatório Sobre a Situação Social na União Europeia (UE) em 2007 conclui, no entanto, que os rendimentos se repartem mais uniformemente nos Estados-membros do que nos Estados Unidos, à excepção de Portugal.

O relatório é o principal instrumento que a Comissão Europeia utiliza para acompanhar as evoluções sociais nos diferentes países europeus. Os indicadores de distribuição dos rendimentos mostram que os países mais igualitários na distribuição dos rendimentos são os nórdicos, nomeadamente a Suécia e Dinamarca.

"Portugal distingue-se como sendo o país onde a repartição é a mais desigual", salienta o documento que revela não haver qualquer correlação entre a igualdade de rendimentos e o nível de resultados económicos.

Contudo, se forem comparados os coeficientes de igualdade de rendimentos dos Estados-membros com o respectivo PIB (Produto Interno Bruto) por habitante constata-se que os países como um PIB mais elevado são, na sua generalidade, os mais igualitários.


Comentário:

«Portugal ultrapassa mesmo os Estados Unidos nos indicadores de desigualdade»

No casino em que se tornou a economia portuguesa, o socialismo socrático tem apostado no tudo ou nada: tudo para meia dúzia, nada para a esmagadora maioria. Foi a maioria que lhe deu os votos, mas foi a meia dúzia que lhe subsidiou as campanhas. E os votos valem o que valem...


Quid Bono, senhores governantes! Faites vos jeux!

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quarta-feira, maio 21, 2008

Governo e Galp exultam com as subidas de preço do petróleo


Jornal de Notícias - 21 de Maio de 2008

«O presidente da Galp, Manuel Ferreira de Oliveira, admitiu, ontem, na apresentação de resultados trimestrais da empresa, que a única alternativa para baixar os preços dos combustíveis é reduzir o Imposto sobre Produtos Petrolíferos (ISP). "Não há nada que a Galp possa fazer", garantiu o gestor, lembrando que a petrolífera está exposta às cotações internacionais do petróleo e a uma carga fiscal "gigantesca".»

«(…) Para Ferreira de Oliveira, o actual nível de preços é uma "realidade preocupante, mas contra a qual nada há fazer". "A Galp não fixa os preços do petróleo, do gasóleo e da gasolina. É um simples tomador de preços", frisou.»

«(…) De acordo com o presidente da Galp, a inflação do petróleo levou a que a margem de refinação da Galp tenha diminuído para metade, no primeiro trimestre deste ano, causando uma redução de lucros de 8,4%, para 109 milhões de euros. "A indústria quer que os preços baixem, mas não podemos alhearmo-nos da situação internacional", afirmou.»

«(…) O gestor refutou ainda as críticas de que a empresa tem sido alvo pela alegada formação de preços especulativa. De acordo com dados avançados na apresentação, os preços de combustíveis antes de impostos aumentaram menos em Portugal do que na Europa, nomeadamente Espanha.»

«(…) Ferreira de Oliveira concluiu que a indústria petrolífera nacional é um mercado "aberto, competitivo e eficiente", garantindo não temer os resultados da investigação da Autoridade da Concorrência.»




Correio da Manhã - 21 Maio 2008

«A Galp Energia registou um lucro no primeiro trimestre deste ano de 109 milhões de euros, ou seja, 1,2 milhões de euros por dia. Os resultados foram apresentados ontem pelo presidente da petrolífera, Ferreira de Oliveira, que aproveitou o encontro com os jornalistas para explicar que não é a empresa que faz os preços. "A Galp é um tomador de preços", sublinhou.»

«'São excelentes resultados', admitiu o presidente da Galp, apesar das contas revelarem uma queda nos lucros de 8,4 por cento face a igual período de 2007, que só não foi maior devido às vendas de exploração e aos resultados da venda de gás.»



TSF Online - 20 de Maio 08

O ministro de Estado e das Finanças, Teixeira dos Santos recusa políticas populistas

Teixeira dos Santos considera que qualquer medida do Governo para fazer face à escalada dos preços dos combustíveis não passaria de meros cuidados paliativos para a economia portuguesa.

«O momento externo que atravessamos, nomeadamente a turbulência nos mercados financeiros internacionais e a subida dos preços das matérias-primas podem suscitar pressões para a implementação de algumas medidas discricionárias que seriam meros paliativos para transformações estruturais que são necessárias», disse o ministro durante um almoço na Câmara de Comércio e Indústroa Luso-espanhola.

«A evolução económica está sujeita a flutuações e embora o recurso paliativo possa parecer mais simples, a criação de uma cultura de mudança de exigência e disciplina é a longo prazo mais eficiente», reforçou.


Comentário:

1 - Preços de combustiveis sem impostos e com impostos em portugal superiores aos preços praticados na maioria dos países da união europeia:

Os preços dos combustíveis não dependem apenas dos preços do petróleo. Na sua transformação nas refinarias portuguesas existem muitos outros custos. Por exemplo, custos com salários. E os salários portugueses são, em média, cerca de metade dos salários médios da União Europeia. Apesar disso, os preços dos combustíveis em Portugal são superiores aos da maioria dos países da União Europeia, nomeadamente aqueles com custos salariais muito mais elevados.

Em relação a todos os combustíveis, o ISP em Portugal é superior ao da média da UE15 em 1,3%, e o IVA em 5,3%. A partir de Jun2008, o IVA será superior em 0,3%. Em % do PVP, o peso das taxas em Portugal representa, em relação a todos os combustíveis, 54% do PVP, que é igual à média da UE15. Em relação ao gasóleo: Portugal 48%, UE15: 49%; e à gasolina: Portugal: 60%, UE15: 59%.


2 - O aumento do custo do petróleo para as petrolíferas portuguesas é muito inferior ao que pretendem fazer crer:

Os órgãos de informação divulgam normalmente a variação do preço do petróleo em dólares, mas para as petrolíferas portuguesas que vendem os combustíveis em euros, o que interessa é o preço na moeda europeia pois possuem euros que depois trocam em dólares. E com a desvalorização continua do dólar este vale cada vez menos e, consequentemente, o custo do petróleo para as empresas a funcionar em Portugal é muito mais baixo.

Entre 2006 e 2007, o preço médio do barril de petróleo aumentou 11,4% em dólares e apenas 1,5% em euros, ou seja, o aumento em euros foi inferior em 7,6 vezes à subida em dólares.

Se considerarmos um período mais recente – Dezembro de 2007 a Março de 2008 – o aumento em dólares atingiu 13,9% e em euros apenas 7%, portanto a subida em euros foi praticamente metade do aumento registado em dólares. Se a análise for feita, não em percentagem, mas em unidades monetárias, conclui-se que, entre Dezembro de 2007 e Março de 2008, o preço do barril aumentou 12,69 dólares o que correspondeu a uma subida de 4,39 euros, portanto o aumento em euros correspondeu quase um terço da subida em dólares.

É surpreendente que tanto Sócrates como o seu invisível ministro da Economia, Manuel Pinho, só agora tenham detectado o escândalo dos preços dos combustíveis em Portugal (em Portugal, não existe concorrência pois os preços praticados pelos diferentes vendedores são praticamente sempre iguais), mas será ainda mais surpreendente, e prova da conivência deste governo com os grandes grupos económicos petrolíferos, se a análise dos preços que a Autoridade da Concorrência vai fazer após tantos anos de actuação selvagem das petrolíferas conclua que não existe nada de anormal nos preços que praticam, como parecem já sugerir as declarações de Manuel Pinho.

(Ver o desenvolvimento aqui: Sala dos Professores)

(Agradeço ao Apache a chamada de atenção para taxa fixa do ISP)


Não é pois de admirar que a Galp tenha apresentado lucros no valor de 119 milhões de euros em 2007 e de 109 milhões de euros em 2008. E, também, que o Governo tenha arrecadado em 2007 a quantia 3.395 milhões de euros só em ISP.

Donde, as posições responsáveis, serenas e adultas de «governantes e gestores»:

Teixeira dos Santos recusa políticas populistas (baixar os impostos) e considera que qualquer medida do Governo para fazer face à escalada dos preços dos combustíveis não passaria de meros cuidados paliativos.

Ferreira de Oliveira considera que o actual nível de preços é uma "realidade preocupante, mas contra a qual nada há fazer.


Posto isto, e dada a constante subida do preço do crude, não há nada que a Galp possa fazer a não ser embolsar centenas de milhões de euros. Quanto ao Governo, recusa tomar políticas populistas e cuidados paliativos por forma a arrecadar vários milhares de milhões de euros. E o povo português resigna-se por lhe levarem couro e cabelo para um curto passeio de tristes.
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segunda-feira, maio 19, 2008

Pacheco Pereira - A relevância do Terrorismo na imensa irrelevância mediática



Ut humiliter opinor

Pacheco Pereira: «Algures, perto de si, acabará por explodir uma bomba, flutuar uma doença, fluir um veneno


Excerto de um artigo de José Pacheco Pereira no Blogue Abrupto e no jornal Público - 17 de Maio de 2008:

FUTEBOL, FUTEBOL,
FUTEBOL
, FUMEI, PEQUEI, VOU DEIXAR DE FUMAR, FUTEBOL, ESMERALDA ENTRE O PAI AFECTIVO E O PAI BIOLÓGICO, FUTEBOL, FUTEBOL, DIRECTO DO ACIDENTE NA A1 QUE PROVOCOU TRÊS FERIDOS, FUTEBOL, OS PAIS DA PEQUENA MADDIE, FUTEBOL, FUTEBOL, TENHO UM CANCRO - TIVE UM CANCRO - VOU TER UM CANCRO, FUTEBOL, FUTEBOL, FUTEBOL, FUTEBOL, FUTEBOL, FUTEBOL
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«Este título podia continuar por todas as páginas do Público. Se o Público fosse feito como um "noticiário" televisivo, o que felizmente não é, todas as suas páginas seriam variantes disto, com mais de mil futebóis e mais crimes, doenças e acidentes. Na página 15, haveria uma pequena coluna com os números trágicos da nossa economia; na página 24, uma faixa minúscula, como a publicidade mais barata, num fundo de página, diria que morreram na China 50.000 pessoas num terramoto; na página 40, perdida numa notícia de página inteira de um treino do Vitória de Guimarães (…)»

«(…) O sítio do noticiário político são os programas de humor, o sítio de "sociedade" são os programas da manhã e os do jet set, o sítio da economia é o Preço Certo (…).»

«(…) [Isto] É um sinal de descontrolo cívico, de atraso político e social, de retrocesso da nossa democracia e da nossa vida pública. Não é só na economia que estamos a andar par atrás, é na cabeça. A cultura da irrelevância está a crescer exponencialmente e todos já esperam que o mesmo aconteça nos próximos meses, em que mais uma vez o país vai parar porque há um Campeonato.»

«(…) Mas não é só as vezes em que directos do futebol são o telejornal, é que durante três, quatro dias não nos conseguimos ver livres daquilo. Até aparecer outro directo mais saboroso, temos que assistir a "noticiários" que repetem ad nauseam as mesmas imagens, as mesmas declarações, seguidas por milhões de palavras "escalpelizando" os "factos", em tudo o que é programa de actualidade pela noite fora. O circo está montado na nossa cabeça e nele fazemos o papel do urso amestrado ou dos macaquinhos. Nem sequer o do palhaço pobre.»

«Mas não é só o futebol, é tudo o resto. É o mundo das telenovelas, com o seu sangue, suor e lágrimas, transformado em "casos", o caso Maddie, uma coisa abstracta e virtual, sem corpo real, já sem a violência do crime, já transformado numa soap opera de plástico, o caso Esmeralda, uma competição absurda à volta de uma menina imaterial, tão abstracta e morta na virtualidade como a "pequena Maddie" (…)»

«A cultura da irrelevância está impante como nunca, espectáculo e pathos brilham no sítio que anteriormente ainda era frequentado, de vez em quando, pela razão, pelo bom senso, pela virtude. Esta é, obviamente, a melhor comunicação social, a melhor televisão para os governos, e o actual cuida bem que não lhe falte dinheiro para as suas quinhentas horas de futebol. Compreende-se: a bola não pensa, é para ser chutada



Queixa-se, com razão, Pacheco Pereira, da total irrelevância da "informação" que nos é facultada pelos media: Futebol, a pequena Esmeralda, Futebol, fumei no avião, Futebol, a pequena Maddie, Futebol, acidente na A1, Futebol, Futebol e Futebol.

Mas, nesta lista, Pacheco esquece um tópico recente que nos tem sido martelado até à medula nos últimos sete anos: o Terrorismo. Eis as parangonas diárias nos jornais e televisões:

«20 Jan 2008 ... José Sócrates admite que ameaça terrorista é para levar a sério».

«A Comissão Executiva da União Europeia aconselhou o aumento do controle nos aeroportos, após o alarme de atentados terroristas em voos entre a Inglaterra».

«As autoridades suíças e austríacas estão sob alerta perante a ameaça de eventuais atentados terroristas durante o Euro 2008».

«11 Jan 2008 ... Os controladores aéreos portugueses interceptaram uma conversa onde foi detectada uma ameaça terrorista contra a Torre Eiffel».

«09 de Fevereiro de 2007 - Portimão debate impacto da ameaça terrorista no turismo».

Et Cetera...


Embora Pacheco Pereira tenha cuidadosamente evitado referir a lavagem cerebral «terrorista», que é diariamente notícia de primeira página dos jornais e televisões, Pacheco abraça-a com paixão e martela-a com o mesmo entusiasmo de um jornalista imberme ao escrever um artigo de página inteira sobre um treino do Vitória de Guimarães.

Excerto de um texto de Pacheco Pereira sobre a ameaça terrorista no seu blogue Abrupto - 15/7/2005:

«Algures, perto de si, acabará por explodir uma bomba, flutuar uma doença, fluir um veneno

«É por isso que não basta bater no peito e dizer que “somos todos londrinos” e na volta da esquina já estar a discutir as tenebrosas propostas do Sr. Blair para limitar direitos de privacidade das mensagens porque isso facilita a vida aos terroristas. Na volta da memória, escarnecer o Patriot Act, essa “fascização da América” como já lhe ouvi falar, atacada por tudo que é burocracia bruxelense e suas extensões nacionais, como se, sobre a dupla pressão dos autocarros que explodem, e da insegurança popular, não se tenha também que ir por aí, com a prudência e as cautelas que as democracias têm que ter por tal caminho.»

«É também por isso que poucas vezes como nos dias de hoje se vê o grau de demissão do pensamento ocidental como nestes momentos. Mário Soares é entre nós o principal “justificador”, introduzindo com displicência, dele, e complacência de muitos, todos os temas dessa culpa auto-punitiva e demissionista.»

«As únicas explicações que me interessavam, as únicas “causas” que eu queria perceber, eram aquelas que me permitiam derrotá-lo funcionalmente, as que eram instrumentais para acabar com ele e com os seus

«É importante perceber que, mesmo nas questões onde o meu pensamento lhe admitia “razão”, essa razão só pode ser defrontada depois da eliminação dele - válido para Hitler, ou Estaline, ou Bin Laden.»

«Voltemos à questão da guerra. Eu bem sei que há quem ache que não está em guerra, e que a expressão “guerra” para caracterizar o que se está passar é enganadora. Talvez valha a pena discutir a terminologia, porque ela tem claras desadequações, como aliás, o quadro legal no direito internacional da guerra, para defrontar este tipo de combate. Mas a mim não me choca chamar guerra a um conflito que tem as características de ser global, da Indonésia, à Índia, á China, às antigas republicas soviéticas da Ásia Central, da Europa toda, aos EUA, que tem objectivos “não negociáveis” por incompatibilidade total de visões do mundo culturais e civilizacionais

«Acima de tudo, não compreendo porque razão um terrorismo apocalíptico, que tenta por todos os meios ter as armas mais pesadas, nucleares, químicas e bacteriológicas, para garantir o seu Armagedão sacrificial, que tem como objectivo a guerra total, ou seja a aniquilação de milhões dos seus adversários, haja os meios para isso, não tem que ser combatido com tudo o que tenho à mão: tropas, polícias, agentes de informações, à dentada diria um velho inglês da Home Guard, daqueles que esperava a invasão da sua ilha e achava que sempre podia levar um “boche” consigo. E aí o “não se limpam armas”, é de um simplicidade brutal. Ou nós ou eles


O que Pacheco Pereira critica na cultura da irrelevância jornalística, não critica na cultura da propaganda. E esta propaganda, arquitectada para justificar guerras genocidas pelo controlo do petróleo e coarctar direitos civis, é infinitamente mais maligna do que uma entrevista de três páginas ao treinador do Trofense. Porque, na realidade, os títulos dos nossos meios de comunicação assemelham-se mais a isto:

FUTEBOL, TERRORISMO,
FUTEBOL, FUMEI, PEQUEI, VOU DEIXAR DE FUMAR, AMEAÇA TERRORISTA, ESMERALDA ENTRE O PAI AFECTIVO E O PAI BIOLÓGICO, BIN LADEN, FUTEBOL, DIRECTO DO ACIDENTE NA A1 QUE PROVOCOU TRÊS FERIDOS, AL ZAWIRI, OS PAIS DA PEQUENA MADDIE, FUTEBOL, ATENTADO TERRORISTA, TENHO UM CANCRO - TIVE UM CANCRO - VOU TER UM CANCRO, FUTEBOL, BOMBISTA SUICIDA, FUTEBOL, ISLAMOFASCISMO, FUTEBOL, TERRORISMO
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É compreensível. Para Pacheco o terrorismo não é para ser pensado, é para ser entranhado. Nem que seja «à dentada»!
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sexta-feira, maio 16, 2008

Holocausto Judeu - Contradições, 50 anos depois

‘Noite’ 50 anos depois

Crónica de Miguel Monjardino - Jornal Expresso - 10 de Maio de 2008

«Lembro-me daquela noite, a noite mais horrível da minha vida: ‘... Eliezer, meu filho, vem aqui... Quero dizer-te uma coisa... Apenas a ti. Vem, não me deixes só... Eliezer...’»

«Ouvi a sua voz, compreendi o significado das suas palavras e a dimensão trágica do momento e, mesmo assim, não me mexi

«O seu último desejo tinha sido ter-me ao pé dele na sua agonia, no momento em que a sua alma se arrancava do seu corpo dilacerado - e mesmo assim eu não o deixei ter o seu desejo. Eu estava com medo. Medo dos golpes . E assim eu permaneci surdo ao seu choro”.

Monjardino: ‘Noite’, o testemunho de Elie Wiesel sobre a sua passagem pelos campos de extermínio nazis, foi publicado em 1958. Cinquenta anos depois, continua a ser um livro essencial para compreendermos o nosso passado e construirmos os nossos futuros.»

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Tem toda a razão o escriba Monjardino. O testemunho de Elie Wiesel, no seu livro ‘Noite’, sobre a sua passagem pelos campos de extermínio nazis, continua a ser «um livro essencial para compreendermos o nosso passado e construirmos os nossos futuros.» O grande problema deste livro é que contradiz flagrantemente a versão oficial do genocídio judeu. Vejamos, então, quem é Wiesel:

Elizer Wiesel, mais conhecido como Elie Wiesel, é um judeu nascido na Roménia em 1928. Aos 15 anos é deportado para Auschwitz e depois para Buchenwald. Sobrevivente dos campos de concentração nazis, torna-se cidadão americano em 1963 e obtém uma cátedra de ciências humanas na universidade de Boston. Em 1980, Elie Wiesel funda o Conselho para o Holocausto americano. Condecorado em França com a Legião de Honra, recebeu a Medalha do Congresso americano, recebeu o título de doutor honoris causa em mais de cem universidades e recebeu o Prémio Nobel da Paz em 1986. O Comité norueguês do Nobel denominou-o "mensageiro para a humanidade." As suas obras, quase 40 livros, edificadas para resgatar a memória do Holocausto e defender outros grupos vítimas de perseguições receberam igualmente vários prémios literários. Em Outubro de 2006, o Primeiro-ministro israelita Ehud Olmert propôs-lhe o cargo de Presidente do Estado de Israel. Elie Wiesel recusou a oferta explicando que não era mais do «que um escritor». Elie Wiesel preside, desde 1993, à academia Universal de Culturas.


1ª Contradição:

Durante os dez meses em que esteve internado no campo de concentração de Auschwitz, Wiesel não refere uma única vez a existência das cinco enormes câmaras de gás nem os gaseamentos de mais de um milhão de pessoas que aí tiveram lugar:

No livro autobiográfico [Noite], que supostamente descreve as suas experiências em Auschwitz e Buchenwald, Wiesel não menciona em parte alguma as câmaras de gás. Ele diz, realmente, que os Alemães executaram Judeus, mas... com fogo; atirando-os vivos para as chamas incandescentes, perante muitos olhos de deportados!

«Não muito longe de nós, chamas elevavam-se dum fosso, gigantescas chamas. Eles estavam a queimar algo. Um camião aproximou-se da cova e descarregou a sua carga – crianças pequenas. Bebés! Sim, eu vi – vi-o com os meus próprios olhos... Aquelas crianças nas chamas. (É surpreendente que eu não tivesse conseguido dormir depois daquilo? Dormir era fugir dos meus olhos.)»

«Um pouco mais longe dali estava outra fogueira com chamas gigantescas onde as vítimas sofriam “uma lenta agonia nas chamas”. A coluna de Wiesel foi conduzida pelos Alemães a "três passos" da cova, depois a "dois passos." "A dois passos da cova foi-nos ordenado para virar à esquerda e ir-mos em direcção aos barracões."»


2ª Contradição:

Quando os Russos estavam prestes a tomar conta de Auschwitz em Janeiro de 1945, Elie e o seu pai "escolheram" ir para ocidente com os Nazis e os SS em retirada em vez de serem "libertados" pelo maior aliado de América. Eles poderiam ter contado ao mundo inteiro tudo sobre Auschwitz dentro de poucos dias - mas, Elie e o pai, assim como incontáveis milhares de outros judeus escolheram, em vez disso, viajar para oeste com os Nazis, a pé, de noite, num Inverno particularmente frio e consequentemente continuarem a trabalhar para a defesa do Reich.

Algumas das exactas palavras de Elie Wiesel no seu livro «Noite»:

- O que é fazemos, pai?
Ele estava perdido nos seus pensamentos. A escolha estava nas nossas mãos. Por uma vez, podíamos ser nós a decidir o nosso destino: ficarmos os dois no hospital, onde podia fazer com que ele desse entrada como doente ou como enfermeiro, graças ao meu médico, ou, então, seguir os outros.
Tinha decidido acompanhar o meu pai para onde quer que fosse.
- E então, o que é que fazemos pai?
Ele calou-se.
- Deixemo-nos ser evacuados juntamente com os outros – disse-lhe eu.
Ele não respondeu. Olhava para o meu pé.
- Achas que consegues andar?
- Sim, acho que sim.
- Espero que não nos arrependamos, Elizer!

As escolhas que foram feitas aqui em Auschwitz em Janeiro de 1945 são extremamente importantes. Em toda a história do sofrimento judeu às mãos de gentios, que altura poderia ser mais dramática do que o precioso momento em que os Judeus podiam escolher, por um lado, a libertação pelos Soviéticos com a possibilidade de contar a todo o mundo sobre as malfeitorias Nazis e ajudar à sua derrota - ou então fugir com os assassinos em massa Nazis, continuando a trabalhar para eles e ajudando-os a preservar o seu regime demoníaco?



Comentário:

Não obstante as surpreendentes contradições entre o livro autobiográfico 'Noite' e a versão oficial do Holocausto, Elie Wiesel deixa-nos algumas palavras de conforto e de esperança:

«Todo o Judeu, algures no seu ser, deve separar uma zona de ódio – saudável, ódio viril – para aquilo que os Alemães personificam e para o que persiste na Alemanha. Fazer o contrário, é trair os mortos.»

(Wikiquote: Original inglês: "Every Jew, somewhere in his being, should set apart a zone of hate - healthy, virile hate - for what the German personifies and for what persists in the German. To do otherwise would be a betrayal of the dead.")
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quarta-feira, maio 14, 2008

Miguel Sousa Tavares - "Sr. Sócrates, chega de jogadas feitas na sombra"


Miguel Sousa Tavares (Expresso 10/05/2008)

Por favor, não governem mais!

«(...) E quem sentiu a necessidade urgente de mais auto-estradas a rasgar todo o interior já deserto, de um novo aeroporto para Lisboa, de um TGV de Lisboa para Madrid, outro do Porto para Vigo e de uma nova ponte sobre o Tejo para o servir? Quem foi que andou a gritar “gastem-me o dinheiro dos meus impostos a fazer auto-estradas, pontes, aeroportos e comboios de que não precisamos”? Porque razão, então, o lóbi das obras públicas, os engenheiros, projectistas, banqueiros e advogados que os assessoram, mais a ilusão keynesiana do primeiro-ministro, nos hão-de impingir o que não pedimos?

Fomos nós, porventura - ou os autarcas, os especuladores imobiliários e os empresários do turismo - que reclamámos a legislação de excepção dos Projectos PIN para dar cabo da costa alentejana e do que resta do Algarve? Foi nossa a decisão que a Comissão Europeia classificou como uma batota para contornar as normas de protecção ambiental e ordenamento do território?

Fomos nós que reclamámos a privatização da electricidade para depois a pagarmos muito mais cara ou que, inversamente, protegemos até ao limite o monopólio da PT nos telefones fixos, em troca de termos o pior e o mais caro serviço telefónico da Europa?

Fomos nós que nos revoltámos contra o queijo da Serra feito em mesas de mármore, a galinha de cabidela ou o medronho da Serra de Monchique? É em nome da nossa vontade e da nossa cultura que o «ayatollah» Nunes e a sua ASAE aterrorizam e enfurecem meio país?

Fomos nós que estabelecemos uma sociedade policial contra os fumadores, que quisemos encher Lisboa de radares para controlar velocidades impossíveis e ajudar a fazer da caça à multa o objectivo principal da prevenção rodoviária?

Fomos nós que concordámos em que os agricultores fossem pagos para não produzir, os pescadores para não pescar, as empresas para fazer cursos de formação fantasmas ou inúteis, alguns escritores para terem ‘bolsas de criação literária’ para escrever livros que ninguém lê, os privados para gerir hospitais públicos com o dobro dos custos?

Fomos nós que aceitámos pagar por caças para a Força Aérea que caem todos sem nunca entrar em combate, helicópteros que não voam por falta de sobressalentes, submarinos que não servem para nada, carros de combate que avariam ao atravessar uma poça de água?

Fomos nós que decretámos que o Euro-2004 era “um desígnio nacional” e, para tal, desatámos a construir estádios habitados por moscas, onde jogam clubes que vegetam na segunda divisão ou se aguentam na primeira sem pagar aos jogadores, ao fisco e à Segurança Social? E é a nossa vontade colectiva que anda a animar uns espíritos inspirados que já por aí andam a reclamar um Mundial de Futebol ou mesmo uns Jogos Olímpicos?

Ah, e a regionalização, essa eterna bandeira de almas ingénuas ou melífluas, que confundem descentralização com jardinização? Esse último disparate nacional que falta fazer e com o qual nos ameaçam ciclicamente com o argumento de que está na Constituição, embora nós já tenhamos respondido, clara e amplamente, que dispensamos a experiência, muito obrigado?

Será que não se pode acalmar um bocadinho os nossos esforçados governantes? Pedir-lhes que parem com os “projectos estruturantes”, os “desígnios nacionais”, os “surtos de desenvolvimento”, os PIN, os aeroportos, pontes e auto-estradas, que deixem de se preocupar tanto com o que comemos, o que fumamos, o que fazemos em privado e o que temos de fazer em público? Eu hoje já só suspiro por um governo que me prometa ocupar-se do essencial e prescindir do grandioso: um governo que prometa apenas tentar que os hospitais públicos funcionem em condições dignas e que não haja filas de espera de meses ou anos para operações urgentes, que os professores e alunos vão à escola e uns ensinem e outros aprendam, que os tribunais estejam ao serviço das pessoas e da sua legítima esperança na justiça e não ao serviço dos magistrados ou dos advogados, que as estradas não tenham buracos nem a sinalização errada, que as cidades sejam habitáveis, que a burocracia estatal não sirva para nos fazer desesperar todos os dias. Um governo que me sossegue quanto ao essencial, que jure que não haverá leis de excepção nem invocados “interesses nacionais” que atentem contra o nosso património: a língua, a paisagem, os recursos naturais.

Mas não há dia que passe que não veja o eng.º Sócrates a inaugurar ou a lançar a primeira pedra de qualquer coisa. E encolho-me de terror perante esta saraivada de pedras, que ora ajuda a roubar mais frente de rio a Lisboa, ora entrega mais uma praia a um empreendimento turístico absolutamente necessário para o “desenvolvimento”, ora lança mais uma obra pública inútil e faraónica destinada a aliviar-me ainda mais do meu dinheiro para o dar a quem não precisa. Vivo no terror dos sonhos, dos projectos, das iniciativas de governantes, autarcas e sábios de várias especialidades. Apetece dizer: “Parem lá um pouco, ao menos para pensar no que andam a fazer!”

Além de mais, já não percebo muito bem o que justifica tanto frenesim. Já temos tudo o que são vias de transporte concessionado para as próximas gerações: auto-estradas, pontes, portos, aeroportos (só falta o comboio, mas os privados não são parvos, vejam lá se eles querem ficar com o negócio prometidamente ruinoso do TGV!). Já temos tudo o que é essencial privatizado (só falta a água e palpita-me que não tarda aí mais esse ‘imperativo nacional’). É verdade que ainda faltam alguns Parques Naturais, Redes Natura e REN por urbanizar, mas é por falta de clientes, não por falta de vontade de quem governa. Já faltou mais para chegarmos ao ponto em que os governos já não terão mais nada para distribuir. Talvez então se queiram ocupar dos hospitais, das escolas, dos tribunais. Valha-nos essa esperança.»


Comentário: Mas é o próprio Miguel Sousa Tavares que, numa lógica desassombrada, assenta uma forte machadada na esperança de um período de obras menos faraónicas, menos inúteis e menos ruinosas:

Miguel Sousa Tavares (Expresso 07/01/2006): «Todos vimos nas faustosas cerimónias de apresentação dos projectos [Ota e TGV], [...] os empresários de obras públicas e os banqueiros que irão cobrar um terço dos custos em juros dos empréstimos. Vai chegar para todos e vai custar caro, muito caro, aos restantes portugueses. O grande dinheiro agradece e aproveita.»

«Lá dentro, no «inner circle» do poder - político, económico, financeiro, há grandes jogadas feitas na sombra, como nas salas reservadas dos casinos. Se olharmos com atenção, veremos que são mais ou menos os mesmos de sempre.»
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segunda-feira, maio 12, 2008

Falsos «analistas militares» a soldo do Pentágono

Jon Stewart, do Daily Show, põe a nu a desinformação sobre o Iraque veiculada pelo Pentágono através dos «independentes» meios de comunicação americanos:

Jon Stewart: Olhem para estas adoráveis e bondosas ex-máquinas de matar. Os canais contrataram-nos para dar opiniões de especialistas acerca do esforço bélico do nosso país.

Especialista 1: Estamos a vencer a guerra contra o terrorismo.

Especialista 2: Esta é a força mais bem preparada que já tivemos.

Especialista 3: Esta é a melhor liderança que os militares já tiveram.

Especialista 4: Quando pergunto a amigos meus de longa data do exército, que não vão mentir-me sobre como estamos a sair-nos e se estamos a ganhar ou a perder, eles dizem que estamos a ganhar.

Jon Stewart: Pois parece que muitos destes ex-militares não eram assim tão «ex», trabalhando para empresas de armamento e do Pentágono. Enquanto os canais noticiosos lhes chamam «analistas militares», o Pentágono, em memorandos vindos a público há pouco tempo, referia-se a eles como «multiplicadores de mensagens».

quarta-feira, maio 07, 2008

Paul Valéry sobre a ortografia francesa: «Esta ortografia criminosa, é uma das fabricações mais grotescas do mundo»

Academia da Língua Francesa: «esta companhia declara que deseja seguir a ortografia antiga que distingue os "homens de letras" dos ignorantes e das mulheres simples...»

Vendryes (1921), um conhecido linguista, dizia: «A ortografia do alemão é regular, a do espanhol bastante boa, mas a do francês e do inglês são abomináveis»


Provavelmente, em vez de um Acordo Ortográfico, precisávamos de uma Revolução Ortográfica. A seguir, um excelente excerto do livro «A EUROPA DAS LÍNGUAS», de Miguel Siguan, que nos mostra as incongruências ortográficas das principais línguas europeias:

A par das diferenças nos sinais do alfabeto, o segundo tipo de diferenças que encontramos nos sistemas de escrita das línguas europeias são as diferenças nas regras de transcrição fonética, ou seja, o que em geral conhecemos como as regras de ortografia. Dadas as diferenças que há entre os repertórios de sons utilizados por cada língua é evidente que as regras de transcrição não podem ser as mesmas em todas as línguas da Europa. Mas a verdade é que as diferenças nas regras ortográficas vão muito mais além do que seria necessário pelas diferenças entre os sons das diferentes línguas. Menos justificação há ainda para as regras, no interior da mesma língua, não serem nem sistemáticas nem coerentes.

Um primeiro tipo de incoerência é que numa mesma língua um mesmo som ou fonema se represente com grafias diferentes segundo os casos. Assim, em alemão o fonema [f] pode ser representado por um «f» (form), por um «v» (vorn) ou por um «ph» (phosfor), sem que haja alguma regra que regule estes diferentes usos. Em francês, o fonema [є], «[e aberto») pode representar-se de catorze maneiras diferentes sem que tão-pouco haja alguma regra que justifique por que é que num casos se utiliza uma em vez de outra. Eis aqui alguns exemplos: «e» (fer), «è» (mère), «ê» (fête), «ë» (Noël), «ei» (peine), «ep» (sept), «e» (internet)... Ainda, em francês, o fonema [k] pode ser representado de nove maneiras diferentes: «k» (klaxon), «c» (corps), «q» (coq), «qu»(quand), «cc» (accord)...

Os exemplos em inglês não são menos frequentes. Assim, o fonema [i] pode ser representado de dez maneiras diferentes: «ea] (sea), «ee» (bee), «ie» (field), «ei» (ceiling), «eo» (people)...

A incongruência é ainda maior quando com uma mesma letra ou combinação de letras se representam sons diferentes. Assim, em inglês a letra «a» representa segundo. os casos, seis fonemas diferentes: (account), (arm), [ei] (lake), [a] (ask), [o] (fall), [e] (many), [i] (language), e pode ser muda como o segundo «a» de (arrival). O grafema ou combinação de letras «ai» pode representar quatro sons diferentes segundo os casos, por exemplo: (wait), (aisle), (said), (plaid). E o grafema «au», outros quatro: (claw), (laugh), (gauge), (mauve).

A primeira consequência destas incongruências é que frequentemente quando ouvimos uma palavra não temos a certeza de como se escreve correctamente e, por outro lado, quando vemos uma palavra escrita nem sempre sabemos como se pronuncia. Esta ambivalência pode chegar ao ponto de duas palavras que se escrevem exactamente da mesma forma se pronunciarem de maneira diferente segundo o significado e, pelo contrário, palavras que se pronunciam da mesma forma terem grafias diferentes também segundo aquilo que significam. Exemplos do primeiro caso de homografia com heterofonia, em inglês, são: (read), que se pode pronunciar [rid] ou [red], e (bow), que se pode pronunciar [bou] ou [bau]. E em francês a palavra (portions), onde a letra «t» se lê [t] ou [s] segundo o significado que se dá à palavra. Quanto ao segundo caso, homofonia com poligrafia, limitar-me-ei a um exemplo simples: a ortografia francesa distingue cuidadosamente em muitos casos de adjectivos entre masculino e feminino: (vrai-vraie), (égal-égale), (aigu-aigue), (cher-chère)... quando na linguagem oral não se dá pela diferença.

Não é necessário insistir tanto no ponto a que estas incoerências do sistema ortográfico dificultam a aquisição da língua escrita (quanto tempo e quanta energia se têm de dedicar a uma tarefa que começa na primeira infância e nunca se pode considerar terminada). Como no ponto a que a distinção social, muitas vezes gratuita e injusta, se estabelece entre aqueles que escrevem sem erros de ortografia e os que os cometem. Acrescentemos as dificuldades que uma ortografia irracional acrescenta à tarefa de aprender línguas estrangeiras, algo que hoje pretendemos estender a toda a população. Todas estas considerações são tão evidentes, que é natural que em todas as línguas se tenham feito e se continuem a fazer propostas para racionalizar a ortografia. Que esperanças há de que estas reformas se levem a cabo?

A ortografia francesa foi fixada no séc. XVIII pela Academia da Língua com critérios arqueológicos e arcaizantes que já no seu tempo se aproximavam do pedantismo - «esta companhia declara que deseja seguir a ortografia antiga que distingue os "homens de letras" dos ignorantes e das mulheres simples...» - e que desde então se tem mantido inalterada apesar das frequentes denúncias. «Esta ortografia criminosa, uma das fabricações mais grotescas do mundo» (Paul Valéry, Varieté III, 1936).

Têm sido frequentes também as propostas de reforma, mas ao contrário da Academia Espanhola, que por duas vezes ao longo da sua história modificou as normas ortográficas em nome de uma maior racionalidade, a Academia Francesa não aceitou nunca nenhuma. Nos últimos anos, as vozes a favor de uma reforma têm-se feito ouvir mais. O conhecido linguista Martinet, consciente das dificuldades que apresenta a ortografia para a aquisição da língua escrita, propôs há algum tempo (1977) um sistema estritamente fonético, o «alfonic», que se utilizaria para ensinar a ler e a escrever antes de, numa etapa posterior, se dar o salto para a ortografia «oficial», embora seja evidente que assim só se complica o problema. Numa perspectiva mais radical, Chervel e Blanche Benveniste (1978) propuseram substituir a ortografia francesa por um sistema de transcrição exclusivamente fonético. Mais recentemente ainda, a Academia da Língua, em resposta às fortes pressões recebidas, negou-se a tomar em consideração qualquer das propostas, mesmo as mais suaves.

A par do francês, o inglês é outro caso. O sistema ortográfico inglês é provavelmente o mais incoerente de todos os sistemas ortográficos que utilizam o alfabeto latino, isso porque manteve intacta a grafia correspondente ao inglês falado no séc. XVI ou mesmo, segundo certos autores, ao inglês medieval, apesar das mudanças fonéticas ocorridas desde então. No caso do inglês, o conservadorismo da ortografia contrasta com a notável flexibilidade da língua em todos os aspectos, do vocabulário à sintaxe, e deve ser atribuído, como em França, ao respeito reverencial de que sempre desfrutou a língua escrita transmitida academicamente e privilégio de uma minoria, no fundo a mesma motivação que faz com que se mantenha na China a escrita tradicional.

Não é que tenham faltado críticas ou propostas para a modificar. No século passado, Pitman, o inventor da estenografia, dedicou muito do dinheiro que tinha ganho com a sua invenção a promover uma ortografia simplificada do inglês. E, já no séc. XX, é conhecida a cruzada que Bernard Shaw levou a cabo na mesma direcção e à qual deixou em testamento a maior parte da sua fortuna. A «Simplified Spelling Society», dedicada ao mesmo objectivo, contou entre os seus membros com ilustres linguistas e um neto de Pitman divulgou um método fonético para as escolas semelhante ao que Martinet propôs em França. Tudo em vão. Paradoxalmente, o facto de a ortografia inglesa não depender de uma autoridade com poder decisório como aquele que a Academia Francesa constitui, apoiando-se só no peso da tradição, faz com que a reforma seja ainda mais difícil.

Referi-me ao francês e ao inglês porque são os exemplos mais patentes de incoerência ortográfica. Vendryes (1921), um conhecido linguista, dizia: «A ortografia do alemão é regular, a do espanhol bastante boa, mas a do francês e do inglês são abomináveis». Na verdade, também a ortografia do alemão e do espanhol apresentam incongruências, apesar de tudo. Quase todas as línguas escritas as apresentam. Para encontrar exemplos de escritas completamente racionais. sem contar com o esperanto, temos de pensar nalgumas línguas siberianas que nunca tinham tido um uso escrito quando linguistas soviéticos as codificaram nos anos trinta. Porque mesmo línguas que nunca tinham tido um uso académico ou oficial e que, no século passado ou mesmo mais recentemente, foram codificadas, quando lhes foi atribuída uma norma escrita não foram seguidos totalmente os critérios da racionalidade. Às vezes, o exemplo da língua mais forte fez com que se adoptassem as suas soluções na transcrição fonética. É o que acontece hoje quando se propõem normas escritas para línguas autóctones da América em países onde o espanhol é, desde há séculos, a língua dominante. Embora noutros casos aconteça o contrário.

Do que foi dito até aqui se conclui que se as reformas ortográficas das línguas europeias são necessárias e urgentes, a probabilidade de que se introduzam a curto prazo são pequenas. Acerca do sentido destas reformas falta ainda fazer uma observação, aquela que mais tem a ver com o espírito deste livro.

Até meados do séc. xx, as propostas de reforma ortográfica fizeram-se no seio de uma determinada língua e pensando só nos seus habitantes nativos e nos alunos que tinham de a aprender. Actualmente, dada a necessidade crescente de aprender línguas estrangeiras e o peso crescente dos sistemas informáticos, não só convém que o sistema ortográfico de cada língua seja o mais simples e racional possível, como também que os sistemas das diferentes línguas sejam coerentes e não contraditórios entre si. Ou seja, convém que uma mesma letra ou uma mesma combinação de letras não signifique sons totalmente diferentes segundo a língua considerada, e ao contrário, que um som igual ou parecido não seja representado de formas completamente diferentes em diferentes línguas. Todavia, é um facto que este objectivo não é fácil de alcançar.

segunda-feira, maio 05, 2008

SIC Notícias – a Al-Qaeda é uma invenção da CIA, criada para permitir o controlo do petróleo do Médio Oriente pelos EUA

SIC: Professor Chossudovsky, o senhor publicou um livro onde diz que o terrorismo islâmico beneficia a agenda de Washington. O que quer dizer com isso?

Chossudovsky: O que eu quero dizer é que esta guerra não foi realizada para lutar contra o terrorismo islâmico. Trouxe a Washington objectivos económicos estratégicos, que são, essencialmente, o controlo das reservas petrolíferas do Médio Oriente e da Ásia Central que perfazem 70% das reservas petrolíferas mundiais actuais.


SIC: No mesmo livro diz que a guerra contra o terrorismo é uma mentira. O que significa isso?

Chossudovsky: A noção de um inimigo externo, que é usada para justificar a guerra contra o terrorismo deve ser entendida com a possibilidade desse "inimigo externo" ser uma criação da CIA. É uma criação da Administração americana, não há qualquer inimigo externo.


sábado, maio 03, 2008

Bush antevê o presente ao predizer o futuro

Jon Stewart, do Daily Show revela-nos, com uma excelente dose de humor, as capacidades proféticas de George W. Bush.


Jon Stewart: Inventei um novo jogo! Pegamos numa previsão feita pelo presidente Bush do que pode acontecer se fracassarmos no Iraque e substituímos por um alerta do que pode acontecer se invadirmos o Iraque. Vamos experimentar - se invadirmos o Iraque…

Bush: Isso incentivaria outros extremistas no Médio Oriente.


Jon Stewart: Se invadirmos o Iraque…

Bush: O Irão iria tentar preencher o vazio deixado no Iraque.


Jon Stewart: Se invadirmos o Iraque…

Bush: Os Talibãs no Afeganistão e a Al-Qaeda no Paquistão aumentariam a sua confiança e a sua ousadia.


Jon Stewart: Extraordinário! Assim até parece que ele consegue ver o presente. Talvez se gritarmos bem alto, ele oiça em 2003.